Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador IPCA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador IPCA. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 11 de março de 2020

Inflação acumulada perde força em fevereiro e tende a cair mais em março - Míriam Leitão

O Globo

O IPCA em 12 meses, que recuou para 4,01% até fevereiro, vai continuar caindo. O choque das carnes visto no fim de 2019 passou e a tendência melhorou. A previsão do professor Luiz Roberto Cunha é que em março o acumulado recue para algo próximo a 3,50%, com a taxa mensal na casa do 0,2%.

Em fevereiro, o peso maior foi do grupo Educação, com impacto de 0,23 ponto no índice. É nesse mês que entram na conta os reajustes das mensalidades escolares. O câmbio mais alto pressionou os preços do grupo Saúde e Cuidados Pessoais, como perfumes e cosméticos. O peso no índice não é tão grande, mas em tempo de inflação baixa o impacto foi relevante, de 0,10 ponto.

A conta de luz menor, com a bandeira verde, e a queda no preço dos combustíveis e das passagens aéreas contribuíram para que o IPCA tivesse a menor taxa para o mês desde 2000.   

O professor destaca que em março a variação no preço dos combustíveis pode levar a mudanças nas previsões. A cotação do barril despencou nos últimos dias. Se o repasse chegar ao consumidor, a inflação ficará menor. Mas já é certo que o IPCA de março será inferior ao 0,75% do ano passado.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O olhar do BC sobre a economia - Míriam Leitão

Nos últimos três meses o Banco Central ficou mais otimista. No relatório que divulgou ontem, o BC fez uma revisão para cima da projeção de crescimento deste ano e do próximo e indicou que a alta será puxada pelo investimento e pela melhora na construção civil. Acha que a inflação ficará num nível “confortável”, o que permitirá juros em níveis baixos por um longo período. O mercado de crédito está crescendo 6,9% este ano e no ano que vem vai se ampliar mais 8,1%. Tudo isso se vê no Relatório de Inflação, divulgado a cada três meses, e que na verdade é uma avaliação geral sobre a economia.

Em crescimento, a diferença não é tão grande, mas nestes tempos bicudos qualquer número depois da vírgula já se comemora. O BC subiu de 0,9% para 1,2% a estimativa para o PIB deste ano e de 1,8% para 2,2% a de 2020. O problema mais sério da economia continuará sendo o mercado de trabalho, que terá queda gradual da taxa de desemprego.

Em novembro, foram criadas 99 mil vagas formais, segundo divulgou o Ministério da Economia. O número veio acima das projeções de mercado e é o melhor novembro em uma década. Isso ajudou a impulsionar o Ibovespa, que bateu mais um recorde e chegou a 115 mil pontos. No acumulado do ano, o país já gerou 948 mil vagas com carteira assinada, um pouco mais que os 858 mil do mesmo período de 2018. Mas que ninguém se iluda. A recuperação é lenta e tem números oscilantes tanto no Caged quanto no IBGE. E dezembro, no emprego formal, costuma ser negativo. Essa geração de vagas que houve até agora em 2019 não é suficiente para absorver nem o aumento anual da força de trabalho. A última Pnad apontou aumento de 1,4 milhão de pessoas na força de trabalho em 12 meses e mostrou que o emprego informal é o que mais cresce nesta recuperação.

Na visão do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fábio Kanczuk, o PIB vem ganhando força, ainda que haja disparidade entre os setores da economia. Enquanto o comércio já vem melhorando há mais tempo, os serviços têm dados mais fracos, e a ociosidade da indústria continua muito elevada. A boa notícia aconteceu na construção civil, que teve estimativa de crescimento deste ano revisada de 0,1% para 2,1%. Kanczuk acha que essa melhora deixou de ser apenas em São Paulo e já acontece em vários estados do país. — As séries não contam uma história só, elas são um pouco diferentes, algumas já mostram uma tração, outras ainda andam de lado. O importante é ter visão global. Há essa divergência, mas a economia está acelerando desde o segundo trimestre — disse Kanczuk na apresentação do Relatório.

O presidente Roberto Campos Neto acha que a construção civil ganhou impulso pelas mudanças feitas pelo BC no financiamento imobiliário, com o uso do IPCA para a correção dos contratos. Segundo ele, em algumas linhas mais baratas já houve redução em mais de 25% no valor das prestações. Se todos os contratos forem renegociados, Campos Neto aposta que até R$ 2 bilhões podem ser liberados no orçamento das famílias. Ele acredita que os bancos vão querer negociar taxas mais baixas para não perder clientes porque a portabilidade está crescendo.

