PF e PRF disputam o Comando de Operações
Documentos e relatos de policiais revelam os bastidores da guerra silenciosa da PF e da PRF pelo comando de investigações
Sertão pernambucano, últimos dias de julho
de 2019. Ações paralelas de policiais federais e rodoviários quase
terminam em tragédia. Equipes das duas corporações resolveram
desencadear, por conta e risco, operações de erradicação de maconha na
mesma região, uma roça entre os municípios de Cabrobó e Salgueiro.
Enquanto policiais federais iniciam os trabalhos ainda na madrugada, os rodoviários deslocam um helicóptero para o mesmo local. O risco: do alto, na aeronave, os patrulheiros estavam prestes a confundir integrantes da PF com traficantes, o que poderia dar início a um tiroteio com desfecho lúgubre.
O episódio no Polígono da Maconha, em Pernambuco, é apenas um dos exemplos da guerra silenciosa travada entre a PF e a PRF pelo comando de investigação. Trata-se de um enredo intrincado que envolve não apenas os policiais, mas interesses do Ministério Público e do governo do presidente Jair Bolsonaro. E que está longe de um final, mesmo com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema no último dia 10 de agosto.
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"Disputa mesquinha"
O que os delegados tratam como uma guerra de corporações, os policiais rodoviários estabelecem como algo mais banal, quase mesquinho. "Os delegados não falam pela Polícia Federal, mas os policiais federais não concordam com isso e defendem o trabalho da PRF", diz Azevedo. No final do ano passado, em nota pública, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) defendeu a portaria de Moro. "Não há invasão de competência (...), a medida apenas se traduz em desburocratização e celeridade."
Além da divisão interna, os delegados ainda enfrentam outro problema: apesar do parecer de Aras contrário à portaria, procuradores e promotores ouvidos pelo SBT News defendem a atuação da PRF. Com poder de investigação garantido pelo Supremo, o Ministério Público tem combinado operações com os policiais rodoviários. "Como eles não têm braços operacionais - e como a PF não faz tudo que eles querem-, procuradores acabam se aproveitando do efetivo da PRF", disse um delegado que preferiu não se identificar.
"Essa disputa começou a ficar mais acirrada ainda no começo dos anos 2010 por causa de termos de cooperação entre a PRF e MP", lembra Azevedo. E se intensificou com a divulgação dos resultados de operações da PRF, que tem usado as redes sociais com eficiência, mostrando a quantidade e os valores de drogas apreendidas. "É um erro divulgar as cifras envolvidas, pois gera cobiça, mostra o quanto o tráfico pode ser rentável. A PRF faz isso direto, a Polícia Federal, por princípio, não faz."
Esplanada em silêncio
A cúpula da Polícia Rodoviária Federal tem defendido em reuniões do governo que a corporação não trabalha com investigações, mas compartilha informações e empresta apoio a outros órgãos. E a portaria de Moro apenas regulamentou o trabalho. Na Esplanada, há um certo silêncio sobre a queda de braço entre as corporações. É como se a disputa fosse benéfica, pois há uma corrida por mais apreensões de drogas e prisão de integrantes de quadrilhas organizadas. O trabalho é exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Máscara Negra
Os relatos da ação desastrada no interior de pernambucano chegaram ao Máscara Negra, como é conhecido o prédio da diretoria-geral da Polícia Federal no centro de Brasília. E se espalharam em grupos de mensagens da PF e da PRF. Um documento de 13 de julho deste ano foi compartilhado por federais e patrulheiros. Assinado por Elvis Aparecido Secco, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado, o texto deixa clara a desavença entre os grupos de policiais - principalmente por causa da divulgação nas redes sociais das operações da PRF.
Enquanto policiais federais iniciam os trabalhos ainda na madrugada, os rodoviários deslocam um helicóptero para o mesmo local. O risco: do alto, na aeronave, os patrulheiros estavam prestes a confundir integrantes da PF com traficantes, o que poderia dar início a um tiroteio com desfecho lúgubre.
O episódio no Polígono da Maconha, em Pernambuco, é apenas um dos exemplos da guerra silenciosa travada entre a PF e a PRF pelo comando de investigação. Trata-se de um enredo intrincado que envolve não apenas os policiais, mas interesses do Ministério Público e do governo do presidente Jair Bolsonaro. E que está longe de um final, mesmo com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema no último dia 10 de agosto.
