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terça-feira, 12 de maio de 2020

Desafios do acordo Mercosul-União Europeia - O Estado de S.Paulo

 Rubens Barbosa 


Além das incertezas vindas da Argentina, competitividade e meio ambiente estão em foco

Um fato novo complica o entendimento entre os países do Mercosul. Em abril a Argentina informou que não mais acompanharia Brasil, Paraguai e Uruguai nas negociações em curso do Mercosul com outros países, como Canadá, Cingapura, Coreia do Sul, Líbano e Índia. Mas manteria sua participação nos acordos, já concluídos e não assinados, com a União Europeia (UE) e com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta). Na semana passada o governo argentino voltou atrás, num confuso comunicado em que ressalta ter decidido manter-se nas negociações conjuntamente, mas sempre levando em conta as sensibilidades dos setores menos competitivos (industriais).

Embora querendo participar de todos os trabalhos e demandando a inclusão de cláusulas que resguardem os interesses argentinos futuros, Buenos Aires não se compromete com a conclusão das negociações em curso. O chanceler Felipe Solá diz favorecer um regime de dupla velocidade, em que a Argentina não fica fora dos acordos, mas quer ter a palavra final sobre como e quando passaria a fazer parte deles.

Até meados do ano, o acordo Mercosul-UE deve ser assinado. Como o governo argentino reagirá durante o processo de ratificação, se forem solicitadas modificações no texto do acordo, como foi no caso do tratado UE-Canadá? Nuestros hermanos querem um Mercosul à la carte, o que aumenta a incerteza para todos, pela insegurança jurídica na aplicação dos compromissos assumidos. Flexibilização, se houver, tem de ser para todos.

Além dessa incerteza, menciono duas questões do lado brasileiro para o acesso ao mercado europeu: competitividade e meio ambiente. Para aproveitar as preferências tarifárias, os produtos industriais deverão melhorar significativamente sua competitividade e passar a receber tratamento isonômico em relação ao produzido em outros países. Sem isso, apesar de a UE abrir seu mercado com tarifa zero de imediato para 75% de suas importações, será difícil competir no mercado europeu com produtos importados de outras áreas, como EUA, China e Coreia. A aprovação da reforma trabalhista e a da Previdência Social foram avanços importantes no caminho da modernização do Estado brasileiro. 

De modo a que o custo Brasil seja reduzido, é imperativo serem aprovadas a reforma tributária, a reforma do Estado e um amplo programa de desburocratização, simplificação e facilitação de negócios e de melhoria na logística (portos, estradas, ferrovias). Em paralelo, um eficiente programa de inovação das empresas e de políticas públicas ajudaria a modernizar a operação das companhias que produzem para o mercado doméstico e também exportam. Estudo recente da Fiesp, mostra que a indústria nacional, antes da pandemia, estava lenta na busca para alcançar o nível de 4.0 – 1,3% tinha investimento em 4.0 (em faturamento).

O segundo desafio são os compromissos na área de meio ambiente que o Brasil deverá cumprir. O capítulo de desenvolvimento sustentável, incluído no acordo, talvez seja o mais desafiador, em vista da atual política de meio ambiente e mudança de clima do governo brasileiro. A crescente força política dos partidos verdes nos Parlamentos dos países europeus poderá representar um obstáculo para a ratificação do acordo caso a atual política ambiental brasileira não se modifique, como exemplificado pela crise em relação ao Fundo Amazônico, que resultou na suspensão de recursos financeiros recebidos da Alemanha e da Noruega. Os compromissos assumidos pelos países-membros no tocante ao desenvolvimento sustentável estão incluídos em 18 artigos, que cobrem acordos relacionados a comércio e meio ambiente, comércio e biodiversidade, comércio e preservação de florestas, da ONU, além de regras da Organização Internacional do Trabalho, incluída a Resolução 169, que trata da exploração de terras indígenas.

O descumprimento dos dispositivos dos acordos poderá acarretar boicotes e mesmo restrição de importação de produtos agrícola do Mercosul. São mencionados explicitamente os principais acordos internacionais, como os derivados da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, da Conferência Quadro da ONU sobre mudança do clima, da Convenção sobre Diversidade Biológica, da Convenção da ONU de Combate à Desertificação, do Acordo de Paris de 2015, de regras da OMC e resoluções de outros organismos internacionais. Além disso, por insistência da UE, foi aprovado o princípio da precaução, pelo qual o não cumprimento de acordos de meio ambiente, energia ou trabalho forçado ou infantil pode acarretar restrição à importação de determinado produto.

O mundo mudou e as preocupações com o meio ambiente, a mudança do clima, a preservação das florestas entraram definitivamente na agenda global. A falta de informação interna objetiva dos compromissos internacionais assumidos pelos diferentes governos nas últimas décadas e a crescente percepção externa negativa sobre as políticas ambientais criam uma incerteza adicional para o setor produtivo, em especial o do agronegócio.

Com o fim da covid-19, as questões ambientais vão ressurgir com toda a força e os governos do Mercosul não poderão ignorar essa agenda incluída no acordo com a União Europeia.