O comércio internacional tem revisões para baixo. Para se ter uma ideia, a previsão que o BC faz de exportação para este ano caiu US$ 7 bilhões desde o relatório de setembro. E para o ano que vem encolheu em US$ 11 bilhões. O déficit em transações correntes será de US$ 51 bilhões este ano e de US$ 57 bilhões em 2020.  O Relatório deu poucas pistas sobre os rumos do Copom e o mercado continua em dúvida se haverá novo corte, e, havendo, se será de 0,25 ponto ou meio ponto. O BC pregou novamente “cautela” na condução da política monetária e reforçou que precisará acompanhar a evolução dos dados.

Os números do relatório estão melhores, mas é bom ter em mente que 1,2% é praticamente o mesmo crescimento do PIB do ano passado e do ano anterior. Esse triênio 2017-2019 termina com uma taxa pífia do PIB. O Banco Central e os bancos voltam a apostar que em 2020 o ritmo de expansão da economia não apenas será maior como será o começo da retomada. Que desta vez tenham razão.

Blog da Míriam Leitão, jornalista - Alvaro Gribel, de São Paulo, O Globo



segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Para Ilan, Brasil venceu anomalia dos juros altos, mas tem outras barreiras para voltar a crescer - Miriam Leitão

O Globo

Para Ilan, ex-BC, país tem barreiras para voltar a crescer

Ilan assumiu o BC em junho de 2016

Os juros baixos vieram para ficar, avisa Ilan Goldfajn. Ele falou aos repórteres Claudia Safatle e Alex Ribeiro, do “Valor”, na primeira entrevista após deixar o BC, no início do ano. Ilan, no comando do Banco Central, ajudou o país a atravessar uma anomalia brasileira. "Os juros menores vieram para ficar", disse 

Ele assumiu o cargo com o país em recessão e juros de 14%, em meados de 2016. A inflação chegou a 10%. A política econômica no governo Temer conseguiu derrubar o IPCA para um patamar até abaixo do piso da meta. As taxas de juros puderam cair. É claro que a economia fria também influencia. Depois de dois anos de recessão, a atividade estagnou. Mas não se pode subestimar. O Brasil, mesmo em períodos de recessão, já registrou inflação alta. Aconteceu em 2015 e em 2016.

Especialistas não prevêem nenhum susto para a inflação no curto prazo. Os juros devem cair mais. Quando Ilan deixou o BC, a taxa havia caído para 6,5%. Hoje está em 5,5% e estima-se que cairá mais um ponto este ano.  O Brasil escapou dessa anomalia, mas precisa fazer todo o resto, que é escapar da “armadilha da renda média”, como dizem os economistas. O país não cresce suficientemente nem consegue aumentar a renda per capita e a produtividade. Não basta ter juros baixos. Mudanças têm que ser feitas para que a economia ganhe mais vigor. Ilan explica que a Selic em níveis baixos não garante o crescimento da economia. O BC sozinho não vai resolver sozinho o desafio atual, que é crescer e gerar emprego.

Uma boa notícia é que economistas de alguns bancos revisaram para cima a projeção de crescimento deste ano e dos próximos. O Itaú, que previa 0,8% para 2019, aumentou para 1%. O desempenho melhora nos anos seguintes. Em 2020, a estimativa é de alta de 2,2%. Apesar dessa melhora nas expectativas, em geral espera-se um crescimento melhor que o atual, mas ainda baixo.Ilan entende que o recuo nos juros começa a chegar a algumas linhas bancárias, voltadas a grandes empresas. O grande problema no setor bancário do Brasil é que a Selic, paga pelo governo, cai e não é acompanhada pelos juros dos bancos.  

LEIA TAMBÉM: Previsão de juros a 4,5% no fim do ano vira o padrão

 
Míriam Leitão - Economia, em O Globo



sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Remuneração da caderneta de poupança poderá ser atrelada à inflação - O Globo

O Globo

Governo estuda substituir TR na rentabilidade da caderneta. Ganho, neste momento, ficaria maior

Poupança e investimento Foto: Pixabay
Poupança e investimento Foto: Pixabay

O governo estuda modificar a remuneração da caderneta de poupança para ampliar os recursos destinados ao financiamento do setor da habitação. A ideia seria assegurar aos poupadores pelo menos um rendimento equivalente a 70% da taxa básica de juros (Selic), independentemente do patamar da Selic, e substituir a Taxa Referencial (TR), que atualmente está em zero, pelo índice oficial de inflação (IPCA), segundo uma fonte a par das discussões. 
 
