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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Pela sexta vez seguida melhora a perspectiva para o PIB


Segundo economistas consultados pelo Banco Central, queda da atividade será de 5,62%; há um mês, previsão era de uma depressão de 6,5%

Semana a semana, a estimativa do mercado financeiro para o desenvolvimento da economia brasileira dá passos rumo a sinais positivos. Depois de atingir ofundo do poço”, com previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 6,54%, analistas ouvidos pelo Banco Central passaram a enxergar uma melhora para a economia. No Boletim Focus desta semana, a estimativa é que a economia brasileira recue 5,62%, a sexta revisão seguida para cima. O processo de retomada das atividades econômicas, que acelerou em junho em boa parte do país, culminou na melhora de alguns indicadores como indústria e comércio. Esses índices ajudaram a melhorar o pessimismo generalizado e puxam revisões semanais na economia. Para 2021, a estimativa do mercado é de crescimento de 3,5% há onze semanas consecutivas.

A projeção para o PIB começou a seguir, ao fim de fevereiro, uma curva de queda drástica, acompanhando os novos casos de Covid-19 e os anúncios das prefeituras e estados brasileiros sobre o isolamento social, devido à disparada do contágio da doença. Após as estimativas para o PIB ficarem estáveis em junho, os resultados a partir de então apontam para uma retomada. Apesar das projeções do mercado financeiro não apontarem para uma recuperação em “V”, as melhoras semanais são indicativos de volta da atividade econômica.

A recomposição de renda trazida pelo auxílio emergencial a trabalhadores informais, que paga cinco parcelas de 600 reais a vulneráveis mais afetados pela crise, é um dos colchões que seguraram a economia brasileira durante a fase mais aguda da crise. Com o auxílio chegando a sua quinta e última parcela, há tensão sobre o impacto que o fim da ajuda trará a economia, ao mesmo tempo que o governo sofre pressões para prorrogar o programa, que custa 50 bilhões de reais ao mês.

Apesar da melhora nas projeções apresentadas, a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2015 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%).

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A pesquisa mostrou também que a expectativa do mercado brasileiro sobre a taxa Selic se mantém igual à da semana anterior: em 2% para este ano, taxa atual. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) baixou 0,25 ponto porcentual a taxa, como estímulo adicional. Apesar da preocupação com o risco fiscal, o Comitê deixou a porta aberta para novos cortes, porém o mercado financeiro ainda não aposta em mais ajustes da Selic neste ano. Já o câmbio, que reflete as incertezas do Brasil e acaba sendo prejudicado pela baixa Selic, continua alto. A perspectiva do Focus é que o dólar fique em 5,20 no final de 2020.
Para o final de 2021, a perspectiva permanece em 5 reais e para 2022, 4,80 reais.

Em VEJA, MATÉRIA COMPLETA



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

As saudáveis incertezas do BC – Editorial - O Estado de S. Paulo

Pausa no corte de juros pode servir para uma avaliação real da condição da indústria

Novo corte de juros em 2020, como estímulo adicional à economia, ou início de uma fase de alta? As duas hipóteses parecem hoje menos improváveis que na semana passada, quando o Banco Central (BC) anunciou sua primeira decisão de política monetária deste ano. A redução da taxa básica de 4,50% para 4,25% foi apresentada como fim do ciclo iniciado em julho de 2019. Uma ressalva rotineira foi incluída, apesar disso, no informe postado no site oficial: qualquer nova decisão dependeria, como sempre, de novas informações sobre o quadro econômico. Seis dias depois, surpresa: na reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, houve incertezas bem maiores do que parecia indicar aquele informe.

As divergências e dúvidas foram apontadas de modo mais amplo na ata da reunião. Os encontros do Copom, realizados a cada mês e meio, duram dois dias, uma parte na terça-feira e outra na quarta. As decisões são anunciadas por meio de um informe ao anoitecer de quarta-feira. A ata, mais longa e mais detalhada, aparece na terça-feira seguinte. O informe inicial havia revelado uma incerteza importante: com novos canais de intermediação, expansão do mercado de capitais e intermediação financeira mais eficiente, a potência da política monetária deve ter mudado.

Se esse for o caso, o impacto dos estímulos pode ser maior do que teria sido em outras condições. Isso pode resultar numa inflação maior que a esperada no período relevante para a política. Outros fatores também poderiam ter efeito inflacionário. Mas a ênfase no risco embutido na própria política de juros é uma novidade. Isso poderia bastar como justificativa para o encerramento do ciclo. O Copom julgaria prudente interromper os cortes, neste momento, à espera de mais informações para avaliar o impacto da política. Mas a incerteza é mais ampla e, até certo ponto, surpreendente.

Há dúvidas também sobre o estado da economia. Numa linguagem mais enrolada que a de outras atas, o texto menciona uma “dicotomia entre a evolução do mercado de trabalho e o crescimento da produção de bens e serviços”. O contraste apontado é entre a recuperação gradual das condições de emprego e o mau desempenho da indústria. Segundo os últimos dados, a produção industrial encolheu 1,1% em 2019. O recuo foi grande na atividade mineral, mas vários setores da indústria de transformação também produziram menos que em 2018. O volume diminuiu em 7 dos 15 locais cobertos pela pesquisa do IBGE. Além disso, dados preliminares apontam investimento abaixo do esperado em bens de produção e construções.

A capacidade ociosa da economia – desemprego elevado e subutilização de máquinas, equipamentos e instalações – tem sido apontada como um dos pontos de referência para as decisões de corte de juros. Com muita mão de obra disponível e bens de produção sobrando, a economia deve ter espaço para absorver os estímulos e crescer por algum tempo sem risco de pressões inflacionárias. Esse argumento foi ainda considerado na última reunião do Copom. A ata menciona o risco, citado em várias outras ocasiões, de uma inflação abaixo da trajetória esperada por causa da ampla ociosidade.

