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sábado, 28 de janeiro de 2023

Os velhos erros - Carlos Alberto Sardenberg

 Se ao menos fossem erros novos …

Inevitável esse pensamento diante das propostas de política econômica que vão surgindo nas diversas esferas do governo Lula.

         Dirão: um erro é um erro, não importa se novo ou velho. Certo, na teoria. Na prática, não é bem assim. Um erro novo pode resultar de uma sincera tentativa de mudança. Não diminui o erro, mas diminui a culpa do autor. Pode ser admitido e corrigido.

         Mas é incrível que, neste Brasil, não se admita nem se tente corrigir uma visão de política econômica já testada e fracassada. Por exemplo: agora estão falando em elevar a meta de inflação para facilitar … o combate à inflação!

         O argumento tem um disfarce. Sustenta que perseguir uma meta muito baixa exige taxa de juros muito elevada, o que atrapalha o crescimento. Não se define o que seja muito baixa ou alta, mas a ideia por trás é a mesma de quase 40 anos atrás, quando se fez, com o Cruzado, a primeira tentativa de criar uma moeda estável: tolerância com a inflação.

         É verdade que alguma inflação sempre haverá, mesmo em países com histórico de estabilidade. Deflação, por exemplo, uma queda acentuada e persistente de preços, pode resultar em redução dos investimentos. Isso ocorre quando o empresário desiste de ampliar sua produção ou de lançar novos produtos porque teme não conseguir elevar seu preço para ter mais margem ou cobrir custos novos.

         Mas isso tudo é diferente de tolerância com a alta persistente de preços. Neste caso, entende-se que a inflação é um meio de crescimento. Até pode ser por algum momento, mas se crescer significa aumento da renda e do emprego em ambiente estável, então a inflação é o mal a ser extirpado. O Brasil tem muita experiência, negativa, nesse quesito. 
A inflação prejudica os mais pobres, ao reduzir o salário real. 
Na corrida preços/salários, os preços sempre tomam a dianteira. 
Queda do salário significa menos mercado e consumo e, pois, menos investimentos.

         Sim, é simples assim. Se inflação alta e crônica fosse meio de crescimento, o Brasil seria rico há muitos anos. Em outras palavras, o que atrapalha a economia brasileira hoje não é o combate à inflação. É o gasto público muito elevado e pouco eficiente, financiado com dívida. Déficits frequentes e dívida em expansão geram inflação, a ser combatida com elevação da taxa de juros pelo Banco Central.

         Mais exatamente, o problema atual é a total contradição entre a política fiscal, de expansão do gasto público (da demanda) e a política monetária, restritiva, ou seja, com juros reais altos o suficiente para esfriar consumo e investimentos. Cada uma puxando para um lado, o resultado é menos crescimento e tempo maior para debelar a inflação. Isto, de sua vez, significa juros mais altos por mais tempo.

         O que está fora de lugar é a política fiscal. Em vez de admitir esse erro muito, muito antigo, o governo Lula cisma com o Banco Central, com sua independência e suas metas de inflação. Quer reduzir as metas

E quando o próprio governo anuncia que vai tolerar inflação mais elevada, é lógico que os preços sobem mais depressa.

         Outro erro velho em vias de ser cometido está no BNDES.  
Só nesta semana, o presidente Lula prometeu que o banco vai financiar obras na Argentina e em outros países amigos do Sul. 
Também disse aos governadores que o BNDES pode ajudar Estados a compensar perdas de receita provocadas pela redução de impostos sobre a gasolina e energia. Mais: garantiu que o banco ampliará financiamentos às estatais à indústria brasileira.
 
         Pergunta-se:  BNDES pode perder dinheiro nisso, como já perdeu? A resposta: não vai perder, pois os empréstimos têm garantia. De quem? 
Do Tesouro brasileiro, alimentado pelo contribuinte brasileiro. 
Ora, seria mais correto gastar aqui mesmo o dinheiro do contribuinte. E não dar empréstimo baseado em ideologia, mas sim na análise do crédito do financiado. Simples assim.

         Outro erro velho iminente?  A condução da Petrobras.

         E assim vamos. Para trás.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Economia / Política - Coluna publicada em O Globo


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

IPCA volta a subir em outubro, após três meses de deflação - O Globo

Raphaela Ribas

Depois de três meses de deflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação oficial do país, registrou alta de 0,59% em outubro. A alta foi puxada, principalmente, por alimentos e bebidas e veio acima das expectativas e juntos tiveram peso de 73% no indexador.

Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA
 

domingo, 9 de outubro de 2022

Bolsonaro quer cheque em branco [tava demorando !!! ] - O Globo

Miriam Leitão

Bolsonaro quer tirar a independência do STF, cláusula pétrea da Constituição

O presidente Jair Bolsonaro, durante entrevista no Palácio da Alvorada

O presidente Jair Bolsonaro, durante entrevista no Palácio da Alvorada Reprodução/Facebook

O presidente Bolsonaro avisou que recebeu uma proposta de mudar a composição do Supremo Tribunal Federal e que vai tratar disso depois das eleições. Então o que ele está pedindo aos eleitores brasileiros é que votem nele apesar de ele estar avaliando um projeto que vai ferir de morte a independência dos poderes da República, e informa que tratará disso depois de eleito. Na entrevista à “Veja”, ele mostrou claramente que seus propósitos para o segundo mandato são exatamente os que se temia.[Entendemos que cláusulas pétreas da Constituição podem ser modificadas, sem violar o texto constitucional, desde que através de uma Assembleia Nacional Constituinte; tendo o presidente maioria no Congresso Nacional, pode convocar uma Assembleia,  que terá competência para modificar na Constituição o que considerar  melhor para o Brasil.]

Do lado de Lula, as propostas também estão vagas sobre como enfrentar a crise fiscal e orçamentária criada por Bolsonaro. Esse assunto tem sido muito discutido na campanha, e várias propostas têm estado na mesa desde o começo. Pode vir a ser a volta da meta de superávit primário, uma meta de gastos de custeios e de investimentos separados, ou um compromisso de redução da dívida líquida.

