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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Kim Jong-nam: morte rápida e dolorosa

Caso Kim Jong-nam: autópsia revela paralisia e morte em 20 minutos

Ministro da Saúde da Malásia afirmou que meio-irmão do ditador da Coreia do Norte teve morte "dolorosa" vinte minutos após o ataque

Kim Jong-nam, o meio-irmão do ditador norte-coreano Kim Jong-Un que foi assassinado na Malásia, sofreu paralisia provocada pelo VX, um potente agente nervoso, e morreu cerca de vinte minutos depois, de acordo com os resultados da autópsia revelados neste domingo pelas autoridades.

Os resultados do exame sugerem que a vítima, de 45 anos, sofreu uma “paralisia muito grave” e faleceu um “um período de tempo muito curto”, afirmou o ministro da Saúde da Malásia, Subramaniam Sathasivam. “Ele morreu na ambulância. A partir do início do ataque, morreu em um período de 15 a 20 minutos”, afirmou o ministro. Sathasivam destacou que a morte foi “muito dolorosa”. Kim Jong-nam foi assassinado no aeroporto de Kuala Lumpur no dia 13 de fevereiro.

Duas mulheres, uma indonésia e uma vietnamita, que teriam jogado a substância em Kim Jong-Nam foram detidas, assim como um norte-coreano.  As autoridades malaias já haviam revelado na sexta-feira que o assassinato foi cometido com o agente nervoso VX, que é classificado uma arma de destruição em massa.

A polícia também quer interrogar outros sete norte-coreanos, incluindo um diplomata da embaixada da Coreia do Norte em Kuala Lumpur, mas quatro deles fugiram da Malásia no dia do assassinato.  Nas imagens das câmeras de segurança do aeroporto é possível observar duas mulheres que se aproximam de Kim Jong-nam pelas costas. Uma delas joga algo no rosto da vítima.

As duas detidas alegam que foram enganadas – a indonésia disse ter recebido o equivalente a 280 reais para participar de uma “pegadinha” para um programa de TV – e que não sabiam o que faziam. Depois do assassinato uma das suspeitas ficou doente, com episódios de vômito, informou a polícia. O VX é uma versão mais letal do gás sarin, extremamente tóxico. Os agentes nervosos agem com o estímulo excessivo das glândulas e dos músculos, o que cansa rapidamente as vítimas e ataca a respiração. De acordo com o ministro da Saúde, as causas da morte estão agora “mais ou menos confirmadas”.

Durante a madrugada de domingo, as equipes de defesa civil da Malásia, com trajes de proteção, rastrearam minuciosamente o local do crime, não encontraram nada e declararam que o aeroporto é uma área segura.

O que é o agente VX, arma que matou o norte-coreano Kim Jong-nam

O produto foi declarado pela ONU como uma arma de destruição em massa

Saiba mais

Fonte: AFP e Redação Veja

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A guerra de Trump

A indústria nacional encolheu ao menor nível de produção dos últimos 65 anos. O Brasil fez a guerra de Trump antes dele. Curiosamente, fez contra si mesmo

Com apenas 72 horas na Casa Branca, Donald Trump deflagrou uma guerra na economia mundial. A primeira vítima foram os limões. Na tarde de domingo, o Departamento de Agricultura anunciou o bloqueio das importações da Argentina, o maior produtor mundial, “de acordo com orientação da Casa Branca”.  Seria mais um episódio na rotina do sistema americano que protege a indústria e o comércio do país com uma miríade de embargos, tarifas e restrições burocráticas aos produtos estrangeiros. No entanto, antes do jantar dominical, Trump formalizou com o México e o Canadá o fim do tratado de livre comércio, em vigor há 23 anos. 

Ontem, liquidou com a Parceria Transpacífico, retirando os EUA do livre-comércio com Japão, Austrália, Malásia, Nova Zelândia, Vietnã, Brunei, Peru e Chile, além do México e Canadá.
Deve-se criticar Trump por muitas coisas, inclusive pela deselegante retórica, atraente para devotos do nacionalismo místico, assim como por sua predileção ao refúgio no patriotismo. Mas não se pode acusá-lo de falta de transparência — exceto em aspectos relevantes da própria biografia, como o Imposto de Renda.  À falta de ideias, sobram ameaças, como mostra o comunicado da Casa Branca sobre a guerra comercial, na sexta-feira: “Além de rejeitar e refazer acordos comerciais falidos, os EUA querem reprimir as nações que violaram acordos comerciais e prejudicaram os trabalhadores americanos.” Todos são suspeitos, e Washington adverte: “Serão usados todos os instrumentos para pôr fim aos abusos”. 

Trata-se de um dos dois maiores parceiros comerciais do Brasil — o outro é a China. No mapa-múndi, os EUA representam fatia modesta do comércio nacional (14%, ou US$ 48 bilhões anuais). Impulsiona pouco mais de 3% da produção brasileira. Exposição ínfima, se comparada à do México (43%) e Chile (8%). É, porém, mercado vital para 75% das vendas da indústria. Do Palácio do Planalto à embaixada em Washington percebe-se que o governo olha para Trump com certo otimismo. Mais pela ausência: o país não é significativo na agenda americana de recauchutagem do nacionalismo (empregos perdidos, imigrantes criminosos). 

