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terça-feira, 13 de junho de 2023

Assassinos, estupradores e pedófilos em liberdade - Joice Maffezzolli

Revista Oeste [Cortesia]

Determinação do CNJ pode deixar doentes mentais criminosos abandonados à própria sorte

Foto: Shutterstock

Estação de metrô Sé, uma das mais movimentadas da capital paulista. Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014, por volta das 7 horas. Um homem olhava atentamente os usuários esperando o próximo trem na plataforma de embarque. Quando a composição chegou, ele furtivamente se aproximou de uma desconhecida e a empurrou sobre os trilhos. Na queda, Maria da Conceição de Oliveira, de 27 anos, perdeu o braço e, por sorte, sobreviveu.
Segundo testemunhas, o homem saiu “correndo e sorrindo”. Naquele momento, Eduardo Rodrigues da Silva Camargo, 36 anos, estava feliz. Ele havia atendido ao pedido de uma voz em sua mente que dizia: “Você tem que matar alguém hoje”.

Eduardo tem esquizofrenia, o mesmo diagnóstico da mãe, e, antes de ser preso, teve nove registros de agressão, quatro deles no metrô. 
Hoje, está internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) Professor André Teixeira de Lima, em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, uma das três unidades de custódia do Estado. Em maio de 2024, Eduardo pode estar novamente nas ruas, caso se concretize a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que determina o fechamento de todos os 28 hospitais do tipo existentes no país. [DÚVIDA ATROZ - perguntar, não ofende: o CNJ é o supremo do Supremo? ou o Legislativo SUPREMO? AFINAL, o CNJ interfere nas mais diversas áreas e todos cumprem o que manda - de forma mais submissa do que quando a decisão emana da Suprema Corte.]HCTP Professor André Teixeira de Lima, fundado em 1933 | Foto: Reprodução Internet

Ao lado do Parque Estadual do Juquery, numa área cercada por verde, o hospital se divide em oito pavilhões, com dormitórios, refeitório, enfermaria e área de lazer. Os leitos de emergência estão vazios, os pacientes estão ocupados com outros afazeres.

(...)

Em abril deste ano, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou, por meio da Resolução 487/2023, o fechamento das 28 unidades de custódia no Brasil até maio de 2024. As instituições abrigam mais de 4.600 doentes mentais, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen)

(...)

O aposentado Luciano Gomes da Silva, de 57 anos, conhecido como “Zé Marreta”, foi posto em liberdade depois de ficar 18 anos no HCTP de Franco da Rocha por ter matado a noiva, em 1993. Na época da prisão, testes indicaram em Luciano “deficiência mental, consistente em esquizofrenia paranoide, doença congênita, permanente e irreversível”. Em 2018, contudo, sua pena foi extinta por decisão judicial. Solto, ele voltou a atacar. Em 2021, Luciano matou a marretadas a auxiliar de limpeza Roseli Dias Bispo, de 46 anos, dentro de um dos trens da Linha 1-Azul do Metrô de São Paulo. 

Segundo os seguranças que o detiveram, Luciano alegou ter ouvido “vozes” e achou que a auxiliar de limpeza, que ia para o trabalho, o havia chamado de “mulher ou gay”. Em liberdade, Zé Marreta deveria ter sido amparado pela Rede de Atenção Psicossocial (Raps) ou pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps), órgãos indicados na resolução do CNJ para acompanhar os doentes mentais criminosos que forem soltos.

“Esses órgãos não vão ficar 24 horas por dia com o paciente para saber se ele está tomando a medicação, diferentemente das casas de custódia, onde o medicamento é vigiado pelo profissional para não correr o risco de o interno jogá-lo fora”, afirma Calvo. “Se o Caps e o Raps tivessem capacidade, isso não teria acontecido.”

Outro caso bastante conhecido é o de Francisco da Costa Rocha, o Chico Picadinho, agora com 81 anos, condenado por matar e esquartejar duas mulheres. 
O primeiro assassinato foi em 1966, aos 24 anos, no centro de São Paulo. A vítima foi a bailarina austríaca Margareth Suida, de 38 anos, que fazia programas. 
Depois de uma noite de muita bebida, drogas e sexo, ele se tornou violento e a estrangulou, primeiro com a mão e, depois, com o cinto. Para se livrar do corpo, Chico Picadinho esquartejou a mulher e a colocou em uma sacola. 

Dez anos depois do crime, liberado por bom comportamento, voltou a estuprar, matar e estrangular outra mulher. A cena se repetiu em 1976 com a prostituta Ângela Silva, conhecida como “Moça da Peruca”, 34. Depois de espancá-la e estrangulá-la, ele a esquartejou e tentou jogar os pedaços do corpo pelo vaso sanitário. Picadinho fugiu para o Rio de Janeiro e foi preso 28 dias depois. 

(...) 

É comum, no momento da prisão, o suspeito dizer que não é responsável por seus atos, porque é usuário de drogas ou tem transtorno mental, mas o psiquiatra tem a capacidade de identificar cada caso. “É muito complexo”, afirma Palomba. “Juízes e psicólogos não têm noção, mas o psiquiatra sabe. Quando a pessoa pode ficar internada dois meses só para medicação, por exemplo, a gente indica um hospital comum. Quando é crônico, não tem respaldo familiar ou social e não adere à medicação, indica-se uma internação mais prolongada.”

A média de tempo de permanência dos pacientes no HCTP de Franco da Rocha é de três anos. Quando saem, o hospital aciona a Raps ou o Caps e faz acompanhamento fora dos muros por seis meses. No período de internação, além do tratamento clínico e psiquiátrico, os internos têm assistência odontológica e complementar, com núcleo de educação, recreação e terapia ocupacional. Os detentos ainda trabalham no ateliê de costura, em reforma de móveis escolares, conservação e jardinagem.