Mas há dúvidas também sobre a ociosidade. O rápido recuo da inflação, depois do choque dos preços das carnes, indica uma folga ampla, segundo alguns membros do Copom. Outros consideram a hipótese de uma ociosidade menor que a medida pelos métodos tradicionais. Seria preciso, segundo argumentam, levar em conta também possíveis efeitos da longa recessão no parque produtivo. Mais que uma parada para conferir os efeitos do corte de juros, a interrupção anunciada pode servir para um reexame das condições de uma economia ainda frágil. É uma incerteza incomum, talvez inédita, na história do Copom. Mas é um sinal de seriedade, um exemplo para boa parte do governo.
 Editorial  - O Estado de S. Paulo 


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Copom emite comunicado confuso e contraditório - Míriam Leitão


O Globo

Queda dos juros e dúvidas do BC

O Banco Central reduziu mais uma vez os juros, agora para 4,25%, apesar do pouco ou nenhum espaço de redução, mas avisou que é hora de interromper o ciclo de queda. Em um comunicado confuso, o Banco Central diz uma coisa e o seu contrário, usando para isso aquela linguagem própria, que carece de tradução para o idioma corrente do país. Diz que as expectativas de inflação estão baixas até 2022, mas ao mesmo tempo avisa que há riscos de que o atual nível de juros possa “elevar a trajetória da inflação acima do esperado”. Ora, se há risco, era o caso de não ter reduzido de novo a Selic. 
[pessoas com as quais conversamos, que entendem de economia tanto quanto entendemos = nada = mas, são fãs da  velha,  e que já foi  boa,  caderneta de poupança, começam a dizer que vão gastar o que tem na caderneta = sabemos que gastos, especialmente de poupança, além de reduzir a já pequena poupança interna, elevam a demanda e aumentam a inflação.
 
Dois deles, destacaram que se optarem por deixar o dinheiro na poupança e usar o daquele famoso cheque - dez dias sem juros - mesmo que por um dia, ficam no prejuízo = só de IOF pelo uso de um único dia, pagam 0,38%, que significa 50% a mais do que a poupança rende em um mês.]
Se cortou, é porque acha que a economia ainda precisa de estímulo, ou seja, acredita que a recuperação da atividade está mais fraca do que o imaginado. Mas diz na abertura do comunicado que os dados recentes mostram “a continuidade do processo de recuperação da economia”. Bom, se está tudo bem com a recuperação não precisava reduzir novamente os juros que já estavam no menor nível da história. Mais adiante, contudo, aponta como o primeiro risco “o nível de ociosidade elevado” que pode levar a um crescimento abaixo do esperado. Em resumo, avisa que o país está se recuperando, mas a retomada pode ser menor, que a taxa de inflação está controlada até o fim do atual mandato, mas pode subir pelo estímulo dos juros baixos.
 
Por fim, alertou que pode mudar de ideia, ou seja, voltar a cortar juros dependendo da evolução da economia. E mandou o recado de que é preciso continuar as reformas e perseverar no ajuste fiscal. Curioso é que no mesmo dia o presidente da República deu um sinal de que pode não perseverar no ajuste. Bolsonaro disse que pode zerar os impostos sobre combustíveis se os governadores fizerem o mesmo com os seus tributos. O governo federal está com déficit há seis anos, reduziu o rombo no ano passado usando receitas extraordinárias, os estados estão em penúria fiscal, os orçamentos não têm recursos para o básico, e o presidente propõe que o Tesouro e os estados subsidiem combustíveis fósseis, abrindo mão de bilhões em receita. O presidente permanece sem entender o mínimo de economia. Com a declaração, ele está avisando que pode, se quiser, ser irresponsável do ponto de vista fiscal e desafia os governadores a seguirem seu exemplo. Parece bravata e é. Se fosse a sério, o Banco Central teria que incluir isso no seu “balanço de riscos”.
 
A situação internacional complicou desde a última reunião do Copom. A crise do coronavírus tornou muito mais opacas as perspectivas da economia global este ano. As consequências são mistas. Têm o efeito de derrubar a inflação, mas ao mesmo tempo o de elevar alguns preços. O petróleo baixou de patamar desde o início da crise, mas o dólar aqui dentro bateu recorde histórico na semana passada. A incerteza da trajetória da economia mundial em 2020 subiu muito. Depois do primeiro susto, há consultorias agora prevendo que o impacto será pontual, com uma queda mais forte da China em um trimestre e recuperação rápida logo à frente. É cedo para dizer. Só será possível saber a real consequência econômica depois que houver sinais de que o vírus pode ser controlado. Hoje as notícias ainda são preocupantes. 
 
O consumo de petróleo na China deve cair 25% este mês. E a Organização Mundial de Saúde reduziu a esperança de que haja uma vacina eficiente contra a doença.  O Banco Central não menciona diretamente este mais recente fantasma que assombra a economia mundial. Diz que “no cenário externo apesar do recente aumento de incerteza” os juros baixos nas principais economias têm produzido um “ambiente relativamente favorável para as economias emergentes”.
 
Segundo levantamento da Infinity Asset, o Brasil passou a ter juros reais de 0,91% com esse novo corte da taxa Selic. Ou seja, descontada a inflação projetada à frente, os juros estão menores do que 1%. Se a conta for feita com a inflação dos últimos 12 meses, os juros já são negativos. Há economistas que consideram que o Banco Central está indo longe demais e reagindo a pressões do mercado para reduzir a taxa. Quanto menor a Selic, maior a migração de investimentos para a bolsa. Mas a sua comunicação trôpega de ontem indica que o próprio BC está confuso diante da atual, e realmente complexa, perspectiva da economia.
 
 
 

sábado, 11 de janeiro de 2020

Inflação baixa que pesa no bolso - Míriam Leitão

O Brasil viu em dezembro o que não vê há muito tempo, uma inflação de 1,15% em um mês, e a taxa do ano ficar acima do centro da meta. Não é um grande perigo, mas é bom ficar atento ao fato de que há menos de três meses, no dia 15 de outubro, a pesquisa Focus, que reflete o que pensa o mercado financeiro, previa que a inflação terminaria o ano em 3,26%. Além disso, o IGP-M ficou em 7,3% e reajusta aluguéis. O índice para a população de baixa renda terminou o ano em 4,48%. A primeira conclusão é que neste momento acabou o espaço para a queda da Selic.