FGTS: este ano, Fundo renderá mais que a poupança
 
O assunto está sendo discutido de forma reservada entre o Banco Central (BC) e o Ministério da Economia. A mudança visa proporcionar uma fonte alternativa de recursos para a habitação com a chamada securitização no mercado financeiro.
Os bancos que captam depósitos de poupança e são obrigados a investir boa parte desses recursos em crédito imobiliário poderão vender no mercado as carteiras de crédito lastreadas pelo IPCA. Não há demanda no mercado por ativos atrelados à TR, ao contrário do que ocorre com o IPCA.Recentemente, a Caixa Econômica lançou uma linha de crédito imobiliário com correção pela inflação.
 
Ganho maior que renda fixa
A Selic está hoje em 6% ao ano, o que concede ao poupador um ganho de 4,20% com a TR zerada. Com a troca do indexador pelo IPCA, o rendimento dependerá do comportamento da inflação. Neste momento, o retorno seria significativamente maior: 7,6%, segundo cálculos feitos por Miguel Ribeiro de Oliveira, presidente da Anefac, associação que reúne executivos de finanças.
A poupança ficaria atraente frente às demais aplicações de renda fixa. As duas principais modalidades de fundos deste tipo tiveram ganho de 6,19% e 7,80% nos últimos 12 meses, mas sobre essa rentabilidade incidem Imposto de Renda e taxa de administração.
O cenário, porém, poderia mudar no futuro. Segundo o Boletim Focus, do BC, a inflação deverá fechar este ano em 3,54%. Em 2020, a projeção é de 3,82%, caindo para 3,75% em 2021 e 3,50% em 2022. A última mudança na fórmula de rendimento da poupança ocorreu em 2012, quando a caderneta passou a render 70% da Selic sempre que esta ficar abaixo de abaixo de 8,5% ao ano. Acima disso, volta a vigorar a fórmula antiga de 6,17% ao ano, o equivalente a 0,5% ao mês.

A medida foi tomada para evitar que a remuneração da poupança - isenta de IR - fosse um entrave à queda da Selic, provocando uma distorção no mercado ao competir de forma desigual com fundos de investimento. O consultor José Urbano Duarte considera interessante buscar fontes alternativas de recursos para o setor da habitação. Mas ressalta que o ideal seria esperar o resultado da nova modalidade de crédito imobiliário corrigida pelo IPCA, com recursos captados pela poupança.


Para Ricardo Almeida, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração, a mudança será boa:- O custo de vida está atrelado à inflação.
Hoje, há 61,2 milhões de contas de poupança no país, com patrimônio de R$ 743,3 bilhões. Procurado, o Ministério da Economia informou que não comentaria o assunto. Em nota, o BC negou que a matéria esteja em análise. 

Ana Paulo Ribeiro, colaborou - O Globo

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O pulo da inflação


O salto da inflação em março pode ser um desvio temporário, mas é um motivo a mais para o governo se preocupar com as expectativas

O salto da inflação em março, quando os preços ao consumidor subiram 0,75%, puxados por alimentação e transportes, pode ser um desvio temporário, mas é um motivo a mais para o governo se preocupar com as expectativas. Por enquanto o bom humor parece prevalecer no mercado, apesar da surpresa negativa. Ninguém havia previsto uma alta superior a 0,67% na pesquisa habitual da Agência Estado

Mesmo diante do número pior que o esperado, economistas do mercado mantêm, no entanto, a aposta numa inflação mais branda nos próximos meses e um resultado final próximo da meta em 2019. Há até quem preveja um novo corte dos juros básicos pelo Banco Central (BC) antes do fim do ano. Essa expectativa é um dos aspectos mais positivos da economia brasileira neste momento. É essencial preservá-la.  À primeira vista há algo assustador na recente aceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a mais importante medida oficial da inflação, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta de 0,75% foi a maior para um mês de março desde 2015, quando a variação chegou a 1,32%.
 
Naquele tempo, o Brasil sofria os efeitos da irresponsabilidade fiscal do governo da presidente Dilma Rousseff. Além disso, os aumentos haviam disparado, depois de uma desastrosa fase de contenção política das tarifas de eletricidade. O choque de seriedade a partir da troca de governo, em 2016, permitiu conter a inflação e baixar os juros básicos ao menor patamar da história da taxa Selic, de 6,50% ao ano. A alta do IPCA no mês passado pode parecer, sem maior análise, uma nova perda de rumo, mas os fatos, tudo indica, são muito menos preocupantes. 