 Rubens BarbosaPresidente do IRICE - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O arquiteto do imprevisível - Fernando Gabeira

Em Blog
 

Tantos votos no fim de 2019 de que o ano novo fosse leve, e ele praticamente começou com as bombas sobre o carro do general Suleimani, no Iraque. De novo a tensão, o medo da guerra e tonitruantes ameaças. Com a humildade de quem não conhece os meandros da política no Oriente Médio, meu primeiro impulso foi entender a estratégia de Trump. Recorri aos especialistas, mas não foram poucos os que admitiram incompreensão diante dos passos do presidente dos EUA. O que ele quer adiante, como vai desdobrar esta crise por ele agravada?

O próprio Trump afirmou que não estava começando uma guerra, e sim tentando acabar com um conflito. Dois tipos de debate surgiram: os que valorizam ou condenam a ação do Trump e os que, simplesmente, se limitam a perguntar se foi sábia a sua decisão.  Há uma longa história de atritos entre EUA e Irã, mortes, sequestros, derrubada de aviões. Por que agora Trump deu um passo que nem Bush nem Obama ousaram arriscar?  Havia uma tensão crescente, morte de um americano, bombardeio das guerrilhas xiitas no Iraque, invasão da embaixada americana. Era uma sucessão de escaramuças, mas não completamente estranha às relações dos dois países.

Assim como é difícil entender por que Trump decidiu isso agora, também é difícil prever todas as consequências. Não creio que o Irã, apesar da pressão popular, vá retaliar cegamente ou mesmo abrir várias frentes de luta contra os EUA. Seus líderes são experientes, embora alguma resposta tenham de dar imediatamente.
Suleimani era um dos artífices da repressão interna aos manifestantes contra o regime iraniano. Sua morte uniu o país e, certamente, esvaziou, no momento, os anseios democráticos de uma parte da população. Sua influência se estendia às milícias do Iêmen e do Iraque, aos governos na Faixa de Gaza, na Síria e no Líbano, onde o Hezbollah também é forte.

No entanto, até agora houve apenas duas reações políticas consideráveis. No Iraque, houve a decisão da retirada das tropas americanas, decisão cujo modo de realizar ainda é incógnito. Por seu lado, Teerã anunciou que deixaria o acordo nuclear costurado por Obama com a participação da Europa. Trump já se desligou dele em 2018, abrindo o caminho para seu fracasso.Não só pela clássica hostilidade entre EUA e Irã, a política norte-americana na região não é fácil de ser formulada. Obama tentou um caminho conciliatório, baseado em negociação. Mas dois importantes aliados, Israel e Arábia Saudita, não aprovavam esse enfoque. O próprio Obama ordenou a execução de muitos oponentes usando drones. No seu governo, Osama bin Laden foi despachado deste mundo. Mas os executados por Obama eram considerados terroristas e, sobretudo, não tinham cargos em governo, como Suleimani, nem eram tratados como heróis nacionais.

É essa linha que Trump ultrapassou, linha que, submetida ao Congresso, talvez tivesse enormes dificuldades de aprovação.  Ainda não conhecemos as consequências. Mas Trump arriscou um passo perigoso quando ameaçou destruir os bens culturais do Irã. Apesar da simpatia que desperta entre seus adeptos e admiradores, incluído o governo brasileiro, Trump isolaria dramaticamente os EUA se rebaixasse o país ao nível dos taleban ou do Isis, que destruíam, sorrindo, obras caríssimas à humanidade.

Em primeiro lugar, romperia com a própria posição americana, que respaldou em 2017 a condenação ao bombardeio do legado cultural dos países em guerra. Mesmo dentro dos EUA, não sei se seria respaldado nessa decisão. Vi uma entrevista de fonte do Pentágono dizendo que não tinham planos de atacar alvos culturais. Não deixa de ser um apelo do tipo: não nos meta nessa empreitada.
Se um simples articulista tem de estudar e tomar certas precauções diante de um quadro complexo e dinâmico, imaginem um país. Se me lembro bem dos tempos da política, a fórmula clássica é estimular a distensão e reforçar os votos pela paz e pela solução pacífica dos problemas. Mesmo sem entender bem o quadro, é uma declaração que não tem como comprometer o País.É compreensível que Bolsonaro e seu ministro tenham tomado uma posição de apoio a Trump, se levamos em conta suas ideias. Entra aí uma questão que cansei de criticar no PT: a política externa não é uma decorrência direta das ideias de um presidente ou de um partido. Ela se move de forma mais cautelosa, porque representa uma política nacional, certo tipo de consenso que tem um passado e, certamente, um futuro.