O Copom pode até cortar de novo os juros de 4,5% para 4% ou 4,25%, mas se o fizer estará apenas seguindo o que a maioria do mercado prevê, ou o que é bom para estimular crescimento, que não é o principal mandato do Banco Central. Pelos limites do regime de metas, claramente, não há mais espaço. É hora de esperar para ver e não de praticar juros negativos.   Os economistas dizem que os juros reais devem ser calculados olhando para a frente, o “ex-ante”, e não olhando a inflação passada, que seria o “ex-post”. Mas a expectativa de mercado vale até o dia em que muda. Se há três meses os bancos não tinham colocado nas projeções a pressão dos preços da carne é porque suas lunetas andam avariadas. A crise no abastecimento chinês ficou clara durante todo o ano passado com o surto de febre suína que atingiu o rebanho daquele país. A demanda cresceu fortemente por toda a cadeia de proteína e era claro que quando chegasse a entressafra a conta bateria. Foi o que aconteceu. [não somos economistas, mas, maximizar o 'espirro' inflacionário de dezembro é torcer contra o Brasil;
nenhum mês do período Bolsonaro reunião tantos ingredientes favoráveis ao crescimento da inflação quanto dezembro/2019.
Citando alguns:
- inflação da carne que atingiu 18,06% em dezembro e em 2019 32,4%; ainda que as condições desfavoráveis que causaram essa ascensão permaneçam, impedindo uma queda compensatória, não causará novo impacto em janeiro/2020;
- milho aumentou 100%; e outros menores que somados, já viu.
Uma série de aumentos sazonais costumam ocorrer em janeiro e fevereiro que podem elevar o índice.
Mas, outros baixam, podendo produzir uma queda em janeiro e fevereiro, ainda que pequena,  o que  estabelecerá uma tendência de queda com perspectiva de se manter.
Não será desta vez que a turma do 'quanto pior, melhor',  vai ter o que aplaudir.
O que não deve ser feito é baixar mais os juros, o que será, aos olhos destes possuidores de notório saber econômico um duplo golpe. 
Qualquer queda nos juros aumentará a demanda - infelizmente, grande parte dos brasileiros não se preocupa com o valor total da dívida que contraem e sim se dão conta de pagar a prestação (nem tanto por serem bons pagadores e sim para contrair mais dívidas - o que não é motivo para condená-los, já que muitas vezes o endividamento é o único caminho para ter o mínimo do necessário = o que exige um aumento de renda, não por decreto, e sim pela volta do  crescimento da economia;
somos o país em que no governo do condenado petista - temporariamente em liberdade, no aguardo de confirmação de novas condenações -  comprava um carro em 100 meses, pagando triplo do valor à vista e 'esqueciam' que carro para durar oito anos, precisa de uma  boa manutenção, que custa dinheiro, assim como pneus, combustível, etc.

OUTRO MAL dos JUROS NEGATIVOS: induz a retirada pelos poupadores de pequeno cacife, mas que somados representam um grande impacto, dos recursos aplicados, especialmente na poupança e direcionados para o consumo, gerando maior demanda = sem produção = mais inflação.]

A inflação da carne foi de 18,06% em dezembro, mas no ano chegou a 32,4%. E, ainda que em janeiro tenha parado de subir, não deve cair muito ao longo do ano a ponto de reverter essa alta. A pressão da demanda chinesa continua. O milho teve aumento forte. A saca quase dobrou o preço, apesar da alta da produção no ano passado. Já para este ano a previsão do IBGE é de pequena queda da safra. É o alimento de aves e suínos, pressionando a cadeia da proteína.
A inflação de 4,3% num país que teve um biênio de forte recessão e que não cresce direito há três anos é preocupante. E ela tem núcleos muito pesados. Além da alimentação impactada pelas carnes, a inflação dos remédios, planos e tratamentos hospitalares está pesando muito. Ficou em 15% segundo o “Valor”, citando a consultoria Aon. Os planos de saúde subiram 8,24% no ano. Os aluguéis familiares e comerciais podem pesar com a alta do IGP. Material escolar pode subir 8%.

As tensões internacionais deste ano enterraram a visão otimista de que o começo do acordo entre China e Estados Unidos teria afastado os riscos externos. Na verdade, a tensão entre as duas potências sempre pode recomeçar. Mas o que não estava no radar apareceu com força, a nova escalada de tensão no Oriente Médio. É bem verdade que, como já disse aqui, o petróleo oscila e não dispara por causa da nova estrutura de produção e consumo. No entanto, uma alta, ainda que pequena, já impacta os combustíveis e os índices de preços. A energia deu uma folga em dezembro, mas o item está sempre pesando. Teve alta de 7,51% até novembro e caiu para 5% em 12 meses até dezembro porque a Aneel estabeleceu bandeira amarela nas contas de luz, apesar do sinal vermelho que vem dos reservatórios. O nível de água do Sudeste está em 20%, uma queda de oito pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado, apesar de 2019 não ter havido seca e a economia não ter crescido a ponto de pressionar a demanda.
A economia continua fraca, o desemprego permanece alto, a pressão inflacionária tem grande chance de se dissipar, mas existem incertezas para serem acompanhadas. A queda de juros que realmente importa para as empresas e a população é a dos juros bancários. Eles caíram em várias linhas, mas mesmo assim seguem sendo altas demais. [o mais trágico é que os tomadores dos empréstimos bancários estão obrigados, por decreto, a pagar juros acima de 150% ao ano, enquanto que os investidores aplicam seu dinheiro em investimentos para os quais a taxa SELIC tem validade total: apenas 4,5%.]  A redução da taxa do cheque especial foi decretada pelo Banco Central após passar um inaceitável custo para todos os correntistas que têm limites não usados nas suas contas correntes. A Caixa, quando estabelece como meta uma taxa de 2% ao mês, [anual, por baixo, em torno de 25% ao mês = no mínimo 5 x o valor da Selic.]como fez em entrevista a este jornal, está fazendo um movimento populista ou constatando que os juros, mesmo dessa linha emergencial, ainda são abusivos. Reduzir mais um pouco a Selic não resolve qualquer problema real e pode ser visto como leniência com a inflação que acaba de dar um salto.

Míriam Leitão, jornalista - Coluna em O Globo

 
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O olhar do BC sobre a economia - Míriam Leitão

Nos últimos três meses o Banco Central ficou mais otimista. No relatório que divulgou ontem, o BC fez uma revisão para cima da projeção de crescimento deste ano e do próximo e indicou que a alta será puxada pelo investimento e pela melhora na construção civil. Acha que a inflação ficará num nível “confortável”, o que permitirá juros em níveis baixos por um longo período. O mercado de crédito está crescendo 6,9% este ano e no ano que vem vai se ampliar mais 8,1%. Tudo isso se vê no Relatório de Inflação, divulgado a cada três meses, e que na verdade é uma avaliação geral sobre a economia.

Em crescimento, a diferença não é tão grande, mas nestes tempos bicudos qualquer número depois da vírgula já se comemora. O BC subiu de 0,9% para 1,2% a estimativa para o PIB deste ano e de 1,8% para 2,2% a de 2020. O problema mais sério da economia continuará sendo o mercado de trabalho, que terá queda gradual da taxa de desemprego.