Se Lula vencer, seja qual for o instrumento de política fiscal escolhido, será preciso primeiro atravessar 2023. O Orçamento que o governo enviou para o Congresso não fica de pé. Vai ser inevitável flexibilizar a regra de controle de gastos no ano que vem por causa do que está sendo deixado. Mas o importante será ter uma regra que dê previsibilidade, transparência e que haja prestação de contas com idas frequentes do ministro ao Congresso Nacional —explicou um economista petista.

A economia precisa ter previsibilidade não porque esta seja uma exigência doutrinária de alguma corrente econômica. É porque será preciso fazer no curto prazo um aumento de despesas e do endividamento. E isso ocorre enquanto o mundo está vivendo uma crise sem precedentes e que é até difícil dimensionar, na opinião do economista José Roberto Mendonça de Barros:—A última vez que a economia global parou por causa de um vírus foi na gripe espanhola, a última vez que a Europa teve uma guerra quente foi em 1919 e 1945. A última vez que o mundo desenvolvido teve inflação de dois dígitos foi no fim dos anos 1970. E estamos tendo tudo ao mesmo tempo. Os bancos centrais farão uma elevação de juros que em algum momento pode levar à recessão do mundo desenvolvido. É uma coisa totalmente sem precedentes.[logo surgirão narrativas atribuindo tais desastres ao presidente Bolsonaro. Antes de 'narrar',não esqueçam que os números do Brasil, quando comparados aos das grandes potências econômicas, estão melhores.]

LEIA TAMBÉM: IPCA mostrará DEFLAÇÃO DE ALIMENTOS em setembro.

A política fiscal responsável garante a estabilidade da economia, que permite políticas sociais consistentes e governabilidade. Contudo, os economistas do Real fizeram um gesto que foi antes de tudo político. Sabem que o que está em jogo é o futuro da democracia.

Bolsonaro deu razão a eles, e a todos que se preocupam com a questão democrática, quando, em entrevista à “Veja”, avisou que depois das eleições vai estudar o projeto que chegou às suas mãos — não disse quem foi o remetente — para mudar a composição do Supremo. Ele pede votos, sem explicar esse gravíssimo ponto. O presidente está ameaçando cláusula pétrea da Constituição.

Míriam Leitão, jornalista - Com Alvaro Gribel (de São Paulo)- Em O Globo - MATÉRIA COMPLETA


sábado, 10 de setembro de 2022

O que não aparece na campanha - Carlos Alberto Sardenberg

Olhando os grandes números, parece mesmo que a economia brasileira passa por um bom momento: a inflação desacelera, o crescimento acelerou no segundo semestre, deixando um embalo para o final do ano, a taxa de desemprego caiu e não há dificuldades nas contas externas.

Comparando com a situação e as expectativas do início deste ano, o ambiente é claramente melhor. Mas não dá para concluir que isso tudo vai deixar uma boa herança para o próximo presidente. [herança,  na qual o autor da herança (VIVO, apesar do desejo de várias 'coisas' da mídia militante, que sujam a classe dos verdadeiros jornalistas - que não militam, não fazem narrativas = NOTICIAM FATOS - desejarem sua MORTE, E ATÉ QUE SE SUICIDE) uma herança que é ABENÇOADA e EXCELENTE.]

Começando pelos preços ao consumidor. Pelo IPCA de agosto, divulgado ontem, a inflação em 12 meses caiu para 8,73%, [Foi o segundo mês seguido de deflação. - Fonte: G1 ]a primeira vez em um ano que fica abaixo dos dois dígitos. Governo e mercado esperam desaceleração lenta porém consistente para os próximos meses.

Essa expectativa faz sentido porque, depois de várias tentativas, finalmente temos uma legislação que garante a independência do Banco Central. Isso permite que a instituição pratique uma política monetária de juros muito elevados mesmo em pleno ciclo eleitoral.

Mais ainda: pela nova lei, o mandato do presidente da República não coincide com o do presidente do BC. O atual chefe da instituição, Roberto Campos Neto, tem mandato até 2024 – e isso significa que a política monetária será mantida nos próximos dois anos. No médio termo, está bom, mas em termos políticos há uma óbvia dificuldade. A inflação está sendo derrubada a golpes de juros muito elevados – ou de uma política muito restritiva, como tem repetido os diretores do BC. [política de elevação de juros, exitosa, e que está sendo adotada pela União Europeia e EUA, entre outras economias.]

“Restritiva” quer dizer uma política que restringe investimentos e consumo. Fica muito caro tomar financiamento para qualquer coisa. E isso limita programas de expansão da atividade e do emprego, que constam da propaganda dos candidatos. Nenhum deles disse até agora como vai agir diante de juros tão elevados por tanto tempo. [o presidente Bolsonaro não diz o que vai fazer, mostra o que está fazendo e com êxito.]

Outra dificuldade econômica e política está no elevado endividamento das famílias. Na propaganda eleitoral, as dívidas serão perdoadas, negociadas, reduzidas – enfim, aliviadas. Como? [só perguntando para o Ciro, para o descondenado petista que está incentivando os homens (homens???) que batem em suas mulheres a quando forem bater, batam, mas  em casa = sem testemunhas, ou para a Tebet que vai pagar R$5.000, a cada estudante do último ano do  Ensino Médio e também declara que arrumar a casa é serviço das mulheres = diaristas ou donas de casa.]

Ou não há respostas ou há explicações fantasiosas, que colocam no mesmo saco desde dívidas tributárias até carnês em atraso. Não funciona, muito menos enquanto os juros permanecerem elevados.

(...)

Visto de perto, portanto, 2023 estará assim: inflação caindo, mas ainda pesando no bolso, [A QUEDA É LENTA, cair de vez só com o malfadado congelamento que derruba a inflação por 15 dias, que volta o em triplo.] convivendo com juros elevados para empresas e famílias, a maior parte destas endividadas. Não há como acelerar o crescimento nessas circunstâncias.