Na cabeça de Bolsonaro, as coisas funcionam assim: o PT apoiava Cuba e Venezuela, ganhamos as eleições, temos o direito de apoiar os EUA de forma irrestrita. Essa é a dificuldade, supor que uma vez ganha as eleições o vencedor impõe ilimitadamente sua vontade. A suposição de que a política externa seja apenas uma decorrência da visão partidária se estende a outras áreas, com o mesmo potencial corrosivo. A produção artística, por exemplo. A ideia é a mesma: se o PT apoiou um determinado tipo de produção cultural, a hora é de mudar radicalmente e apoiar um campo simetricamente oposto. Em ambos os casos – política externa e produção cultural – uma visão desse tipo é perigosa.[toda atividade cultural apoiada pelo =perda total = deve ser combatida.]
 
No campo internacional, desfigura uma construção simbólica que o País levou décadas para afirmar. No campo cultural, simplesmente anula o estatuto independente da arte e a considera apenas petista ou bolsonarista, na realidade, uma extensão do populismo de esquerda ou de direita. É esse tipo de equívoco que talvez leve Trump a afirmar tão naturalmente que pode bombardear os bens culturais do Irã. A mesma ilusão dos aiatolás, que tentaram remover as ruínas de Persépolis por acharem ser símbolo de uma cultura decadente. Não conseguiram, mas a ideia é sempre a mesma: ou a cultura é uma propaganda ou merece ser destruída.

Fernando Gabeira, jornalista - Blog do Gabeira


Artigo publicado no Estadão em 10/01/2020 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

TERREMOTO NO IRÃ - Alexandre Garcia


Gazeta do Povo



No fim de semana, a terra tremeu no nordeste do Irã, na magnitude 5,8 da escala Richter. Mas a morte de Qassim Suleimani foi um sismo em grau máximo da escala.   O Chefe da Guarda Revolucionária da teocracia iraniana era também planejador estratégico e tático para controle do poder no Líbano, Síria, Iraque, Afeganistão e Iêmen, para cercar Israel e enfraquecer outros aliados dos Estados Unidos, como a Arábia Saudita.

O Hezbollah no Líbano se tornou um estado dentro do estado. Os Xiitas na Síria, os Houthis no Iêmen, o Hamas, o movimento Jihad Islâmico, eram instrumentos para Suleimani, que usava árabes e afegãos para não constranger as forças regulares do Irã em missões alheias à defesa de seu país."Parecia um herdeiro de Xerxes, filho de Dario e neto de Ciro, a dinastia que fez da Pérsia, hoje Irã, a grande potência que dominou o oriente médio da antiguidade, até que o macedônio Alexandre, o Grande, destroçasse o império.

Não parece sonho imaginar que o objetivo de Suleimani fosse o reerguimento do Império Persa. Sua presença ia das praias do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico. Estava dentro do Iraque quando foi atingido, depois que os americanos, por falta de decisão, adiaram o momento de “puxar o gatilho”, embora tivessem tido outras oportunidades para lançar o ataque. A decisão de matar Suleimani não é um desafio dos Estados Unidos ao Irã; é um aviso e uma ameaça. O governo americano não está preocupado com a pesquisa nuclear iraniana; já sabia que acordos só seriam cumpridos no cerimonial. Israel vem monitorando o programa nuclear do Irã, pois disso depende a sobrevivência do país que se fundou com sangue e se mantém com sangue e vigilância.

Suleimani era a fonte de foguetes que sempre ameaçam Israel por todos os lados. Ele é dessas figuras de retaguarda e front, sempre presente a incentivar seus comandados. Por isso, sua morte é um desfalque maior que a de Bin Laden ou do líder do Estado Islâmico. No Irã, só estava abaixo do Aiatolá.  Seus seguidores atacaram petroleiros, cobriram de mísseis a maior refinaria da Arábia Saudita, mataram quase mil americanos no Iraque. E o governo americano esperou. Mas o recente ataque à embaixada em Iraque, onde estava Suleimani, fez Trump dar a ordem de fogo. "Até o momento em que escrevo, não vi manifestações fortes da China ou Rússia. Cada potência respeita os interesses da outra. Americanos não se meteram na Ucrânia ou em Hong Kong. O Irã não ganharia a guerra, mas pode fazer uma boa negociação. Só não pode controlar movimentos que ficaram órfãos de seu comandante e inspirador.

Pode haver vinganças de um lado, com punição imediata por parte dos americanos. Mas não haverá guerra mundial, como catastrofistas de plantão falam. Se houvesse, duraria apenas um dia e acabaria."

Alexandre Garcia, jornalista -  Coluna na Gazeta do Povo

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

E o Brasil com isso? - Eliane Cantanhêde

No maior teste da nova política externa, Brasil adota neutralidade ou assume lado?

O conflito dos Estados Unidos com o Irã é o maior teste do governo Jair Bolsonaro e já exibe duas claras guinadas, não apenas em relação aos governos petistas, mas à própria política externa tradicional do Brasil. E o pior está por vir, pois a vingança do Irã é certa, mas não se sabe quando, como e com que grau de ferocidade. O que fará o Brasil? [O Brasil tem que ser pragmático e seguir o caminho que qualquer estadista de importância, digno do nome - incluindo o próprio Trump - faria:
Colocar os INTERESSES do BRASIL ACIMA DE TODOS os demais interesses.
Acima do Brasíl, só DEUS ACIMA DE TUDO - que está, sempre esteve e sempre estará acima de tudo. 
E na situação atual a NEUTRALIDADE é a melhor, e mesmo a única opção de privilegiar os interesses do Brasil, colocando-os acima de todos os outros.
Registramos nosso entendimento de que não haverá guerra.
Saiba mais, lendo aqui.]

