No pequeno Uruguai, a lista das vítimas fatais da covid-19 cabe numa folhinha de papel com 47 nomes. Esse número, dividido pela população do país (3,44 milhões), leva a um índice de vidas perdidas por milhão de habitantes 40 vezes inferior ao dos países que ocupam a parte alta da tabela.
Médico, simpático, bem falante, deputado federal, o ministro tornou-se provedor de conteúdo para as tardes modorrentas do jornalismo brasileiro.
Foi na esteira desse conflito que o STF tirou a toga, calçou a chuteira e entrou em campo para participar do jogo.
Como todo gaúcho de Santana do Livramento, cidade de fronteira, gêmea
siamesa da cidade uruguaia de Rivera, guardo uma afeição muito especial
pelo nosso vizinho ao sul. O Uruguai é um país bem cuidado, amado pelo
seu povo. A pequena população tem, na média, educação de qualidade
superior à nossa e um nível cultural igualmente superior.
Aqui,
pertinho de nós, o país deles está sendo estudado como um caso de
sucesso no enfrentamento da pandemia. De um artigo escrito por duas economistas do FMI que estudaram as causas desse extraordinário
desempenho (1), extraí que o Uruguai se beneficia de uma consciência
política superior. Realmente, o país enfrenta o coronavírus com elevada
coesão. Não há ninguém querendo criar males nem mortos para colocar na
conta do culpado de plantão.
Políticos uruguaios, funcionários de alto escalão e partidos políticos abriram mão de parte de seus vencimentos e receitas para um fundo de combate ao coronavírus. [aqui o presidente do Senado liderou recurso contestando decisão judicial de primeiro grau que autorizava o uso das verbas dos Fundos Eleitoral e Partidário no combate à covid-19.
Ganhou e, em consequência, o combate ao coronavírus perdeu recursos que seriam suficientes para pagar pouco mais de 6.000.000 (SEIS MILHÕES) de auxílio emergencial de R$ 600,00 cada. As eleições municipais vão ocorrer, tipo meia boca, em novembro próximo - fossem adiadas em dois anos se uniriam as de 2022 e o Brasil passaria a ter eleições a cada quatro anos, eleições gerais, economizando uma fortuna.]
Foi um dos primeiros países da América Latina a incentivar o uso de máscaras. Jamais decretou confinamento obrigatório. Reabriu suas escolas no mês de junho. Enquanto isso, no Brasil, entrando o mês de outubro, ainda se discute o retorno às aulas presenciais. A economia e os empregos padecem sequelas de um tombo colossal. Até o mês de agosto, nove milhões de brasileiros haviam perdido seus postos de trabalho. Vulgarizou-se a prática irracional de desconcentrar e diminuir as aglomerações determinando a abertura do comércio em menos horas e menos dias da semana... As ruas exibem portas fechadas, placas de aluga-se ou vende-se, mais e mais superfícies abertas ao depressivo trabalho dos pichadores. [o prefeito da cidade de São Paulo, usando o supremo mandato que lhe foi outorgado, tentou como primeira medida concentrar os engarrafamentos, percebeu que não daria certo e mandou encomendar 38.000 urnas funerárias.
O governador do DF adotou a cidade piauiense na qual passou a infância e retirou equipamentos médicos da Saúde brasiliense para a cidade do Piauí - só que tais equipamentos já faziam falta na Saúde pública do DF.]
Claro, aqui haverá quem considere o Uruguai um mau exemplo.
(1) https://news.un.org/pt/story/2020/08/1722182
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
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