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sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Supremo dos EUA cria código de ética para viagens de seus ministros; o Brasil deveria fazer o mesmo? - O Estado de S. Paulo

Weslley Galzo

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, custeio de ministros do STF em viagens internacionais, que já foi alvo de críticas, também deveria ser proibido no Brasil; Supremo diz que ministros são disciplinados pela Lei da Magistratura e podem sofrer impeachment

Com dois de seus juízes imersos em escândalos envolvendo relações suspeitas com empresários, a Suprema Corte dos Estados Unidos editou na última segunda-feira, 13, um código de ética para disciplinar a atuação dos seus membros.

A imprensa norte-americana revelou que o juiz Clarence Thomaz aceitou durante décadas que o bilionário texano Harlan Crow custeasse suas viagens de férias para destinos paradisíacos, como uma remota ilha da Indonésia. O mesmo aconteceu com o juiz Samuel Alito, que aceitou viajar diversas vezes para pescar no Alasca com tudo bancado pelo investidor Paul Singer.

Uma discussão que o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil entende que não cabe para os seus. Procurada pelo Estadão, a Corte afirmou que “os ministros observam o disposto na Lei Orgânica da Magistratura (Loman) e podem ser responsabilizados por crime de responsabilidade a partir de processo aberto pelo Senado, conforme prevê a Constituição”. Um impeachment de ministros do Supremo nunca ocorreu no Brasil.
Em setembro, foi colocada em votação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) uma resolução para restringir a participação de magistrados em eventos com patrocínio de empresas. A ideia foi rejeitada
O texto foi remetido à Comissão de Eficiência Operacional, Infraestrutura e Gestão de Pessoas do próprio CNJ para ser refeito. A nova versão pode acabar garantindo aos juízes de todo o País o direito de receber remuneração por palestras.

São frequentes as viagens de juízes brasileiras bancadas por empresas privadas que têm ações pendentes. Nesses casos, contudo, os deslocamentos são para eventos, fóruns e palestras.

Já o regramento criado pela mais alta instância do Poder Judiciário nos Estados Unidos estabelece, por exemplo, que os juízes “não devem utilizar o prestígio de seus gabinetes para obter vantagens pessoais ou a terceiros”.

A Corte constitucional brasileira até possui um código de ética, cuja redação é voltada especificamente para disciplinar os seus servidores. O documento veda aos funcionários “valer-se do cargo ou da função para obter favores, benesses e vantagens indevidas para si ou para outrem”.

Além disso, há interpretações jurídicas de que os ministros do STF sequer estão submetidos ao código de ética da magistratura criado pelo CNJ
Em mais de uma oportunidade os próprios ministros julgaram que o CNJ não tem competência para julgá-los, o que gera dúvidas quando a aplicação de seus protocolos aos membros da Supremo Corte.

Foi assim em 2005, quando os magistrados analisaram um processo de relatoria do ex-ministro Cezar Peluso. Na ocasião, a Corte decidiu que “o CNJ não tem nenhuma competência sobre o STF e seus ministros, sendo este o órgão máximo do Poder Judiciário nacional a que aquele está sujeito”. Em 2014, a Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) pediu ao CNJ que tomasse providência contra o ex-ministro Joaquim Barbosa por não liberar para julgamento ações de interesse dos industriais. O caso acabou na Segunda Turma do STF, que ratificou mais uma vez que Conselho não tem atribuições para rever atos de ministros.

O código de ética do CNJ estabelece, entre outras obrigações, que “é dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua independência funcional”. Também há interpretações divergentes no meio jurídico quanto ao alcance da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman) em relação aos ministros, uma vez que não há controle externo.

Na avaliação do professor Gianpaolo Smanio, que dá aula de direito constitucional na Universidade Presbiteriana Mackenzie, os ministros do STF estão submetidos à Lei Orgânica. A única diferença, segundo ele, é a forma de controle aplicado em cada caso: impeachment, quando se trata de ministro, e processos disciplinares em relação aos demais juízes. “O que pode ser feito é um aperfeiçoamento da legislação”, argumentou. Para Smanio, a lei deve se tornar mais clara e explicita em relação àquilo que é proibido na interação entre juízes e entes privados.

O ex-ministro da Advocacia Geral da União (AGU) Fábio Osório avalia que a replicação do modelo criado pelos norte-americanos seria positivo para a imagem dos STF . “A autorregulação significaria uma postura proativa e transparente do próprio Supremo. Isso sinalizaria para a sociedade que o Supremo está preocupado com essa pauta da transparência e do controle de seus próprios membros. É uma agenda que seria de proteção da imagem do Supremo perante a sociedade”, afirmou.

“A autorregulação significaria uma postura proativa e transparente do próprio Supremo. Isso sinalizaria para a sociedade que o Supremo está preocupado com essa pauta da transparência e do controle de seus próprios membros.”

Fábio Osório, ex-ministro da Advocacia Geral da União (AGU)

O professor de direito constitucional Thomaz Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), reforça o caráter simbólico que o código de ética teria caso fosse adotado pelo STF, mas avalia que o problema da Corte envolve o seu “desenho institucional”. “A gente não tem um ambiente em que não existe mecanismo institucional para fazer com que essas regras valham. O único instrumento que a gente tem é muito duro, radical e difícil, que é o impeachment”, afirmou. “Não faltam regras na situação em que vivemos. O que falta é um desenho institucional que faça com que os ministros do Supremo sintam-se compelidos a segui-las para além das próprias interpretações”, acrescentou.

No diagnóstico do professor, “o problema que tem hoje é que não há uma boa solução institucional ao mesmo tempo em que a gente pode apontar comportamentos problemáticos por parte de ministros do Supremo.”

Já Alvaro Jorge, professor de direito constitucional da FGV-Rio, destaca que o controle ético dos atos dos ministros também deveria se materializar nas suas decisões. Ele cita, por exemplo, a decisão da Corte que autorizou juízes de todas as instâncias a julgar causas de clientes de escritórios de cônjuges e parentes. “Um tipo de votação que não está em linha com essa mesma ideia que foi debatida no código da Suprema Corte (dos EUA)”, disse.

Weslley Galzo, colunista - O Estado de S. Paulo

 

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Cresce a pressão para que a Suprema Corte dos EUA elabore um Código de Ética interno, para superar as críticas que vem recebendo

O Globo

Poder contestado

A aparente crise entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso é uma disputa de poder que ocorre nas democracias, inclusive nos Estados Unidos, cujos pais fundadores buscaram na teoria da separação de poderes de Montesquieu a base da elaboração da Declaração de Independência de 1776. 

No momento, cresce a pressão para que a Suprema Corte dos Estados Unidos elabore um Código de Ética interno, para superar as críticas que vem recebendo por atitudes de alguns integrantes.

Essa possibilidade vem sendo discutida há anos, sempre que o Congresso americano ameaça regulamentar as atividades da Suprema Corte a partir de um Código de Ética elaborado pelos parlamentares. Recentemente, a ministra Elena Kagan apoiou a criação de um código, reforçando o grupo de ministros que entendem importante tal conduta diante das acusações que vêm surgindo.

O ministro Clarence Thomas admitiu que deixou de declarar viagens consideradas “luxuosas” durante os últimos 20 anos com o bilionário Harlan Crow, transações imobiliárias, inclusive a da casa onde mora sua mãe, e o pagamento de US$ 6 mil mensais à universidade de um sobrinho-neto. 