Com o salto da inflação mensal de 0,43% para 0,75%, a variação acumulada em 12 meses passou de 3,89% em fevereiro para 4,58% em março e ultrapassou a meta de 4,25% fixada para 2019. Mas a maior parte do resultado de março é explicável pela alta de apenas dois grupos de preços, alimentação e transportes. O custo da alimentação subiu 1,37%. O dos transportes, 1,44%. Considerados os pesos desses itens no orçamento médio das famílias, a alta dos preços da comida teve impacto de 0,34 ponto de porcentagem no resultado geral. O outro item produziu um efeito de 0,26 ponto. Somados, esses dois grupos seriam suficientes para gerar uma inflação de 0,60%, pouco faltando, portanto, para completar a variação de 0,75% do IPCA do mês. A diferença de 0,15 ponto decorreu de variações muito pequenas dos demais itens – saúde, vestuário, habitação, educação, artigos de residência, despesas pessoais e comunicação. 

Nada parece indicar, portanto, mais que um desvio passageiro da trajetória do IPCA. Os preços da alimentação tendem a acomodar-se, com a melhora das condições de tempo. O custo dos transportes, em boa parte determinado pelos preços dos combustíveis, é sujeito a oscilações determinadas basicamente pelas cotações internacionais do petróleo. Além disso, algum aumento passageiro da inflação já havia sido antecipado pelo BC e indicado na ata da última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária. A surpresa foi a magnitude da variação do IPCA, fora do intervalo previsto por economistas do mercado.

Não há, por enquanto, sinal de pressão da demanda sobre os preços ao consumidor, e também isso é um dado positivo. As famílias, como observou o gerente das pesquisas de preços do IBGE, Fernando Gonçalves, continuam gastando com muita cautela, por causa das incertezas quanto ao emprego. Sem pressão de demanda, há espaço para o BC manter a taxa básica de juros de 6,50%. Há quem preveja até um corte, mas para isso seria necessária alguma ousadia. Espaço para queda de juros dependerá de expectativas ainda melhores quanto aos preços. O governo precisará mostrar seriedade e capacidade e avançar na reforma da Previdência para animar o mercado. Simetricamente, falhas do governo derrubarão a confiança e favorecerão a alta de preços, como tem advertido o BC. O presidente Jair Bolsonaro deveria levar a sério essa advertência.

Editorial - O Estado de S. Paulo

quinta-feira, 14 de março de 2019

Incertezas seguram a economia

Coluna publicada em O Globo - Economia 14 de março de 2019

A inflação acelerou mais do que se esperava em fevereiro, mas os culpados do mês foram rapidamente identificados. O feijão, por exemplo, com alta de mais de 50%, conforme a medida do IPCA, índice do IBGE. Mas não só. Alimentos em geral tiveram alta forte. Também a energia elétrica, mais matrículas e mensalidades escolares, neste caso eventos exclusivos de fevereiro.
E daí?

Daí que nada. Todos os demais itens mostram uma inflação mais do que comportada, rodando há vários meses abaixo da meta do Banco Central. Para este ano, a meta é de 4,25%. Em fevereiro, o IPCA acumulado em 12 meses bateu 3,89%, sendo um pouquinho menor (3,85%) a previsão do mercado para o ano todo.
Tudo muito bem, portanto?
Mais ou menos. O problema é que assim como a inflação, o Produto Interno Bruto (PIB) também está encolhendo. Cresceu apenas 1,1% no ano passado, e as previsões para 2019 vêm caindo há semanas, estando agora em 2,28% – muito baixo.
Acrescente-se ao cenário a taxa de desemprego (12%) e se verifica que a inflação baixinha em si, um dado positivoreflete também a fraqueza geral da economia. É por isso que muitos analistas acreditam que o Comitê de Política Monetária do BC, o Copom, deverá voltar a reduzir a taxa básica de juros, fixada em 6,5% desde março do ano passado. É um recorde de baixa e de baixa prolongada no regime de metas de inflação.

Faz sentido. Quanto menor a taxa de juros, maior o incentivo para que consumidores e investidores tomem empréstimos e gastem em alguma coisa. Mais PIB, portanto.  Ocorre que a economia brasileira tem muitos outros problemas que desestimulam e/ou adiam investimento e consumo com dinheiro emprestado. Em outras palavras, o pessoal não anda muito animado para tomar compromissos a longo prazo, sequer a médio.  Poderia dizer que a dúvida principal está na situação das contas públicas – ou seja, se haverá ou não a reforma da previdência, já que sem a contenção do déficit previdenciário o governo federal e os estaduais quebram em poucos meses.