Em novembro, foram criadas 99 mil vagas formais, segundo divulgou o Ministério da Economia. O número veio acima das projeções de mercado e é o melhor novembro em uma década. Isso ajudou a impulsionar o Ibovespa, que bateu mais um recorde e chegou a 115 mil pontos. No acumulado do ano, o país já gerou 948 mil vagas com carteira assinada, um pouco mais que os 858 mil do mesmo período de 2018. Mas que ninguém se iluda. A recuperação é lenta e tem números oscilantes tanto no Caged quanto no IBGE. E dezembro, no emprego formal, costuma ser negativo. Essa geração de vagas que houve até agora em 2019 não é suficiente para absorver nem o aumento anual da força de trabalho. A última Pnad apontou aumento de 1,4 milhão de pessoas na força de trabalho em 12 meses e mostrou que o emprego informal é o que mais cresce nesta recuperação.

Na visão do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, o PIB vem ganhando força, ainda que haja disparidade entre os setores da economia. Enquanto o comércio já vem melhorando há mais tempo, os serviços têm dados mais fracos, e a ociosidade da indústria continua muito elevada. A boa notícia aconteceu na construção civil, que teve estimativa de crescimento deste ano revisada de 0,1% para 2,1%. Kanczuk acha que essa melhora deixou de ser apenas em São Paulo e já acontece em vários estados do país. — As séries não contam uma história só, elas são um pouco diferentes, algumas já mostram uma tração, outras ainda andam de lado. O importante é ter visão global. Há essa divergência, mas a economia está acelerando desde o segundo trimestre — disse Kanczuk na apresentação do Relatório.

O presidente Roberto Campos Neto acha que a construção civil ganhou impulso pelas mudanças feitas pelo BC no financiamento imobiliário, com o uso do IPCA para a correção dos contratos. Segundo ele, em algumas linhas mais baratas já houve redução em mais de 25% no valor das prestações. Se todos os contratos forem renegociados, Campos Neto aposta que até R$ 2 bilhões podem ser liberados no orçamento das famílias. Ele acredita que os bancos vão querer negociar taxas mais baixas para não perder clientes porque a portabilidade está crescendo.

O comércio internacional tem revisões para baixo. Para se ter uma ideia, a previsão que o BC faz de exportação para este ano caiu US$ 7 bilhões desde o relatório de setembro. E para o ano que vem encolheu em US$ 11 bilhões. O déficit em transações correntes será de US$ 51 bilhões este ano e de US$ 57 bilhões em 2020.  O Relatório deu poucas pistas sobre os rumos do Copom e o mercado continua em dúvida se haverá novo corte, e, havendo, se será de 0,25 ponto ou meio ponto. O BC pregou novamente “cautela” na condução da política monetária e reforçou que precisará acompanhar a evolução dos dados.

Os números do relatório estão melhores, mas é bom ter em mente que 1,2% é praticamente o mesmo crescimento do PIB do ano passado e do ano anterior. Esse triênio 2017-2019 termina com uma taxa pífia do PIB. O Banco Central e os bancos voltam a apostar que em 2020 o ritmo de expansão da economia não apenas será maior como será o começo da retomada. Que desta vez tenham razão.

Blog da Míriam Leitão, jornalista - Alvaro Gribel, de São Paulo, O Globo



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

PIB, devagar, quase acelerando - Folha de S. Paulo

Vinicius Torres Freire

Faz seis anos, conjuntura não era tão favorável para retomada; política é risco

Aumentou aprobabilidade de aceleração” do crescimento nos próximos meses, sugere uma medida combinada de indicadores financeiros, de produção industrial, do comércio exterior e de expectativas empresariais e do consumidor.  Vai, racha ou ainda se arrasta? Uma aceleração pode ter também consequências políticas mesmo em meados de 2020, ainda mais dada a conformação gelatinosa dos pedaços da política brasileira recente.

“O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo gradual”, escreveu a diretoria do Banco Central na exposição de motivos da decisão de baixar a Selic na semana passada, no entanto (na Ata do Copom). Isso parece significar que o crescimento do PIB deve passar aos poucos do ritmo de crescimento de 1% ao ano para 2%. Mantido o ritmo do segundo e terceiro trimestres até o final de 2020, a economia cresceria 2,2%, por exemplo.

Ainda assim, o pessoal do BC escreveu também na Ata que a economia pode acelerar além da conta atual, dadas certas e novas condições da economia: taxa básica de juros historicamente baixa, nova e crescente fonte de financiamento da economia (mercado de capitais), menos crédito público subsidiado, por exemplo. É uma hipótese, lá está claro, pois se desconhece como funciona a economia neste novo regime (e, não está lá escrito, depois de meia dúzia de anos de recessão e estagnação).

A medida que sugere a “probabilidade de aceleração nos próximos meses” é o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (IACE), publicado em parceria entre a FGV-Ibre e The Conference Board. É uma combinação ponderada de taxa básica de juros no mercado para um ano, do desempenho do Ibovespa, de expectativas de empresas da indústria e de serviços, de confiança do consumidor, da produção de bens de consumo duráveis e de preços relativos (termos de troca) e de quantidade de exportações brasileiras.


Pelos números recentes e a julgar pelo resultado passado do efeito conjunto de tais indicadores, a economia parece estar no caminho da aceleração. Mas a gente não tem como prever que os efeitos continuem os mesmos, como de costume. Para dificultar a estimativa, temos esses fatos muito novos, como a taxa básica real de juro em torno de 0,6% ao ano, ressalte-se, e a configuração da economia depois de anos de ruína.

Para o Banco Central, traços de respostas para essas questões vão indicar se a taxa de juros (Selic) vai cair de novo em fevereiro de 2020 (próxima reunião para decidir sobre juros). Caso a economia cresça o previsto ou até acelere, o clima político deve mudar, caso o governo de Jair Bolsonaro não cause mais tumulto ou dê mais tiros no pé ou na orelha.tiros no pé ou na orelha. Não vai ser o “milagre do crescimento”. O desemprego continuará muito alto. A distribuição do crescimento não deve ser favorável para os mais pobres; não há dinheiro para fazer redistribuição, ao contrário. Mas haverá beneficiados, mais gente vivendo algo melhor do que agora e menos gente vivendo pior. Pode aparecer alguma percepção “pop” de que reformas e despiora da economia têm algo a ver.