O ministro Samuel Alito contestou a necessidade de declarar viagem ao Alasca a bordo de um avião particular do bilionário Paul Singer. 
Além de alegar que, se ele não fosse, o lugar no avião ficaria vazio, Alito se apoiou na legislação que diz que os ministros não são obrigados a declarar “hospitalidade pessoal”, a mesma argumentação de Thomas.

A partir de março deste ano, porém, houve mudança na legislação, e ambos tiveram de declarar essas e outras vantagens, como viagens para palestras e seminários em universidades e instituições privadas

Há também por lá politização das ações de alguns ministros, como Sonia Sotomayor, acusada de vazar a decisão da Corte sobre a restrição ao aborto para tentar revertê-la com o apoio da opinião pública. Sotomayor, aliás, foi muito criticada por ter recebido de uma editora US$ 3 milhões por direitos autorais de uma biografia que não teria vendido tanto.

Aqui no Brasil, uma decisão recente do Supremo permitindo que juízes atuem em casos de clientes de parentes, desde que em processos distintos, causou mal-estar na opinião pública, assim como a presença de ministros em palestras de instituições privadas no país e no exterior. Recentemente, tivemos a repetição de mal-entendidos durante essas apresentações, como a exposição do presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, num seminário em Paris.

O que teve a intenção de ser elogio deixou Barroso em má situação. Depois de ouvi-lo, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy disse que Barroso estava pronto para “outra presidência”, referindo-se claramente à Presidência da República no Brasil. Para sustentar seu elogio, Sarkozy salientou que a palestra de Barroso era “um discurso de orientação política forte, muito mais que um discurso de orientação jurídica”.

Na mesma ocasião, outro ministro do Supremo presente, o decano Gilmar Mendes, disse em entrevista que, “se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do STF”. Tomada ao pé da letra, como foi pelos bolsonaristas, a frase parece “uma confissão de culpa”. Se lembrarmos que, recentemente, o ministro Barroso afirmou, numa reunião da UNE, que “nós derrotamos o bolsonarismo”, veremos que declarações de ministros do Supremo fora dos autos têm provocado muitos mal-entendidos políticos.

Gilmar se referia a sua luta contra a Operação Lava-Jato, que culminou com a decretação pelo Supremo da parcialidade do ex-juiz Sergio Moro e provocou a anulação de todas as condenações e processos contra Lula, permitindo que disputasse a eleição presidencial
E Barroso se referia ao que chamou de “extremismo golpista”, que culminou nos ataques de 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes em Brasília. 
 
Merval Pereira, colunista - Blog em O Globo

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A Ucrânia balança o mundo - Revista Oeste

Flavio Morgenstern e Artur Piva

Os alertas sobre o expansionismo russo sempre foram interpretados como uma espécie de teoria da conspiração de radicais da direita 

Tanque de tropas do Exército ucraniano | Foto: Milan Sommer/Shutterstock
Tanque de tropas do Exército ucraniano -  Foto: Milan Sommer/Shutterstock

Quando era candidata a vice-presidente na chapa de John McCain em 2008, uma pouco destacada Sarah Palin foi entrevistada sobre seu conhecimento de geopolítica, já que era vista apenas como a governadora de um Estado pouco relevante como o Alasca. A resposta de Palin virou piada nacional: lembrando que o Alasca faz fronteira com a Rússia, afirmou poder ver de seu Estado natal Putin invadindo a Ucrânia. Até hoje há quem creia que a governadora tenha afirmado que podia ver fisicamente a Rússia de sua casa (home), mas quase ninguém se lembrou de sua declaração quando Putin anexou a Crimeia seis anos depois.

Em um debate com o então presidente, Barack Obama, em 2012, Mitt Romney havia dito que a maior ameaça geopolítica que a América enfrentava era a Rússia. Obama soube ganhar apoio midiático e votos rindo da declaração, gracejando que seu adversário republicano queria uma política externa “dos anos 1980” de volta. Seu vice-presidente era um certo Joe Biden, então pouco conhecido no Brasil.

Quatro anos depois, Donald Trump surpreenderia o mundo com sua campanha de amplo apoio popular e violentíssima reação da mídia — afirmando, já na abertura do seu livro América Debilitada, que Vladimir Putin era um perigo para os Estados Unidos da América e para o mundo livre — e que a política democrata estava enfraquecendo a América e favorecendo os planos expansionistas do novo autocrata russo. Putin foi considerado o homem mais poderoso do mundo durante quase todos os anos da administração Obama, que tinha em Hillary Clinton seu braço internacional e em Joe Biden a conexão e o apoio político com o establishment norte-americano.

Desta vez, além de virar alvo de galhofa da mídia, seguiram-se pelo menos dois anos de uma teoria da conspiração que é tratada até hoje como se tivesse sido provada: que Trump havia ganhado as eleições com ajuda da manipulação russa — logo de Putin, que era alvo do então candidato. Seria pedir muito que a maioria dos jornalistas da grande mídia lesse duas ou três páginas de um livro antes de emitir opiniões tão fanatizadas. Foram apenas alguns exemplos de constantes críticas pela direita norte-americana ao expansionismo russo, enquanto o Partido Democrata, o complexo midiático internacional e as instituições acadêmicas que formam a opinião pública faziam troça de tais acusações — tal como Obama, geralmente afirmando que era uma “retórica de Guerra Fria”.

A Ucrânia, país pobre e debilitado, mas ao mesmo tempo muito importante no projeto geopolítico e cultural russo, era vista como o próximo alvo dos planos de Vladimir Putin, tal como Taiwan é a menina dos olhos da China de Xi Jinping. Mas os alertas constantes sobre o imperialismo russo sempre foram ouvidos pelo estamento como uma espécie de teoria da conspiração de extrema direita ultranacionalista — exatamente a chuva de adjetivos de forte impacto psicológico e nenhuma clareza conceitual que foi esquecida na última semana, tão logo Putin cumpriu suas ameaças. A concretização da geopolítica russa, afinal, é resultado do fracasso constante da política externa democrata — de Obama, Hillary e Biden.

O fracasso da “contenção” tardia
O ex-presidente Donald Trump adotou uma política aplicando conceitos mais próximos da administração do que da geopolítica. Apesar das críticas ao seu desconhecimento em geopolítica, ele cuidou de favorecer os amigos do Ocidente, no que ficou conhecido como a política da América em primeiro lugar (America First). Assumindo quando o Estado Islâmico parecia trazer o fim dos tempos, conseguiu manter-se por quatro anos sem nenhum incidente internacional digno de nota. Conseguiu inclusive trazer Kim Jong-un para a mesa de negociações e colocou fim à guerra civil síria, além de ter levado mais paz ao Oriente Médio com os Acordos de Abraão.

Com a vitória de Biden, não demorou até outras potências e grupos opositores colocarem à prova a força do novo governo. Quando isso ocorreu com o Trump, ele respondeu rapidamente com um bombardeio contra bases sírias. Com Biden, o oposto tomou forma: sua política fracassou no Afeganistão e perdeu uma guerra custosa de 20 anos. O caminho estava aberto para que a China, a Rússia, o Irã e outros países voltassem a avançar contra a estabilidade mundial.

Biden também tem culpa por colocar a ideologia acima dos interesses nacionais norte-americanos. O presidente norte-americano é um dos grandes responsáveis por não ter Índia e Brasil alinhados de modo mais claro à posição norte-americana, já que escolheu esnobar Narendra Modi e Bolsonaro por serem conservadores. Ele também fez o mesmo com os países do Golfo, cancelando vendas de produtos de defesa para a Arábia Saudita e para os Emirados, ambos desafetos do Irã, principal aliado russo no Oriente Médio.