A menos que o governo federal coloque um monte de dinheiro novo na economia. Não há esse dinheiro. Ao contrário, o governo Bolsonaro estourou o teto de gastos várias vezes e deixará buracos espalhados para os próximos anos. Fatal. Consequência da política de cortar impostos e distribuir “bondades” sem reduzir despesas. No máximo, adiaram despesas deste para os próximos anos, um baita problema para o sucessor.[o ilustre articulista a quem muito respeitamos, foi 'contaminado' pela obsessão de que Bolsonaro não será reeleito = em seu comentário faz questão de expressar a convicção de que será outro a governar o Brasil = fracasso = BOLSONARO será,com as bençãos de DEUS, o novo presidente do Brasil de 1º jan 2023 a 31 dez 2026 = novo, já que terá condições de governar SEM pandemia, SEM boicotes e SEM outras mazelas desejadas por seus inimigos, que também são inimigos do Brasil.]

Não acabou: o mundo desenvolvido está muito perto de uma recessão (com juros altos) e a China, nossa principal parceira econômica, cresce cada vez menos por causa da política de covid zero, que coloca populações em lockdown praticamente todo mês.

Isso, não se vê na campanha.

Coluna publicada em O Globo / Economia / Política

 Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

É difícil errar mais do que as previsões sobre inflação - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

País registra ‘deflação’ e não aumento de preços ‘fora de controle’, ao contrário do que os especialistas diziam

Os professores de economia da universidade, os jornalistas econômicos e os analistas dos grandes bancos, mais o aglomerado de fornecedores de opinião que normalmente são escolhidos para dar entrevistas sobre o assunto, passaram o ano inteiro garantindo que a inflação estava “fora de controle” no Brasil. 
Caso perdido, diziam todos. Em 2022 o Brasil iria ter inflação de “dois dígitos”, pelo menos, ou só Deus sabe lá quanto; estava tudo em ruínas, por causa de erros imensos na gestão da economia nacional e outras desgraças. 
O tempo passa, o mundo gira e quando chega o mês de julho constata-se, no universo das realidades, que está acontecendo exatamente o contrário do que os “especialistas”, os seminários e as mesas redondas anunciavama inflação, no mês, recuou 0,7%. Quer dizer: houve deflação, e não inflação “fora do controle”. É difícil errar mais do que isso.
 
Fora de controle, realmente, estão os economistas que são tratados como “formadores de opinião” e vivem por aí falando na mídia que o fim do mundo chegou, e a culpa é do governo. Não fazem, na verdade, nenhum tipo de análise que valha alguma coisa; apenas praticam macumba ideológica em suas previsões de desgraça. 
O resultado é a apresentação ao público de um mundo que não existe. 
O Brasil deve fechar o ano de 2022, de ponta a ponta, com a inflação pouco acima dos 7% anuais. 
 
Não é a calamidade que foi prometida – é, ao contrário, um dos melhores índices mundiais no controle à doença inflacionária, especialmente quando se leva em conta as pressões extraordinárias de dois anos de covid e da guerra entre Rússia e Ucrânia
O fato é que o Brasil terá em 2.022 uma inflação menor que os Estados Unidos: lá, serão pelo menos 8,5%, podendo ser mais. [atualizando: a inflação dos últimos doze meses nos Estados Unidos, atingiu 8,5%. Portanto, o "serão pelo menos",  inserido pelo competente Guzzo pode ser substituído por " é DE" = FATO.] A mesma coisa vai acontecer na Alemanha e outros santuários das “boas políticas” econômicas. Alguém, alguma vez, já ouviu falar uma coisa dessas – que a inflação no Brasil é menor que a inflação nos Estados Unidos ou na Alemanha?

Cancelam-se os fatos – ou se aprofundam os esforços, cada vez mais cômicos, para embaçar os números que os comunicadores e seu entorno consideram antidemocráticos.

Cancelam-se os fatos – ou se aprofundam os esforços, cada vez mais cômicos, para embaçar os números que os comunicadores e seu entorno consideram antidemocráticosFoto: Tiago Queiroz/Estadão

O anúncio da calamidade inexistente era feito nas manchetes e no horário nobre
O fato real da inflação em recuo é sepultado nos confins mais distantes do noticiário. 
É a história de sempre: os “especialistas” acham que o mundo se comporta conforme eles desejam, e não como as coisas são na realidade objetiva. Pior, então, para a realidade objetiva.  
Cancelam-se os fatosou se aprofundam os esforços, cada vez mais cômicos, para embaçar os números que os comunicadores e seu entorno consideram antidemocráticos. 
É por isso que anunciam: “A inflação caiu, mas ainda está alta, ou “caiu, mas pode subir de novo”, ou “caiu, mas foi por sorte, e por aí afora, com esse “mas” eterno. [a INFLAÇÃO DO "MAS", mais uma criação exclusiva do Brasil, que se junta às 'jabuticabas', à 'prisão perpétua à brasileira', às justiças eleitoral e do trabalho, obras que só existe no Brasil.]  Não adianta nada, mas todos acham, ao fazer essas piruetas, que estão cumprindo os seus deveres com a resistência” à extrema-direita. Vamos continuar assim, é claro.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo



Gráfico transcrito do Poder 360, pelo Blog Prontidão Total.






terça-feira, 9 de agosto de 2022

AVULSAS

MAIS UMA DO PT-SE

O ACÚMULO DE FUNÇÕES JUSTIFICA O AUMENTO

ELES ACHAM HORRÍVEL DAR BOAS NOTÍCIAS

 [COMENTÁRIO: é fácil perceber o esforço - felizmente inútil - da mídia militante em sufocar, diminuir o impacto de noticias positivas do governo Bolsonaro. 
Hoje, por volta das 13h30m, conhecido telejornal de uma rede de TV que ruma a falência, gastou 59 segundos para noticiar a deflação de julho registrada no Brasil - na sequência gastou quase 15 minutos, expondo cenários negativos que poderiam aparecer como consequência da deflação. 
Esqueceram de noticiar com o destaque devido a previsão inflação nos EUA que caminha para 10% anuais, do aumento de juros na UE e outras coisas de gênero.
Várias pessoas comentam na redação do Blog o silêncio da mídia militante em noticiar fatos bons para o Brasil e os brasileiros.] 
 