Entidades médicas contra o fim

A resolução do CNJ regulamenta a Lei Antimanicomial (2001), que já previa o atendimento desses pacientes na rede pública de saúde, como Raps e Caps. Mas é preciso entender que há uma diferença entre o doente mental e o doente mental criminoso. O primeiro pode conviver com a família, em sociedade e ser tratado. O segundo precisa de internação por tempo indeterminado.

Guido Palomba explica que a maioria dos doentes mentais não é portadora de periculosidade. “Estamos falando de uma minoria, da mesma forma que a maioria das pessoas não é criminosa”, garante. “Essa turma acaba estigmatizando o doente.”

Enquanto associações de psiquiatria e de direitos humanos defendem a aplicação da política antimanicomial, até como forma de pôr em prática o que hoje diz a lei, entidades médicas lançaram uma nota contra a resolução. Um texto assinado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a Associação Médica Brasileira (AMB), a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e a Federação Médica Brasileira (FMB) diz que a medida não foi debatida com médicos e que haveria risco para a segurança pública.

“O sistema público de saúde e o sistema prisional comum não estão preparados para receber todas essas pessoas, por isso haverá abandono do tratamento médico, aumento da violência, aumento de criminosos com doenças mentais em prisões comuns, recidiva criminal, dentre outros prejuízos sociais”, informa a nota.

“É uma irresponsabilidade acabar com a instituição de custódia que está habituada com o paciente que comete crimes, que é muito diferente da psiquiatria comum”, afirma Paulo Sérgio Calvo. “Tanto as terapêuticas quanto o tratamento são diferentes.”

(...)


Champinha: o caso do criminoso não se enquadra na resolução do CNJ
Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, é autor de um dos crimes mais aterradores já cometidos no Brasil. Aos 16 anos, ele torturou e matou o casal de namorados Liana Friedenbach, de 16 anos, e Felipe Caffé, de 19, em Embu-Guaçu, na Região Metropolitana de São Paulo. 
Champinha | Foto: Reprodução

Era novembro de 2003. Liana e Felipe planejavam passar o fim de semana acampados perto de um sítio abandonado em Embu-Guaçu quando foram surpreendidos por Champinha e Paulo César da Silva Alves, o Pernambuco. Quando a dupla de criminosos percebeu que os adolescentes tinham pouco dinheiro, resolveram sequestrar Liana e Felipe. 

Os quatro foram para a casa de Antônio Matias de Barros, outro comparsa, que serviu de primeiro cativeiro para o crime. Na primeira noite, Liana foi violentada sexualmente por Pernambuco, enquanto Felipe permanecia no quarto ao lado. No dia seguinte, Pernambuco percebeu que Felipe não seria útil e o matou com um tiro na nuca. O corpo foi abandonado na mata e o criminoso fugiu para São Paulo.

Liana foi levada para a casa de outro comparsa, Antônio Caetano da Silva. No primeiro dia, Champinha a estuprou e, nos dias seguintes, o estupro passou a ser coletivo, com a participação de Antônio Caetano da Silva e Aguinaldo Pires.

Na madrugada do dia 5 de novembro, Champinha levou a vítima para o mesmo matagal em que Felipe havia sido morto. Ele tentou degolá-la e, ao falhar, desferiu golpes de faca nas costas e no tórax. Liana morreu de traumatismo craniano, quando Champinha golpeou sua cabeça com o lado cego da faca. Os corpos das vítimas foram encontrados cinco dias depois. Os assassinos foram localizados e presos em 10 de novembro.

Felipe Silva Caffé e a namorada, Liana Friedenbach | Foto: Reprodução
Aguinaldo Pires foi condenado a 47 anos e três meses de reclusão por estupro. 
Antônio Caetano da Silva recebeu 124 anos de reclusão por diversos estupros, e Antônio Matias de Barros foi sentenciado a seis anos de prisão e um ano, nove meses e 15 dias de detenção por cárcere privado, favorecimento pessoal, ajuda à fuga dos outros acusados e ocultação da arma do crime. 
Pernambuco pegou 110 anos e 18 dias por homicídio qualificado, sequestro, estupro e cárcere privado. 

Mesmo sendo menor de idade, Champinha era o líder do bando. Ele foi condenado a três anos na Fundação Casa. Ao completar 21 anos, no entanto, o Ministério Público requereu sua interdição civil depois que um laudo psiquiátrico apontou que ele tem doenças mentais graves, como transtorno de personalidade antissocial e leve retardo mental, sendo que pode apresentar risco à sociedade. 

ÍNTEGRA DA MATÉRIA - Revista Oeste


Leia também “Perversidade jornalística”

 

Joice Maffezzolli, colunista - Revista Oeste 

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

EDUCAÇÃO? A GENTE VÊ DEPOIS - Percival Puggina

São assustadores os primeiros relatos sobre a situação dos estudantes brasileiros após o período em que as escolas estiveram fechadas por determinações sanitárias. 
Fique em casa que a Educação a gente vê depois. 
Agora, também em sala de aula, o depois chegou. 
Os professores falam em regressão das habilidades e conhecimentos. 
Os alunos não só ficaram sem adicionar formação, mas perderam parte do anteriormente adquirido.

Famílias empobreceram, porque a economia a gente vê depois. Muitas se enlutaram, ambientes familiares se danificaram, crianças e adolescentes perderam o rumo, ficaram dois anos sem convívio, sem ocupação e tudo se agravou pela interrupção da rotina escolar. Professores alegam temer o retorno e se sentem inseguros. Outros se habituaram ao contracheque sem trabalho, pois até que não era tão ruim o velho normal do fique em casa.

Infelizmente, isso não aconteceu num país em que as coisas iam bem, mas num gigante populacional ainda mais empobrecido. No Censo Escolar de 2020, o Inep contou 47,3 milhões de matrículas no nível básico (ensino fundamental e médio). Essa população escolar é superior à população total da Argentina, da Espanha, e de outros 168 países.