É por aí, mas vai além. Há um mal-estar crescente em relação à capacidade das instituições (incluindo o governo executivo, Congresso e Judiciário) em arbitrar e desfazer os impasses que bloqueiam a atividade econômica.  Nem chega, ainda, a ser algo formulado. Mas uma sensação de que pode não dar certo. Fatos em si pequenos, incidentes que passariam despercebidos vão se acumulando e deixando uma má impressão.
O governo Bolsonaro, que assumiu sob expectativa de que faria deslanchar as reformas, a cada dia oferece uma confusão em torno de assuntos que nada têm a ver com as boas propostas (os pacotes Guedes e Moro, por exemplo). As demissões e contra-demissões no Ministério da Educação, por causa rixas entre facções, levantam a dúvida mais que razoável: é esse pessoal que vai reformar o ensino?

O Congresso parece passar o seguinte recado: pode-se votar a reforma da previdência, desde que se restabeleça algum “toma lá dá cá”.  O Supremo Tribunal Federal parece não perceber o tamanho da crise financeira do Estado. Há pouco, por exemplo, decidiu que o governo de Minas não precisa pagar o que deve ao governo federal, nem fazer um programa de ajuste fiscal. (A posição do ministro Paulo Guedes, correta, é condicionar a ajuda federal ao ajuste estadual).

Ok, trata-se de um caso aqui outro ali, mas a sucessão de pequenos incidentes vai criando um baita problema. Por outro lado, não desapareceram as esperanças de alguma boa reforma. Ontem, por exemplo, a Bolsa bateu recorde de alta. Ligou o modo “agora vai”, acreditando que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, vai sustentar a tramitação da reforma da previdência. Mas outro dia mesmo, o pessoal estava apreensivo com as ressalvas do próprio Maia à capacidade de articulação do governo.  Nesse vai e vem, comprar ações, num dia bom, é fácil. Pode-se vender amanhã. Mas iniciar um novo negócio, comprar em várias prestações, é outra coisa.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


sábado, 9 de fevereiro de 2019

Inflação não deverá atrapalhar

Confiança de consumidores, investidores e empresários é uma bênção para um governo iniciante e com obrigação de cumprir agenda complexa de ajustes e reformas

O novo governo começou num cenário de inflação bem comportada, um dos melhores legados da administração anterior e de um Banco Central (BC) conduzido com prudência e realismo. Em janeiro, os bens e serviços comprados pela maioria das famílias encareceram 0,32%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência principal para a política econômica. Os aumentos foram maiores que os de dezembro, quando ficaram em 0,15%, mas a alta acumulada em 12 meses bateu em 3,78%. Foi um resultado bem razoável depois de um ano de muita incerteza política, de forte oscilação do dólar e de graves problemas criados no fim do primeiro semestre pela crise do transporte rodoviário. Sempre há reclamações pela alta deste ou daquele produto, mas os consumidores, segundo várias pesquisas, mantêm boas expectativas em relação a 2019. 

Confiança de consumidores, investidores e empresários é uma bênção para um governo iniciante e, mais que isso, com obrigação de cumprir uma agenda complexa e trabalhosa de ajustes e reformas. Se essa confiança se mantiver, a nova administração poderá concentrar-se nas tarefas mais urgentes e mais complicadas, sem ter de se preocupar com desarranjos nos preços e nos orçamentos já apertados da maior parte dos brasileiros. Expectativas favoráveis quanto à inflação também permitirão ao BC manter em 6,50% por vários meses a taxa básica de juros, a Selic. Essa taxa foi confirmada pela sétima vez na última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, na reunião periódica encerrada na última quarta-feira. 

O ritmo anual de alta do IPCA continua bem abaixo da meta oficial, fixada para 2019 em 4,25%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. O resultado final de 2018 foi 3,75%, número bem inferior ao objetivo de 4,50% ainda em vigor no ano passado. Para este ano o mercado projeta para o IPCA uma elevação de 3,94%, segundo a pesquisa semanal Focus divulgada na última segunda-feira pelo BC. Expectativas bem ancoradas, como se diz no jargão dos especialistas, contribuem para a moderação da alta de preços. 