Seria uma situação que levaria um governo normal a atrair aliados e fazer composições político-partidárias mais amplas. No caso de Bolsonaro, difícil dizer, até porque em termos políticos o governo vive voluntária ou involuntariamente no caos e do caos. Mas haveria condições para o clima político mudar. Na direção de formação de alianças ou de ênfase em “quebrar o sistema”?

Vinicius Torres Freire, colunista - Folha de S. Paulo

 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O Juro baixo bota na nossa poupança? - Jorge Serrão

Nunca dá para afirmar que o Rentismo esteja condenado ao fim em Bruzundanga. O vício de ganhar dinheiro com um mínimo ou nenhum trabalho, via “aplicação” ou especulação financeira, está arraigado no Brasil que teve juros altíssimos por décadas. Agora, com tendência de juro baixo (com remuneração praticamente zero diante da taxa de inflação) parece que a grana terá de ser direcionada para investimentos realmente produtivos. Tomara...
Enquanto tal esperança (ou milagre) não se consolida, fica uma pergunta no ar: como fica a situação da Caderneta de Poupança considerada uma das aplicações mais populares? Se a principal taxa de juros (a Selic) ficar igual ou abaixo da inflação (em torno de 4%), a poupança se transforma em “prejuízo”. Os brasileiros têm, atualmente, R$ 825 bilhões aplicados na poupança. A modalidade é usada por 66% das pessoas que “guardam dinheiro” – segundo pesquisas do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Fabrizio Gueratto, Financista do Canal 1 Bilhão Educação Financeira, chama atenção para o problema: “Quando a Selic está abaixo de 8,5% a poupança sempre vai render 70% desse valor + a Taxa Referencial, que hoje é zero. Dessa forma, agora o seu rendimento anual é de 3,15%. Se você for comparar com a inflação acumulada dos últimos doze meses, que é de 3,27%, o seu dinheiro vai render menos do que os preços aumentam. É o fim da poupança. O brasileiro precisa se mexer para buscar novos investimentos e em breve irá impactar também os CDBs com liquidez diária”.Gueratto dá um exemplo didático de como a inflação pode corroer os ganhos. “Vamos supor que você tenha R$ 2 mil guardados na poupança por um ano e agora quer comprar um celular de mesmo valor. No cenário atual da poupança, você não conseguiria comprar esse celular, pois os seus R$ 2 mil, valeriam R$ 2.057,83 em um ano, mas o preço do celular passaria para R$ 2.072,00, se levarmos em consideração a inflação atual
O financista também adverte que o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que remunera 100% da taxa Selic, sofrerá o mesmo efeito da poupança: “Considerando essa mesma inflação, em breve, se a taxa Selic continuar caindo, alguns investimentos que rendem 100% do CDI também perderão para a inflação. Hoje CDBs que rendem 90% da taxa DI, fáceis de encontrar nos grandes bancos, já empatam com a inflação, quer dizer, têm ‘ganho real’ igual a zero”.
O mercado desenha cenário de inflação contida com tendência de baixa de juro no Brasil. Grandes bancos avaliam que o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (o famoso COPOM do BC do B) pode baixar ainda mais a taxa Selic. A previsão é de 4% em 2020. A queda compromete a remuneração dos investimentos de renda fixa. A perspectiva apavora rentistas sem criatividade e sem hábito de investimento produtivo. Como a recuperação econômica ganha tração, é hora de encontrar uma maneira produtiva de ganhar dinheiro, com menor risco possível. Os viciados no jogo do rentismo piram...
Terça feira (17) o BC do B divulga a ata do Copom. Quinta-feira (19), sai o Relatório Trimestral da Inflação (RTI). Os dois documentos vão indicar os rumos econômicos para o ano que vem. Diante de um risco concreto de fuga de dinheiro da poupança, ninguém se surpreenda se o governo Bolsonaro tomar alguma medida para melhorar o rendimento do mais popular dos “investimentos” financeiros. A bola está com o time de Paulo Guedes... Os tempos de juro baixo são um novo desafio para a economia brasileira que terá de se reinventar produtivamente. Isto é tudo de bom... Ainda mais se a corrupção for barrada...

Blog Alerta Total - Jorge Serrão



sábado, 12 de outubro de 2019

‘Regras do cheque especial e do cartão vão mudar’, diz presidente do BC - VEJA

Por Thiago Bronzatto

Roberto Campos Neto também quer acelerar a votação do projeto de autonomia da instituição e diz que a tecnologia aumentará a competição entre os bancos

Na ampla sala de reuniões do edifício-sede do Banco Central, em Brasília, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) definem a cada 45 dias a taxa básica de juros, a chamada Selic. Ela vem caindo sucessivamente e no último encontro, realizado em setembro, o indicador foi fixado em 5,5%, o menor da história. Para Roberto Campos Neto, que está no comando do BC desde fevereiro, os benefícios dessa política vão chegar mais rápido ao bolso dos consumidores com o aumento da competição entre as instituições financeiras e a popularização de novas tecnologias no setor. “Alguns já são perceptíveis, como a queda dos juros de financiamentos imobiliários”, afirma o presidente do BC, que é neto do ex-ministro Roberto Campos. O economista de 50 anos deixou para trás uma longa carreira no setor privado para, segundo ele, ajudar o governo a implementar a agenda liberal. Nessa linha, Campos Neto conta que vem conversando com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a fim de tentar colocar em breve na pauta do Congresso o projeto de autonomia do BC. Confira a seguir os melhores trechos da entrevista.

Apesar da queda da Selic, os juros do cheque especial e do cartão de crédito continuam subindo. Qual a explicação para isso? 
 Esse é um tema muito importante. Se pegarmos os juros de crédito imobiliário, veremos que já há banco oferecendo abaixo de 7,5%. Acho que hoje o Brasil tem um crédito imobiliário bastante competitivo. [Juros baixos no crédito imobiliário não significam redução substancial de juros, da mesma forma que no crédito consignado para servidor público - as garantias são sólidas, risco mínimo.
O que o cidadão precisa é de juros baixos no capital de giro, financiamentos de veículos e especialmente no cheque especial e cartão de crédito; 
no BB, o cheque especial para cliente estilo - uma categoria de cliente 'especial' (não se sabe para cobrar mais caro ou por outra razão) está com a CET superior a 300% = quase cem vezes a inflação anual.]
 Os juros de capital de giro, de financiamento de veículos e de consignado também vêm caindo consistentemente. O mesmo não acontece com o cheque especial e o rotativo do cartão. Eles não só não têm caído como, na ponta, têm subido. Precisamos reinventar esses produtos. O que acontece na prática com o cheque especial é que, quando um cidadão tem um limite alto e não o usa, isso tem um custo para o banco. Então, na verdade, hoje quem utiliza o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito está pagando por quem não usa. Precisamos consertar isso. Algumas propostas para corrigir essa distorção estão sendo estudadas e serão anunciadas em breve.