Vou poupar o leitor das avaliações qualitativas da  nossa Educação. Sim, a má avaliação não é dos estudantes; é do ensino proporcionado à nossa juventude.  Lembrarei apenas que, segundo a OCDE e dados do Pisa 2018, um nível considerado básico de proficiência em leitura já não era alcançado por 50% dos alunos, em Ciências, por 55% e em Matemática, por 68%!

As questões que se colocam são as seguintes: 
a) por que tem tão má qualidade a educação em nosso país? 
b) para que futuro aponta a continuidade dessa situação? 
c) que nação será o Brasil quando essa geração de estudantes responder pela geração da renda nacional?

Não hesito em afirmar que a estatização de 82% do ensino básico, a “democratização” e a eleição das direções das escolas, a sindicalização dos servidores públicos, o excesso de liberdade e autonomia concedida aos professores, o descaso de pais em relação à vida escolar dos filhos, a dificuldade que os pais participativos enfrentam para atuar nas escolas e a repulsa ao mérito recompensado têm culpa nesse cartório.

Alguém perguntará? E a ideologização do ensino, a “história crítica” e o desamor à pátria, a visão freireana da educação como atividade política, nada têm a ver com cenário descrito?

Bem, aí entramos no terreno da esquizofrenia e do “suicídio” coletivos, como costuma acontecer nas radicalizações políticas e nas ações revolucionárias. Centenas de milhares de professores brasileiros, militantes de causas ideológicas, deveriam interrogar-se: “Quem vai pagar minha aposentadoria?”. Talvez passassem a olhar para seus alunos e para sua própria profissão com outros olhos.

Ou talvez pensem: “Bem, isso a gente vê depois”...

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Maricas, covardes, picaretas - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro faz escola e até desembargador e enfermeira aderem ao baile funk na pandemia

O presidente Jair Bolsonaro cai nas pesquisas pelo negacionismo diante da pandemia e do desdém pelas vacinas. A Procuradoria-Geral da República pede e o Supremo autoriza a investigação do general da ativa Eduardo Pazuello pela falta de oxigênio e as mortes em Manaus. O deputado Rodrigo Maia aproveita sua última semana na presidência da Câmara para dizer que não há dúvida de que Pazuello cometeu crime e defender a criação da CPI da Saúde.
[O parágrafo das inverdades: a primeira frase do parágrafo expressa uma mentira e a articulista sabe que a queda do capitão foi motivada por oscilações típicas da pandemia e a maximização da existência do que,  na prática, não existe: a vacina do Doria.
Mas a 'mãe' de todas as mentiras, consubstanciada quando quem se furtou a tomar medidas e agora caminha de forma inexorável para o ostracismo, se manifesta favorável a que seja adotado o que se omitiu.]  

Falta, porém, responsabilizar autoridades e cidadãos que negam a pandemia, fazem campanha contra o isolamento social e a própria vacina, que são as únicas armas para salvar vidas, conter o vírus, aliviar a pressão sobre o sistema de saúde e, assim, normalizar a economia e o próprio País. Eles também têm culpa.

São magistrados, parlamentares, empresários e irresponsáveis em geral, até da área de saúde, movidos pelo negacionismo, a ideologia irracional, a falta de respeito e empatia com os quase 220 mil brasileiros mortos. Esse mau exemplo, que começa com o presidente da República e decanta pelos seguidores da sua seita, induz jovens, idosos, homens e mulheres a relaxar os cuidados na pior hora. Tome baile funk nas periferias! E barzinho cheio dos bairros chiques! [é presidente Bolsonaro: o senhor agora é responsável pelos bailes funk nas periferias e por barzinhos cheios nos bairros chiques = a estupidez dos 'inimigos do Brasil = inimigos do Bolsonaro. A falta de argumentos sólidos = ilícitos cometidos pelo presidente Bolsonaro, e claro provados  - valem argumentos imaginados.]

Ao assumir ontem a presidência do Tribunal de Justiça (TJ) de Mato Grosso do Sul, o desembargador Carlos Eduardo Contar pediu “o fim da esquizofrenia e palhaçada midiática fúnebre” e propôs que “desprezemos o irresponsável, o covarde e picareta da ocasião que afirma “fiquem em casa’”. Para Bolsonaro, o cidadão que se cuida e cuida do outro na pandemia é “maricas”. Para Contar, é “irresponsável, covarde e picareta”.

O desembargador não pronunciou uma palavra sobre os escândalos do Judiciário, onde pululam “penduricalhos”, enquanto milhões de brasileiros estão sem emprego, renda, até comida. Reportagem de Patrik Camporez, do Estadão, informa que ali do lado, em Mato Grosso, os 29 magistrados do TJ receberam, em média, R$ 262,8 mil em dezembro. Contar preferiu reclamar das “restrições orçamentárias” e o “exaurimento da capacidade humana” da corporação.

Pôs-se a criticar aqueles que creem na ciência, nas entidades de saúde, nas recomendações médicas como “rebanho indo para o matadouro”. E a atacar “a histeria coletiva, a mentira global, a exploração política, o louvor ao morticínio, a inadmissível violação dos direitos e garantias individuais, o combate leviano e indiscriminado a medicamentos”. A pandemia é uma “mentira global”?! Quem ele está papagaiando?

Isso lembra a comemoração de parlamentares bolsonaristas quando o governador do Amazonas, Wilson Lima, cedeu à pressão e recuou do lockdown. Mas, depois, não escreveram uma só linha sobre o resultado macabro: falta de UTI e oxigênio, pacientes morrendo asfixiados e transportados para outros estados às pressas. Nem o sistema funerário resistiu ao caos, que está sendo exportado para o Pará e Rondônia.Se o isolamento social tivesse sido levado a sério pelo presidente e todos os governadores, o Brasil não precisaria ter afundado tão dramaticamente em mortes e contaminações. [países que já em março de 2020 adotaram o lockdown, hoje são campeões na letalidade por habitantes = a Bélgica tem o maior índice de letalidade por milhão de habitantes - e realizou o primeiro lockdown em março 2020.]  E a dúvida, agora, é quanto às vacinas. A quantidade, a logística, a seriedade e o exemplo de cima – particularmente de Bolsonaro –, vão definir a luz no fim do túnel.