A validação dessas expectativas dependerá principalmente, a julgar pelos dados hoje conhecidos, do empenho do governo na execução de sua pauta. Pode haver algum risco significativo no cenário externo, por causa da prolongada tensão comercial entre as maiores economias e das incertezas do Brexit, a cisão entre Reino Unido e União Europeia. Mas a maioria dos sinais sugere pressões inflacionárias moderadas nos próximos meses.  Os preços no atacado recuaram em janeiro 0,19%, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Em novembro e dezembro, as variações já haviam sido negativas. No acumulado em 12 meses houve uma alta considerável, 7,98%, mas essa taxa foi a menor em oito meses.

De junho a dezembro, a alta dos preços no atacado foi sempre superior a 8% em 12 meses. Os números dos últimos três meses, assim como a taxa anual, apontam uma clara acomodação. Quanto ao preço do dólar, importante fator de pressão, recuou há algum tempo e tem oscilado bem mais suavemente do que na maior parte do ano passado. O IPCA mede a variação dos preços pagos pelas famílias com renda mensal de um a 40 salários mínimos. Além desse, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) produz também um indicador, o INPC, baseado nas despesas das famílias com ganho de um a cinco salários mínimos

Também nesse caso houve aceleração, com a taxa mensal passando de 0,14% para 0,36%. Mas o ritmo anual ficou em 3,57%, abaixo do encontrado para o IPCA. A condição dessas famílias é obviamente muito mais desconfortável, em especial quando a elevação do índice, como em janeiro, é puxada pelos preços da comida. Mas todos os grupos – em proporções diferentes – ganham com preços mais comportados. Para os pobres, no entanto, nenhuma solução será suficiente sem melhores condições de emprego e de empregabilidade. Programas para isso também dependerão de finanças públicas saudáveis e, portanto, de ajustes e reformas.

Opinião - O Estado de S. Paulo
 

 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Bolsonaro: tudo para um bom início



Apenas alguma barbeiragem política grave na base de apoio do governo pode levar a um cenário diferente

O governo do presidente eleito Bolsonaro tem todas as condições iniciais para dar certo. Este é o meu sentimento quando escrevo a última coluna do ano. Em primeiro lugar, porque inicia seu governo em um ponto do ciclo econômico de curto prazo extremamente favorável. A terrível recessão provocada pela incompetência do governo de Dilma Rousseff provocou uma correção brutal dos principais mercados no Brasil, criando as condições necessárias para uma recuperação cíclica bastante sólida.
O presidente Michel Temer, com uma política econômica correta, mostrou o potencial desta nova fase de crescimento, mas perdeu a oportunidade de consolidá-lo por questões fora do ambiente econômico. Com isto, o nível de atividade, nos últimos dois anos, permitiu a manutenção das condições favoráveis de oferta e demanda em setores importantes do tecido econômico. Por exemplo, o hiato do produto permitiu que o Banco Central administrasse um dos mais exitosos processos de desinflação da história econômica recente. O relatório da reunião do Copom de dezembro mostra a extensão deste processo de desinflação dos últimos anos ao projetar para 2019 e 2020 uma taxa de aumento dos preços abaixo do centro da meta do BC e, acenar inclusive, com uma possível redução adicional dos juros Selic em 2019. Com isto, teremos mantido, por três anos seguidos, o controle da inflação, sem a utilização de mecanismos espúrios de controle de preços e outros artificialismos. O novo presidente vai assumir seu cargo sem nenhuma distorção maior no sistema de preços de mercado ou dos controlados administrativamente.
Por outro lado, a nova previsão da safra agrícola de 2018/2019, divulgada pelo IBGE na última semana, reforça este cenário benigno da inflação pela manutenção, por um prazo seguido de três anos, de uma oferta abundante de alimentos nos mercados internos. Não vai ser por problemas de oferta que poderemos ter alguma surpresa desagradável neste segmento importante de preços e que representa cerca de 40% do IPCA.