Com o atual expansionismo de Putin na Ucrânia, temos um dos mais fortes erros geopolíticos da história norte-americana (e foram muitos recentes). Putin faz suas mobilizações para provocar, e sempre ganha sem precisar disparar um tiro
A Rússia, que faz fronteira com a Turquia e o Japão, com a Finlândia e a Coreia do Norte, com a Polônia e a China, de certa forma com o Japão e os Estados Unidos, pode realizar constantes mobilizações militares e exercícios fronteiriços. 
Afinal, ainda está em seu próprio território. Assim o fez recentemente com a Bielorrússia e a Geórgia, com o Cazaquistão e a própria Ucrânia.

Para o Ocidente poder mostrar seu poder de fogo de volta, precisa passar pela via burocrática: pedidos da Otan, destacamento caríssimo de tropas, passagem por países —  não raro ditaduras —, culminando em exercícios diminuídos e que nunca poderiam assustar alguém como Putin. Até tal resposta aparecer, os russos já puderam fazer novos exercícios, em outros pontos da fronteira russa que envolvem países diferentes — e todo o processo recomeça do zero, a altíssimo custo, enquanto Putin apenas movimenta tropas alguns quilômetros acima ou abaixo.

O que foi testemunhado nas últimas semanas foram constantes provocações militares, que teriam sido contidas caso houvesse um presidente forte na Casa Branca. Joe Biden, depois de Putin já tomar cidades ucranianas com ataques por terra, mar e ar, afirma que irá impor… sanções econômicas às regiões separatistas da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk
Algo para o qual Putin já estava se preparando havia anos — e trata suas tropas na região como “mantenedoras da paz” (sic). O seu ethos é guerreiro, coletivista, não se importa com sacrifícios de indivíduos ou tempo pensando no longo prazo. Não há como comparar uma ameaça de “medidas econômicas severas” com Putin falando em tons militares das “consequências nunca antes vistas” (com armas nunca testadas em campo) do apoio à entrada da Ucrânia na Otan.

Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade

Seria preciso que os Estados Unidos tivessem realizado uma política de contenção mais robusta, como as sanções impostas por Trump ao oleoduto Nord Stream 2 Biden simplesmente desistiu das sanções em maio último, o que levantou suspeitas sobre os interesses de seu filho — e também da família Clinton — nos sistemas de energia dos países mais corruptos do Leste Europeu. Putin logo entendeu que podia se preparar para atacar. Medidas como esta, no tempo correto, teriam sido suficientes para evitar o atoleiro no qual Biden se vê: todas as desvantagens de um conflito militar, que agora é quase inevitável, sem nenhuma vantagem da contenção diplomática.

O curioso é que a propaganda de Biden era justamente de que Putin tinha “medo” dele (e não de Trump), porque ele seria “muito duro” com o autocrata russo. Palavras sem espada são apenas tinta no papel. Ou no Twitter. Hoje, tudo o que resta a Biden é prometer sanções econômicas, que poucos dos seus aliados europeus levarão a sério, se são tão dependentes da energia russa.

A Ucrânia no xadrez geopolítico
Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade: a recriação da grandeza do antigo Império Russo, mas com a tecnologia moderna e o poder autocrata herdado da União Soviética. Este plano busca recriar o Império original, a grande Rus, o nome original da Rússia. A Ucrânia, ou “Pequena Rússia”, como é chamada pelos russos, é peça-chave para o plano de Putin. Além de muitos ucranianos serem etnicamente russos, e identificarem-se mais com o grande e glorioso país do que com seu decadente e corrupto Estado moderno, o antigo Império tinha em Kiev o seu centro cultural — o que é uma questão séria para Putin.

Sem ter uma ideologia muito precisa que unifique a sociedade a favor do seu projeto de poder como os ditadores comunistas possuíam com o bolchevismo comunista, seu apelo atual é para um “nacionalismo” expansionista, no qual os antigos territórios do Império Russo serão retomados um a um. A hegemonia cultural, militar e econômica do globo deixará de ter na América e na Inglaterra o seu centro irradiador, e a Grande Mãe Rússia ressurgirá como a nação capaz de salvar os pobres e aflitos do planeta. Foi neste contexto que vimos a Ucrânia querer uma aproximação com o Ocidente: cogitando mais um modelo liberal, pró-União Europeia e sendo apoiada até militarmente pelo mundo livre. Cogitou se filiar à Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, o bloco de países que se uniu justamente para frear o expansionismo militar russo durante a Guerra Fria. Para um autocrata com um plano global como Putin, é muito mais do que uma provokatsiya: é praticamente uma declaração de guerra. Afinal, a “Pequena Rússia” é parte da Rússia, segundo pensa Putin.

Memes começaram a aparecer nas redes sociais minutos depois da invasão:

 

A despeito das ideologias, as fronteiras atuais da Ucrânia foram definidas pelos tratados do fim da Guerra Fria. Como os países menores eram controlados por governos “satélites” de Moscou pela União Soviética, o mapa atual da Ucrânia possui fronteiras artificialmente maiores do que seu desenho histórico — o que é martelado dia e noite pela propaganda oficial de Putin. Entre os principais alvos estão Odessa e Sevastopol, importantes portos para a economia russa. Quando a Ucrânia se declarou independente de Moscou de vez, em 2014, essas regiões tornaram-se zonas de extrema tensão e conflito. E é neste ponto em que a política externa de Biden, desastrosa em tudo, se tornou verdadeiramente mortífera.

A política da provokatsiya e da desinformatsiya
Putin, homem forte da KGB e especialista em desinformatsiya, sempre soube fazer intensa propaganda separatista na Ucrânia, sobretudo na fronteira leste, financiando milícias, apoiando grupos rebeldes e prometendo mundos e fundos para quem pretendesse anexar-se à Rússia. Ao mesmo tempo, também destaca como grupos “neonazistas” aparecem no país vizinho, passando a tratar qualquer um que se oponha ao seu projeto de poder como um “nazista” ou um “racista”. Como palavras importam em uma guerra travada antes na mídia do que no campo de batalha, países ocidentais pisam em ovos para apoiar governos legítimos, como o da Ucrânia. Mesmo no Brasil, até sua bandeira já foi acusada de ser um “símbolo neonazista”, exigindo que o embaixador ucraniano no Brasil viesse a público explicar que o símbolo do país não é “neonazista”
Ou seja, a desinformatsiya russa é eficiente e transcontinental. Determina até os termos usados por jornalistas brasileiros. Enquanto isso, Putin constantemente ganha mais espaço de manobra para destruir grupos rivais. Tal como virou moda em republiquetas, acusa seus adversários de nazistas, e então trata-os como se merecessem um eterno Estado de exceção. E políticos como Obama e Biden, em vez de defender o mundo livre, sempre pisam em ovos para lidar com as manobras do expansionismo russo. Para eles, importa muito mais não ser chamados de “apoiadores de nazistas” pelo complexo midiático norte-americano — e, logo, mundial — do que lutar pelo mundo livre. Infelizmente, este modelo de política já foi exportado para o mundo ocidental. [o mais importante é que a consolidação de Putin, controlando a Ucrânia - ou mesmo anexando - reduz em muito o ímpeto do Biden e da sua vice na propagação, quase imposição, do maldito progressismo esquerdista. Putin não discute, nem dá sinais que discutirá o comunismo - que não considera tema importante. 
Para ele o conservadorismo que o domina é bem mais importante. Uma brecada na propagação do maldito progressismo esquerdista, que tem como meta destruir todos os valores do mundo - entre eles, sem limitar: BONS COSTUMES, FAMÍLIA, MORAL, PROPRIEDADE, RELIGIÃO, TRADIÇÃO, LIBERDADE, PATRIOTISMO é importante para que o mundo seja um lugar digno das pessoas de BEM continuarem nele.]
As possíveis consequências para o Brasil
Em um mundo interligado, um conflito na Ucrânia não é mais assunto distante, como a última Guerra da Bósnia. O Brasil está em uma situação bastante peculiar: sua agropecuária alimenta boa parte do mundo, mas é extremamente dependente de fertilizantes russos e 49% das exportações de gado têm como destino a China. Por isso, uma negociação com os russos é necessária e delicada.