Por isso, dói na alma a enfermeira Nathanna Ceschim, do Espírito Santo, divulgar vídeos sem máscara no hospital e desdenhando: “Não acredito na vacina (...). Tomei foi água”. E por que tomou? Para se cuidar, preservar seus pacientes, pais, avós e amigos e em respeito aos colegas do Brasil inteiro que se arriscam para salvar vidas? Não. “A intenção era só viajar...” Com presidente, desembargador, parlamentares e gente assim, é difícil ser otimista.

Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 29 de março de 2019

Toffoli alerta Guedes sobre judicialização de reformas e fala em 'apaziguar' atritos

Presidente do Supremo Tribunal Federal participou de evento na FGV, em São Paulo, nesta sexta-feira

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, disse que alertou o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o risco de reformas constitucionais aumentarem a possibilidade de conflitos judiciais. Ele participou de evento na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, na manhã desta sexta-feira, 29.
"Eu disse a ele (Guedes) que toda reforma constitucional aumenta potencialmente os conflitos porque você coloca mais texto na Constituição. Quanto mais texto na Constituição, mais norma no caso concreto vai ser exigida e quem edita a norma no caso concreto é a Justiça", discursou Toffoli.  
 
"A culpa é da Justiça ou da sociedade? Temos que refletir sobre isso", complementou.
Toffoli defendeu ainda uma reforma tributária que simplifique o sistema e "tire da Constituição quase tudo" para evitar a judicialização. 
De acordo com ele, há 1 trilhão de processos sobre tributação pendentes no Judiciário, quadro que ele classificou como "esquizofrenia". "Eu disse para o Paulo Guedes: como é que vocês vão explicar isso para um investidor?" 

Pacificação
Ao falar sobre integração entre os Poderes, Toffoli comentou indiretamente episódios de atritos. "Nas últimas três, quatro semanas, como é público e notório, passamos muito tempo atuando para apaziguar as coisas. Felizmente, parece que agora as coisas vão andar no bom caminho", afirmou.

O Estado de S. Paulo

 

 

domingo, 25 de junho de 2017

Maconha e legalização: antes de falar asneiras, se informe

Se você fumou maconha (ou queimou, cheirou, injetou), por favor, leia este texto.
Mas não pegue no volante, porque a erva está relacionada ao aumento do número de colisões fatais, com o dobro de chances de acontecerem. No estado do Colorado, EUA, onde a droga é liberada, os acidentes aumentaram 100% de 2007 a 2012, segundo um estudo feito pelo diretor do Instituto de Política de Drogas e professor-assistente no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Flórida. Também em Washington, mais do que dobraram os acidentes de trânsito fatais provocados por maconheiros depois que a droga foi legalizada, saltando de 8% em 2013 para 17% em 2014. Não obstante, o limite máximo de Tetra-hidrocanabinol (THC) estabelecido para se dirigir com segurança é extremamente arbitrário e mais difícil de ser mensurado do que o definido para o álcool. 

Pelo menos é o que afirmam o British Medical Journal e a AAA Foundation for Traffic Safety.
O que é tetra-hidrocanabinol (THC)?
THC é o principal componente ativo da maconha que tem mecanismo semelhante ao de uma substância produzida no organismo, chamada Anandamida. Ambas ativam receptores canabinóides tipo 1 (CB1) no cérebro, gerando, entre outros processos, um aumento na liberação de dopamina em algumas regiões cerebrais. Contudo, ao contrário da Anandamida, o THC leva de 5 a 8 dias para ser expelido totalmente do sangue, sendo algumas vezes mais potente. O problema, então, é que níveis elevados de dopamina alteram a atividade cerebral, levando a alucinações, delírios, acessos de ira e pânico e à diminuição da percepção de tempo e espaço, alguns dos sintomas típicos da esquizofrenia e do transtorno afetivo bipolar.


Esquizofrênicos ouvem vozes que incitam o suicídio, ficam sem expressão afetiva, têm visões horripilantes. 
Pessoas com transtorno bipolar alternam entre períodos intensos de depressão e euforia. E a maconha aumenta exponencialmente o risco de se desenvolver ambos os transtornos na fase que vai da adolescência aos 35 anos, segundo estudo da American Medical Association, maior organização americana de médicos e de estudantes de medicina. O estudo chama-se Cannabis Use and Earlier Onset of Psychosis. E também há outro, da mesma associação, cujo título é Neuropsychological Permormance in a Long-term Cannabis Users.

O THC vicia?
Sim.
Segundo alguns estudos, dentre eles o Adverse Health Effects of Marijuana Use, do New England Journal of Medicine, 9% das pessoas que experimentaram maconha apenas UMA VEZ tornaram-se dependentes, e de 25 a 50% das que fazem uso diário também.


E a maconha medicinal?
A maconha tem pelo menos 400 componentes químicos
, embora a grande maioria deles ainda careça de explicação científica acerca de seus efeitos no organismo. Assim, as pesquisas sobre o tema concentram-se em apenas alguns destes compostos, como é o caso do THC, já tratado acima, e do Canabidiol, ou CBD. Alguns estudos sugerem que o CBD não desencadeia efeitos psicoativos e é válido para o tratamento de inúmeras doenças como a esclerose múltipla, dores neuropáticas, câncer, epilepsia e mal de Parkinson. O importante em relação ao assunto, portanto, é entender que a maconha tem diversos componentes, sendo alguns deles psicoativos e outros não. 