 Economia - Pibinho do Mantega e rombo da Dilma

BEIJINHO, BEIJINHO, PAU, PAU

 Bolsonaro manda um beijo para o ministro Barroso durante entrevista no flow podcast


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

BC mantém cautela diante de maior risco inflacionário - Valor Econômico

Opinião

Outros dois grandes riscos estão fora de controle do BC: pandemia e o risco fiscal

A inflação mais elevada do que o esperado acendeu um alerta no Banco Central, que indicou que poderá abandonar sua prescrição futura “em breve” e enterrou as dúvidas sobre até quanto os juros poderiam cair. A taxa Selic foi mantida em 2% e não há motivos para acreditar que o BC pretenda elevá-la tão cedo. Mas as expectativas inflacionárias, que indicavam IPCA abaixo da meta em 2021 e 2022, deixou de sê-lo para este último ano, agora no “horizonte relevante” da política monetária.

O BC terá de administrar com frieza uma inflação que fechará o ano acima da meta de 4% e seguirá alta até maio, quando poderá atingir 6% em doze meses. Março, abril e maio de 2020 foram os meses com efeitos mais duros da pandemia sobre a atividade econômica. Em março o IPCA foi de 0,07%, mergulhando em ligeira deflação nos dois meses seguintes. Esses baixos índices deixarão a conta e serão substituídos por outros, maiores.

As decisões de políticas monetária são tomadas quase sempre sobre terrenos movediços e o atual não foge à regra. Os distúrbios nas cadeias de produção provocados pelo coronavírus apareceram depois que a demanda ressurgiu, impulsionada pelo auxílio emergencial, que elevou a renda das camadas mais pobres. O aumento da procura diante de cadeias produtivas só parcialmente operacionais e desfalcadas - seja pelo distanciamento, seja pela falência de milhares de pequenas e médias empresas - puxou os preços para cima, com destaque para alimentos (alta de 15,94% em doze meses).

Além disso, a esperada apreciação do real não ocorreu, e sim uma acelerada desvalorização. Essa inflação do “risco fiscal” foi relevante. Com exportações mais rentáveis e demanda em alta, pela recuperação da economia global, chinesa em particular, os impactos dos preços internacionais que costumam ser amortecidos por um dólar mais fraco foram, ao contrário, potencializados por um mais forte.

O BC pode estar esperando o fim desse período de transição para outro no qual não haverá auxílio emergencial e a demanda arrefeça um pouco enquanto a produção se normaliza e o real se aprecia, como começou a ocorrer agora. O fim dos programas de manutenção do emprego deverá aumentar o número de desempregados e reduzir um pouco o consumo. Com isso, o IPCA recuará.

Nada disso, porém, é seguro. A vacinação tornou-se uma possibilidade real e próxima no início de 2021, mas a segunda onda veio antes e reduzirá o ritmo de crescimento no último trimestre do ano, com efeitos também no primeiro trimestre de 2021. A ata do Copom diz que a incerteza sobre o ritmo de crescimento permanece acima do usual nos próximos meses.

O risco fiscal permanece em campo, influenciando as cotações do dólar e a curva de juros futuros, e empurrando as expectativas inflacionárias para cima. “O risco fiscal elevado”, indica o Copom, “segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, com trajetória de inflação acima do projetado no horizonte relevante”. A julgar pela indecisão e divergências no governo, esta ameaça não irá embora tão cedo.

Mas o risco fiscal deixou de ser o principal fator que levaria o BC a abandonar a prescrição futura. O balanço de riscos piorou e ela pode ter de ser arquivada. Se isso acontecer, não será “mecanicamente” que os juros subirão, alertou o BC. No cenário em que a Selic é mantida em 2% e o câmbio em R$ 5,25, a inflação ficaria em 2021 abaixo da meta, em 3,5%, mas em 2022 poderia chegar a 4%, já acima da meta de 3,75%. No cenário com base nos dados do Focus isso não aconteceria, mas os juros subiriam a 3% no ano que vem e 4,5% em 2022.

O BC sinalizou que poderá elevar os juros, mas não é certo que o faça. As apostas do mercado são a de que eles se moverão a partir do segundo trimestre. Mas as estatísticas indicam que inflação, atividade e dólar estão perdendo o fôlego. Apesar do IPCA de 0,89% em novembro, a inflação de serviços caiu de 0,55% para 0,39%. A média dos núcleos de inflação recuou, assim como o índice de difusão, o IGP-M (primeira prévia) e IGP-DI. O dólar retornou ontem para perto de R$ 5, com a volta do fluxo de investimento externo em ativos de risco. Indicadores antecedentes sugerem que o PIB do quarto trimestre terá avanço modesto.

Outros dois grandes riscos estão fora de controle do BC: pandemia e o risco fiscal. Ambos dependem de um governo que não tem objetivos claros nem caminha em uma mesma direção, o que teve um custo inflacionário. Se ele aumentar, o BC não terá outro jeito senão elevar os juros.

Opinião - Valor Econômico

 

 

 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Fed sinaliza afrouxamento monetário e juro zero até 2022 – Editorial - Valor Econômico

As ações do Fed e a desvalorização do dólar deixam o BC brasileiro mais confortável para seguir reduzindo os juros

A catástrofe econômica provocada pelo coronavírus obrigará os EUA a manter as taxas básicas de juros encostadas no zero pelo menos até 2022, apontou ontem, por unanimidade de seus membros, o Federal Reserve. A economia está afundando no segundo trimestre, embora haja sinais de que deixou o fundo do poço, e o banco central manterá a alta dose de estímulos dados, e se precisar, acrescentará outros para que o país consiga fazer uma travessia que Jerome Powell, presidente do banco, acredita que será “longa”, marcada por “um grau extraordinário de incertezas”. Powell não fez qualquer menção, sequer hipotética, sobre quando começaria a retirar o apoio monetário em curso, que poderia motivar perigosa reversão de expectativas nos mercados de ações.