Além de uma possível alta no preço dos combustíveis e do gás, em caso de um embargo, como proposto por Biden, a Rússia provavelmente irá triangular com a China para furar o bloqueio. A manobra aumentaria ainda mais o poder de Xi Jinping sobre o comércio internacional. Mais um desastre da atual política norte-americana é forçar sanções nas regiões pró-Rússia em dólar, euro e iene. Em vez de enfraquecer o inimigo, todas essas áreas separatistas passam a recorrer ao iuane chinês, aumentando o poder de barganha de Pequim. O Brasil também sofre com uma China controlando ainda mais territórios com sua moeda.

O cenário tem tudo para ser, no mínimo, péssimo para a economia.

Leia também “A fraqueza ocidental”

Flavio Morgenstern e Artur Piva, Revista - Oeste 
 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Dead man walking - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Há um ano na Casa Branca, Joe Biden já conseguiu transformar sua curta Presidência numa longa lista de escândalos, falhas e deslizes  

Joe Biden | Fotos: Montagem Revista Oeste
Joe Biden - Fotos: Montagem Revista Oeste
 
Em 20 de janeiro de 2021, o presidente norte-americano, Joe Biden, estava diante de um Capitólio vazio e sinistro, fazendo o juramento de posse em um momento em que o país enfrentava uma polarização política histórica. Naquele dia, ele prometeu provar que a própria democracia da nação ainda funcionava e que ele poderia restaurar a unidade de um país dividido. Biden declarou que os Estados Unidos poderiam ter fé em seu governo novamente, enquanto diminuiria a temperatura em uma “Washington inflamada” por seu antecessor, Donald Trump.

Há um ano na Casa Branca, ele já conseguiu tornar sua curta Presidência conhecida por uma longa lista de escândalos, falhas, deslizes e previsões tão óbvias que não é preciso ser um expert em história norte-americana ou política para ler o que 2021 seria se o democrata fosse eleito em 2020.

Confesso que está bem difícil restringir a lista a um ou dois principais fracassos neste primeiro aniversário da administração Biden, embora a catastrófica retirada do Afeganistão das tropas norte-americanas possa ser o deslize mais fatal. Mas, no topo da lista, também temos a inflação, com os piores índices dos últimos 40 anos, uma das razões que jogaram no chão os índices de aprovação de Biden nos últimos meses. Embora seus erros sejam muitos, não é difícil listar os que viraram um fantasma para sua administração, tornando-o um presidente já chamado de pato manco (lame duck), mesmo com três anos de Presidência pela frente.

Bem, não foi por falta de leitura nem de aviso. Tudo era óbvio e o mapa do desastre estava diante dos olhos. Quantos artigos você encontrou aqui em Oeste mostrando o caminho catastrófico que o fraco ex-vice de Obama seguiria nos braços de um Partido Democrata desvirtuado e que perdeu a identidade por completo, entregando-se à extrema esquerda norte-americana?

Logo em janeiro de 2021, assim que entrou no Salão Oval, Biden mostrou que as políticas que eram apenas “teorias conspiratórias” dos republicanos não eram tão irreais assim. Em seu primeiro dia no cargo, o presidente democrata assinou uma lista de ordens executivas de extrema esquerda, incluindo uma exigindo que as escolas ignorassem as diferenças biológicas entre alunos do sexo masculino e femininodos campos de atletismo e quadras esportivas aos banheiros e vestiários se quisessem continuar recebendo recursos federais.

Também nesta primeira semana como presidente da nação mais poderosa do planeta, Biden fez questão de apontar os planos do governo de restabelecer o financiamento federal para clínicas de aborto nos Estados Unidos e em todo o mundo, recurso cortado por Donald Trump; mostrou que reverteria as políticas de imigração que estabeleciam que qualquer pessoa com pedido de asilo deveria aguardar o julgamento em sua cidade de origem; e ajoelhou-se à turba ambientalista, que jamais apresentou relatórios pertinentes, cancelando o oleoduto de Keystone — e ceifando imediatamente mais de 11 mil empregos. Tudo isso você leu aqui em Oeste, assim como a chocante informação de que, nas primeiras 48 horas no cargo, o novo governo lançou 17 ordens executivas — mais do que o primeiro mês das Presidências de Donald Trump, Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton combinadas.

Em fevereiro de 2021, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) sob Biden anunciou diretrizes rígidas de reabertura da sociedade. As ordens manteriam muitas escolas e universidades em todo o país fechadas. Segundo a administração que prometeu o impossível, acabar com o vírus, apenas algumas escolas em áreas com transmissão baixa do vírus poderiam reabrir para o aprendizado presencial, desde que o distanciamento físico e o uso de máscaras fossem aplicados. 

Qualquer taxa de transmissão além do que era designado como moderado pelo CDC (até hoje ninguém soube em quais estudos ou pesquisas o governo se embasou para tomar as medidas) estabeleceu áreas que deveriam obedecer às diretrizes de aprendizagem virtual ou frequência reduzida, limitando o número de crianças na sala de aula. Só o tempo nos dirá como essa geração, forçada a usar máscaras até hoje, foi afetada — mental e academicamente. Enquanto pais se esforçavam de maneira histórica entre empregos perdidos e filhos em casa, sindicatos de professores de extrema esquerda arquitetavam e trabalhavam para manter os alunos fora das escolas, demandando mais recursos financeiros para a categoria, em uma lista de exigências que nada tinha a ver com o ensino remoto ou a pandemia.

Após as perdas democratas na Virgínia e em Nova Jersey, James Carville disparou: “O que deu errado foi esse ‘wokeism’ estúpido

No fim de abril, Biden anunciou seu “Plano de Famílias Americanas”, uma lista de prioridades de gastos da extrema esquerda, muitas das quais se tornariam marcas registradas de sua agenda radical. As metas da farra de gastos proposta, de US$ 1,8 trilhão, incluíam estender a educação governamental para a pré-escola e dois anos de faculdade comunitária fornecidos pelo contribuinte. Foi nessa época que a Casa Branca de Biden começou a planejar, junto com algumas corporações, o desenvolvimento de um sistema de “passaporte vacinal”, para forçar os norte-americanos a mostrar o comprovante da vacina contra a covid para participar plenamente da sociedade.