Os primeiros, como é o caso do THC, geram dependência e acarretam graves disfunções ao sistema neurológico. Os segundos, tal qual o CBD, vêm apresentando efeitos benéficos no tratamento de patologias. Logo, pagar um traficante em troca de maconha ou utilizar os componentes psicoativos da erva é completamente diferente de procurar um médico para que ele receite um medicamento com um componente isolado, não-psicoativo, que foi testado e aprovado por organizações médicas e agências de saúde no mundo inteiro.

A liberação das drogas acaba com o tráfico e com a violência?
É fácil supor que a descriminalização das drogas acabaria com a violência e com o tráfico, mas um traficante não está no ramo porque tem um apreço especial pelos entorpecentes. Traficante de verdade sequer fuma maconha. Ele planta, refina, distribui e comercializa porque isso rende lucros exorbitantes. Assim, um indivíduo que dedica sua vida a um crime hediondo e a outros que precisa cometer para sobreviver não deixaria de ser bandido porque recebeu autorização estatal para vender drogas. A escolha pelo tráfico é (i)moral antes de ser empreendedora e, por isso mesmo, nada garante que um traficante pediria aposentadoria da vida criminosa porque recebeu chancela do Estado.


No mais, a “droga legalizada” seria muito mais cara do que a “droga ilícita”, porque sobre ela incidiria todo o aparato legal de qualquer atividade econômica, aí incluídos direitos trabalhistas, processos, arrecadação tributária, etc. Então é óbvio que, para manter seus lucros, o traficante seguiria com sua atividade fora da burocracia que fatalmente seria criada com a legalização. Por outro lado, se o Estado monopolizasse para si o comércio, também nada faz supor que os traficantes iriam à falência, já que um bandido será sempre bandido e, portanto, escolherá outro ramo para investir na seleção quase infinita de crimes disponíveis no submundo.

Por isso é que a criminalidade também não diminuiria com a descriminalização. Pelo contrário. Aumentariam não só os crimes de outras modalidades cometidos pelos traficantes como aqueles derivados do vício das pessoas, tais quais agressões e furtos; sem contar a guerra entre os próprios traficantes, que seguiria intacta, como mostram os dados do Observatório Nacional Sobre Violência e Criminalidade do Ministério do Interior, do Uruguai: só no primeiro semestre, os assassinatos saltaram de 139, em 2013 (ano da liberação), para 154 em 2015, sendo 43% desse total oriundo do acerto de contas entre traficantes. No total para 2015, o país teve recorde histórico de homicídios, com 272 mortes

A liberação diminui o consumo?
Acreditar que a descriminalização levaria à redução do consumo é tão ingênuo e desonesto quanto supor que o número de estupros diminuiria se o estupro fosse liberado. É que esse argumento remete à (falsa) ideia de que a repressão leva os usuários a consumirem mais, muito embora a realidade venha exaustivamente demonstrando que a liberação das drogas ELEVA o consumo.


Por exemplo: em 2001, Portugal alterou a lei que criminalizava o uso de drogas, permitindo aos usuários portarem “a quantidade necessária para um consumo médio individual durante dez dias”, que seria algo próximo a 15g de cocaína ou 20g de maconha. Mas uma comparação entre os dados coletados no estudo Sinopse Estatística, do Serviço de Intervenção em Comportamentos de Vício e Dependências (SICAD) em 2001 e em 2014, demonstra o aumento substancial do consumo de drogas, especialmente de maconha e entre adultos de 24 a 35 anos, de 12,9% para 15,9%.

Também outra publicação, o Relatório Europeu Sobre Drogas, publicado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), revela que o consumo de maconha entre estudantes de 15 a 16 anos subiu de 8% em 2001 para 16% em 2016. E ambos os estudos asseveram que o uso de drogas não só em Portugal, mas em toda a Europa, segue aumentando cada vez mais, inclusive com novos tipos de substâncias surgidas recentemente no mercado.
Mas nem só no Velho Continente o consumo de drogas têm aumentado após a legalização.
No Uruguai, que em 2013 flexibilizou as leis sobre o uso dando ao Estado o controle sobre a produção, consumo e distribuição de maconha, além de permitir o auto-cultivo, o consumo de maconha aumentou consideravelmente entre 2011 e 2015 nas três métricas utilizadas pela Junta Nacional de Drogas (JND), que publicou a VI Encuesta Nacional en Hogares sobre Consumo de Drogas. Entre pessoas de 15 a 65 anos, o consumo por toda a vida passou de 20 para 23%. Nos últimos 12 meses, de 8,3 para 9,3%. 
E nos últimos 30 dias, de 4,9 para 6,3%. Isso tudo sem contar com os dados do Instituto Técnico Forense, que recebe as drogas apreendidas pelas operações policias. Eles demonstram que a liberação da maconha aumentou o consumo de outras substâncias psicoativas, como o ecstasy e a cocaína, baseado na quantidade cada vez maior de apreensões dessas drogas. Em 2014, foram aprendidos apenas 40 gramas de ecstasy. Um ano depois, 17 kilos. Por fim, também o Ministério da Saúde uruguaio, em parceria com a JND, apresentou novos dados sobre a apreensão de drogas sintéticas no país, demonstrando que houve um aumento de 7 vezes em relação aos anos anteriores.

A quem interessa a liberação?
Para onde quer que se olhe, a questão das drogas nada tem a ver com garantias individuais ou com saúde pública. Na década de 50, Mao Tse-Tung já proibia o ópio em território nacional sob a alegação de não contaminar o próprio povo, embora tenha entupido os países vizinhos com a droga, isto é, fez dela um armamento químico de guerra. 

Sessenta anos mais tarde, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA divulga que, em 2015, morreram 52 MIL pessoas por overdose de drogas no país, uma cifra aterrorizante se considerarmos que em regiões de guerra, como a Faixa de Gaza, morrem cerca de 35 mil pessoas ao ano. Nos EUA, portanto, as drogas já são armamentos de destruição em massa, assim como eram na China maoísta, embora com uma singela diferença: a droga chinesa enfraquecia e matava os inimigos; a droga americana enfraquece e mata o próprio povo.