Pela primeira vez desde a pandemia o Fed apresentou projeções sobre o desempenho econômico e o retrato é tão pessimista quanto ou até mais do que as dos investidores. Para o Fed, os EUA vão se retrair 6,5% na média, mas pode ser um pouco pior - as previsões variaram entre -5,5% e -7,5%. Em 2021, a expectativa é de avanço de 5%. Uma pesquisa com 42 enquetes, feita pelo Fed da Filadélfia, indica que os analistas estão um pouco mais otimistas que o banco central no curto prazo - recuo de 5,5% - e menos no médio prazo, com o crescimento projetado de 2,2% a 4,1% nos próximos três anos.

O desemprego não será revertido logo, na visão dos membros do Fed. “Saímos da taxa mais baixa em 50 anos para a maior em 90 anos”, ressaltou Powell. O desemprego deve fechar o ano em 9,3%, cair para 6,5% em 2021, 5,5% no ano seguinte e 4,1 em 2022. A inflação, no índice cheio, fica abaixo de 1% agora (0,8%) e só chega à meta de 2% em 2022. Com isso, a taxa de juros se arrasta em 0,1% pelo menos até lá, quando apenas dois dos 17 membros do Fed acreditam que precisará ser elevada.

A dose cavalar de medidas monetárias, maior do que na crise de 2008, conseguiu fazer melhorar a oferta de crédito na economia, após o choque da parada súbita. O balanço do Fed ultrapassa US$ 6 trilhões - e pode chegar aos US$ 9 trilhões. Condições financeiras mais folgadas foram o único efeito positivo perceptível no comunicado do banco após a reunião. A pandemia atua “pesadamente” sobre a atividade econômica, afirma o Fed, e traz “consideráveis riscos para a perspectiva econômica no médio prazo”. O tamanho do tombo dado pela pandemia em várias frentes é inédito. A oferta de crédito anualizada recuou 19,5% em abril, com encolhimento de US$ 825,4 bilhões, ante um estoque de US$ 4,13 trilhões. A produção industrial no mesmo mês diminuiu 11,2%, a maior queda em 101 anos.

Diante disso, Powell reafirmou, sem meio tons, que o Fed “estará fortemente empenhado” em usar todos os instrumentos de que dispõe, no montante de recursos que for preciso e “pelo tempo que for necessário para que a recuperação da economia seja a mais robusta possível”. A dúvida sobre se o banco indicaria uma meta para a injeção de recursos foi esclarecida: segundo Powell, seu piso será pelo menos o montante atual (US$ 80 bilhões de títulos do Tesouro, US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas, mensalmente), e pode ser aumentada se houver necessidade.

Powell enfatizou várias vezes que neste ambiente “extraordinariamente incerto” o trabalho do Fed será fazer de tudo para evitar “danos permanentes” no potencial de crescimento do país. Daí a rede extraordinária de apoio a empresas, cujo último instrumento, remodelado, é o “Main Street”, destinado a pequenas empresas, no qual o Fed bancará 95% do risco, com prazos de carência para pagamentos de juros e principal ampliados, que se estendem por 5 anos. O Fed estuda incluir neles as Ongs. Powell acredita que tudo vai dar certo. “Vamos superar isso”, disse.

O presidente do Fed pôs a queda do desemprego em maio e a forte alta das bolsas na qualificação de “imprevisíveis”. Após a reunião, os mercados acionários nos EUA recuaram (exceto Nasdaq), enquanto o dólar se desvalorizou. Ante os dados atuais, as ações podem ter poucos motivos para subir, e os investidores algumas razões para realizar lucros. No entanto, os juros ficarão por muito tempo a 0% e o dólar perde ímpeto até que a economia americana dê sinais de renovada vitalidade, possivelmente no terceiro trimestre. As ações do Fed e a desvalorização do dólar deixam o BC brasileiro mais confortável para seguir reduzindo os juros, depois que o IPCA de maio consolidou um quadro de deflação de 0,16% nos cinco primeiros meses do ano.

Editorial - Valor Econômico

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Guedes defende congelamento de salário de servidores por dois anos - O Globo

Manoel Ventura

Em reunião com deputados, ministro da Economia descarta corte nos vencimentos

[ministro Guedes, ideia válida desde que o senhor inclua no mesmo cesto de congelados, os salários do servidores públicos, dos MEMBROS dos Poderes Judiciário e Legislativo e do Ministério Público.
Salários com qualquer denominação: SALÁRIOS, VENCIMENTOS, PROVENTOS, etc, .]
As declarações foram feitas em uma reunião por videoconferência com deputados do DEM, neste domingo. O encontro foi fechado para o público, mas O GLOBO obteve os relatos de parlamentares que participaram do encontro.

Guedes citou um risco deflacionário de um eventual corte de salários. Mas afirmou que o setor público precisa dar exemplo e, para isso, seria necessário “congelar os salários durante dois anos”. Segundo os relatos, Guedes afirmou que a economia com essa medida seria a mesma de promover cortes salariais, mas sem risco de isso gerar uma deflação.
A equipe do ministro chegou a escrever uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para cortar em 25% os vencimentos dos servidores, com proporcional redução de jornada de trabalho. Bolsonaro, porém, não aceita tratar desse assunto, disse o ministro, segundo fontes.

Na reunião, o ministro também estimou que a crise econômica decorrente da Covid-19 vai demorar “três ou quatro” meses. Mas defendeu a continuidade da agenda de reformas estruturantes. O ministro disse não querer ver o ano de 2020 como um “grande arrombamento”, apesar de garantir que o governo vai gastar o que for necessário para conter os efeitos do coronavírus.

Segundo dados do Ministério da Economia, medidas já anunciadas pelo governo para combater o coronavírus irão custar R$ 224 bilhões. Junto com a queda na receita, isso vai gerar um rombo de R$ 419 bilhões nas contas públicas em 2020, o equivalente a 5,55% do Produto Interno Bruto (PIB).

