O Estado de S. Paulo
Ibope confirma: realidade e racionalidade não definem popularidade
O que o presidente Jair Bolsonaro,
o ex-presidente Lula e o presidente
americano, Donald Trump,
têm em comum? Chova ou faça sol, seus seguidores se mantêm firmes e fortes e,
quanto mais eles erram, mais bobagens falam, mais consolidam e ampliam sua
popularidade. É um fenômeno político que resvala para a seara religiosa, de
crença, de dogmas.
Quando a paciência do então ministro Sérgio Moro se
esgotou, a deputada bolsonarista Carla Zambelli,
sua afilhada de casamento, ficou apavorada: “Bolsonaro vai cair se o senhor
sair”. Pois é. Bolsonaro não caiu e, muito pelo contrário, não para de crescer
nas pesquisas. Se nem a queda de Moro o afetou, o que poderia afetar?
Pelo CNI/Ibope, a aprovação de Bolsonaro deu um salto de 29% para 40% e
a desaprovação caiu de 38% para 29%, entre dezembro de 2019 e agora. E o que
marcou esse período? A pandemia,
que já matou perto de 140 mil brasileiros e
milhões de empregos, [os empregos 'mortos' ficam em torno de UM MILHÃO - fruto das medidas erradas de isolamento, fechamento - tudo fora de hora - adotadas pelos governadores e prefeitos. Os milhões representam a soma dos quase 12.000.000 herdados pelo governo Bolsonaro e que já estava em processo de redução - sustado pela pandemia e adicionados ao pouco de mais de 1.000.000 gerados pelo desastre dos estados e municípios no controle da pandemia.] e as queimadas, que devoram a Amazônia, o Pantanal e
a confiança do mundo no Brasil. Os fatos, que seriam contra qualquer
governante, não atingiram Bolsonaro e ele até saiu lucrando. Seria simplista
atribuir isso só aos R$ 600.
Daí a comparação com Lula, que passou
incólume pelo mensalão, esquema engendrado e operado no Planalto, e pelo
petrolão, que resultou até em prisão, e levou Fernando Haddad ao
segundo turno em 2018. Daí, também, a comparação com Trump, que mente,
tripudia, se lixa para direitos humanos, afugenta todos os principais
assessores, inclusive os militares mais graduados, mas dividiu a potência em
torno dele. Em 3 de novembro, os americanos não estarão votando entre Trump
e Joe Biden,
mas a favor ou contra Trump.
É o que ocorre neste momento no Brasil, com
o mundo e boa parte da opinião pública nacional aterrorizados com a ojeriza ou
descaso de Bolsonaro com educação, saúde, meio ambiente, cultura, política
externa, direitos humanos. A ponto de os opostos – agronegócio e ambientalistas,
bancos e cientistas, ex-ministros tucanos e petistas – se unirem para defender
a Amazônia. De quem? De Bolsonaro. Mas, apesar disso tudo, ele não só mantém
como amplia apoios.
Além do auxílio emergencial, Bolsonaro cresce nas pesquisas porque deixou de ser o presidente que lidera manifestações golpistas e faz tudo errado na pandemia e no meio ambiente para voltar a ser o candidato que viaja pelo País, sobe no palanque e é fotografo sorrindo para pequenas multidões. Só entra na boa. O que a população vê? Os governadores e prefeitos correndo para lá e para cá, com as pessoas morrendo, as indústrias com a corda no pescoço, as lojas fechando, shoppings e ruas populares às moscas e milhões na escuridão do desemprego. E o presidente? Não está nem aí, não é com ele.
E os filhos? Bem... com o governador do Rio afastado, o prefeito do Rio inelegível, as denúncias de corrupção correndo soltas, até no combate ao coronavírus, quem está preocupado com o 01, o 02, o 03, Queiroz, rachadinhas, fantasmas, dinheiro vivo, dezenas de imóveis? Ou com interferência política na PF? [Já se percebe um certo movimento de preparação para a hegemonia total do Governo Bolsonaro.
Começa por alguns pretenderem interpretar de forma diversa uma decisão escrita, sacramentada, confirmada, ratificada, corroborada, que passa o protagonismo, o comando do combate ao coronavírus para estados e municípios.
Começa a tentar vingar a ideia de que houve má interpretação da decisão.]
O recado da pesquisa é claro: Bolsonaro se
salvou de Bolsonaro. Vai continuar perambulando de aglomeração em aglomeração e
colhendo os louros de não fazer nada. É um efeito religioso, de fé, de crença,
de dogma. A inteligência, a racionalidade e a realidade não movem moinhos, não
definem popularidade, muito menos eleições. Ele é um exemplo vivo disso.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo
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