Crise em família
Pouco tempo depois, mais uma “teoria conspiratória” dos republicanos e de articulistas da Revista Oeste se transformou em realidade. Recordemos que, ainda em 2020, o jornal The New York Post publicou informações contundentes recuperadas de um laptop que o filho do presidente norte-americano, Hunter Biden, supostamente havia deixado em uma loja para manutenção. Revelações sobre a caótica vida de Hunter surgiram, aumentando a coleção de comportamentos desagradáveis que poderiam complicar o caminho à Casa Branca do candidato Biden e, posteriormente, do próprio presidente. 
 
Além de fotos comprometedoras de Hunter, em orgias sexuais e consumindo drogas, novos e-mails do computador suspeito publicados pelo New York Post (jornal fundado por Alexander Hamilton) mostravam que Joe Biden havia se encontrado com parceiros de negócios da Ucrânia, da Rússia e do Cazaquistão em um jantar em Washington, DC, enquanto ele ainda era vice-presidente de Barack Obama, em abril de 2015. No laptop do filho de Biden, a seguinte mensagem foi encontrada: “Caro Hunter, obrigado por me convidar para DC (Washington) e prover a oportunidade de conhecer seu pai e passar algum tempo juntos”, escreveu o executivo Vadym Pozharskyi, da empresa de energia ucraniana Burisma, em que Hunter fazia parte do conselho sem ter a menor qualificação técnica para o cargo de diretor da empresa. Não custa recordar que a agenda das big techs, cada dia mais óbvia, derrubou o perfil do jornal pouco antes da eleição presidencial norte-americana e censurou todos os perfis nas redes sociais que tentaram publicar, comentar ou questionar a história.

Junho de 2021 chegou, e, em menos de seis meses no cargo, Biden entrava para os livros com uma crise histórica na fronteira sul. Em junho, as apreensões ultrapassaram 1 milhão de pessoas no ano fiscal de 2021. As travessias ilegais bateram os níveis mais altos desde 2006. Somente em maio, 170 mil pessoas foram capturadas, marcando uma alta de 20 anos. Foi em junho também que os norte-americanos viram o Estado fronteiriço do Texas declarar emergência pela crise na fronteira que Biden ajudou a causar ao reverter posições da era Trump, como a política de “Permanecer no México”. À medida que a crise avançava, a vice-presidente, Kamala Harris, elevada ao posto de encarregada da fronteira, não se deu ao trabalho de visitar a linha real EUA–México, retrucando: “Não estive na Europa” — quando os repórteres a pressionaram sobre o assunto e perguntaram se ela não iria ao local. Kamala finalmente cedeu e agendou uma viagem, mas só depois que o ex-presidente Donald Trump anunciou seus planos de ir à região.

Em julho, mês em que os norte-americanos orgulhosamente celebram o 4 de Julho, independência do país declarada sob os pilares da liberdade, o governo Biden gabou-se de conspirar com as big techs para suprimir as perspectivas com as quais o governo discorda. Em uma coletiva de imprensa, Jen Psaki, secretaria de imprensa da Casa Branca, elogiou a política do governo de trabalhar com as big techs em “sinalizar postagens problemáticas para o Facebook que espalham desinformação”. Psaki admitiu que não havia nada “fora da mesa” no esforço para manchar a dissidência como “desinformação” e removê-la das mídias sociais. Ainda no mês de julho, os números projetados para a vacinação na população norte-americana não chegaram perto dos esperados pelo governo, e questões como eficácia, efeitos colaterais e coação para a vacinação entraram de vez no radar dos norte-americanos. As respostas não chegavam, apenas ordens.

O fiasco no Afeganistão
E foi em agosto, então, que o mundo assistiu horrorizado à retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, com imagens de tumulto e violência. O governo tentou apresentar a ação como uma peça estratégica de sucesso, num esforço para retratar o encerramento “positivo e corajoso” da guerra mais longa do país. Mas a série de erros nesse evento foi politicamente prejudicial e devastadora. Seus números de pesquisa ainda não se recuperaram desde que norte-americanos, democratas e republicanos, assistiram atônitos às terríveis imagens vindas do Afeganistão. A retirada desorganizada também deixou 13 militares norte-americanos mortos e milhares de cidadãos norte-americanos e aliados afegãos presos sob o controle do Talibã.
 
A decisão, amplamente criticada no Congresso, mostrou uma série de erros inacreditáveis, como a decisão do governo de desocupar a Base Aérea de Bagram antes de evacuar os norte-americanos do país, até deixar armas e equipamentos parar nas mãos do Talibã. 
Biden ainda teve a falta de sensibilidade de ir à TV proclamar uma vitória que não aconteceu. 
Ainda em agosto, o governo realizou um ataque de drone contra agentes do Estado Islâmico e que matou pelo menos dez civis, entre eles sete crianças.

Os norte-americanos não esquecerão tão cedo as imagens angustiantes de pessoas desesperadas atropelando umas às outras na caótica corrida para o Aeroporto de Cabul, de gente agarrada ao trem de pouso de aeronaves norte-americanas e caindo indefesas do céu, ou de um helicóptero solitário saindo do telhado da embaixada norte-americana. Há sangue nas mãos de Biden, e aliados também não se esquecerão dessas cenas tão cedo.

A derrota na Virgínia
Já em setembro, as ações de Biden podem ter causado a perda nas importantes eleições para o governo da Virgínia. Em 29 de setembro, o Conselho Nacional das Associações Escolares (National School Boards Association) enviou uma carta à Casa Branca pedindo a Biden que usasse o FBI e outras autoridades federais para ameaçar pais que ousassem questionar os currículos escolares enfaticamente. Poucos dias depois, em resposta à carta, o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, orientou o FBI e procuradores federais a investigar pais e abordar “um aumento perturbador de assédio, intimidação e ameaças de violência contra administradores escolares, membros do conselho, professores e funcionários”.

No entanto, investigações mostraram que o próprio secretário de Educação de Biden, Miguel Cardona, solicitou secretamente a carta ao Conselho Nacional das Associações Escolares (que emitiu um pedido de desculpas posteriormente), para, presumivelmente, usar como pretexto para o esforço do governo em atingir pais insatisfeitos com o fechamento de escolas públicas, mandatos de máscaras e o descontentamento com extremistas com currículos de ideologias de gênero e teoria crítica racial (CRT). A ira dos pais, que temeram que sua autoridade sobre as decisões que afetam seus filhos fosse corroída, tomou conta de muitos Estados. Numa eleição histórica e com a campanha feita na defesa dos pais e de suas opiniões e preocupações curriculares, três republicanos varreram as eleições estaduais no democrata Estado da Virgínia, que elegeu o governador, a vice e o procurador-geral do Estado do partido de oposição ao presidente.

O partido woke
Recentemente, o estrategista democrata de longa data James Carville criticou membros de seu próprio partido sobre a agenda estagnada de Joe Biden, mesmo com maioria em ambas as Casas legislativas. Durante meses, Carville vem alertando os democratas sobre as armadilhas de ser um partido woke (algo como “politicamente correto”), descrevendo-o como “um grande ‘problema’ do qual todos estão cientes”. Ele também advertiu que “as pessoas estão muito mais interessadas em suas vidas e em como melhorá-las do que no pronome de outra pessoa ou algo assim”. Após as perdas democratas na Virgínia e em Nova Jersey (outro Estado que vota com os democratas há anos) em novembro de 2021, bem como os ganhos do Partido Republicano em outros lugares, Carville disparou: “O que deu errado foi esse ‘wokeism’ estúpido. Vocês estão prejudicando o partido”.