Antecipação de emendas
Guedes também admitiu a possibilidade de o governo antecipar o pagamento de emendas parlamentares como forma de aquecer a economia. Emendas são indicações de obras e serviços feitas por deputados em senadores, geralmente em suas bases eleitorais.
A Secretaria de Governo da Presidência da República solicitou antecipação dos pagamentos das emendas ao ministério citando a necessidade de auxiliar estados e municípios na realização de políticas públicas de apoio à população. [ministro! deputados e senadores merecem essa colher de chá? lembramos que toda matéria complicada o Congresso força o governo a editar uma Medida Provisória - se for exitosa, na aprovação eles dividem o mérito;
se não for 100% excelente, eles devolvem e reeditam a parte 'boa'.

Um Congresso que faz do Executivo 'boi de piranha' não merece afagos.]

LEIA TAMBÉM: Saiba como fazer sua própria máscara e os cuidados para se proteger do coronavírus

Guedes está a uma semana morando na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República. O ministro só sai da casa para ir ao Palácio do Planalto. A residência tem características de casa de campo e fica nos arredores de Brasília. Quando a conexão de Guedes falhou e os deputados ficaram sem ouvir o som do ministro, Guedes culpou a qualidade da internet na Granja do Torto. Sobre estados e municípios, Guedes afirmou não ser favorável a perdão de dívidas e disse que a ajuda do governo deve ter como contrapartida uma ajuste fiscal que pode incluir a privatização de empresas municipais ou estaduais.

Em Economia - O Globo, Continue lendo


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Prévia da inflação registra menor resultado para fevereiro desde 1994


As quedas nos preços da carne e das passagens aéreas impactaram a desaceleração da inflação. O acumulado anual está em 0,93%

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é a prévia oficial da inflação, ficou em 0,22% em fevereiro, menor resultado para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. A desaceleração foi significativa, pois em janeiro o mesmo índice estava em 0,71%. 



A soma dos resultados do IPCA-15 de janeiro e fevereiro acumulam alta de 0,93% neste ano. Em 12 meses, a alta total recuou de 4,34% para 4,21%. As informações foram divulgadas, nesta quinta-feira (20/2), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Atividades
Segundo o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, três apresentaram deflação em fevereiro: Vestuário (-0,83%), Saúde e cuidados pessoais (-0,29%) e Alimentação e bebidas (-0,10%).

Após quatro meses de altas, sob o acumulado de 27,95%, o preço da carne caiu 5,4%, impactando a desaceleração da inflação. Outro fator importante para o IPCA 15 deste mês foi a redução na inflação sobre as passagens aéreas, que caiu 6,68%, pelo segundo mês consecutivo. Roupas, perfumes e itens de higiene pessoal também pesaram menos no bolso do consumidor.

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No ano passado, a inflação fechou o ano no maior nível registrado desde 2016. O indicador ficou em 4,31%, sendo que o centro da meta era de 4,25%.

No Correio Braziliense, MATÉRIA COMPLETA


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Inflação fica em 0,10%, menor taxa para outubro desde 1998 - VEJA

Em relação a setembro, quando houve deflação, IPCA apresentou ligeira aceleração; Nos últimos 12 meses, indicador está em 2,54%


O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação do país, ficou em 0,10% em outubro. Esse é o menor resultado para o mês em 21 anos, quando registrou 0,02% em 1998. Segundo o Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação baixa foi motivada, principalmente, pela queda no preço das contas de luz.. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 7. Em relação ao mês anterior, o resultado representa uma ligeira aceleração, já que em setembro o IPCA registrou deflação de 0,04%.
No acumulado do ano, a inflação está em 2,60% e, nos últimos 12 meses, o índice registra acumulado de 2,54%. Ambos os índices estão abaixo da meta para a inflação em 2019 definida pelo governo. A meta é de 4,25%, mas há margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, se o índice fechar 2019 entre 2,25% e 5,75% estará dentro da margem.


A queda de 3,22% no preço da energia foi o principal item que puxou a taxa para o baixo patamar. Com exceção de Salvador, que teve alta de 0,86%, e Vitória, de 2,24%, todas as áreas pesquisadas registraram recuo nos preços da energia, que chegou a -5,99% em Goiânia. “Em setembro, estava em vigor a bandeira tarifária vermelha patamar 1 e, em outubro, passou a vigorar a amarela, cujo acréscimo é menor. Além disso, houve redução nas tarifas residenciais de uma das concessionárias de São Paulo, vigente desde 23 de outubro, e em Brasília e em Goiânia, a partir de 22 de outubro”, esclareceu o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.

A alimentação em domicílio se manteve em queda, pelo sexto mês consecutivo. A redução no preço da cebola (-20,84%) e da batata-inglesa (-9,06%) foram os destaques. Já o que andou pesando no bolso das residências brasileiras foi a da carne, com alta de 1,77%. Já a maior inflação de outubro foi no vestuário: 0,63%. Mas a roupa feminina (0,98%), a masculina (0,38%) e a infantil (0,30%) costumam mesmo ficar mais caras nesse período. “O preço de vestuário costuma subir nessa época por conta da mudança de estação, que resulta na troca de coleção das lojas”, explicou Kislanov.

Outra elevação de preços ao consumidor amplo foi nos transportes, impactada pela alta da gasolina, que é um item de grande peso no índice. Todas as áreas pesquisadas apresentaram variação positiva no preço do combustível, exceto Brasília e São Luís, onde houve queda. E, para quem está começando a fazer planos de viagem para as férias, a má notícia é que, após dois meses com variações negativas, as passagens aéreas apresentaram aumento de 1,93%.

Capitais registraram deflação
Quanto aos índices regionais, seis das áreas pesquisadas tiveram deflação em relação a setembro, sendo a maior desaceleração registrada em São Luís, capital do Maranhão, com -0,37%. Já a maior variação positiva foi no município de Campo Grande (MS), 0,31%.

Tanto no acumulado do ano quanto na variação dos últimos 12 meses, o município com maior inflação dentre os pesquisados é Fortaleza (CE), de 3,45% em ambos os períodos. São Luiz fica com o índice mais baixo no acumulado do ano (1,69%), e Curitiba (PR) com o dos últimos 12 meses (1,55%).