Segundo muitos especialistas, a pouca competição dentro do setor financeiro dificulta a queda dos juros de mercado. O senhor concorda com isso? 
Vemos que na parte de meios de pagamento, em que houve mais digitalização e mais avanço em tecnologia, verifica-se um efeito de preço bastante grande, com desconto para o lojista. Lancei a ideia do home equity (crédito com imóvel de garantia), um produto em que no primeiro momento as pessoas nem prestaram muita atenção. Eu tinha uma ideia de que o produto conseguiria reduzir a taxa de juros para o consumidor, que hoje é de 150%, para 15%. Já existe um banco oferecendo a 13%. Uma dessas plataformas oferece a 12%. Isso é a competição. “É importante ter autonomia no Banco Central para tomar uma decisão que seja independente do ciclo político. Haverá um ganho de credibilidade quando isso acontecer”

Como o BC pode atuar para incentivar uma competitividade maior entre os bancos?
O BC está atuando. Para incentivar a competição, é preciso entender onde estão as barreiras. Vários fatores garantiam aos bancos a fidelidade dos clientes. O mundo digital inovador está mudando tudo, e essa competição já está acontecendo. Basta ler o noticiário. Num dia aparece uma nova plataforma que oferece créditos imobiliários. No outro, uma que faz pagamentos instantâneos. E, logo depois, mais uma que está fazendo algo relacionado ao cooperativismo. Acho que os próximos três a quatro anos vão andar mais rápido que os últimos dez. Temos de acompanhar esse movimento. Estimulando essas tecnologias, teremos um sistema mais competitivo no futuro.

(...)

O Coaf, que agora se chama Unidade de Inteligência Financeira (UIF), será transferido para o Banco Central. Por que essa mudança gera tanta polêmica?
 É importante entender que existia um desejo de dar o máximo de autonomia e independência possível ao órgão. Houve um problema criado por uma interpretação de que poderiam estar ocorrendo intervenções na forma de o órgão operar. Independentemente de ser verdade ou não, a ideia foi pensada no sentido de isolar ao máximo o órgão de influência política. Obviamente, não imaginei que teria a repercussão que teve.

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domingo, 22 de setembro de 2019

O programão na fila e a galinha na UTI - Rolf Kuntz

O Estado de S.Paulo

Para um crescimento econômico mais veloz e sustentável será preciso investir muito mais

Passar a noite numa fila, em busca de senha para um mutirão do emprego, tem sido um dos grandes programas boêmios de São Paulo. Nenhum outro tem atraído tantos milhares de pessoas. Num dos últimos, 4 mil sortudos conseguiram senhas para entrevistas. Na tevê sempre aparecem figuras animadas e até sorridentes, contratadas poucos minutos antes ou com esperança de sucesso na próxima tentativa. Com tanta gente entusiasmada, deve ser uma experiência boa. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia deveriam experimentar. No auge do entusiasmo, poderiam ter um surto de iluminação, como Saulo de Tarso num tombo, e perguntar-se: 
1) Como essas pessoas sobrevivem? 
2) Até quando poderão sobreviver sem trabalho? 
3) Onde surgirão os empregos, se as vendas continuarem fracas? 
4) Com pouca demanda final, como poderá reagir a indústria, já enfiada num buraco tão fundo? [as perguntas apresentadas são extremamente oportunas e deveriam ser objeto da atenção de parte da imprensa, dos presidentes da Câmara e do Senado, do STF e de mais alguns que parecem ter um prazer especial em atrapalhar o esforço do Presidente Bolsonaro em solucionar os problemas da República da qual é o Presidente - eleito pelo voto popular, em eleições livres e democráticas.]

São perguntas básicas, essenciais, e, no entanto, desprezadas pelo presidente, pela maior parte de sua equipe econômica e até por boa parte dos economistas do setor financeiro e das consultorias. As análises têm-se concentrado, na maior parte, em obviedades conhecidas há muito tempo, repetidas por instituições internacionais e já incluídas no repertório de jornalistas iniciantes. Para um crescimento econômico mais veloz e sustentável será preciso investir muito mais, cuidar da infraestrutura, reformar a tributação, eliminar entraves burocráticos, aumentar a segurança jurídica e – detalhe nem sempre lembrado – ampliar a oferta de capital humano bem preparado.

Cada um desses itens comporta muitos detalhes, como redução de vinculações orçamentárias, ganhos de eficiência na gestão pública, valorização dos professores, eliminação da guerra fiscal entre Estados, maior abertura comercial, maior inserção nas cadeias globais de produção e um monte de etcéteras. Os amantes do lugar-comum poderão adicionar uma frase contra a tentação de produzir um voo de galinha.

Mas um voo de galinha depende pelo menos de uma galinha capaz de algum impulso. Nem disso se pode falar no Brasil neste momento. Depois da recessão, a economia cresceu 1,1% em 2017, repetiu esse resultado em 2018 e hoje nem se pode dizer se crescerá 1% em 2019. Avançará 0,87%, se estiver certa a mediana das expectativas de mercado publicadas na segunda-feira (16/9). A última estimativa do governo é ligeiramente mais modesta, 0,85%. Fica por aí, em 0,8%, a nova projeção divulgada pela OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

A ambição mais modesta, neste momento, nem é fazer a galinha voar. É tirá-la da UTI. Todos os prognósticos são muito ruins. No Brasil, a projeção de crescimento em 2020 chegou a 2%. Uma semana antes ainda estava em 2,07%, um número já miserável. A previsão da OCDE caiu de 2,3% em maio para 1,7% na reavaliação concluída em setembro. Nas tabelas desses dois anos o Brasil aparece com um dos piores desempenhos do mundo. A desaceleração é global e o Brasil se mantém no último pelotão, à frente de poucos corredores. Se der alguma atenção a esses números, o presidente da República, formalmente o responsável principal pelas condições do País, poderá entender um pouco mais claramente o sentido da palavra “ociosidade”, usada com frequência em notas e atas do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC).