Outra democrata, a ex-deputada Tulsi Gabbard, do Havaí, candidata presidencial nas primárias democratas, concordou, dizendo:Acho que o povo norte-americano, como vimos claramente na Virgínia, está dando um sinal claro de que rejeita esse tipo de divisão, a ‘racialização’ de tudo neste país, o fomento da raiva e do ódio, que, infelizmente, estou vendo vir de muitos dos meus colegas democratas. Os norte-americanos estão se levantando e dizendo: ‘Ei, queremos escolher um futuro otimista, um futuro esperançoso, um futuro em que possamos viver de acordo com o sonho de Martin Luther King sobre julgar uns aos outros pelo nosso caráter, não pela cor da nossa pele, respeitando uns aos outros como colegas norte-americanos, democratas e republicanos, realmente se unindo para trabalhar em direção a um objetivo comum’. Essa é a direção que precisamos seguir. E acho que a eleição do governador da Virgínia foi uma indicação de que os eleitores se posicionaram e deixaram suas vozes serem ouvidas através das urnas”.

Mas não pense que o que está ruim não pode piorar. Em meu artigo da semana passada, mostrei em detalhes o que aconteceu com a ordem vacinal tirânica da agência de Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA), braço que o governo usou para tentar emplacar uma ordem inconstitucional. Depois de emitir um comunicado à imprensa, em setembro de 2021, ameaçando um mandato de vacina para empresas privadas com 100 ou mais funcionários, a agência divulgou um boletim temporário de emergência, em 4 de novembro, que exigiria que as empresas cumprissem até 4 de janeiro a ordem ou incorreriam em multas de até US$ 14.000 por violação. Como sabemos, a Suprema Corte Americana derrubou essa ordem na última semana. Obviamente, o governo Biden sabia que a medida era flagrantemente inconstitucional o tempo todo — mas explorar os atrasos do sistema judicial permitiu que o governo intimidasse muitas empresas a cumprir a ordem de qualquer maneira, sem se importar com o fato de que o próprio governo Biden prometeu, durante a campanha, que jamais exigiria a vacina contra a covid.

Máquina de imprimir dólares
Dezembro de 2021 chegou e, junto com o último mês do ano, o clímax (até agora) da inflação e da crise da cadeia de suprimentos — duplamente causada pelos gastos radicais do governo, que mantém a impressora de dinheiro ligada 24 horas por dia, e pelos eternos lockdowns dos democratas. Com os norte-americanos enfrentando a escassez de produtos e os atrasos nas remessas durante as compras de Natal, o Departamento de Trabalho divulgou os números de novembro, revelando uma inflação de 6,8% ao ano, ou “o maior aumento de 12 meses desde o período de junho de 1982”. Os números da inflação de dezembro foram ainda maiores, chegando a 7%. O Federal Reserve reconheceu que sua leitura inicial de que a inflação seria transitória se mostrou excessivamente otimista. O Banco Central está a caminho de iniciar um ciclo de aumentos regulares das taxas de juros em sua reunião de março. 
 
O desafio para o Fed será fazer isso sem ser tão agressivo a ponto de causar uma recessão e alimentar o desemprego. Uma pesquisa do Wall Street Journal no mês passado mostrou que os eleitores estavam pessimistas em relação à economia e à condução do país nas mãos dos democratas. Resta saber se Biden vai lidar com as consequências políticas dos eleitores, que culpam o presidente e os democratas pelos preços mais altos antes das eleições de midterms, em novembro.

As gafes, os erros e os tropeços dessa administração já compõem uma vasta lista. Imaginei que, avaliando esse primeiro ano de Joe Biden na Casa Branca, meu artigo ficaria mais longo do que o normal, e nem entramos com detalhes na política internacional do democrata. Os EUA estão lidando com uma Rússia mais agressiva, que está concentrando tropas na fronteira com a Ucrânia, e ameaçou o presidente russo, Vladimir Putin, com extensas sanções se Moscou invadir a Ucrânia. As movimentações são tensas, e os que manipulam os tentáculos bélicos do partido do presidente já torcem por uma intervenção militar norte-americana. Com a China, após uma tensa reunião inicial no Alasca entre seus ministros das Relações Exteriores, os EUA procuraram encontrar áreas para trabalhar com o país, principalmente em mudanças climáticas, mas uma longa lista de diferenças permanece intocada, sobre direitos humanos, comércio e tecnologia. Os norte-americanos não mandarão oficiais para as Olimpíadas de Inverno, agora em fevereiro, em Pequim.

Não podemos deixar de mencionar os piores números dos últimos anos na segurança, principalmente nos crimes cometidos contra policiais
O ano de 2021 registrou o maior índice da história na violência contra forças policiais, e as grandes cidades sob administração democrata sofreram com um combo perigoso: a alta criminalidade aliada às históricas baixas policiais, com números cada vez maiores de renúncia de membros dessas forças. A conta da agenda “defund the police”, iniciada em 2020, chegou.

A cereja do bolo
Para finalizar, o desemprego continua elevado, mesmo com tantos postos de trabalho abertos em 2021; veículos da mídia associados ao Partido Democrata já questionam os muitos erros dessa administração em tão pouco tempo, enquanto republicanos exploram os baixíssimos números de aprovação da dupla Biden/Harris. Para a cereja de um bolo que derrete à luz do dia, em um discurso em 11 de janeiro deste ano, pedindo ao Senado dos EUA que abandone as regras de obstrução, para aprovar uma proposta de federalização radical e inconstitucional das leis eleitorais, o presidente Biden comparou os críticos de sua agenda — que incluem o senador democrata Joe Manchin, de West Virginia, e Kyrsten Sinema, do Arizona — ao ex-governador do Alabama George Wallace e ao líder confederado Jefferson Davis, nomes de segregacionistas da era da Guerra Civil Americana. “Como você quer ser lembrado em momentos importantes da história? Você quer estar ao lado do Dr. King (Martin Luther King) ou de George Wallace? Você quer estar ao lado de Abraham Lincoln ou Jefferson Davis?”, disparou Biden, aos senadores democratas que, diante de uma agenda radical de transformação dos pilares norte-americanos e do absoluto desrespeito à Constituição Americana, se recusaram a votar com o presidente. Uma das medidas no projeto democrata de federalização das eleições nos EUA, ignorando a autonomia dos Estados, é que não seja obrigatória a apresentação de um documento de identidade na hora da votação.

Nesta semana, aqui nos Estados Unidos, é celebrado o feriado que homenageia exatamente Martin Luther King Jr., ícone dos direitos civis e da liberdade. Em umas de suas muitas frases célebres, proclama: “A verdadeira medida de um homem não é vista na forma como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio”.

Administrações ruins passam, embora suas consequências possam perdurar por anos. Mas, pelo menos, enquanto o espírito de MLK estiver em homens e mulheres, como os senadores democratas Manchin e Sinema, que não se aqueceram no aplauso fácil, a liberdade e o respeito às leis sempre antes de tudo respirarão em algum canto do mundo.

Leia também “O preço do radicalismo”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


domingo, 9 de maio de 2021

Desmate na Amazônia aumenta gasto na Saúde - José Casado

VEJA

Com dados oficiais, Fiocruz e o WWF-Brasil confirmam: queimadas aumentaram internações no Amazonas, Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre nos últimos dez anos

Maio marca o início da preparação para a temporada de seca na Amazônia, que segue até outubro. Neste ano, as empreitadas para derrubada de árvores começaram mais cedo, demonstram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): sem controle, o desmatamento foi recorde entre março e abril – 42% maior no mês passado, em comparação a 2020.