O lobby pela liberação das drogas é e sempre foi uma tentativa de usar a população como cobaia para projetos de engenharia social concebidos por intelectuais, burocratas e magnatas de esquerda, usando os entorpecentes como instrumentos de destruição e dominação física e psicológica. Tanto é assim que a própria Open Society Foundation, de George Soros, diz que a política de descriminalização das drogas em Portugal “é o segundo de uma série de relatórios do Programa Global de Políticas sobre Drogas” da fundação. E onde tem George Soros tem sacanagem.

Este é um artigo introdutório sobre o tema. Pretendo avançar na discussão tanto quanto seja possível.

Rafael C. Libardi é estudante do curso de medicina pela PUC-SP, pesquisador de temas relacionados a saúde, drogas, política e colaborador do site Estudos Nacionais, onde o presente artigo foi publicado originalmente.

 

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Maconha apresenta risco aumentado para pessoas propensas a esquizofreniaesquizofrenia

Estudo genético confirma associação da maconha com esquizofrenia

De acordo com um novo estudo, pessoas com risco genético aumentado para esquizofrenia são mais propensas a fumar maconha

Um estudo genético feito por pesquisadores britânicos mostrou que pessoas com esquizofrenia são mais propensas a fazerem uso de maconha de forma abusiva e de desenvolverem sintomas psicóticos. (iStock/Getty Images)
 
Pesquisa publicada recentemente no periódico científico Psychological Medicine comprovou por meio de análises genéticas o que estudos anteriores já haviam sugerido de forma observacional: o consumo da maconha é particularmente perigoso para pessoas com propensão genética à esquizofrenia, mas, principalmente, que os esquizofrênicos tendem a usar mais a droga.

Evidências genéticas
No novo estudo, pesquisadores da Escola de Psicologia Experimental da Universidade Bristol, no Reino Unido analisaram fatores genéticos que podem prever se uma pessoa é suscetível a usar cannabis e também sua suscetibilidade à esquizofrenia. Os resultados confirmaram que começar a fumar maconha pode sim aumentar o risco de esquizofrenia, mas, em especial, uma pessoa  que carrega genes associados à doença são mais propensas a se tornarem usuárias da droga e a fazer isso de forma abusiva.

Um das possíveis explicações para essa relação, segundo os autores, é que os fatores genéticos para a esquizofrenia são mais fortes do que aqueles para o uso da cannabis. Marcus Munafò, coautor do estudo, especula também que “certos comportamentos ou sintomas associados ao risco de esquizofrenia podem ser aliviados pelos efeitos da cannabis”. Em outras palavras, o consumo de cannabis pode ser uma espécie de automedicação nessas pessoas.

Outra possível explicação, segundo o especialista, é que “as pessoas com maior risco de esquizofrenia podem desfrutar mais dos efeitos psicológicos da cannabis. Há um consenso crescente de que o consumo de cannabis pode aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia. Nossos resultados apoiam isso, mas também sugerem que aqueles com maior risco de esquizofrenia podem ser mais propensos a experimentar cannabis”.

Maconha e esquizofrenia
Estudos anteriores já haviam mostrado que o consumo de maconha é mais comum em pessoas com psicose do que entre a população em geral e que, em muitos casos, esse hábito também pode aumentar o risco de sintomas psicóticos. O uso da droga já foi associado a sintomas do distúrbio, como paranoia e pensamentos delirantes, em até 40% dos usuários.

No início desse ano, de acordo com o site especializado Medical News Today, pesquisadores alertaram que pessoas jovens que usam cannabis poderiam aumentar seu risco de desenvolvimento de problemas psicóticos. Além disso, pessoas com esquizofrenia parecem ter uma maior chance de experimentar sintomas psicóticos ao usarem a droga. Entretanto, até o momento, esses resultados não foram considerados definitivos e especialistas pediram mais pesquisas.

THC versus CBD
Em relação ao papel da maconha em aumentar ou reduzir os sintomas de esquizofrenia, Munafò afirma que, embora sejam necessários mais estudos, pesquisas existentes sugerem que dois dos constituintes da cannabis, o tetrahidrocannabinol (THC) e o canabidiol (CBD), podem ser os responsáveis por esses efeitos contraditórios.

De acordo com o Instituto Nacional sobre o Abuso de Drogas dos Estados Unidos (Nida, na sigla em inglês), enquanto a intoxicação por THC tem sido associada com experiências psicóticas transitórias, o CBD não desencadeia alterações mentais e pode ter potencial como uma medicação. Entretanto, a maconha “recreacional” tem um alto teor de THC e baixo de CBD, daí sua provável contribuição para o aumento de sintomas psicóticos em pessoas propensas à esquizofrenia.

Esquizofrenia
O distúrbio mental é caracterizado quando há perda de contato com a realidade, alucinações (audição de vozes), delírios, pensamentos desordenados, índice reduzido de emoções e alterações nos desempenhos sociais e de trabalho. A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial. O tratamento é feito com uso de remédios antipsicóticos, reabilitação e psicoterapia.

O consumo de maconha está associado a alterações na concentração e na memória que podem causar problemas neurofisiológicos e de conduta, indicou nesta terça-feira um estudo publicado pela revista Journal of Neuroscience. Os pesquisadores descobriram que a atividade cerebral fica descoordenada e inexata durante os estados de alteração mental com resultados similares aos observados na esquizofrenia.

A experiência, realizada em ratos, mostrou que a droga afeta a memória e a capacidade de tomar decisões

Continue lendo:  Maconha causa ‘caos cognitivo’ no cérebro, diz estudo

 Fonte: Agência Efe e VEJA

 

sábado, 2 de abril de 2016

Dilma, a DESCONTROLADA

Uma presidente fora de si

Bastidores do Planalto nos últimos dias mostram que a iminência do afastamento fez com que Dilma perdesse o equilíbrio e as condições emocionais para conduzir o país


Os últimos dias no Planalto têm sido marcados por momentos de extrema tensão e absoluta desordem com uma presidente da República dominada por sucessivas explosões nervosas, quando, além de destempero, exibe total desconexão com a realidade do País. Não bastassem as crises moral, política e econômica, Dilma Rousseff perdeu também as condições emocionais para conduzir o governo. Assessores palacianos, mesmo os já acostumados com a descompostura presidencial, andam aturdidos com o seu comportamento às vésperas da votação do impeachment pelo Congresso. 