As duas mudanças perpassam as discussões de cúpula do governo e podem ser identificadas na nota do Itamaraty. A primeira é que o foco no Oriente Médio não é mais o conflito Israel-Palestina e sim o Irã. A segunda é que o Brasil deixa de tratar o terrorismo como uma questão distante, dos países desenvolvidos e do Oriente Médio. O terrorismo passa a ser problema nosso, sim.[considerando a natureza da operação, o caráter que não existe uma guerra declarada, estamos diante de um novo tipo de terrorismo? o terrorismo de estado?]

No “novo Brasil”, alinhado incondicionalmente não só aos EUA, mas ao governo Trump, o Irã é a maior ameaça internacional, com seu projeto audacioso de hegemonia na região e insinuando-se até como novo líder mundial a partir do seu programa nuclear. Persa, não árabe, é o Irã quem assume a dianteira no enfrentamento a Israel, negando até o holocausto e o próprio Estado de Israel, como já se esgoelava Mahmoud Ahmadinejad, homem forte do país entre 2005 e 2013.

Tanto Trump quanto Bolsonaro têm forte base política entre judeus e evangélicos, que estão na linha de frente pró-Israel. Não por acaso, o primeiro compromisso e a segunda manifestação de Trump após o ataque que matou o principal líder militar iraniano foram em Miami, num evento evangélico. Agregue-se à ascensão do Irã a sua proximidade com a Venezuela de Nicolás Maduro e tem-se a suspeita de apoio iraniano à instalação de células do Hezbollah na América do Sul. Bom pretexto para a mudança da posição brasileira sobre terrorismo. Não é mais “coisa dos outros”.

As primeiras manifestações do presidente Jair Bolsonaro foram bem-vindas. Ele admitiu o impacto da crise sobre o preço do petróleo, mas descartou tabelamento. Ponto com o mercado e com o Ministério da Economia. E lembrou que o Brasil não tem armamento nuclear e não pode assumir um lado, ficando sujeito a retaliações. Ponto com os militares e com a diplomacia responsável. A nota do Itamaraty, porém, é toda em cima do combate ao terrorismo e embica para a condenação ao Irã e o apoio aos EUA, deixando em aberto qual será a posição brasileira se, ou melhor, quando o Irã retaliar. Nesse momento, Trump cobrará posição e ação. O que o Brasil responderá? [NEUTRALIDADE; na Guerra das Malvinas, o Brasil assumiu uma postura correta e corajosa e manteve sua neutralidade naquele conflito, adotando as medidas adequadas que devem ser padrão no comportamento de uma nação neutra - inclusive negando trânsito sobre espaço aéreo brasileiro à aviões das nações beligerantes.
A Suíça se manteve neutra,  encravada entre países em conflito, durante a Segunda Guerra Mundial, e ao fim do conflito estava MAIOR do que ao início.
Talvez seja até conveniente que a competência para emitir manifestações  sobre a situação no Oriente Médio seja afastada, ainda que temporariamente, do Itamaraty.]
A nota não condena a ação americana e o assassinato do general Suleimani, mas sim, além do “terrorismo”, os ataques à embaixada dos EUA em Bagdá. E diz que o Brasil está pronto para participar de “esforços” para evitar uma escalada. Participar como? Como mediador neutro ou a favor de um lado? Ouçam-se os generais e estrategistas militares e eles responderão: “não é coisa nossa”. Ouçam-se embaixadores e especialistas em política externa e eles farão coro: “não temos nada a ver com isso”. E, juntos, concordam com a primeira avaliação de Bolsonaro: o Brasil não tem tamanho para entrar nessa guerra. Melhor seguir o exemplo da França: pedir cautela e fim da escalada. Ponto.

Além da questão geopolítica e dos riscos para o planeta, a crise envolve questões internas. Trump convive com o impeachment e a reeleição neste ano. O Irã sofre rejeição em parte do Iraque e do Líbano. Logo, arrumar “inimigos externos” é conveniente a ambos, assim como Hugo Chávez recorria ao “demônio” EUA a toda hora para unir a Venezuela. Objetivamente, o Brasil pode muito pouco num conflito ou numa guerra assim e tem de se preocupar com a ameaça imediata: o preço do petróleo. Isso, sim, tem reflexos diretos no País. Inclusive, na política interna.
 