Paradoxalmente, seria beneficiário do próprio isolamento, sob crônica escassez de capital — modelo de economia fechada que sustenta e o fez marginal na revolução tecnológica.
Nessa perspectiva, Trump ao liquidar acordos contribuiria, indiretamente, para reforço do esquálido Mercosul, que se tornaria atrativo ao México, Peru e Chile, entre outros. Ao mesmo tempo, Brasília planeja acertos com os EUA, para estímulo a negócios existentes (bitributação, barreiras) e novos (energia). Na vida real, o problema está na fragilidade brasileira, realçada pela precária liderança regional e a economia industrial deteriorada. 

A indústria encerrou 2016 encolhida, com o menor nível de produção dos últimos 65 anos. Reduziu-se à participação (de 11,8%) no Produto Interno Bruto igual à que possuía em 1952. É quase metade do tamanho que tinha em 1985, na volta à democracia. Hoje, o Brasil tem a 11ª indústria do mundo, responsável por 0,6% do valor global exportado de manufaturados. Há 37 anos era a 7ª do planeta, com 2,7% das vendas mundiais. O Brasil fez a guerra de Trump bem antes da sua chegada à Casa Branca. Curiosamente, fez contra si mesmo.

Fonte: José Casado, jornalista - O Globo


domingo, 25 de dezembro de 2016

Finalmente ONU acerta uma: Conselho de Segurança da ONU condena assentamentos de Israel


Em uma mudança de postura, os Estados Unidos se abstiveram e não usaram o poder de veto para barrar a resolução contra o seu aliado histórico

O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta sexta-feira uma resolução que condena e pede o fim dos assentamentos israelenses em território palestino. Aliado histórico de Israel, os Estados Unidos se abstiveram e não usaram o seu poder de veto para barrar a medida.

A postura dos americanos, sempre favoráveis a Israel em ações nas Nações Unidas, representa uma mudança e marca mais um (talvez o último) capítulo nas tensas relações entre Barack Obama e o premiê israelense Benjamin Netanyahu.

A resolução foi apresentada no conselho de 15 membros para votação nesta sexta por Nova Zelândia, Malásia, Venezuela e Senegal, um dia depois de o Egito a retirar, sob pressão de Israel e do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Com a abstenção dos EUA, a medida passou, sob aplausos, com 14 votos. [Donald Trump precisa levar em conta que Israel não tem direito divino sobre terras que não lhe pertencem e entender que apesar da irrelevância da ONU, a medida procura mitigar um erro cometido pela própria ONU quanto teve como presidente de uma Assembleia Geral um brasileiro - correção esta dentro de limites que respeitem os direitos dos palestinos e israelenses e impeçam o expansionismo de Israel.
Manter esta decisão - que só pode ser revogada por uma outra e qualquer projeto de revogação, mesmo que apoiado pelos Estados Unidos, pode ser vetado por um dos membros do Conselho de Segurança - seja a oportunidade da ONU recuperar um pouco do que ainda lhe resta de relevância.]

“O problema dos assentamentos cresceu tanto que está ameaçando a solução de dois estados”, disse a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, ao comentar a aprovação da resolução. A postura dos americanos na votação irritou o governo israelense e um dos ministros de Netanyahu afirmou que os EUA “abandonaram seu único amigo no Oriente Médio”.

No Twitter, o presidente eleito dos EUA se limitou a afirmar que, a partir de sua posse, “as coisas vão ser diferentes” na ONU.

Resposta de Israel
O governo de Israel reagiu duramente à decisão do Conselho de Segurança e assegurou que não vai cumprir a ordem. “Israel condena essa resolução da ONU, vergonhosa e anti-israelense, e não irá cumprir seus termos”, afirmou Netanyahu em um comunicado no qual ataca Obama diretamente.

“Em um momento no qual o Conselho de Segurança não faz nada para conter o massacre de meio milhão de pessoas na Síria, ataca vergonhosamente a única verdadeira democracia do Oriente Médio, Israel”, afirma a nota divulgada por Netanyahu. “O governo Obama não só fracassou era proteger Israel contra essa conspiração na ONU, mas confabulou com ela em segredo. Desejamos trabalhar com o presidente eleito (Donald) Trump e com todos nossos amigos no Congresso, tanto republicanos como democratas, para anular os perniciosos efeitos dessa absurda resolução”, completou.

Fonte: Reuters 

Premier e presidente de Israel reagem à resolução da ONU contra assentamentos

Netanyahu chama decisão de 'tendenciosa e vergonhosa' e diz que cortará financiamento à entidade

[Em inescrupulosa chantagem, Israel tenta sufocar financeiramente a Organização das Nações Unidas.
As decisões da ONU tem que ser cumpridas pelos Estados membros e os que se recusarem a tanto podem até ser expulsos da Organização.]

