O ministro Marco Aurélio Mello fez bem em levar para o plenário do Supremo a definição sobre a forma como Jair Bolsonaro irá depor. A diferença entre um depoimento oral ou por escrito é comparável à diferença entre a forca e o violino. Os dois têm corda. Mas um pode produzir a morte. O outro, apenas música. Para uma pessoa como Jair Bolsonaro, que fala dez vezes antes de pensar, ser interrogado no ambiente controlado da folha de papel é, evidentemente, mais seguro do que num encontro cara a cara com a turma da Polícia Federal e os advogados do acusador Sergio Moro. É claro que o presidente não cogita dizer nada que o comprometa. Mas nada é uma palavra que pode ultrapassar tudo quando a língua de Bolsonaro se move sem cabresto.[o presidente Bolsonaro é um VENCEDOR nato;aceitem, se acostumem e doerá bem menos.]
No dia 3
de junho, quando falou publicamente sobre o depoimento que terá de prestar no
inquérito em que é acusado de tramar o aparelhamento político da PF. Bolsonaro
posou de valentão: "Pra mim tanto faz", disse, sobre o modelo do
interrogatório. Mas reconheceu: por escrito, o investigado tem "uma
segurança enorme na resposta, porque não vai titubear. Ao vivo pode titubear,
mas não estou preocupado com isso."
A despreocupação do capitão era conversa mole. Formalizada a intimação da Polícia Federal, a Advocacia-Geral da União apressou-se em pedir ao Supremo a revogação do despacho de Celso de Mello, que ordenou o depoimento oral. Pediu isonomia em relação ao tratamento que o ministro Luís Roberto Barroso deu a Michel Temer. Em 2017, investigado por corrupção, Temer foi autorizado a depor por escrito. O vaivém forneceu material para Bolsonaro transformar a falta de unidade do Supremo num palanque. Reivindicar no Supremo a concessão de um tratamento à Temer não pegou bem. Mas Bolsonaro transforma receio em limonada. Faz pose de perseguido.
Intimado pela PF, Bolsonaro como que intimou o Supremo a tomar uma decisão colegiada. Sairá ganhando qualquer que seja o resultado. Prevalecendo a linha Barroso, terceirizará ao seu staff jurídico as respostas ao interrogatório. Mantido o despacho do decano, ganha, se quiser, um pretexto para não comparecer ao depoimento.
Blog do Josias - Josias de Sousa, jornalista - UOL
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