Antonio Carlos Prado, Fernando Lavieri e Mariana Ferrari - IstoÉ
Com o fim próximo da pandemia, os contadores de cadáveres de alguns órgãos da grande mídia, deveriam contar os que morrem de fome - seja pela fome mesmo ou em decorrência dela e muito, provavelmente, os mortos pela fome este ano, superam em muito os mortos pela covid-19.
Não adianta o governo que agora ocupa o Palácio do Planalto e nem adianta a Ministério da Economia dizerem que nada têm a ver com o assunto, uma vez que o levantamento do IBGE cobre um biênio anterior ao desembarque deles no poder. Não adianta! O presidente Jair Bolsonaro elegeu-se prometendo resolver a questão do desemprego, da carência e da fome. Quase dois anos de gestão, e nada, absolutamente nada. [o governo atual não pode resolver o que ocorreu em 2017/18.
Seu projeto era resolver a fome, desemprego e outras mazelas que herdou dos governos anteriores - especialmente dos malditos governos do perda total = pt.
Só que em 2019 o presidente Bolsonaro sofreu oposição sistemática do Poder Legislativo, que teve por muitas vezes o apoio do Poder Judiciário. Passou a prevalecer - de modo informal mas com eficiência diabólica - o entendimento: se é proposta do governo Bolsonaro, não presta.
Em 2020, quando o presidente Bolsonaro começou a iniciar um controle da situação, surgiu a pandemia - cujos efeitos negativos para a saúde pública e economia, do Brasil e do mundo, são notórios e incontestáveis].
(.....)https://istoe.com.br/anatomia-da-fome/
“Aqui em casa, para cada boca só dá uma colherada de comida. Quando dá. Moro em quatorze metros quadrados, com três filhos adultos mas desempregados. E há os netos e bisnetos. A ponte de madeira que passa sobre o mangue, único meio de chegar em casa, dá medo. Passa gente toda hora, passa carrinho de bebê balançando, passa cachorro — e passa ratos. É tudo mangue”. Rute Rocha da Silva
ISTOÉ conversou com quatro famílias que moram nas palafitas da cidade paulista de Cubatão: O estômago ronca e nada de comida cai nele. É aí que a fome começa a comer para dentro. O nervo chamado vago, no cérebro, não quer saber se tem ou não alimento no prato marrom de vidro ou no painelão amassado, ele simplesmente avisa o intestino que a fome está presente e manda produzir ácido digestivo no estômago. Comida? Nada. Ar, só ar, e é esse ar combinado com o ácido que produz o ronco. Se vira rotina, como já virou para milhões de brasileiros, vêm as carências das vitaminas A, C, D e E, a carência de cálcio, ferro e zinco, de ácidos graxos essenciais. Vem a tontura, vêm os tremores, o cansaço, a irritabilidade, a dificuldade de concentração. Vem a mega sena que teima em não dar, vem o cachorro que teima em latir, a criança que teima em chorar, a mulher que teima em brigar — em casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. Vem a anemia, vêm as infecções… vem a morte. Crianças, quando sobrevivem, podem crescer com déficit cognitivo e estatura aquém do padrão saudável (na década de 1970, por exemplo, 30% de nossas crianças tinham altura abaixo do recomendável). “Quando a impossibilidade de comer se transforma no normal do dia a dia, o organismo reage comendo a si mesmo”, diz Aline Garcia, especializada em Serviços de Alimentação e nutricionista da conceituada Clínica Maia. “O corpo começa a tirar glicose e proteínas dos próprios músculos”. Quem fica sabendo de tanto sofrimento? Ninguém, a não ser os familiares que também passam fome. E lá em cima, muito lá em cima, disso sabem e dão de ombros as autoridades que nada fazem para eliminar a miséria crônica.
Com isso, o que diz Bolsonaro? “Fala que se passa fome no Brasil. É uma grande mentira”. Mais: “Você não vê gente, mesmo pobre, com físico esquelético”. A resposta é simples e vem de 1946 com o clássico “Geografia da fome”, de Josué de Castro, um dos maiores geógrafos e cientistas sociais que o País já teve: “A fome não é um fenômeno natural, é um fenômeno social, produto de estruturas econômicas defeituosas”.
“Quando meus filhos vão dormir com fome, dou carinho. E digo que, amanhã, Deus vai prover. Meu barraco tem dois cômodos para quatro pessoas. Meu marido está desempregado, minha mãe entrevada, cuido dela também. Quando consigo trabalho de doméstica, olho a comida boa na casa da patroa, mas não como não. A patroa é boa, oferece, mas fico com culpa de comer sabendo que meus filhos estão de barriga vazia. Passei fome quando era criança. Agora são meus filhos que estão famintos”. Jerenildes Malaquias
Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA
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