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo
 
 
 
 
 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Lula preso valia mais politicamente que Lula livre - Merval Pereira

O Globo

Chances renovadas

O novo ano começa como os últimos, com esperanças de que o país recupere sua capacidade de crescimento econômico. As perspectivas desta vez são melhores do que já foram, especialmente porque o governo, eleito pelo voto popular, mantém seu projeto reformista, avalizado pela aprovação da reforma da Previdência. O governo Temer, um intervalo entre o petismo e o bolsonarismo, chegou a ter o controle político do Congresso, mas perdeu a chance de aprovar a reforma da Previdência devido à crise desencadeada pelo diálogo gravado com o empresário Joesley Batista. [e as denúncias, até hoje não provadas, apresentadas pelo ex-PGR Rodrigo enganot;
a propósito, as delações dos açougueiros de Anapólis, irmãos Batista, já foram homologadas?]

Temer teve que trocar o apoio que tinha no Congresso pela manutenção de seu cargo, perdendo força para aprovar as reformas. Hoje, temos pela primeira vez um Congresso renovado que comprou a ideia de que é preciso reformar estruturalmente o país, e um governo que mantém o objetivo de aprovar as reformas tributária, administrativa, do pacto federativo. O parlamentarismo branco faz com que o Congresso module as reformas propostas pelo Executivo, às vezes avançando, principalmente na economia, em outras as adequa a seu perfil, como no pacote anticorrupção. Sempre, porém, tem havido progressos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu para si garantir a governabilidade do país, num estranho pacto entre os Três Poderes que não reflete obrigatoriamente o pensamento da maioria de seus pares.  Como quando seu presidente Dias Toffoli blindou a presidência da República sustando a investigação sobre o suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o hoje senador Flavio Bolsonaro quando era deputado estadual no Rio e tinha o famigerado Queiroz como seu assessor de confiança. O calcanhar de Aquiles do governo.  [2019 mudou para 2020, mas, o nosso presidente Bolsonaro continua tendo um CPF e o senador Flávio, seu filho, um outro CPF;
Também, até o presente momento, existe indícios contra um ex-assessor do hoje senador e a suspeita de envolvimento do parlamentar com possível, e ainda não provada, irregularidades.]
Toffoli teve que voltar atrás e aderir à decisão da maioria que avalizou a atuação do antigo Coaf e da Receita Federal. Apesar dos êxitos na área econômica e da popularidade do ministro Sérgio Moro, identificado pela opinião pública com o combate à corrupção e ao crime organizado, a presidência de Bolsonaro consegue reduzir suas próprias conquistas com a obsessão de aniquilar a esquerda e produzir embates quase diários para manter a polarização com o PT. [ o PT está em avançado processo de implosão e os seus pseudos líderes - combinando com os objetivos do partido perda total, os seus líderes são todos envolvidos com a Justiça:
- a cabeça da serpente é um duplamente condenado, em liberdade temporária, e com vários outros processos em curso e que resultarão em novas condenações;
- a vice líder responde a processos penais e é questão de tempo ser condenada.
Assim, o perda total é praticamente uma carta fora do baralho.

Quanto a esquerda o BEM COMUM impõe sua eliminação, aliás, um processo que está ocorrendo nas mais importantes nações do mundo.]
Assim como Lula já definiu como seus alvos principais os ministros Guedes e Moro, justamente as áreas mais bem sucedidas do ministério, também Bolsonaro empenha-se em colocar-se mais uma vez como o antiPT, na suposição de que esse é seu principal ativo político. As crises políticas que alimenta podem representar obstáculos intransponíveis a qualquer momento. Bolsonaro pode também estar equivocado, mantendo a chama acessa do lulismo, que até o momento não se mostra capaz de mobilizações populares como antes da prisão do ex-presidente.
Lula preso valia mais politicamente que Lula livre.         

Uma certeza
É impossível no momento saber exatamente como seu deu a fuga de
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan, do Japão para Beirute, no Líbano. Desconfia-se de que governos estrangeiros ajudaram de alguma maneira na fuga. Mas uma coisa parece certa: dentre eles, não está o governo brasileiro. Apesar dos esforços do ministro da Economia Paulo Guedes, amigo de Ghosn, que apelou primeiro ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo. Não tendo sido atendido, Guedes foi a Bolsonaro. Conseguiu que se comprometesse a visitar o empresário brasileiro quando estivesse em Tóquio na reunião do G-20, em junho. O máximo que fez foi falar ao telefone com Ghosn, que se encontrava em prisão domiciliar.

O executivo foi convidado duas vezes para dirigir a Ford. A primeira em 2006, e ele exigiu acumular a direção executiva com a presidência do conselho de administração, que era presidido por Bill Ford Jr. Não deu certo.
Em 2008, na grande crise econômica, o então presidente Obama procurou-o pessoalmente para oferecer-lhe o dobro de seu salário na Nissan para presidir a Ford, que estava à beira da falência. Mais uma vez Carlos Ghosn recusou.