Outro efeito importante da produção agrícola prevista para 2019 é a manutenção de um saldo comercial superior a US$ 60 bilhões em nossa balança de pagamentos. Sem a ocorrência de uma verdadeira catástrofe nos mercados externos de capitais, a taxa de câmbio no Brasil deve ficar no intervalo de R$ 3,50 a R$ 3,80. Cabe aqui ressaltar que, no cenário econômico e político que espero, a entrada de capitais externos deve pelo menos manter os níveis atuais de US$ 65 bilhões anuais, fortalecendo o real.
Além da possibilidade de um crescimento econômico sólido em seu primeiro ano na Presidência, outro fator extremamente positivo para o novo governo é o apoio da população, como mostram pesquisas recentes divulgadas. Com mais de dois terços dos brasileiros confiando no novo presidente fica mais fácil a relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Esta combinação - crescimento econômico e apoio da população - é suficiente para que a equipe do presidente possa, pelo menos inicialmente, encaminhar a questão da reforma da previdência. Isto deve ser suficiente para acalmar os mais agitados com a questão fiscal e da dívida pública.
Com isto, creio, estará criada a condição suficiente para a economia crescer algo como 3% ao ano na parte final do ano próximo. À medida que este cenário se consolide entre a mídia e os principais analistas econômicos, a tarefa do governo, em relação à agenda de reformas que se fazem necessárias para um crescimento econômico sustentado, ficará facilitada pela manutenção de um otimismo perdido há muito tempo na sociedade brasileira. Apenas alguma barbeiragem política grave na base de apoio do governo pode levar a um cenário diferente deste nos próximos meses. A falta de experiência - política e administrativa - do PSL, partido de Bolsonaro, é um risco que só pode ser afastado pelo acompanhamento dos fatos nos próximos meses. A montagem do novo ministério, primeiro teste efetivo do potencial de governabilidade do governo eleito, terminou com poucos e negligenciáveis percalços. O próximo desafio será a gestão do processo de alternância de poder no Senado e Camara de Deputados, agora em janeiro.
Uma última peça para a montagem de meu cenário para 2019 fica por conta da economia internacional e, apontada hoje pelos mercados, como maior fator de risco para a economia brasileira. O estabanado governo do presidente Trump é hoje responsável por um cenário de confronto nas relações internacionais e pelo risco real de recessão na maior economia do mundo. O agravamento do confronto comercial com a China, parte de um conflito maior entre a economia mundial dominante e a China que em poucos anos tomará esta posição, pode acelerar os riscos de recessão econômica já contratada pelos erros cometidos no front fiscal pelo presidente americano. A combinação destas duas forças desestabilizadoras pode criar uma situação internacional muito difícil.
Mas o Brasil, dada a situação de nosso ciclo econômico, certamente vai sofrer menos as consequências deste cenário em 2019. Particularmente não visualizo riscos maiores para nós vindo do front externo e que inviabilize o cenário local projetado acima.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Inflação fica negativa em 0,21%; é a menor taxa para novembro desde 1994

[mesmo com Janot atrapalhando e o próprio Temer, a atual equipe econômica  conseguiu fazer - continua fazendo - um bom trabalho.]

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve queda de preços de 0,21% em novembro, divulgou hoje (7), no Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA mede a inflação oficial do país.
 
O resultado foi o menor desde julho de 2017, quando houve queda de 0,23%. Se avaliados apenas os meses de novembro, o resultado foi o menor desde o início do Plano Real, em 1994.  Em 12 meses, a inflação acumula 4,05%, enquanto a taxa acumulada de 2018 de janeiro a novembro – soma 3,59%.

Em novembro do ano passado, o IPCA teve alta de 0,28%, enquanto em outubro de 2018, houve aumento de 0,45%.

IstoÉ




segunda-feira, 14 de maio de 2018

O mais provável é que o BC corte novamente os juros nesta semana


É de se esperar que o Banco Central corte novamente os juros nesta semana, apesar do contexto mundial mais complicado. O Copom deve reduzir a taxa na quarta-feira em 0,25 ponto, para 6,25%. A inflação está abaixo do piso da meta, de 3%, e a atividade tem apresentado sinais fracos nos últimos meses.


Na reunião passada, há um mês e meio, o BC deu a indicação de que cortaria a Selic mais uma vez. Mas muita coisa acontece no mundo em 45 dias. A tensão internacional cresceu. A cotação do dólar, que impacta diversos preços, subiu. A atuação do presidente Donald Trump também fez o preço do barril de petróleo acelerar, criando outras pressões inflacionárias. O preço da energia e dos combustíveis, por exemplo, acaba subindo. Parte da energia é gerada em termoelétricas. O preço da energia de Itaipu é dolarizado. Outro foco de incerteza internacional é a Argentina, terceira maior parceira comercial do Brasil, que entrou em uma forte crise nas últimas semanas.


Nas últimas semanas, o BC reforçou a indicação de que vai reduzir os juros. Na semana passada, Ilan Goldfajn disse em entrevista à GloboNews que o Banco Central tem que olhar os dados da inflação — a taxa presente e a expectativa — e também o nível de atividade. O IPCA está há 10 meses abaixo dos 3%, tem espaço para subir sem provocar perigos ao sistema de meta. Além disso, neste ano os indicadores de atividade estão surpreendendo para pior e o desemprego atinge a 14 milhões de pessoas. O    mais provável é que o BC reduza os juros nesta semana e, com toda essa incerteza, decidam parar o ciclo.   