VEJA - Larissa Quintino,  jornalista

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O amanhã - Nas entrelinhas

A incerteza está na economia. Apesar da iminente aprovação da reforma da Previdência e de um robusto programa de concessões e privatizações, ainda não reagiu como deveria”

O conhecido samba-enredo da União da Ilha do Governador, campeão do carnaval carioca de 1978, que intitula a coluna, é de autoria de Paulo Amargoso e João Sérgio, nome desconhecido até da maioria dos sambistas, pois, na verdade, se trata do falecido procurador da República Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves, o Didi, também fundador da escola e autor de outros sambas antológicos. Não há carnaval em que suas músicas não sejam cantadas por foliões de todo o país. Naquele ano, na voz de Aroldo Melodia, O Amanhã empolgou as arquibancadas na Marquês de Sapucaí: A cigana leu o meu destino/ Eu sonhei/ Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante/ Eu sempre perguntei/ O que será o amanhã?/ Como vai ser o meu destino?”

Era o primeiro desfile de regras rigorosas, o que gerou protestos do compositor mangueirense Angenor do Nascimento, o famoso Cartola: “Isso não é carnaval, é parada de militar”. Mas foi um desfile memorável, principalmente para a União da Ilha, cuja carnavalesca Maria Augusta não imaginava que o samba seria eternizado pelo gosto popular: “Já desfolhei o malmequer/ Primeiro amor de um menino/ E vai chegando o amanhecer/ Leio a mensagem zodiacal/ E o realejo diz/ Que eu serei feliz”. O refrão todo mundo canta até hoje: “Como será o amanhã/ Responda quem puder (bis)/ O que irá me acontecer/ O meu destino será como Deus quiser.”

Nem só de letra e melodia vive uma samba antológico, o contexto é fundamental para que o povo se identifique com a canção. O país vivia uma transição lenta e gradual, o projeto de Brasil potência dos militares havia naufragado. O general Ernesto Geisel amargava o fim do milagre econômico e muita insatisfação popular. A crise do petróleo e a recessão mundial interferiam fortemente na economia brasileira, os créditos e empréstimos internacionais minguavam. Nas eleições de 1974, o MDB havia conquistado 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e a maioria das prefeituras das grandes cidades. Não havia eleição de prefeitos nas capitais.

Era um ambiente de incertezas. Logo depois do carnaval, eclodiram as greves operárias do ABC. No ano em que União da Ilha do Governador foi campeã, a oposição voltou a vencer as eleições, Geisel acabou com o AI-5, restaurou o habeas-corpus e abriu caminho para a volta da democracia, num processo de retirada em ordem dos militares da política que foi muito bem-sucedido. Era um momento de muitas incertezas e também de esperança. Mais ou menos como estamos vivendo agora, com sinal trocado, pois os militares voltaram ao poder com a eleição do presidente Jair Bolsonaro.

Embora o atual governo mal tenha completado 9 meses, ninguém sabe o que vai acontecer. Há uma tensão permanente entre as instituições. O presidente Bolsonaro protagoniza a radicalização política com uma retórica ultraconservadora. Entretanto, há um calendário e regras eleitorais claras, tudo vai desaguar nas eleições municipais do próximo ano e, depois, em 2022, quando teremos novas eleições gerais. Esse é o leito do processo político democrático. A incerteza maior está na economia. Apesar da iminente aprovação da reforma da Previdência e de um robusto programa de concessões e privatizações, a economia ainda não reagiu como deveria.

Estagnação
A receita liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, até agora, resultou num cenário de estagnação, com desindustrialização, altas taxas de desemprego e baixa atividade econômica,  apesar da inflação baixíssima e da queda dos juros, que devem baixar ainda mais, para 4,5%, segundo previsões do mercado. [oportuno lembrar que a estagnação, desemprego e baixa atividade econômica foram herdados pelo governo Bolsonaro;

quanto a inflação baixa e caindo da mesma forma que os juros são resultados da política econômica do governo Bolsonaro. 
O maior complicador  é que além de ter herdado uma economia em frangalhos do seu antecessor - que foi sabotada pelas acusações infundadas do quase suicida e quase homicida Enganot -  o presidente Bolsonaro não consegue governar:
- a todo momento suas ações para  reerguer da economia são boicotadas ou por intervenções do Poder Judiciário, das duas Casas do Poder Legislativo - existe uma política de não deixar o presidente Bolsonaro governar.]
A especificidade da economia brasileira não foi bem-equacionada pela equipe de Guedes, formada por especialistas financeiros e técnicos que conhecem bem as finanças públicas, mas não dão conta das relações do governo com o setor produtivo e têm ojeriza à política industrial.

No momento, o governo prepara uma emenda constitucional, chamada PEC Emergencial, com uma lista de medidas duras para serem adotadas por um prazo de dois anos. Não deve mexer no teto de gastos (que limita as despesas à inflação) e deve fazer um ajuste na chamada regra de ouro, mecanismo que impede que o governo faça dívidas para pagar despesas correntes, como salários. O governo também pretende, no próximo ano, aprovar outras mudanças, que chama de PEC DDD: desvincular (retirar os “carimbos”), desindexar (remover a necessidade de conceder automaticamente reajustes) e desobrigar o pagamento de despesas.

Muitos economistas têm dúvidas quanto ao êxito de Guedes, mas nem por isso o presidente Jair Bolsonaro tem um plano B para economia. Ele já disse que vai continuar com o Posto Ipiranga. É uma situação meio inédita, com o real desvalorizado frente ao dólar e a economia quase em deflação. Há sinais de que o modelo liberal clássico não dá conta do recado nesses novos tempos de globalização e revolução tecnológica, assim como havia fracassado o modelo desenvolvimentista social-democrata. No fundo, ao lado do rentismo, o não-trabalho e o não-emprego na nova economia aprofundam as desigualdades, reduzem nosso mercado interno e ampliam as demandas sociais, sem que o governo tenha recursos para cuidar dos mais pobres, investir na educação e e modernizar a infra-estrutura. No atual modelo, além do empreendedorismo, só o capital estrangeiro salva, mas ele ainda prefere outros destinos.


Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense
 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Inflação oficial fecha 2018 em 3,75% [abaixo do centro da meta]

Índice cumpriu meta central do governo, que era de 4,5%. IPCA de dezembro foi de 0,15%, menor taxa para o mês desde 1994

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2018 em 3,75%. O índice é usado como inflação oficial pelo governo e foi divulgado nesta sexta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A inflação ficou dentro da meta estabelecida para o ano, que era de 4,5% com percentual de variação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em 2017, o índice havia fechado em 2,95%.

[em que pese as muitas críticas feitas ao ex-presidente Temer, merecidas em sua maioria, temos que reconhecer que apesar das acusações e denúncias levianas feitas pelo Janot e de uma greve de caminhoneiros, Temer e sua equipe tiveram competência para reduzir a inflação, reduzir o desemprego e entregar ao Bolsonaro um Brasil bem melhor do que o recebido.

Vale destacar que, estranhamente, as duas denúncias feitas pelo ex-procurador-geral e uma outra apresentada pela atual procuradora-geral que estavam paradas - a pretexto de só ser possível o andamento após Temer se tornar ex-presidente - continuam paradas.
Será falta de sustentação? ou alguma outra razão.]

O que mais impactou a inflação de 2018 foram os grupos de alimentos e bebidas,  com 4,04% de alta, habitação (4,72%) e transportes (4,19%).  Segundo o IBGE, os alimentos tiveram maior peso este ano por conta de queda da safra e pega greve dos caminhoneiros, no fim de maio. “Alimentação e Bebidas teve o maior impacto no ano por ter um grande peso nas despesas das famílias. O que mais influenciou nessa alta foi o grupo dos alimentos para consumo dentro de casa. Dentro dele o que influenciou foi o tomate, com variação de 71,76% e as frutas, com 14,10%”, disse Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa.

No caso dos outros setores, pesou a alta da energia elétrica (8,7%) e a gasolina (7,24%).  Em dezembro, o IPCA registrou inflação de 0,15%, taxa maior que a de novembro, que teve deflação de 0,21%. Porém, esse é o melhor resultado do mês desde 1994.
Em dezembro de 2017, o indicador havia registrado inflação de 0,44%.
O IPCA indicador monitora o comportamento mensal dos preços para famílias com renda de entre um salário mínimo (954 reais em 2018) e 40 salários mínimos (38.160 reais) por mês. O IBGE atribui pesos diferentes para cada item, segundo a importância que tem no orçamento dos brasileiros. 

Revista VEJA

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Inflação fica negativa em 0,21%; é a menor taxa para novembro desde 1994

[mesmo com Janot atrapalhando e o próprio Temer, a atual equipe econômica  conseguiu fazer - continua fazendo - um bom trabalho.]

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve queda de preços de 0,21% em novembro, divulgou hoje (7), no Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA mede a inflação oficial do país.
 
O resultado foi o menor desde julho de 2017, quando houve queda de 0,23%. Se avaliados apenas os meses de novembro, o resultado foi o menor desde o início do Plano Real, em 1994.  Em 12 meses, a inflação acumula 4,05%, enquanto a taxa acumulada de 2018 de janeiro a novembro – soma 3,59%.

Em novembro do ano passado, o IPCA teve alta de 0,28%, enquanto em outubro de 2018, houve aumento de 0,45%.

IstoÉ




sexta-feira, 8 de junho de 2018

Inflação maio 2018 - 0,40 = No acumulado do ano, a alta foi de 1,33%, o menor nível para o mês desde a implantação do Plano Real, em 1994

Inflação sobe 0,40% em maio, influenciada pela gasolina

A inflação oficial  o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – subiu 0,40% em maio, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta foi pressionada pelo aumento de preços de transportes e energia.

O resultado mostra que o indicador ficou 0,18 ponto porcentual maior que o registrado em abril (0,22%). No acumulado do ano, a alta foi de 1,33%, o menor nível para um mês de maio desde a implantação do Plano Real, em 1994. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 2,86%.

A taxa segue abaixo do piso da meta do governo que é de 4,5% com tolerância de 1,5 ponto porcentual para baixo (3%) ou para cima (6%). A expectativa do mercado era de uma inflação menor para o mês de maio, de 0,36% (MB Associados).  “No fim do mês, a greve dos caminhoneiros acelerou a inflação. O combustível e a alimentação tiveram uma pressão inédita, o peso destes grupos no IPCA é de mais de 30%”, afirmou o economista-chefe do MB Associados, Sérgio Vale.

De acordo com ele, a paralisação ainda pode refletir na inflação do mês de junho. “Pode ter pressão, mas depois volta a normalidade”.  A aceleração de maio se deve principalmente ao grupo habitação (0,83%), com destaque para a energia elétrica (3,53%) e gás encanado (0,91%). A alta na conta de luz reflete a mudança da bandeira tarifária para amarela, adicionando cobrança de 0,01 reais a cada kwh consumido. O reajuste de 1,87% nas tarifas no Rio de Janeiro (1,70%) desde 1º de maio contribuiu para o preço do gás.

O grupo de transportes registrou alta de 0,40%. A alta da gasolina (3,34%) e do óleo diesel (6,16%) influenciaram o resultado. Em maio, também pesou o aumento de 0,32% no grupo alimentação e bebidas, influenciado pela alta da cebola (de 19,55% em abril para 32,36% em maio), a batata-inglesa(de -4,31% em abril para 17,51% em maio), as hortaliças (de 6,46% em abril para 4,15% em maio) e o leite longa vida (de 4,94% em abril para 2,65% em maio).  O açúcar cristal (-3,32%), o café moído (-2,28%), as frutas (-2,08%) e as carnes (-0,38%) ficaram mais baratos para o consumidor.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, apenas artigos de residência apresentou deflação em maio, com variação de -0,06%. Esse resultado foi motivado pelo item TV, som e informática, com queda de 1,55%.

Veja