Segundo relatos, a mandatária está irascível, fora de si e mais agressiva do que nunca. Lembra o Lula dos grampos em seus impropérios. Na última semana, a presidente mandou eliminar jornais e revistas do seu gabinete. Agora, contenta-se com o clipping resumido por um de seus subordinados. Mesmo assim, dispara palavrões aos borbotões a cada nova e frequente má notícia recebida. Por isso, os mais próximos da presidente têm evitado tecer comentários sobre a evolução do processo de impeachment. Nem com Lula as conversas têm sido amenas. Num de seus acessos recentes, Dilma reclamou dos que classificou de “traidores” e prometeu “vingança”. Numa conversa com um assessor, na semana passada, a presidente investiu pesado contra o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato. “Quem esse menino pensa que é? Um dia ele ainda vai pagar pelo quem vem fazendo”, disse. 

Há duas semanas, ao receber a informação da chamada “delação definitiva” em negociação por executivos da Odebrecht, Dilma teria, segundo o testemunho de um integrante do primeiro escalão do governo, avariado um móvel de seu gabinete, depois de emitir uma série de xingamentos. Para tentar aplacar as crises, cada vez mais recorrentes, a presidente tem sido medicada com dois remédios ministrados a ela desde a eclosão do seu processo de afastamento: rivotril e olanzapina, este último usado para esquizofrenia, mas com efeito calmante. A medicação nem sempre apresenta eficácia, como é possível notar.

Em recente viagem a bordo do avião presidencial, um Airbus A319, tripulantes e passageiros ficaram estupefatos com outro surto de Dilma. Depois de uma forte turbulência, a presidente invadiu a cabine do piloto aos berros: “Você está maluco? Vai se f...! É a presidente que está aqui. O que está acontecendo?”, vociferou. Não seria a primeira vez que Dilma perdia o equilíbrio durante um vôo oficial. No final de janeiro, o avião da presidente despencou 100 metros, enquanto passava pela região entre a floresta Amazônica e o Acre. 

O piloto preparava-se para pousar em Quito, no Equador. Devido ao tranco mais brusco, Marco Aurélio Garcia, assessor especial, acabou banhado de vinho e uma ajudante de ordens bateu levemente com a cabeça no teto da aeronave. Copos e pratos foram ao chão, mas ninguém se machucou. A presidente saiu de si. Na sequência do incidente, tratou de cobrar satisfações do piloto. Aos gritos. “Não te falei para não pegar esse trajeto? Quer que eu morra de susto, cace...?”. Os desvarios de Dilma durante os vôos já lhe renderam uma reclamação formal. Em carta, a Aeronáutica pediu para que a presidente não formulasse tantas perguntas sobre trajetos e condições climáticas nem adentrasse repentinamente às cabines para não tirar a concentração dos pilotos. A presidente não demonstra paciência nem mesmo para esperar o avião presidencial seguir o procedimento usual de taxiamento. Um de seus assessores lembra que, certa feita, Dilma chegou a determinar à Aeronáutica que reservasse uma pista exclusiva para a decolagem de sua aeronave. Com isso, outros aviões na dianteira tiveram de esperar na fila por horas.

O modelo consagrado pela renomada psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross descreve cinco estágios pelo qual as pessoas atravessam ao lidar com a perda ou a proximidade dela. São eles a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação. Por ora, Dilma oscila entre os dois primeiros estágios. Além dos surtos de raiva, a presidente, segundo relatos de seus auxiliares, apresenta uma espécie de negação da realidade. 

Na semana passada, um presidente de uma instituição estatal foi chamado por Dilma para despachar assuntos de sua pasta. Chegou ao Palácio do Planalto, subiu ao terceiro andar e falaram longamente acerca da saúde da empresa e especialmente sobre a economia do Brasil e o contexto internacional. Ao final da conversa, observando o visível abatimento do executivo, Dilma quis saber: “Por que você está cabisbaixo?”. Franco, ele revelou sua preocupação com o cenário de impeachment que se desenhava, especialmente com o então iminente rompimento do PMDB. Ao ouvir a angústia do seu subordinado, que não está há muito tempo à frente da empresa, Dilma teve uma reação que tem se repetido sistematicamente: descartou totalmente a hipótese do seu impedimento. Ela exclamou: “Imagine, nada disso vai acontecer. Já temos garantidos 250 votos na Câmara”. O executivo tentou argumentar, mas foi novamente interrompido. A petista avaliou ser “até melhor” o rompimento com o PMDB, assim teriam a chance de “refundar” o governo. O presidente da instituição deixou a conversa completamente atônito. Considerou inacreditável a avaliação da chefe do Executivo.

Outro interlocutor freqüente diz que a desaprovação recorde junto aos eleitores é vista como mero detalhe pela presidente. “Que falta faz um João Santana”, disse referindo-se ao marqueteiro preso e, principalmente, conselheiro para todas as horas. Aos integrantes do núcleo político, Dilma deixa transparecer que não lhe importa mais a opinião pública. Seu objetivo é seguir no posto a todo e qualquer custo e, se lograr êxito, punir aqueles que considera hoje seus mais ferozes inimigos. Especialmente os do Congresso. Na tática do desespero oferece cargos e verbas para angariar apoios à sua causa, não se importando com o estouro do orçamento e muito menos com o processo sobre suas contas abertos nos órgãos de fiscalização e controle, como o TCU. Na quarta-feira 30, chegou ao cúmulo de sugerir uma audiência com Valdemar Costa Neto, do PR, para oferecer-lhe a indicação do ministério de Minas e Energia. Ocorre que, hoje, Costa Neto apresenta dificuldades e limites de locomoção devido ao uso de uma tornozeleira. Depois da gafe, o jeito foi recorrer a emissários.