Merval Pereira, colunista - O Globo 


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Jari, a Fordlândia 2.0 - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo  

Joia da coroa para a ditadura, projeto na Amazônia foi mau negócio que uniu governo, empresários e banqueiros amigos - Hoje o BNDES está com um mico de R$ 790 milhões -





A repórter Stella Fontes informa: “endividada, a Jari agoniza”. Deve R$ 1,75 bilhão. Sua recuperação judicial foi suspensa e não tem como pagar aos 750 empregados de sua fábrica de celulose, encravada na Floresta Amazônica. Pode parecer mais uma história de fracasso numa época de crise. É muito mais, verdadeira aula sobre algo que poderia ter dado certo, deu errado e, ao longo de 30 anos, foi dando mais errado.

O Projeto Jari foi a primeira joia da Coroa da ditadura. Coisa de sonho: Nos anos 60, Daniel Ludwig, um dos homens mais ricos do mundo, comprou 160 mil quilômetros quadrados (um Líbano e meio) na divisa do Pará com o Amapá. Trouxe do Japão, por mar, uma fábrica de celulose e uma termelétrica. Construiu uma cidade, plantou gmelinas, arroz e queria explorar bauxita. Septuagenário sem herdeiros, avarento e misantropo, tomava leite com vodca. Deu tudo errado. Crucificado no lenho do nacionalismo xenófobo que envolve a Amazônia, Ludwig fez as malas e foi embora.
Quem ouve falar do Ja, ri tende a compará-lo à Fordlândia, sonho de outro magnata misantropo. Em 1928 Henry Ford comprou dez mil quilômetros quadrados (um Líbano), onde pretendia plantar dois milhões de seringueiras e também planejou uma cidade. Deu tudo errado e, em 1945, a propriedade foi vendida por 1% do seu valor. Nenhum negócio de Henry Ford ou de Daniel Ludwig deu tão errado.

As semelhanças terminam aí. Ludwig não saiu como Ford. Em 1982 ele perdeu algo como US$ 1 bilhão, mas deixou o projeto no colo da Viúva, e o governo organizou um consórcio de empresários para ficar com a Jari. À frente, entrou o magnata Augusto Trajano de Azevedo Antunes, um dos maiores empreendedores do seu tempo. Numa carta de 20 de janeiro de 1982 ao presidente João Figueiredo, ele foi claro:
“Entendo que recebi uma missão do governo. (...) Ao se incumbir alguém de uma missão, cumpre propiciar-lhe também os meios indispensáveis para bem executá-la.”
Queria investimentos públicos, uma hidrelétrica e, sobretudo, simpatia para o “cumprimento de missão de alta relevância nacional.”
Um mês depois, o Banco do Brasil entrou no projeto e ficou com 12% das ações da holding.
Coisa da ditadura? Nem tanto, em 1994, depois de visitar o projeto, o candidato Lula informava: “O Ludwig foi um sonhador. Passei 20 anos da minha vida esculhambando o Jari, mas hoje o Brasil tem novos empresários”. Referia-se aos netos de Antunes que tocavam o projeto. Lula perdeu a eleição para Fernando Henrique Cardoso. Em 1996, FHC sabia que o BNDES estava metido com 20% de participação na Jari e que era “grave a situação”. Meses depois a empresa entrou em concordata branca e metade da dívida estava com a Viúva. Em 2000 a Jari foi vendida ao grupo Orsa, sob aplauso dos credores (a Viúva tinha um terço desse espeto). Por algum tempo conseguiu respirar, até que se afogou, e hoje o BNDES está com um mico de R$ 790 milhões.
Em 2019 o professor americano Greg Grandin publicou no Brasil seu livro “Fordlândia — Ascensão e queda da cidade de Henry Ford na selva”. Contou a história de um empresário que fez um mau negócio e foi em frente. Algum dia alguém contará a história do Jari, um mau negócio no qual o governo entrou, juntando-se a empresários e banqueiros amigos, sempre dispostos a cumprir uma “missão de alta relevância nacional”.

Folha de S.  Paulo - O Globo - Elio Gaspari,colunista 




quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Míssil no quarto: Israel tem o direito de matar terroristas? - VEJA - Mundialista

Por Vilma Gryzinski

Desde pasta de dente envenenada até um ataque de alta precisão como o que detonou chefe da Jihad Islâmica, assassinatos em nome da defesa nacional


Como um homem com a cabeça a prêmio, e justamente pelo mais letal dos inimigos, Baha Abu Al-Ata dormia cada hora num esconderijo em Gaza. Não é um lugar muito bom para se esconder, mas o chefão da Jihad Islâmica Palestina, um grupo armado e bancado pelo Irã, não tinha muitas alternativas fora ficar sempre em zonas cheias de civis , inclusive familiares, como escudo humano. Às 4 horas da manhã de terça-feira, um único míssil de alta precisão foi disparado através da janela do quarto onde Abu Ata dormia com a esposa.
Foram as únicas vítimas fatais, no ato.


[Israel executa um inimigo que está dormindo, com a esposa que também é assassinada. 
Não satisfeito, a pretexto de vingar misseis lançados contra o território israelense, atacam com aviões ultramodernos civis palestinos desarmados.
É a batalha do estilingue contra aviões caça.]

