O PT envelheceu. Ou se liberta de Lula ou não terá futuro
Lula
jamais imaginou que seria condenado pela Lava Jato. Uma vez que foi,
jamais imaginou que seria preso. Uma vez preso, imaginou que acabaria
solto a tempo de tentar se reeleger presidente da República pela
terceira vez. Quem sabe não compensaria as três vezes (1989, 1994 e
1998) em que foi derrotado, duas, em primeiro turno, por Fernando
Henrique Cardoso. Lula nunca perdoou Cardoso por isso.
Condenado, preso e
impedido pela lei da Ficha Limpa de se candidatar, Lula algemou-se ao PT
e o PT docilmente a ele, com a esperança de que, um dia livre, pudesse
reconstruir sua imagem, e dispondo de um partido ainda razoavelmente
forte, voltar à boca do palco da política brasileira. O sonho tem tudo
para se evaporar quando o Supremo Tribunal Federal julgar o pedido para
que anule sua condenação no processo do tríplex.
Condenado em primeira
instância no processo do sítio de Atibaia, reformado de graça para ele e
sua família pelas construtoras OAS e Odebrecht, Lula é candidato a ser
novamente condenado na segunda instância. Escapará à nova prisão porque o
Supremo decidiu que prisão só é possível depois da sentença transitar
em julgado, e isso costuma levar muito tempo, tantos são os recursos
protelatórios permitidos.
A direção do PT sabe
disso. Os militantes do partido, também. O que todos fazem questão de
ignorar é a verdade dolorosa para eles de que ou PT se liberta de Lula
ou não terá futuro. Por ora, há um ensaio de reflexão sobre a
encruzilhada em que ele o partido se encontra. Mas um ensaio tímido.
Quem sabe, hoje, quando o receber no Vaticano, o Papa Francisco não
operará o milagre de converter Lula à realidade?
De protagonista sem que
ninguém lhe fizesse sombra da trajetória espetacular do partido de
esquerda mais bem-sucedido da América Latina nas últimas décadas, Lula
virou o algoz do PT. O PT pouco ou nada apreendeu com o que fez de
errado nos quase 14 anos em que governou o país. E nada esqueceu. Não se
renovou – envelheceu a galope. Renunciou a muitos dos seus caros
princípios.
Lula livre significou o
PT preso a ele. Lula solto, pelo que se vê, significa o PT atado aos
ditames do seu dono. Gleisi Hoffmann seria presidente do partido se não
fosse um pau mandado de Lula? Não somente ela. Os que integram a
corrente majoritária do PT se comportam como se os tempos não fossem
outros. Acreditam que foram vítimas de um golpe e que a História
reconhecerá isso mais adiante, devolvendo-os ao poder.
Foram surpreendidos pela
jornada de julho de 2013 quando milhões de brasileiros, sem a ajuda ou
provocação dos partidos, saíram às ruas para gritar que não o faziam só
por 20 centavos a menos ou a mais no preço das passagens de ônibus. Para
que retornassem às suas casas, a presidente Dilma prometeu o que podia e
o que não podia. Ao cabo, nada fez. Caiu porque perdeu o apoio que
tinha para governar.
No parlamentarismo, o
voto de desconfiança derruba o primeiro-ministro. No presidencialismo, o
impeachment. O Congresso americano tinha razões de sobra para aprovar o
impeachment de Donald Trump. A Câmara aprovou. O Senado, não, porque,
ali, ele contava com o apoio de todos, menos um dos senadores
republicanos. Nos estertores do governo Dilma, ela nem mais contava com o
apoio integral do próprio PT.
A reconstrução do PT
passa por um exame dos seus erros até para não repeti-los; pela defesa
de propostas que falem ao coração e à mente da maioria dos brasileiros; e
por uma injeção de sabedoria e de humildade que o leve a abrir mão da
ideia tacanha e restritiva de que exerce e de que deverá continuar
exercendo o monopólio da oposição. Se não for assim, resigne-se por um
longo tempo à hegemonia da extrema-direita.
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