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"Disputa mesquinha"
O que os delegados tratam como uma guerra de corporações, os policiais rodoviários estabelecem como algo mais banal, quase mesquinho. "Os delegados não falam pela Polícia Federal, mas os policiais federais não concordam com isso e defendem o trabalho da PRF", diz Azevedo. No final do ano passado, em nota pública, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) defendeu a portaria de Moro. "Não há invasão de competência (...), a medida apenas se traduz em desburocratização e celeridade."
Além da divisão interna, os delegados ainda enfrentam outro problema: apesar do parecer de Aras contrário à portaria, procuradores e promotores ouvidos pelo SBT News defendem a atuação da PRF. Com poder de investigação garantido pelo Supremo, o Ministério Público tem combinado operações com os policiais rodoviários. "Como eles não têm braços operacionais - e como a PF não faz tudo que eles querem-, procuradores acabam se aproveitando do efetivo da PRF", disse um delegado que preferiu não se identificar.
"Essa disputa começou a ficar mais acirrada ainda no começo dos anos 2010 por causa de termos de cooperação entre a PRF e MP", lembra Azevedo. E se intensificou com a divulgação dos resultados de operações da PRF, que tem usado as redes sociais com eficiência, mostrando a quantidade e os valores de drogas apreendidas. "É um erro divulgar as cifras envolvidas, pois gera cobiça, mostra o quanto o tráfico pode ser rentável. A PRF faz isso direto, a Polícia Federal, por princípio, não faz."
Esplanada em silêncio
A cúpula da Polícia Rodoviária Federal tem defendido em reuniões do governo que a corporação não trabalha com investigações, mas compartilha informações e empresta apoio a outros órgãos. E a portaria de Moro apenas regulamentou o trabalho. Na Esplanada, há um certo silêncio sobre a queda de braço entre as corporações. É como se a disputa fosse benéfica, pois há uma corrida por mais apreensões de drogas e prisão de integrantes de quadrilhas organizadas. O trabalho é exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro e policiais rodoviários federais | Foto: Reprodução/Instagram
Máscara Negra
Os relatos da ação desastrada no interior de pernambucano chegaram ao Máscara Negra, como é conhecido o prédio da diretoria-geral da Polícia Federal no centro de Brasília. E se espalharam em grupos de mensagens da PF e da PRF. Um documento de 13 de julho deste ano foi compartilhado por federais e patrulheiros. Assinado por Elvis Aparecido Secco, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado, o texto deixa clara a desavença entre os grupos de policiais - principalmente por causa da divulgação nas redes sociais das operações da PRF.
"No que se refere a dados estatísticos que estão sendo equivocadamente absorvidos por outras instituições e utilizados para inflar números que não refletem a realidade, solicito que a partir de agora todas as prisões e apreensões de crimes de atribuição da PF sejam repassadas a unidades da PF, sendo que, somente na hipótese de não atendimento de apoio solicitado, seja o trabalho repassado a outras instituições", diz a nota, que foi enviada inicialmente a superintendentes regionais e chefes de delegacias descentralizadas.
O trecho mais enfático do documento de Secco vem depois: "Na atual conjuntura, a defesa da instituição e o cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo órgão central faz-se mister para conter o avanço das instituições que tentam ir além de suas atribuições invadindo área de atuação exclusiva da Polícia Federal". (Clique e leia a íntegra.)
O trecho mais enfático do documento de Secco vem depois: "Na atual conjuntura, a defesa da instituição e o cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo órgão central faz-se mister para conter o avanço das instituições que tentam ir além de suas atribuições invadindo área de atuação exclusiva da Polícia Federal". (Clique e leia a íntegra.)
Polícia contra Polícia
Associações sindicaisO Supremo referendou, por 6 a 4, a portaria do Ministério da Justiça, determinando que a Polícia Rodoviária Federal passasse a participar de operações de investigação e inteligência, como estabeleceu Moro. A ação foi proposta pela Associação Nacional dos Delegados da PF, que defendeu a inconstitucionalidade do texto de Moro. O artigo 144 da Constituição estabelece que cabe "à PF e à Polícia Civil exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária, dentre as quais se inserem as atividades investigativas e persecutórias de ilícitos penais". Caberia à PRF o patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
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