Se o Brasil está virando um pária internacional, isso se deve à política conduzida pelo governo
A questão ambiental tornou-se uma
espécie de faroeste, com mocinhos e bandidos se enfrentando. Os “mocinhos” de
ocasião são os ambientalistas, por mais que suas diferenças internas sejam
grandes, alguns com históricos esquerdistas, alinhados agora com banqueiros. Os
“bandidos” são a agricultura, a pecuária e o agronegócio em geral, como se eles
fossem os responsáveis pelo desmatamento, quando são alheios em suas atividades
ao que lá acontece, embora haja irresponsáveis nesse campo. A realidade é muito
mais multifacetada. [seria interessante assistir os 'mocinhos' comendo grama, galhos de árvores, etc.]
Manifestantes queimam uma bandeira do Brasil durante concentração no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, para um ato contra a realização da Copa do Mundo no Brasil - Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo
Por que não importam o instituto da reserva legal?
A área cultivada do País cresce muito menos do que a sua produtividade, o que faz que o mundo hoje dependa da produção nacional de alimentos.
Dito isto, a política governamental tem
sido um desastre. Como disse o próprio presidente Bolsonaro, a comunicação é
péssima, de onde logicamente deveria extrair a conclusão de uma mudança
completa nessa área. Uma medida muito acertada foi a criação do Conselho da
Amazônia, sob a coordenação do general Hamilton Mourão, pessoa inteligente e
com compreensão do problema, capaz de estabelecer diálogos com ONGs e governos
estrangeiros. A pauta deveria ser o diálogo. Acontece que o confronto continua
a ser a regra do atual governo, embora tenha havido algum apaziguamento.
O governo tem sido, sim, omisso na
questão ambiental, ora negligenciando-a, ora compactuando com garimpeiros, ora
não supervisionando, ora criticando instituições científicas de monitoramento.
Tampouco é de valia um ataque sistemático a governos estrangeiros e ONGs,
piorando ainda mais a imagem nacional e criando obstáculos à vinda de
investimentos. Se o Brasil está se tornando uma espécie de pária na cena
internacional, isso se deve à política conduzida. Quando se erra, pede-se
desculpa e não se persevera no erro.
Tampouco adianta os ambientalistas se
oporem à regularização fundiária, quanto mais não seja pelo fato de a recusa
perpetuar um status quo que é muito ruim. O Brasil dispõe de instrumentos para
isso, graças ao Cadastro Ambiental Rural e ao Código Florestal, que podem ser
amplamente utilizados e, se for o caso, aprimorados. O setor rural está também
pronto para esse tipo de negociação, que deveria ser feito sem preconceitos e
em espírito de diálogo. Fincar pé em posições intransigentes não interessa a
ninguém. Se não houver regularização fundiária, não haverá responsabilização
dos desmatamentos ilegais numa área superior à da Europa.
Evidentemente, não se pode fazer tudo in loco, é necessária a utilização de meios digitais. O Incra e o Ministério da Agricultura podem realizar essa tarefa. Responsabilizar implica reconhecer a propriedade, e não apenas uma posse eventual, que pode facilmente iludir a lei. A mobilização da sociedade civil em prol do meio ambiente é uma expressão da modernização do País, embora haja muitas pedras pelo caminho, com boas intenções podendo ser apropriadas pelo “demo”. Uma delas é a defesa repentina da questão ambiental pelos bancos. De um lado, deve ser bem-vinda por exprimir uma pauta de interesse coletivo; de outro, deixa um problema fundamental em aberto.
Quem os elaborará?
ONGs com vinculações com países e governos europeus?
Denis Lerrer Rosenfield, Professor de filosofia - O Estado de S. Paulo
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