Minimizar os “danos colaterais” é sempre politicamente conveniente embora nenhum israelense tenha a menor ilusão de que o país deixaria de ser vergastado em organizações internacionais, mesmo quando o alvo é o dirigente de uma organização armada que prega a eliminação total de Israel. A “morte dirigida” foi aprovada pelas mais altas instâncias jurídicas das forças armadas, da mesma forma que acontece nos Estados Unidos, onde o 11 de Setembro liberou os militares para a prática e o uso de drones facilitou-a enormemente.

Só o presidente Barack Obama autorizou mais de 500 ataques com drones. A tática das “mortes dirigidas” foi endossada pela Suprema Corte de Israel em 2006, depois de anos de debates jurídicos e com várias restrições.  Obviamente, causa enorme controvérsia, inclusive dentro de Israel, apesar do apoio quase total da opinião pública.
Em especial no caso do chefe da Jihad Islâmica, um grupo que é praticamente um poder paralelo em Gaza, competindo com o Hamas no lançamento de foguetes contra a população civil e atentados suicidas em território israelense.
O Hamas assumiu um compromisso, negociado com o Egito, de segurar o foguetório em troca de um alívio nas restrições que Israel impõe a Gaza em represália pelos ataques.

O “alívio” inclui o recebimento de dinheiro vivo para a folha de pagamento de funcionários públicos. Numa única dessas remessas, bancadas pelo Catar, foram 15 milhões de dólares em malas, num carro de luxo.  É claro que o Hamas está fazendo uma grande encenação de revolta pelo assassinato, tem uma gritaria geral de “sangue de um, sangue de todos”, mais uma vez chovem foguetes, mesmo depois de um novo cessar-fogo.Nos bastidores, mais de uma vez pediu a aliados que controlassem Abu Ata e sua turma, que têm arsenal de fabricação própria próprio e total alinhamento com os interesses do Irã.

Como toda política é local, houve reações da oposição israelense acusando interesse politiqueiro de Benjamin Netanyahu.  Bibi chefia o governo em caráter temporário, visto que nenhum dos dois blocos mais votados consegue formar maioria no Parlamento.  Ele também tinha empenho especial em despachar Abu Ata desde que foi retirado pela segurança, em cenas transmitidas ao vivo, quando a Jihad Islâmica disparou foguetes contra o lugar onde fazia um comício, uma semana antes da eleição de 17 de setembro.

O resultado embolado dessa eleição se prolonga até agora: nem Netanyahu nem Benny Gantz, da frente que conseguiu um parlamentar a mais, conseguem a maioria necessária. Gantz, que foi chefe do estado-maior das forças armadas, apoiou a operação contra Abu Ata. Simultânea a outra, em Damasco, onde o número dois da Jihad escapou com ferimentos.  Quando a escalada atingiu um nível mais generalizado, Israel também aproveitou para bombardear o comandante da unidade de foguetes da Jihad Islâmica, Rasmi Abu Malhous.
 
PRÍNCIPE VERMELHO
Mas nenhum primeiro-ministro pode tomar sozinho a decisão de uma “morte dirigida”. A palavra final é do alto comando das Forças de Defesa de Israel, quando é uma ação militar clássica.  Em várias ocasiões, o comando militar vetou o ataque contra Abu Ata, por motivos operacionais e outros, nunca revelados. Os “astros se alinharam”, na definição de um porta-voz, dez dias antes.

O outro modus operandi para as “mortes dirigidas” são ações clandestinas, a cargo de uma unidade especial do Mossad. Seus agentes recebem treinamento à parte do resto do serviço de inteligência, em Cesareia, a cidade portuária construída por Herodes, o Grande, alguns anos antes do advento da era cristã.  Como nos filmes, jamais podem falar com ninguém sobre o “serviço” nem revelar seus nomes verdadeiros, exceto para os cônjuges.
Ao contrário dos filmes e apesar da legendária eficiência do Mossad, as coisas podem dar errado.
Foi assim que um garçom marroquino foi assassinado na Noruega em 1973, erroneamente identificado como Ali Hassan Salameh, o sedutor Príncipe Vermelho, organizador do massacre de Munique, o sequestro e execução de atletas israelenses durante as Olimpíadas.

Além de matarem o homem errado, os agentes israelenses ainda foram identificados por um companheiro que pisou na bola por um motivo absurdo.
A missão dele era abandonar o carro usado no assassinato – com placa anotada, como sabiam os israelenses –, pegar um trem e daí deixar o país de avião, anonimamente.  Como tinha comprado equipamentos hidráulicos, incluindo torneiras, para sua casa, não quis carregar peso e decidiu devolver o carro na agência onde havia sido alugado. A polícia norueguesa já estava esperando por ele.
O escândalo foi recriado em detalhes pelo jornalista Ronen Bergman no livro Rise and Kill.