Com o desmonte das atividades de fiscalização ambiental, uma das consequências previsíveis é um aumento da pressão dos Estados Unidos e da Europa sobre o governo Jair Bolsonaro no segundo semestre. [pedindo todas as vênias cabíveis, recomendamos ao ilustre jornalista e os seus felizardos leitores, a que antes de sair com ameaças vazias e insignificantes, analisem, pensem, se informem e depois divulguem ameaças de pressão, que a ninguém assustam.
 - que valor tem a pressão dos Estados Unidos e da Europa sobre o Brasil?  
será que vão lançar alguma bomba nuclear sobre a Amazônia brasileira? para de comprar produtos brasileiros?
Os adversários do Brasil, esquecem que nossa Pátria Amada é a que mais preserva o meio ambiente.
Sugerimos a leitura O campeão da proteção florestalLá encontrarão dados que comprováveis que mostram que o Brasil  (nem o ex-presidente do Inpe, o frustrado que ainda não se conformou em ser demitido e não fazer falta, poderá refutar tais números) protege áreas equivalentes a 54% do território continental da Europa.
As áreas que o Brasil preserva são todas de ótima qualidade, em terras férteis. Já as  protegidas pela 'gringada'. , incluem desertos, geleiras  -= portanto, inúteis =  "Conforme dados da Unep, em grande parte, as áreas protegidas estão localizadas em terras marginais: desertos desabitados (China, Austrália, Argélia, EUA), regiões polares e subárticas (Alasca, Sibéria) e montanhas inaptas à ocupação humana (Andes, Rochosas)". 
Agora respondam com honestidade: qual o valor para a PRESERVAÇÃO GLOBAL DO MEIO AMBIENTE, geleiras no Alasca, na Sibéria, pedras nas Montanhas Rochosas e por aí... 
Sem esquecer que a Noruega posa de boazinha - incluindo tentativa de chantagear o Brasil com retenção de recursos - mas, provoca desastres ambientais no Pará.] 
 
O desmate na Amazônia aparenta ser desorganizado, mas é negócio bilionário, estruturado, e em geral atrelado a crimes ambientais e fundiários, contrabando, tráfico e lavagem de dinheiro. Funciona como uma espécie de contêiner de boa parte dos delitos previstos no Código Penal. Na Amazônia, as ações têm como alvo primário terras estatais e áreas indígenas, protegidas no papel. As invasões começam com madeireiros seus tratores, motosserras e caminhões derrubando as árvores eleitas pelo maior valor de comercialização. [alegam  que o desmatamento causou nos últimos dez anos aumento das internações por problemas respiratórios, só que apontam que nos últimos dois anos é que o desmatamento aumentou. 
Após acusar o uso organizado e sustentável das terras brasileiras, fica fácil difundir a ideia de um negócio milionário. 
Quando foram os gringos que destruíram suas florestas e agora querem mandar nas do Brasil - só que pretendem impor o que devemos fazer, como usar o MEIO AMBIENTE que preservamos.
Por favor, leiam, pesquisem, analisem e assim perceberão que os gringos estão errados, manipulam dados e não nos assustam - precisam bem  mais do que preservamos, do que necessitamos do que destruíram.] 
 
Em VEJA, José Casado, leia íntegra da matéria

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Coreia do Norte prepara novo lançamento de míssil, diz Coreia do Sul

Em demonstração de força, Seul simula ataque à base nuclear de Kim Jong-un

A Coreia do Sul alertou nesta segunda-feira que a Coreia do Norte prepara um novo lançamento de míssil, que poderia ser um artefato balístico intercontinental. O Ministério da Defesa de Seul vem detectando sinais sobre a provável nova ofensiva desde domingo, quando o regime de Kim Jong-un realizou o seu sexto teste nuclear. Em forte demonstração de força, o governo sul-coreano simulou um ataque à base nuclear da nação vizinha com exercícios do Exército e das Forças Aéreas. 

Seul não revelou o momento em que poderia acontecer o novo disparou de Pyongyang, mas anunciou que reforçará suas táticas de proteção militar (o escudo de defesas antimísseis THAAD) junto com Washington. Embora tenha conduzido os recentes exercícios sozinho, o Sul planeja novas manobras conjuntas com os Estados Unidos, numa tentativa de lembrar o Norte do seu poder militar, segundo autoridades.

"Muito em breve serão deslocados temporariamente outros quatro lançadores restantes, após consultas entre Coreia do Sul e Estados Unidos, para contra-atacar as crescentes ameaças nucleares e de mísseis procedentes do Norte", disse o governo sul-coreano.

Pyongyang provocou uma grande consternação na comunidade internacional no domingo ao executar o seu teste nuclear mais potente até hoje. Especialistas estimaram que a explosão tenha chegado aos 100 kiloton —  ou seja, cinco vezes mais potente do que a bomba nuclear lançada contra a cidade japonesa de Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial, que instantaneamente matou 70 mil pessoas —, além de ter provocado um terremoto de magnitude 6,3.

O regime afirmou ter testado com sucesso uma bomba de hidrogênio, cuja capacidade de destruição é muito elevada em comparação às bombas de fissão. Se confirmada a declaração, que analistas já prevêem como verdadeira, a Coreia do Norte terá alcançado um nível de tecnologia até então exclusiva de apenas cinco potências militares: EUA, Reino Unido, China, França e Rússia (à época, União Soviética) — que, atualmente, são os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Outros países, embora desenvolvam aparatos explosivos, possuem apenas bombas atômicas, e não as de hidrogênio.

ONU DEBATE MAIS SANÇÕES
Também nesta segunda-feira, o Sul disse acreditar que o Norte conseguiu miniaturizar com sucesso uma arma nuclear para o tamanho de uma ogiva. Se confirmado, isso significa que Pyongyang seria capaz de colocar disparar uma bomba nuclear, possivelmente para o território dos EUA.  A Coreia do Sul acredita que a Coreia do Norte miniaturizou com sucesso uma arma nuclear, ao tamanho de uma ogiva, declarou nesta segunda-feira o ministro da Defesa, Song Young-Moo. "Acreditamos que entra em um míssil balístico intercontinental", afirmou Song Young-Moo aos deputados no Parlamento, um dia depois do teste nuclear mais potente de Pyongyang até o momento.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas terá uma reunião de emergência nesta segunda-feira para discutir a aplicação de novas sanções contra o isolado regime de Kim Jong-un. No entanto, especialistas questionam quão efetivas novas punições podem ser, uma vez que diversas medidas semelhantes já foram tomadas antes, mas não são capazes de frear o avanço nuclear da Coreia do Norte, um regime altamente isolado na comunidade internacional e aliado à China

O presidente dos EUA, Donald Trump, cogita recorrer a uma reação militar e já pediu aos seus assessores que o informem sobre suas opções, segundo o Departamento de Defesa americano. Ontem, o Pentágono ameaçou uma resposta militar maciça às ameaças norte-coreanas, evocando seu poder de provocar "aniquilação total" do país asiático. Além disso, no domingo, levantou a possibilidade de um embargo total à Coreia do Norte: "Os Estados Unidos consideram, além de outras opções, parar todas as suas trocas comerciais com qualquer país que faça negócios com a Coreia do Norte", disse Trump pelo seu Twitter.