Depois da decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra a construção de assentamentos na Cisjordânia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu energicamente contra a ONU e os Estados Unidos — o principal aliado Histórico de Israel se absteve da votação, e não utilizou o poder de veto, que favoreceria a continuação da política de colonização de Tel Aviv. Netanyahu afirmou que a resolução é “um golpe anti-israelense, desonesto e vergonhoso” do qual há que se colocar a culpa “no governo (Barack) Obama”, explicou, em referência ao presidente americano. E que vai cessar todos os financiamentos que faz à ONU. — A decisão que foi tomada é tendenciosa e vergonhosa, mas superaremos. Isso precisará de tempo, mas essa decisão será anulada — afirmou Netanyahu numa cerimônia em celebração à festa judaica Hanukkah, que foi transmitida pela TV israelense.

“Vergonhosa” foi a palavra mais repetida pelo premier durante seu discurso.
— A decisão não só não ajuda a fazer a paz, mas também impede a paz — ressaltou Netanyahu em relação às negociações com palestinos.

A resolução, aprovada por 14 dos 15 membros com direito a voto do Conselho de Segurança, pede que Israel “cesse imediatamente e completamente todos as atividades de assentamentos nos territórios ocupados palestinos, incluindo Jerusalém Oriental” e que os dois povos voltem à mesa de negociações. Segundo o texto, o estabelecimento das colônias “não tem valor legal e constitui uma flagrante violação sob a lei internacional”. A decisão do Conselho de Segurança poderia fazer com que a promotoria do Tribunal Penal Internacional avançasse num exame preliminar para uma investigação sobre os assentamentos.

NEGOCIADOR PALESTINO COMEMORA
Netanyahu disse que deu instruções ao Ministério das Relações Exteriores para que revise em um mês “todos os compromissos de Israel com a ONU, incluindo o financiamento por parte de Israel de organismos das Nações Unidas e a presença em Israel de representantes da ONU”.
— Já determinei o bloqueio de 30 milhões de shequels (R$ 25,5 milhões) que eram destinados a cinco instituições da ONU, cinco organismos particularmente hostis a Israel. E ainda farei mais — afirmou o premier.

Já o presidente israelense, Reuven Rivlin, manifestou sua contrariedade contra a votação da ONU pelo Twitter: “Essa decisão vergonhosa não nos aproxima das negociações com os palestinos, mas torna essa perspectiva ainda mais distante.” Em outro post, Rivlin acrescentou: “Jerusalém é a capital eterna de Israel e assim permanecerá. Não existe um organismo internacional com poderes para revogar este estatuto.”

Jerusalém é considerada cidade sagrada tanto por judeus, quanto por palestinos, que também reivindicam a parte oriental da cidade como capital de um futuro estado palestino. O negociador chefe da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, celebrou a decisão da ONU: — É uma vitória para o direito internacional, uma vitória para a negociação civilizada e uma rejeição total às forças extremistas em Israel.

Ao jornal “Jerusalém Post”, uma fonte diplomática israelense, sem se identificar, foi ácida na crítica aos EUA:  — Este é o último golpe do presidente Obama, um ato que revelou o verdadeiro rosto do governo Obama. Agora, o mundo pode ver o que enfrentamos nos últimos oito anos. [sempre bom lembrar que quando Israel se sente prejudicado por qualquer decisão desfavorável aos seus interesses, encontra um pretexto para revidar bombardeando civis palestinos na Faixa de Gaza.
Fica a pergunta: quando Israel começará a bombardear a Faixa de Gaza, usando modernos aviões contra civis armadas com pedras?]

Fonte: O Globo

terça-feira, 19 de julho de 2016

Fraudador de Cingapura: ' 7 a 1, Brasil x Alemanha, custaria cerca de US$ 15 milhões para acontecer'



Wilson Raj Perumal acaba de lançar, no Brasil, o livro ‘O submundo do futebol’
Hipoteticamente, custaria cerca de US$ 15 milhões para se armar o resultado de uma semifinal de Copa do Mundo em que o país anfitrião — não um país qualquer, mas uma potência no futebol perderia o jogo de 7 a 1. O dinheiro seria usado para pagar jogadores, talvez o árbitro, certamente a comissão técnica. O lucro, contudo, compensaria o investimento e a trabalheira de convencer toda essa gente a participar do esquema.  — Numa situação como a daquele jogo entre Brasil e Alemanha, se alguém tivesse armado o resultado e pudesse colocar US$ 50 milhões para fazer apostas, ganharia facilmente US$ 200 milhões. São pouquíssimas pessoas no mundo que fariam uma aposta desse tamanho, mas elas existem — afirma Wilson Raj Perumal, um cingapuriano que se tornou notável mundo afora por sua habilidade de manipular resultados de jogos de futebol, em entrevista ao GLOBO. — Pode ser feito, sempre há uma possibilidade.

Para Perumal, as possibilidades foram de amistosos desimportantes em Cingapura a jogos nas Olimpíadas de Atlanta (1996) e Pequim (2008). Por seu relato no livro “O submundo do futebol” (lançado agora no Brasil pela editora Astral Cultural), Perumal foi responsável pela classificação de Nigéria e Honduras para a Copa do Mundo da África do Sul (2010), comprando times adversários ou juízes. Ele teria feito, ainda, a Tanzânia perder por cinco gols para o Brasil num amistoso em 2010. E teria participado da armação de um jogo entre Argentina e Bolívia num campeonato sub-20, decidido apenas aos 56 minutos do segundo tempo com um pênalti duvidoso a favor dos argentinos.