O “nível de ociosidade elevado”, segundo a nota da última reunião do comitê, poderá continuar empurrando a inflação para baixo da meta, fixada em 4,25% para este ano e em 4% para 2020. Traduzindo: a inflação bem comportada, um fato com vários aspectos positivos, é também sintoma de algo muito ruim. O “nível de ociosidade elevado” indica uma sobra indesejável de dois fatores, mão de obra e capital produtivo. No caso da mão de obra, o problema é sintetizado em alguns números. A última pesquisa oficial apontou 12,6 milhões de desempregados, ou 11,8% da força de trabalho. Somando a esse contingente os trabalhadores subempregados e os desalentados, chega-se a 24,7 milhões de pessoas.

No caso do capital produtivo as pesquisas são menos amplas. No entanto, bastam os números do setor industrial para mostrar um quadro assustador. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a ociosidade está próxima de 70% da capacidade instalada. Outros levantamentos indicam números mais próximos de 25%. Em qualquer caso, o uso do capital produtivo continua bem abaixo dos padrões normais na experiência brasileira. Perguntas óbvias: por que alguém comprará máquinas e equipamentos se a empresa estiver operando com ociosidade na faixa de 25% a 30%? Poderá comprar para substituir material desgastado ou muito desatualizado, mas pensará seriamente antes de cuidar da ampliação de capacidade. Da mesma forma, por que um empregador abrirá vagas, se os negócios andam em marcha lenta e os sinais de melhora são pouco tangíveis? Tem-se falado em aumento de confiança, mas a produção de máquinas e equipamentos, apesar de alguma melhora, continua muito abaixo dos níveis pré-recessão.

Sem um impulso inicial, o investimento das empresas continuará muito fraco, bem abaixo do necessário para animar a economia e para ampliar o potencial de crescimento do País. Sem demanda, a formação de estoques permanecerá muito cautelosa, desde o varejo até os primeiros elos da cadeia produtiva. O desemprego cairá muito lentamente e, por um efeito circular, a demanda de consumo seguirá insuficiente para proporcionar um arranque aos negócios. O fim de ano poderá ser um pouco mais animado, como sempre, e falta ver os efeitos da liberação de saques do Fundo de Garantia, mas as perspectivas são pouco entusiasmantes. Nem as projeções oficiais para este ano e para o próximo indicam algo muito melhor que uma galinha ainda na UTI.
 
 Rolf Kuntz - O Estado de S. Paulo
 
 

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Estilo prejudicial à economia - Míriam Leitão

O Globo

Bolsonaro tem estilo ruim para a economia

O estilo de o presidente Jair Bolsonaro governar afeta a economia negativamente. Ele é um governante sem foco na agenda positiva e obsessivo em criar conflitos. Isso aumenta a desconfiança do investidor da economia real, que já está retraído por causa do longo período de crise. E é desse investimento que o país precisa para sair do marasmo em que está. Para piorar, o governo americano de Donald Trump voltou a ativar o confronto comercial com a China, derrubando bolsas no mundo. Em apenas três dias, o dólar saltou de R$ 3,76 para R$ 3,94, e a bolsa brasileira voltou a operar abaixo dos 100 mil pontos.

Os fatores que levaram à inversão da alta da bolsa e à subida do dólar são externos, mas essa mudança recente de cenário mostra que o Brasil tem que criar as condições locais para sair da crise. É balela a ideia de que a economia possa ser um oásis num governo errático e conflituoso. O presidente não tem a retomada econômica como prioridade. Isso evidentemente aumenta a desconfiança dos investidores e mantém o nível de atividade acanhado.  O investidor que procura risco não se importa com volatilidades e incertezas. Até gosta. Ele faz suas apostas, a bolsa sobe e cai, e ele ganha nos dois movimentos, se for ágil. Recentemente a bolsa subiu, mas a economia continuou morna. E isso se vê nos pequenos dados. Uma pesquisa que vai ser divulgada hoje pela Boa Vista SCPC projeta um crescimento de no máximo 1,5% na venda do comércio no Dia dos Pais no próximo domingo. Menos do que os 2,8% de 2018. Este ano até agora foi uma decepção. As projeções de crescimento foram sendo reduzidas semana após semana. Os indicadores setoriais têm, de vez em quando, um número positivo no costumeiro mar de dados negativos 
[Há uma série de números positivos, que são divulgados  com o menor destaque possível, enquanto os negativos a imprensa maximiza a divulgação.
O que torna o governo Bolsonaro errático é além de uma tendencia natural, o empenho do Congresso em se destacar.

Exemplo:
- qual o motivo de fazer um 'cavalo de batalha' a respeito de qual ministério fica com o Coaf e com a Funai - seja com o ministério 'a' ou 'b', os dois órgãos ficarão subordinados ao presidente Bolsonaro.
Mas, o negócio é pisotear o governo do capitão - sabem que ele pe estilo explosivo e fácil de aceitar provocações.

O STF também não ajuda.
Exemplo:
No caso da MP que o Congresso rejeitou e Bolsonara reeditou parcialmente - fato corriqueiro, ocorre com frequência   desde o governo Sarney, o Parlamento rejeita uma MP e dias depois o presidente envia parte do rejeitado embutido em outra, o presidente do Senado (isto naquela época em que o Legislativo e o Judiciário não tinham interesse em tirar uma casquinha no Executivo - agora com Bolsonaro, a regra é: surgiu uma oportunidade de  mostrar quem manda, qualquer um dos poderes aproveita, ou os dois, começando pelo 'primeiro-ministro' Maia -) devolvia sem alarde, apontando a fundamentação da devolução e o assunto se encerrava.
Agora o Supremo resolveu julgar um 'jogo jogado', reativando o 'conflito' que já estava resolvido pela devolução da MP pelo Senado. ]

O investidor que ajudará na retomada é o que faz planos de longo prazo. Esse precisa de boas oportunidades, regras estáveis, ambiente positivo para construir os cenários benignos nos quais ele deslanchará seus investimentos. Por estilo e estratégia, o presidente Bolsonaro cria vários conflitos simultâneos, atira a esmo, estressa o tecido social do país e aflige as instituições. E ele acha que o investidor, nacional e estrangeiro, não vai se importar com isso porque não é economia? É um erro grosseiro de avaliação. Tudo tem repercussão na economia. A visão fracionada da conjuntura só faz sentido nas análises econômicas alienadas. A realidade está interligada.