Em 4 de julho, Dia da Independência dos EUA, Pyongang lançou o seu primeiro míssil balístico intercontinental. O projétil Hwasong-14 aterrissou na Zona Econômica do Mar do Leste no Japão, após sobrevoar 933 km por quase 40 minutos. Segundo especialistas, o artefato poderia atingir o Alasca. A Coreia do Norte, por sua vez, anunciou que poderia inserir uma bomba de hidrogênio na sua ogiva. Após 24 dias, o regime disparou mais um míssil balístico intercontinental.

Além disso, no início de agosto, após o Conselho de Segurança da ONU ter decidido, por unanimidade, ampliar as sanções à Coreia do Norte, Pyongyang afirmou que revisava planos de atacar alvos militares em Guam, um território dos Estados Unidos na Micronésia que abriga bases da Marinha, Guarda Costeira e Força Aérea americanas. As ameaças levaram Trump a ameaçar responder às provocações com "fogo e fúria" jamais vistas pelo mundo.

Fonte: O Globo


quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ameaça real! O fim do Estado Islâmico?

Um teste bem-sucedido com míssil de longo alcance mostra que a Coreia do Norte não é só bravata. A ditadura de Kim Jong-un tem mesmo poder de fogo para atacar os EUA, seus aliados e iniciar uma guerra

“Os bastardos americanos devem ter ficado muito infelizes depois de ver o presente que mandamos para eles no Dia da Independência.” 

Com essas palavras, o excêntrico líder norte-coreano, Kim Jong-un, comemorou, às gargalhadas, o teste balístico mais bem-sucedido da história da ditadura comunista. Em pleno 4 de julho, o regime declarou que lançou com sucesso o míssil intercontinental Hwasong-14, capaz de chegar até o território dos Estados Unidos. A informação foi confirmada por Washington, que descreveu o exercício como uma “nova escalada” que ameaça todo o mundo. O armamento é perigoso porque pode ser capaz de levar uma bomba atômica a boa parte do planeta em questão de minutos. Ou seja, as declarações dadas pelo histriônico mandatário deixaram de ser bravata e viraram realidade. “O risco de guerra entre EUA e Coreia do Norte ficou alto”, diz Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco. “Para os militares americanos, é inaceitável que os coreanos tenham mísseis intercontinentais e ogivas nucleares.”


A Coreia do Norte declarou, exageradamente, que o novo foguete pode alcançar qualquer parte do globo. Não restam dúvidas, porém, que o dispositivo pode cobrir uma distância de 6,7 mil quilômetros. O teste feito na terça-feira não chegou tão longe, mas o míssil foi a 2,8 mil quilômetros de altura, subindo mais do que avançando. Caiu a 930 quilômetros do local de lançamento, no mar do Japão. Essa trajetória permite saber que o mesmo foguete, fazendo um caminho mais horizontal, chegaria ao estado do Alasca. Os mísseis servem para carregar bombas atômicas, que Pyongyang já possui. É impossível saber quantas. No entanto, o Instituto dos EUA para Ciência e Segurança Internacional estimou em junho de 2016 que o número está entre 13 e 21. Ainda há incerteza se eles seriam capazes de fabricar armas nucleares compatíveis com os foguetes, mas uma fronteira foi claramente quebrada.

Os EUA possuem poucas opções. Uma delas é manter a política de “paciência estratégica”, que consiste em sanções econômicas e pressões diplomáticas. A tática vinha dando certo porque os norte-coreanos não representavam uma ameaça real. O cenário mudou desde o teste, porém. Até 2020, é provável que eles sejam capazes de atacar a costa oeste americana, que inclui cidades como Los Angeles e São Francisco. A outra possibilidade dos EUA é partir para o ataque, caminho que pode causar pelo menos 1 milhão de mortes. O regime não possui chances de derrotar os americanos, que desfeririam um assalto avassalador. Porém, só a artilharia comunista voltada para a metrópole de Seul, na Coreia do Sul, causaria centenas de milhares de baixas em poucos dias. É improvável que os EUA usem armamento atômico sem que sejam agredidos dessa forma primeiro. “Autocontrole é a única coisa separando o armistício da guerra”, afirmou o comandante das tropas americanas na Coreia do Sul, general Vincent Brooks, na quarta-feira 5.

A reunião do G20, iniciada na sexta-feira 7 na Alemanha, reuniu os líderes dos países mais ricos do mundo, incluindo duas nações diretamente relacionadas ao conflito, Rússia e China. Ambas fazem fronteira com a Coreia do Norte e condenaram os testes, mas possuem uma relação de antagonismo com os EUA. Apesar disso, é pouco provável que tomem medidas concretas. Os chineses possuem forte relação comercial com Pyongyang e não parecem interessados em enfraquecer o regime comunista e deixar a região para ser tomada pela Coreia do Sul, consolidando um aliado americano no quintal de casa.

O MMA de Trump
Do esperado encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, com o da Rússia, Vladimir Putin, pouco deve sair para aliviar a tensão. Pelo contrário, é muito provável que o estilo boquirroto do republicano coloque mais lenha na fogueira. Na mesma semana da crise, o presidente arranjou uma briga com o canal de notícias CNN após publicar um vídeo com uma montagem em que ele aparece socando um homem com o logotipo da emissora no lugar do rosto. A mensagem foi vista como um ataque a toda a imprensa, além de uma apologia à violência contra jornalistas. “Trump adiciona essas falas intempestivas”, diz Geraldo Zahran, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). “No entanto, os principais problemas permaneceriam com qualquer outro presidente.”


Se de um lado há Trump, do outro está Kim Jong-un, dono de uma reputação ainda pior do que a do colega americano. Suas atitudes são baseadas na frágil posição internacional da Coreia do Norte. O país é inimigo da única potência global da atualidade, mesmo sendo paupérrimo e com poucas fontes de influência externa. Parece improcedente, porém a saída encontrada foi ladrar o mais alto possível para garantir a sobrevivência. O plano vem dando certo, e Pyongyang pode ter se tornado um risco muito grande para ser ignorado. “Kim Jong-un não abrirá mão das armas atômicas por causa do exemplo de Muammar Gaddafi”, diz Rudzit. “O líder líbio abriu mão de seu programa nuclear para não ser o próximo Saddam Hussein, mas, quando o Ocidente achou que precisaria removê-lo, assim o fez.” A memória está fresca na mente de Kim. Ainda não se sabe se isso será sua salvação ou seu fim.

O fim do Estado Islâmico?
Reprodução

Enquanto os novos inimigos dos Estados Unidos ganham poder, outros, velhos, dão mostras de que estão chegando perto do fim. É o caso do Estado Islâmico, grupo terrorista que anunciou a instalação de um “califado” no Iraque e na Síria em 2014, mas que no período de pouco mais de dois anos encolheu 80%, de acordo com uma pesquisa feita pela consultoria internacional IHS Markit. O número se refere às perdas financeiras dos radicais, que viram desaparecer suas principais fontes de renda, a venda de petróleo e o contrabando de antiguidades, como consequência de uma perda territorial de 60% no mesmo período. 

O faturamento caiu de US$ 81 milhões em janeiro de 2015 para apenas 16 milhões em junho de 2017. Infelizmente, é provável que os terroristas aumentem o número de atentados na Europa, com integrantes que vivem no continente, para compensar a derrocada. “O Estado Islâmico provavelmente vai quebrar antes do fim do ano, reduzindo seu projeto de governo a uma série de áreas isoladas que serão retomadas no curso de 2018”, diz Columb Strack, analista para o Oriente Médio da IHS Markit.  

 Fonte: Isto É