Tudo isso, explica Perumal, pelo desejo de lucrar o máximo possível com apostas em partidas de futebol. Sua carreira manipulando jogos começou nos anos 1990 na Ásia, passou por África e Américas e seguiu até 2011, quando foi preso na Finlândia tentando expandir o business até a Europa. O livro, escrito em parceria com os jornalistas italianos Emanuele Piano e Alessandro Righi, existe porque ele aceitou colaborar com as autoridades para identificar outros fraudadores. —Enquanto houver sites de aposta, haverá gente tentando manipular os resultados. Não apenas no futebol, mas em qualquer esporte. Acontece no tênis, no vôlei, no vôlei de quadra. Acontece nas Olimpíadas, pode acontecer no Rio de Janeiro. Não é fácil, porque as pessoas têm medo de se envolver nisso num evento tão grande, mas acontece -- diz.

O esquema de Perumal consistia em oferecer dinheiro para jogadores, técnicos, juízes ou dirigentes para garantir o resultado de uma partida, mas com um detalhamento extremamente profissional. Não bastava dizer quem venceria e quem perderia um jogo. As apostas passavam pelo número de gols feitos, pelo tempo de jogo em que o gol seria feito e até por quem daria o pontapé inicial da partida. Se houvesse alguém disposto a apostar, haveria outro tentando manipular.

Trata-se de um negócio ilegal de cifras altíssimas. Perumal conta que só o grupo criminoso para o qual trabalhava levou US$ 1 milhão aos EUA em 1996, para comprar resultados de times africanos na Olimpíada de Atlanta. Na ocasião, eles teriam pago US$ 100 mil a funcionários da delegação da Nigéria, por exemplo, a fim de que o país perdesse por dois gols de diferença para o Brasil na primeira fase -- o jogo, porém, acabou 1 a 0, com gol de Ronaldo, e, mais à frente, os nigerianos eliminaram o Brasil nas semifinais e acabaram campeões diante da Argentina. -- O futebol é muito vulnerável, é fácil você abordar clubes que não têm muito dinheiro. Se você olhar nos sites de apostas, há ofertas de jogos até para a quinta divisão do futebol brasileiro. Um jogador de um time desses fica cinco meses sem receber salário. Aí é só chegar perto e oferecer um dinheiro -- explica o fraudador.

A sofisticação dos negócios de manipulação era tão grande, que Perumal já subornou o responsável pela iluminação do campo: se o resultado desejado não acontecesse, ele mandaria apagar as luzes do estádio para interromper o jogo. Ainda na Olimpíada de 1996, ele lembra ter abordado Jorge Campos, famoso goleiro do México, oferecendo uma quantia em dinheiro para entregar uma partida. Mas foi rechaçado. Já nos Jogos de Pequim, os times femininos foram seus principais alvos. -- Eu sempre gostei de apostar, faço até hoje. Não tenho uma renda fixa mais, mas trabalho dando sugestões para apostadores. Uso minha experiência para analisar os jogos e sugiro resultados. Se eles ganharem, recebo 20% de comissão -- afirma Perumal, que, depois de passar quatro períodos preso, mora hoje na Hungria e garante agir completamente dentro da legalidade. -- Ainda é legal ajudar os outros a apostar, talvez deixe de ser algum dia. Mas a vida seria muito chata se eu não pudesse colocar algum dinheiro pelo resultado de algum esporte.

Perumal diz não ter conhecimento de como os esquemas de manipulação de jogos de futebol funcionam no Brasil hoje, mas não se surpreende com a notícia de que suspeitos por fraudar jogos tenham sido presos em São Paulo, na semana passada. Segundo informações da polícia, a ação criminosa envolveria apostadores de países como Malásia, China e Indonésia.  -- Se você quer fazer muito dinheiro com apostas, então é preciso um contato na Ásia, porque lá não há regulação. Você aposta o quanto quiser, quantas vezes quiser por jogo. Na Europa há limitações e você precisa fornecer muitos detalhes. Na Ásia, não. É assim que se consegue maximizar o lucro -- diz.

Para identificar se um jogo foi ou não manipulado, Perumal explica que se deve observar com a atenção a movimentação nas casas de apostas online. Um volume de apostas muito grande feitas no meio de uma partida pode significar alguma manipulação. Outro fator de suspeita são os comportamentos incomuns de jogadores e juízes. Ele cita como exemplo a final da Copa da França, em 1998, em que o Brasil saiu derrotado pelos franceses por 3 a 0.  

Foi o tão falado jogo em que Ronaldo teve uma convulsão na véspera e quase ficou de fora. -- Olha, eu não tenho evidências, então vou dar minha opinião baseada na minha experiência profissional: o que aconteceu naquela ocasião foi muitíssimo estranho. Acho que havia dirigentes da CBF que poderiam influenciar o resultado daquele jogo junto aos jogadores. Para mim não faz sentido a história do ataque do Ronaldo. Alguma coisa aconteceu ali -- afirma Perumal.

