Alexandre Garcia
"Como se sabe, poderosos foram pegos pela Lava-Jato, mas contaram com a leniência do Supremo, tirados da cadeia e postos em prisão domiciliar - alguns nem isso. O Supremo muito tem contribuído para manter a pecha de país da impunidade, leniente com os poderosos"
O ministro do Supremo Luiz Edson Fachin, em relatório
sobre a Lava-Jato enviado ao novo presidente da Corte, ministro Luiz
Fux, afirma que “o sistema criminal brasileiro é injusto e desigual para
a população menos abastada e leniente com os poderosos.” Nada de novo. O
advogado e professor Fachin fez força para chegar ao Supremo. Entrou na
campanha de Dilma e, indicado pela presidente, percorreu os gabinetes
dos senadores para garantir aprovação no Senado Federal. Provavelmente sabia o
que iria encontrar inclusive porque sua mulher é desembargadora no
Paraná e deve ter-lhe contado muita coisa. A frase posta no relatório a
Fux, além de obviedade acaciana, pode ter sido um alerta e um desabafo.
Como relator da Lava-Jato, ele deve ter visto muito
mais do que já sabia. O desabafo deve ser resultado de já participar do
sistema injusto há mais de cinco anos — e dividiu isso com o presidente
do Supremo. Como se sabe, poderosos foram pegos pela Lava-Jato — da
Polícia Federal, do Ministério Público, dos juízes federais de primeira
instância, dos tribunais regionais —, mas contaram com a leniência do
Supremo, tirados da cadeia e postos em prisão domiciliar — alguns nem
isso. O Supremo muito tem contribuído para manter a pecha de país da
impunidade, leniente com os poderosos.
[lembramos que recente decisão do Supremo transformou as favelas do Rio em territórios não sujeitos as ações policiais - a polícia foi proibida de entrar ou mesmo sobrevoar tais áreas, exceto em situações excepcionais. A decisão do Supremo além de conceder o status de extraterritorialidade às favelas do Rio = embaixadas do crime = territórios soberanos dos crimes - favorece aos menos abastados que cometam crimes e morem nas favelas.
Um único exemplo: se um morador da favela assassinar a esposa terá todas as facilidades para se evadir da ação policial, podendo até permanecer no morro, visto que estará livre da ação policial.
Aproveitamos para registrar que foi o PSB o partido que
ingressou no Supremo Tribunal Federal com uma ação para impedir
operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro, durante a pandemia provocada pelo vírus chinês.
O
STF concedeu a medida, com os votos das excelências Edson Fachin, Marco
Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Gilmar
Mendes.]
O Supremo não está nisso sozinho. A maioria do
Congresso aprovou a Lei de Abuso da Autoridade, que inibe a polícia, o
Ministério Público e juízes. E esqueceu de aprovar a prisão em segunda
instância. A audiência de custódia, que tem servido para jogar no lixo o
trabalho da polícia e manter nas ruas assaltantes e traficantes. Agora
mesmo o Superior Tribunal de Justiça mandou tirar da cadeia em São Paulo
1.100 traficantes, porque haviam sido condenados a menos de quatro
anos. E vem aí o juiz de garantias. Além disso, para os de menor idade,
há o ECA. Assim, o sistema criminal não está sendo tão injusto com os
menos abastados.
Os poderosos promovem a desigualdade da Justiça pelo
dinheiro — geralmente vindo da população menos abastada pagadora de
impostos embutidos no que compram. Com o dinheiro, advogados repetem
recursos que levam processos à prescrição. Mas também há dinheiro para
comprar sentenças, como constatam as corregedorias e o Conselho Nacional
de Justiça — e poderosos são apenas aposentados —, e para remunerar com
milhões filhos de magistrados, como acaba de revelar o E$quema S, da
Polícia Federal. A frase de Fachin nos faz desejar que o ativismo no
Supremo saia da política e entre no combate a essas injustiças.
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Alexandre Garcia, jornalista - Correio Braziliense
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