O título é uma referência a um trecho do Talmude que diz: “Se alguém está vindo para te matar, erga-te e mate primeiro”.
Bergman não tem nenhuma simpatia pela política que guiou, segundo suas contas, mais de cinco mil assassinatos desde bem antes da criação do Estado de Israel.
Segundo ele, agentes do Mossad tiveram duas oportunidades de pegar Josef Megele no Brasil, o Anjo da Morte das experiências monstruosas em Auschwitz, mas deixaram passar.
Numa dessas ocasiões, chegaram a acompanhar seus movimentos na fazenda que tinha em Caieiras, mas receberam ordens de largar a operação e voltar rapidamente porque uma crise maior, a dos mísseis secretos do Egito, estava explodindo.
Mengele morreu afogado em Bertioga, em 1979.

Caçar nazistas não era uma prioridade do Mossad, com exceções notórias como o caso de Adolf Eichmann, sequestrado na Argentina e julgado, condenado e enforcado em Israel.
Motivo? Já não podiam fazer mal a Israel, ao contrário dos chefes de várias organizações armadas palestinas.  O mais importante deles, Yasser Arafat, estava fora da lista por ser uma personalidade importante demais – e a pedido dos Estados Unidos.
Quando Ariel Sharon assumiu como ministro da  Defesa, segundo a reconstituição de Bergman, mandou colocar Arafat na lista de novo. Brigou com altos comandantes que resistiram a planos de assassinato que provocariam a morte de muitos civis inocentes.

Como praticamente todos os palestinos, Bergman mais do que dá a entender que Sharon finalmente conseguiu seu objetivo de forma mais sutil, aparentemente através de intoxicação por algum elemento radiativo.
Cercado em seu bunker, Arafat caiu doente, foi levado para a França e acabou morrendo, em novembro de 2004. A coisa toda aconteceu em um mês. Em 2012, o corpo dele, enterrado em Ramallah, foi exumado para a retirada de vestígios ósseos e devolvido à sepultura em seis horas. Mas não houve nenhum resultado conclusivo.
Sem os constrangimentos da censura militar no caso de Arafat, Bergman dá detalhes do assassinato de Wadie Haddad, da Frente Popular de Libertação da Palestina, em 1978.

Na época, palestinos cristãos como Haddad estavam entre os mais radicais e se alinhavam ideologicamente com o nacionalismo árabe e o comunismo – a onda do novo islamismo fundamentalista acabou totalmente com isso, exceto por alguns bolsões no Líbano. Haddad foi envenenado gradualmente com uma bactéria tóxica colocada em sua pasta de dentes. Morreu gritando de dores horríveis num hospital militar da Alemanha Oriental.
Cientistas iraquianos que viajavam para ampliar o programa nuclear secreto de Saddam Hussein foram orientados a levar sempre escova e pasta próprios quando viajavam para o exterior.
Pelo menos dois acabaram assassinados e o programa explodiu literalmente com o bombardeio do reator de Osirak.

“JUÍZO FINAL”
Vários cientistas iranianos também foram alvos das “mortes dirigidas”, mas o Irã continua avançando rumo a um arsenal nuclear.  A pretexto da saída americana do acordo nuclear internacional, já está enriquecendo urânio a 60%. Diminuiu assim radicalmente a extensão do “corredor de tempo” necessário para produzir a bomba, que demanda urânio enriquecido a 90%.
Vai, assim, aumentando o tamanho da ameaça existencial a Israel.  Apesar de imensamente complicado, um ataque preventivo às instalações nucleares iranianas é viável em termos operacionais.  Existe forte oposição a uma operação assim dentro do establishment militar de Israel.
Em última instância, porém, são os Estados Unidos que seguram a barra e impedem o “ataque do juízo final”.

Foram os Estados Unidos que arrancaram de Menachem Begin a promessa de não matar Arafat quando, derrotado, teve que deixar o Líbano, de navio, em 1982.
Um atirador de elite israelense tirou uma foto com Arafat na mira de seu fuzil e Begin deu-a de presente a Philip Habib, o embaixador americano no Líbano, como prova da palavra cumprida.  Em tempo: Ali Hassan Salameh, o mentor do massacre de Munique confundido com o garçom marroquino na Noruega, foi morto por um carro-bomba em Beirute, quando ia para a festa de aniversário da mãe, em 1979.

Uma agente do Mossad, com codinome de Erika Chambers, usou a legendária queda do Príncipe Vermelho por mulheres bonitas para levantar seus itinerários. Escapou com os outros 16 agentes do Mossad envolvidos na operação. As “mortes dirigidas” e altamente contestáveis, do ponto de vista jurídico, político e pragmático, não mudam os fundamentos dos problemas de Israel.  Primeiro, a população palestina que vive em seu território internacionalmente reconhecido, tendo cidadania e direitos – cerca de 20% –, embora preferisse estar de outro lado.
Segundo, e acima de tudo, os palestinos dos territórios ocupados, cujos líderes não aceitam alternativas para que tenham um Estado próprio, como seria certo e justo.
Mas “matar primeiro aquele que vem para te matar” não é uma prática que vá sumir do mapa tão cedo.
Pelo menos, enquanto os inimigos de Israel desejarem este destino coletivo para o país.
E, enquanto isso, as centrífugas iranianas estão funcionando a mil.