Como são feitas (e manipuladas) as apostas no futebol? GE Explica
Saiba como os fraudadores conseguem movimentar uma cifra trilionária ao redor do mundo, obrigando os dirigentes e as autoridades a tomarem uma série de medidas
Diante de mais um escândalo de manipulação de resultados no futebol, o torcedor brasileiro se vê diante de um assunto complexo e muitas vezes confuso. Como as apostas são muito mais comuns no exterior, não é fácil entender os processos e os termos usados pelos apostadores. Para jogar luz nesse cenário, o GloboEsporte.com preparou um guia com explicações didáticas que ajudam a entender como os fraudadores conseguem alterar placares de partidas nos quatro cantos do mundo, movimentando cifras trilionárias e obrigando os dirigentes e as autoridades a tomarem uma série de medidas preventivas

APOSTAS NO EXTERIOR
Com a atividade do jogo proibida no Brasil, os sites de apostas são implementados em locais nos quais a legislação admite esse serviço, como Londres (Inglaterra), Malta, Gibraltar e Ilhas Virgens. A maioria dos países não possui regulamentação em relação ao acesso aos sites. Portanto, apostadores asiáticos, por exemplo, podem utilizar esses sites para realizar apostas em jogos de várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

A MANIPULAÇÃO
A manipulação ocorre de várias maneiras. Na mais comum, existe um intermediário (ou aliciador), que é a pessoa que age a mando dos grandes manipuladores e se encarrega de cooptar e aliciar atletas, árbitros e treinadores para que colaborem nas fraudes. Esses intermediários costumam ser os responsáveis pelos pagamentos.

PRINCIPAIS CENTROS 
A Ásia concentra a maior parte dos grupos mafiosos que manipulam resultados. Há grupos relevantes, porém, na Rússia e em outras partes do Leste Europeu.

O QUE CONTRIBUI E COMO REPRIMIR?
A combinação ideal para a fraude é: pouca visibilidade das competições, baixos salários, falta de fiscalização preventiva e possibilidade de corrupção de autoridades. Para impedir que o brasileiro invista seu dinheiro nestes sites de apostas que podem manipular resultados basta que o funcionamento destes sites seja proibido no Brasil. É assim que funciona nos Estados Unidos. Lá, os sites não podem ser acessados. O mais importante é que o Brasil regulamente a situação e aperfeiçoe a legislação que criminaliza estas condutas indevidas de apostas.

SIGILO
Não há como garantir que o sistema não será ventilado. No entanto, os manipuladores agem por meio de coação e ameaças. O atleta aliciado é muitas vezes objeto de chantagem, pois sabe que, se o esquema vier à tona, colocará sua carreira em risco. Os aliciadores jogam com essa insegurança.

APOSTAS EM CAMPEONATOS OBSCUROS
As casas de apostas decidem, mas há um volume muito grande de jogos para todos os gostos, porque não há limite de campeonatos. Basta o torneio estar em calendários oficiais para entrar em um site de apostas.

Colaborou: Paulo Schmitt, procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Ler matéria na íntegra: http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2016/07/como-sao-feitas-e-manipuladas-apostas-no-futebol-ge-explica.html

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Governo chinês precisa acatar decisão de Haia

Pequim erra ao não reconhecer decisão do tribunal internacional sobre impasse no Mar do Sul da China, sinalizando a escalada de conflitos na região 

Numa decisão anunciada na terça-feira, a Corte Permanente de Arbitragem, em Haia, considerou ilegal o pleito de soberania do governo chinês sobre o Mar do Sul da China. A decisão é importante, uma vez que a expansão chinesa na região vem gerando conflitos com países vizinhos e potências como os EUA, que questionam a reivindicação territorial de Pequim. 

A iniciativa é vista por especialistas como parte da estratégia do presidente Xi Jinping de tornar a China uma potência mundial. Isto inclui a construção de ilhas artificiais na região para instalar bases militares.  O processo em Haia foi impetrado pelo governo das Filipinas diante da presença ostensiva da Marinha chinesa. Segundo a sentença, Pequim violou a soberania filipina, além de pôr em perigo barcos de pesca e plataformas de prospecção petrolífera do país. 

O tribunal também estabeleceu que a China infringiu leis internacionais ao “causar graves prejuízos ao meio ambiente de recifes de coral” e por não conseguir evitar a devastação por pescadores chineses de espécies em extinção, como tartarugas marinhas, “em grande escala". Esta é a primeira vez que um sistema judicial internacional questiona a China, e a sentença, além de criar jurisprudência, pode estimular outros países da região a levarem suas disputas com Pequim à Haia. Afinal, o Mar do Sul da China também é disputado por Malásia, Vietnã, Brunei, Indonésia e Taiwan. 

Embora a decisão seja importante, a Corte de Arbitragem de Haia não tem como impor o cumprimento da sentença à China, e o governo de Pequim, que se recusou a participar do julgamento, já avisou que vai ignorá-la. A chancelaria divulgou nota afirmando que a “China não aceita ou reconhece” a decisão.


O embaixador chinês em Washington, Cui Tiankai, reagiu afirmando que, com a decisão de Haia, as demandas chinesas sobre a região vão “intensificar os conflitos e até mesmo confrontações”. Além da localização estratégica, o Mar do Sul da China faz parte de uma das principais rotas comerciais de navegação e de pesca, além de potencialmente conter volumosas jazidas de petróleo e gás. 