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Perigosa armadilha

Lance de marketing bem sucedido dos bancos incentiva pessoas a se endividarem a juros impagáveis. Quanto menor a inflação, mais proibitivo o empréstimo

É uma temeridade, que beira a irresponsabilidade, alardear que os juros dos empréstimos caem junto com a Selic, a taxa básica reduzida ontem pelo Banco Central em 0,25 ponto percentual, para 6,75% ao ano, ou 0,58% ao mês.
 
Isso incentiva as pessoas a se endividarem, assumindo encargos virtualmente impagáveis.
Uma armadilha.
Aos números.

Saiu hoje a inflação oficial de janeiro: 0,29%. Ou 2,86% em 12 meses.
Primeiro: a Selic é 2,3 vezes a inflação anual, ou exatamente o dobro dela, se compararmos os índices mensais.
É a quinta maior do mundo, em termos reais, segundo ranking atualizado ontem pela Moneyou: http://moneyou.com.br/wp-content/uploads/2018/02/rankingdejurosreais070218.pdf
Segundo: há um cipoal de taxas de empréstimos para a pessoa física no mercado.
Num bem sucedido lance de marketing, grandes bancos anunciaram ontem que reduzirão os juros dessa categoria para algo entre 1,37 e 1,5% ao mês, cerca de 20% ao ano.
Ora, isso dá 7 vezes o IPCA dos últimos 12 meses.
 
Pior: a última pesquisa disponível no site da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Anefac, informa que, em dezembro, o custo médio do crédito para a pessoa física foi de 7,33% ao mês, ou 133,7% ao ano.
É mais de 46 vezes a inflação anual.
É proibitivo.
É pra quebrar qualquer um.
 
Acrescento, abaixo, um trecho do boletim da associação, sobre a evolução do custo dos empréstimos nos últimos quatro anos:
“Considerando todas as elevações e reduções da taxa básica de juros (Selic) promovidas pelo Banco Central desde março/2013, tivemos neste período (março/2013 a dezembro/2017) uma redução da Selic de 0,25 ponto percentual (redução de 3,45%) de 7,25% ao ano em março/2013 para 7,00% ao ano em dezembro/2017.
Neste período a taxa de juros média para pessoa física apresentou uma elevação de 45,73 pontos percentuais (elevação de 51,98%) de 87,97% ao ano em março/2013 para 133,70% ao ano em dezembro/2017.”

https://www.anefac.com.br/uploads/arquivos/201818144218855.pdf

Blog da Lillian Witte Fibe - VEJA
 

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Inflação muito abaixo do previsto pode influenciar a sequência dos juros



Foi a menor inflação para meses de janeiro desde o plano Real. O IPCA ficou em 0,29%, bem inferior às projeções, que estavam na casa do 0,4%. É mais uma surpresa “baixista” no índice, que completa agora sete meses abaixo do piso da meta, de 3%. O acumulado em um ano caiu, ao contrário do que se imaginava, e agora marca 2,86%. Vários grupos de preços vieram aquém da projeção, conta o professor Luiz Roberto Cunha. O resultado, se for uma tendência, pode influenciar a sequência dos juros no ano, mesmo sem a aprovação da reforma da Previdência. A expectativa atual é que o BC mantenha a taxa Selic na reunião de março.

Entre as quedas, a maior influência veio do grupo Habitação, com a redução no preço da eletricidade. No mês, os alimentos subiram, como se esperava. O grupo Alimentação e Bebidas teve o maior impacto, com peso de 0,18 ponto no resultado final. Mas a alimentação fora de casa, que subia forte, ficou quase estável, com alta de 0,06%. E as primeiras colheitas começam a indicar uma nova supersafra em 2018. O fenômeno que ajudou a derrubar o IPCA no ano passado, se de fato se repetir, ajudará a manter a inflação em níveis baixos. Um cenário assim pode levar o BC a reduzir mais os juros. 

No comunicado de quarta-feira, o Copom disse que a decisão “mais adequada” é interromper o ciclo. Mas deixou a porta aberta para o corte adicional “caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos”. Não é só a aprovação da reforma que levaria a novas reduções. As “projeções e expectativas de inflação” também vão influenciar o BC. 

Blog da Miriam Leitão, com Marcelo Loureiro