A defesa que o presidente faz dos crimes cometidos pelo governo ditatorial é sobretudo uma estupidez. Primeiro, porque todo esse debate está caduco, é do século passado. O país já fez sua escolha há mais de três décadas, quando o último general saiu pela porta dos fundos do Planalto. [convenhamos que a opção em 1985 pela Nova República foi o passo inicial do desastre, da institucionalização da corrupção e que resultou no Brasil que aí está;

para completar, o presidente Temer tentou consertar o que era possível e conseguiu algum êxito - muito pouco, já que o PGR da época, se empenhou em acusar o presidente e assim atrapalhando alguns bons resultados
A propósito quando o Supremo vai homologar a delação dos açougueiros de Anapólis? um deles, peça chave nas acusações que impediram Temer de entregar ao presidente Bolsonaro um país bem melhor do que que recebeu da Dilma.] Segundo, porque a democracia dá mais segurança ao investidor de que não haverá decisões arbitrárias e de que se houver contenciosos ele poderá defender seus direitos. [a democracia não é essencial para o progresso econômico de um país. A China não é democrática e seu capitalismo é exitoso.
Um dos fatores essenciais para o crescimento econômico de uma nação é o investidor se sentir seguro e para tanto é necessário um governo forte, as vezes a democracia atrapalha. Vale o provérbio: 'Panela que muitos mexem, ou sai insossa ou salgada'.]

Neste momento alguns bons sinais apareceram. A reforma da Previdência foi aprovada em primeiro turno, o Credit Default Swap (CDS), que indica o custo cobrado para se contratar seguro em relação ao risco-país, caiu a um nível baixo, o desemprego teve uma queda, pequena e sazonal, mas houve criação de emprego. Hoje o Copom vai divulgar a sua ata e nela deve indicar que novos cortes de juros virão. A redução dos juros não terá efeito prático se não chegar na ponta, se os bancos não se sentirem seguros para emprestar, e se o presidente da República continuar sendo a maior fonte de insegurança institucional do país.

Bolsonaro ofende os valores do país com seu saudosismo da ditadura que já demonstrou diversas vezes, como no ataque à memória de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB. Ele coloca em risco o patrimônio natural brasileiro com sua tresloucada política ambiental. Ele mente sobre eventos da história e sobre fatos presentes. Ele acirra a divisão da sociedade. Tudo isso tem o efeito de aumentar a probabilidade de um cenário turbulento. E é exatamente de cenários de conflitos e de ruptura que os investidores fogem. O estilo do presidente é nefasto por razões políticas e sociais. Mas é ruim também para a economia porque compromete as expectativas de recuperação.

Coluna Míriam Leitão - Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O pulo da inflação


O salto da inflação em março pode ser um desvio temporário, mas é um motivo a mais para o governo se preocupar com as expectativas

O salto da inflação em março, quando os preços ao consumidor subiram 0,75%, puxados por alimentação e transportes, pode ser um desvio temporário, mas é um motivo a mais para o governo se preocupar com as expectativas. Por enquanto o bom humor parece prevalecer no mercado, apesar da surpresa negativa. Ninguém havia previsto uma alta superior a 0,67% na pesquisa habitual da Agência Estado

Mesmo diante do número pior que o esperado, economistas do mercado mantêm, no entanto, a aposta numa inflação mais branda nos próximos meses e um resultado final próximo da meta em 2019. Há até quem preveja um novo corte dos juros básicos pelo Banco Central (BC) antes do fim do ano. Essa expectativa é um dos aspectos mais positivos da economia brasileira neste momento. É essencial preservá-la.  À primeira vista há algo assustador na recente aceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a mais importante medida oficial da inflação, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta de 0,75% foi a maior para um mês de março desde 2015, quando a variação chegou a 1,32%.
 
Naquele tempo, o Brasil sofria os efeitos da irresponsabilidade fiscal do governo da presidente Dilma Rousseff. Além disso, os aumentos haviam disparado, depois de uma desastrosa fase de contenção política das tarifas de eletricidade. O choque de seriedade a partir da troca de governo, em 2016, permitiu conter a inflação e baixar os juros básicos ao menor patamar da história da taxa Selic, de 6,50% ao ano. A alta do IPCA no mês passado pode parecer, sem maior análise, uma nova perda de rumo, mas os fatos, tudo indica, são muito menos preocupantes. 

Com o salto da inflação mensal de 0,43% para 0,75%, a variação acumulada em 12 meses passou de 3,89% em fevereiro para 4,58% em março e ultrapassou a meta de 4,25% fixada para 2019. Mas a maior parte do resultado de março é explicável pela alta de apenas dois grupos de preços, alimentação e transportes. O custo da alimentação subiu 1,37%. O dos transportes, 1,44%. Considerados os pesos desses itens no orçamento médio das famílias, a alta dos preços da comida teve impacto de 0,34 ponto de porcentagem no resultado geral. O outro item produziu um efeito de 0,26 ponto. Somados, esses dois grupos seriam suficientes para gerar uma inflação de 0,60%, pouco faltando, portanto, para completar a variação de 0,75% do IPCA do mês. A diferença de 0,15 ponto decorreu de variações muito pequenas dos demais itens – saúde, vestuário, habitação, educação, artigos de residência, despesas pessoais e comunicação. 

Nada parece indicar, portanto, mais que um desvio passageiro da trajetória do IPCA. Os preços da alimentação tendem a acomodar-se, com a melhora das condições de tempo. O custo dos transportes, em boa parte determinado pelos preços dos combustíveis, é sujeito a oscilações determinadas basicamente pelas cotações internacionais do petróleo. Além disso, algum aumento passageiro da inflação já havia sido antecipado pelo BC e indicado na ata da última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária. A surpresa foi a magnitude da variação do IPCA, fora do intervalo previsto por economistas do mercado.

Não há, por enquanto, sinal de pressão da demanda sobre os preços ao consumidor, e também isso é um dado positivo. As famílias, como observou o gerente das pesquisas de preços do IBGE, Fernando Gonçalves, continuam gastando com muita cautela, por causa das incertezas quanto ao emprego. Sem pressão de demanda, há espaço para o BC manter a taxa básica de juros de 6,50%. Há quem preveja até um corte, mas para isso seria necessária alguma ousadia. Espaço para queda de juros dependerá de expectativas ainda melhores quanto aos preços. O governo precisará mostrar seriedade e capacidade e avançar na reforma da Previdência para animar o mercado. Simetricamente, falhas do governo derrubarão a confiança e favorecerão a alta de preços, como tem advertido o BC. O presidente Jair Bolsonaro deveria levar a sério essa advertência.

Editorial - O Estado de S. Paulo