Analistas dizem que os governos da região temem que a sentença estimule a China a acelerar a ocupação da área sob disputa, conforme alertou o Departamento de Estado americano. Se for este o caso, a previsão do embaixador chinês em Washington se cumprirá. Mas isto seria um grave e perigoso erro. Não se questiona o papel que a China, como potência, exerce atualmente na ordem mundial. Por isso mesmo, espera-se que o presidente Xi atue de acordo com a estatura do país, busque o diálogo e respeite a legislação internacional. Justamente por sua importância e peso, a China não pode agir de forma irresponsável, como se fosse uma Coreia do Norte gigantesca.

Fonte:  O Globo
 


domingo, 21 de fevereiro de 2016

Por que salvar as abelhas

A drástica redução, em todo o mundo, da quantidade desses insetos desperta preocupação porque, além da importância que têm para a biodiversidade, eles são responsáveis pela polinização que garante a existência de quase 40% dos alimentos consumidos por nós — muito mais que o mel, portanto 

As picadas dolorosas e o zunido insistente no ouvido fazem com que, geralmente, as abelhas não sejam lembradas de maneira amistosa - a despeito das delícias do mel. E com uma ressalva fundamental: o mel está longe de ser a grande contribuição das abelhas para a humanidade. Sem elas, metade das gôndolas de alimentos dos supermercados estaria vazia. Por meio da polinização, esses insetos promovem o seu maior impacto na biodiversidade e na produção dos alimentos: 35% das lavouras e 94% das plantas silvestres dependem dessa atividade. A má notícia é que esse, por assim dizer, "serviço ecológico" está em risco diante de um fenômeno batizado de desordem do colapso das colônias. 

De 1940 até hoje, o número de abelhas diminuiu de forma drástica no mundo - nos Estados Unidos, o país mais afetado pelo problema, caiu pela metade. Ainda é misteriosa a razão por trás desse sumiço, apesar de existirem fortes hipóteses. Na segunda-feira 22, a ONU planeja chamar atenção para o assunto com a divulgação, em evento na Malásia, do relatório Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos. O documento, o primeiro fruto do órgão internacional Plataforma Intergovernamental para Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), procura identificar, entre outros pontos, os motivos que levaram à desordem que faz sumir as colônias e as possíveis soluções.

O trabalho é resultado do esforço conjunto de 75 pesquisadores, de diversas nações. VEJA teve acesso a informações presentes no documento. Ele combina o conhecimento acadêmico que se tem sobre as abelhas e os demais animais polinizadores (como outros insetos, aves e morcegos) e suas contribuições, traz exemplos de boas práticas para a proteção das espécies e propõe soluções para a situação adversa - como a adoção de políticas ambientalistas. "É um tópico de enorme importância política, visto que o desaparecimento das colônias pode afetar negativamente a economia, além da dieta de cidadãos, de um país", ressalta a bióloga Vera Lúcia Fonseca, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e diretora do IPBES, o órgão da ONU. "Antes de tudo, o relatório procura conscientizar a todos da importância dos polinizadores, além de promover a união de governos para protegê-los", completa Vera.

Não é por acaso que a pesquisadora faz referência aos danos econômicos potenciais da desordem. Estima-se que um mercado de 218 bilhões de dólares anuais depende do serviço de polinização prestado pelas abelhas. Os Estados Unidos, o maior exportador agrícola do mundo, perderiam 15 bilhões de dólares por ano com a intensificação do problema - no Brasil, o prejuízo seria de 12 bilhões de dólares. Isso explica por que, em junho de 2014, o presidente americano Barack Obama transformou o alarme em questão de Estado, ao anunciar a criação de uma força-tarefa, composta de cientistas e políticos, para ir atrás de respostas.

Os estudiosos ainda investigam qual seria a raiz do problema. Acredita-se que sejam dois os principais fatores: a disseminação do uso de pesticidas, que enfraquecem as colônias, e a ação de parasitas, como o varroa, ácaro que ataca o organismo do animal, e o Acarapis woodi, que afeta o sistema respiratório. Entretanto, há consenso de que não existe apenas uma razão (ou duas), e sim um somatório que acabou por construir um cenário cruel para os insetos. As abelhas estão perdendo seu hábitat quando florestas e jardins dão lugar a construções ou mesmo a plantações de uma única cultura - a espécie necessita de alimentação variada para sobreviver. As intensas mudanças climáticas pelas quais passa a Terra, em consequência do aumento da emissão de gases do efeito estufa pelo homem, também colaboram para o desaparecimento dos insetos. As estações menos definidas, além das elevações e quedas bruscas na temperatura e na umidade, acabam por bagunçar o ciclo de florescimento das flores, das quais as abelhas são dependentes.

Os Estados Unidos são tidos como o país que mais vem se movimentando para combater o ritmo da desordem. O comitê criado por Obama apresentou no ano passado o documento Estratégia Nacional para Promover a Saúde das Abelhas e Outros Polinizadores. Nele, estabeleceu-se como meta reduzir a baixa de abelhas durante o inverno a no máximo 15% em dez anos - hoje, a taxa é de 23%. Nas últimas décadas, após o inverno, as colônias não têm conseguido recuperar-se desses períodos de perda. Caso a diminuição das colônias seja menor nas estações de frio, o efeito esperado é que elas consigam se restabelecer na primavera e no verão. Também se planeja aumentar a presença de outros polinizadores, como a borboleta-monarca. O governo americano calcula que haja atualmente 30 milhões de exemplares dessa espécie colorida na América do Norte, diante dos 970 milhões que existiam em 1996. O que se espera é reverter a queda, alcançando ao menos o número de 225 milhões. Entre as estratégias para proteger os polinizadores está, por exemplo, a restauração de 28 000 quilômetros quadrados (o equivalente ao território do Havaí) de seus hábitats nos próximos cinco anos.

Por que o lado ocidental do Hemisfério Norte tem sido mais prejudicado que o restante do planeta? O motivo é a dependência das plantações americanas e europeias de apenas um tipo de abelha, a Apis mellifera. Importada da África e da Ásia para a polinização de plantações comerciais, a espécie ganhou a preferência de apicultores por não ser agressiva e manter colônias enormes e resistentes. Agora, porém, ela é a maior vítima da amedrontadora desordem.

Na França, por exemplo, 100 000 colônias de Apis mellifera foram perdidas desde 1995, e a taxa de mortalidade das abelhas triplicou. Diante disso, Paris é uma das cidades que mais têm adotado medidas conservacionistas. Em junho do ano passado, o município assinou o protocolo Abelha: a Sentinela do Meio Ambiente. Nele, a capital francesa se comprometeu a proibir a venda de uma série de pesticidas, além de ampliar o apoio à apicultura. Até 2020, planeja-se o plantio de 20 000 árvores em jardins parisienses, além de 300 000 novos metros quadrados de espaços verdes - em torno de um quinto da dimensão do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Paris ainda é o centro urbano com a maior presença de criadouros de abelhas da Europa, com um total de 600, ocupando uma área de 4,6 quilômetros quadrados - parte deles instalada em tetos de edifícios e casas.

Há indícios de que a redução no número de abelhas esteja se repetindo, em ritmo acelerado, em outros locais, incluindo países pobres. No entanto, muitas vezes os dados coletados não são suficientes para corroborar a tese. É o caso do Brasil, que não conta com um histórico do número de abelhas em território nacional, de forma que os pesquisadores não têm como comparar o número atual com os anteriores. Assim, ficam sem saber se a redução é alarmante por aqui. "Mas há sinais de que também sofremos do mesmo mal", afirma a bióloga Tereza Cristina Giannini, do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável. "Em pesquisas de campo, descobrimos que existem regiões nas quais as plantações apresentam déficit de polinização, refletido na baixa produção de frutas, flores e alimentos", relata Tereza.

A favor do Brasil, contudo, pesa um ponto que nos deixa em posição de vantagem ante a desordem. O país não é dependente de apenas uma espécie, como ocorre com os Estados Unidos e a Europa. Uma pesquisa da revista científica Apidologie, especializada em apicultura, estima a existência de pelo menos 250 tipos de polinizadores em todo o território brasileiro, dos quais 87% são de abelhas.

Por que, então, mundo afora, apesar da essencialidade desses insetos para o equilíbrio do meio ambiente, as campanhas de proteção a eles não recebem tanta atenção quanto as destinadas aos ursos-polares ou aos elefantes-africanos, por exemplo? Explicou a VEJA a bióloga americana Heather Mattila, do Wellesley College: "O modo de funcionar do nosso sentimento de empatia está no centro desse dilema. Sentimo-nos próximos de animais parecidos conosco, grandes mamíferos que vivem em grupos e interagem socialmente. Devíamos, porém, olhar direito para as abelhas. Elas trabalham duro para alimentar suas crias, organizam-se em colônias e até se preocupam com a higiene e a segurança de suas casas. Não devia ser tão difícil para o homem identificar-se com esses elementos". 

O.k., se o fator da empatia não funcionar com as abelhas, lembre-se então de quanto elas são fundamentais para garantir a existência de grande parte dos alimentos que chegam à nossa mesa. Perto disso, um zumbido chato não é nada.

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domingo, 22 de novembro de 2015

O mundo encolheu


À parte as vítimas e os estragos que espalha pelo caminho, o terrorismo produz uma mensagem


Bamako não tem Torre Eiffel nem Louvre, Arco do Triunfo ou Praça da Bastilha. As luzes que funcionam na capital do Mali em nada evocam a joie de vivre associada à antiga metrópole. Um dos cartões-postais da cidade africana é um massudo Monumento da Paz — horrendo arco branco estilizado em forma de duas mãos que seguram um globo terrestre.

Na manhã desta sexta feira, uma semana após os atentados múltiplos em Paris, a enorme pomba branca que encima o monumento turístico de Bamako voltou a falhar. Com a irrupção armada de terroristas no hotel cosmopolita Radisson Blu de Bamako, o mundo pareceu ter encolhido ainda mais. Fossem outros os tempos, é possível, senão provável, que esse último atentado ficasse relegado ao noticiário menos nobre. Com pouco mais de cem mil visitantes estrangeiros por ano, o Mali tem presença quase clandestina em folhetos turísticos populares, enquanto a França, campeoníssima mundial no quesito, registra quase 85 milhões de visitantes/ano.

Apesar de já ter sido berço orgulhoso de uma civilização antiga, o Mali e suas 26 etnias foram tantas vezes atacados, conquistados, abandonados e reconquistados que incautos costumam passar ao largo. O último grande solavanco ocorrera em 2013, quando rebeldes tuaregues e radicais islâmicos afiliados à al-Qaeda assumiram o controle da metade norte do país. Batizaram de Azaad o território conquistado, declararam-no Estado independente e impuseram obediência absoluta à lei da sharia, banindo da vida a música, a televisão e outras infidelidades ocidentais. Só não estabeleceram o primeiro poder terrorista no coração da África porque o governo de Bamako pediu ajuda a Paris, e tropas francesas enxotaram os rebeldes.

Enxotaram, porém não eliminaram, e a revanche ficou na incubadora — é vasto o vivedouro de bandidagem, terrorismo e tráfico de armas em que se transformou a região do Sahel desde a derrubada do ditador líbio Muamar Kadafi. A mera listagem dos grupos terroristas em atividade na região e dos subgrupos com capacidade operacional e lideranças conhecidas ocuparia parte deste espaço. Ademais, as filiações dessa miríade de células com organizações de porte como o Estado Islâmico (EI), al-Qaeda ou Boko Haram são cambiantes. Daí ser temerário apontar desde já uma lógica entre os atentados dos últimos dias.

Para os serviços de inteligência mundiais, ainda mais arriscado é distinguir bazófia de perigo real nas recentes ameaças terroristas disseminadas nas redes sociais. O poder do terror reside justamente nisso: fazer crer que ele é capaz do impossível. Como já se escreveu aqui em ocasião anterior, ao contrário de outros “ismos” como marxismo, budismo ou nacionalismo, o terrorismo não está atrelado a um corpo de crenças ou sistema de ideias. Definido como ato de violência organizada contra civis, cabe a pergunta paralela: ele é da família dos meios ou dos fins?

Para o pesquisador francês François-Bernard Huyghe, o terrorismo é a exceção e o exemplo. À parte as vítimas e os estragos que espalha pelo caminho, o terrorismo produz uma mensagem. É a propaganda através do ato, ou a pedagogia através do assassinato. No fundo, a bomba caseira que explodiu na ruela medieval por onde passava Napoleão no Natal de 1800 tinha elementos semelhantes aos de um atentado de hoje numa rua de Paris ou Bamako. A diferença abissal é que lá atrás não havia mídia. Hoje há mídia social. E como já prenunciara Marshall McLuhan, o guru fashion dos anos 60, depois de acompanhar a primeira cobertura mundial de um atentado (o massacre de atletas israelenses nos Jogos de Munique em 1972), “o satélite vai espalhar a paranoia terrorista mundo afora e aperfeiçoar os atos de violência”.

Desde o atentado às Torres Gêmeas em 2001, a paranoia está instalada. Deixou de ser paranoia. É pânico, medo. “Temos medo de entrar num avião. Temos medo de determinados países. Determinadas religiões. Temos medo de navios cargueiros, cartas e pacotes, comidas importadas. No fundo, temos medo de tudo que está à nossa volta”, já constatara tempos atrás o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir bin Mohamad.

Hoje, por força da situação de alto risco, governos colaboram involuntariamente com o terror ao fabricarem o medo preventivo. A fronteira entre criar pânico e proteger a população é crítica e complexa. Em 2003, o Ministério do Interior britânico teve de recolher às pressas um documento de 35 páginas, meia hora após sua distribuição, pois o alerta falava em agentes da al-Qaeda se infiltrando em cidades da Inglaterra através de botes e trens, com armas nucleares caseiras e gás venenoso. Outro documento divulgado pelo governo da época mencionava planos terroristas de ataque aéreo contra o Castelo de Windsor, da rainha da Inglaterra. Nos Estados Unidos, o ar de túneis e galerias de metrô já chegou a ser testado para detectar eventual contaminação. O leite e alimentos frescos, também.

A irlandesa Louise Richardson, ex- professora de Harvard e recém-indicada vice-presidente da Universidade de Oxford, deu uma contribuição relevante ao debate com o estudo “O que querem os terroristas: compreendendo o inimigo, contendo a ameaça”, publicado em 2006. Rejeitando a noção generalizada de que “compreender e explicar o terrorismo significa simpatizar com sua causa”, ela trabalhou em cima de um leque de características que atribui ao terrorismo. Algumas delas:
— ter inspiração política e visar à população civil;
— ter por imperativo a violência física (o ciberterrorismo seria apenas acessório);
— suas vítimas não serem as mesmas que a audiência pretendida;
— ter por propósito a disseminação da mensagem, não a derrota do inimigo;
— terroristas são mais fracos do que seus inimigos, por isso recorrem ao terror;
— exceções à parte, atentados são praticados por grupos, não por estados.

Até hoje um dos paradoxos clássicos do terror consistia em proliferar em todos os cantos, não triunfar em lugar algum e renascer sempre. Nem mesmo a autoproclamação física e territorial do Estado Islâmico e seu corolário de matanças em escala planetária altera esse paradoxo. Apenas o exacerbam.

Como ficou patente no atentado de Bamako, é mais fácil enxotar terroristas de um território conquistado do que eliminar suas raízes.

Por: Dorrit Harazim,  jornalista - O Globo