É bem verdade que Dilma nunca se caracterizou por ser uma pessoa lhana no trato com os subordinados. Mas não precisa ser psicanalista para perceber que, nas últimas semanas, a presidente desmantelou-se emocionalmente. Um governante, ou mesmo um líder, é colocado à prova exatamente nas crises. E, hoje, ela não é nem uma coisa nem outra. A autoridade se esvai quando seu exercício exige exacerbar no tom, com gritos, berros e ofensas. Helmuth von Moltke, chefe do Estado-Maior do Exército prussiano, depois de aposentado, concedeu uma entrevista que deveria servir de exemplo para governantes que se pretendam grandes líderes. Perguntado como se sentia como um general invicto e o mais bem-sucedido militar da segunda metade do século XIX, Moltke respondeu de pronto: “Não se pode dizer que sou o mais bem-sucedido. Só se pode dizer isso de um grande general, quando ele foi testado na derrota e na retirada. Aí se mostram os grandes generais, os grandes líderes e os grandes estadistas”. Na retirada, Dilma sucumbiu ao teste a que Moltke se refere. Os surtos, os seguidos destemperos e a negação da realidade revelam uma presidente completamente fora do eixo e incapaz de gerir o País.

A maneira temperamental de lidar com as situações não é nova, embora tenha se agravado nas últimas semanas. Desde o primeiro mandato de Dilma, um importante assessor palaciano dedicou-se a registrar num livro de capa preta as reprimendas aplicadas por Dilma em seus subordinados. Ele deixou o governo recentemente por não aturar mais os insultos da presidente. A maioria injustificável, em sua visão. No caderno, anotou mais de 80 casos ocorridos entre 2010 e 2016. Entre eles, há o de um motorista que largou o automóvel presidencial no meio da Esplanada dos Ministérios depois de ser ofendido compulsivamente pela presidente e ameaçado de demissão por causa de um atraso. “Você não percebeu que não posso atrasar, seu m...Ande logo com isso senão está no olho da rua”, atacou Dilma. Consta também das anotações os três pedidos de demissão de Anderson Dornelles, que deixou o Planalto no último mês sob fortes suspeitas de ser sócio oculto de um bar localizado no estádio Beira-Rio de propriedade da Andrade Gutierrez. Nas vezes em que ameaçou deixar o governo, alegou cansaço dos destratos da presidente. “Menino, você não faz nada direito!”, afirmou ela numa das brigas. O ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, também já experimentou a fúria da presidente. 

A irritação, neste caso, derivou das revelações feitas pelo empresário Ricardo Pessoa, da UTC, sobre as doações a sua campanha à reeleição em 2014. Participaram dessa reunião convocada pela presidente, além de Cardozo, os ministros Aloizio Mercadante, Edinho Silva e o assessor especial Giles Azevedo. Na frente de todos, Dilma cobrou Cardozo por não ter evitado que as revelações de Ricardo Pessoa se tornassem públicas dias antes de sua visita oficial aos Estados Unidos, quando buscava notícias positivas para reagir à crise. “Você não poderia ter pedido ao Teori (Zavascki) para aguardar quatro ou cinco dias para homologar a delação?”, perguntou Dilma referindo-se ao ministro que conduz os processos da Lava Jato no STF. “Cardozo, você fodeu a minha viagem”, bradou a presidente.

O episódio envolvendo Cardozo, no entanto, pode ser considerado até brando se comparado às situações enfrentadas por duas ex-ministras do governo, Maria do Rosário e Ideli Salvatti. Em 2011, ao debater com Rosário o andamento dos trabalhos da Comissão da Verdade, àquela altura prestes a ser criada pelo Congresso para esclarecer casos de violação de direitos humanos durante a ditadura militar, Dilma perdeu as estribeiras: “Cale sua boca. Você não entende disso. Só fala besteira”. Já Ideli conheceu o despautério da presidente logo no dia seguinte à sua nomeação para as Relações Institucionais. Quando ainda devorava jornais, Dilma leu uma reportagem em que a titular da pasta fazia considerações sobre os desafios do novo trabalho. Não gostou e deixou clara sua insatisfação: “Ideli, se na primeira coletiva você já disse bobagens, imagine nas próximas”.

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 Publicamente, a presidente tenta disfarçar seu estado de ânimo atual. Mas nem sempre é possível deixar transparecer serenidade quando, por dentro, os nervos estão à flor da pele. Seus últimos discursos refletem a tensão reinante nos corredores do Palácio do Planalto. Na quarta-feira 30, Dilma converteu o evento de entrega de moradias da terceira fase do Minha Casa Minha Vida em um palanque contra o impeachment. Na cerimônia, estiveram presentes integrantes de movimentos sociais, como o MST. Os representantes, —muitos deles chamados de última hora já que nenhum governador se dignou a ir e, dos 300 prefeitos convocados, só oito compareceram —, foram acomodados em lugares destinados a convidados, onde entoaram gritos de guerra pró-governo mesmo antes de o evento começar. Os presentes chamaram o juiz Sérgio Moro, o vice Michel Temer e a OAB de “golpistas” e bradaram o já tradicional “não vai ter golpe”. Detalhe: o coro foi puxado pela militante travestida de presidente da República.

Durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff pagou para seus marqueteiros desenvolverem e disseminarem o nocivo “discurso do medo”. Espalhou o pavor entre os brasileiros mais carentes dizendo que, se seus concorrentes Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (na época no PSB) ganhassem a eleição, os programas sociais estariam em risco. Funcionou. Hoje, cara a cara com o impeachment, ela coloca sua tropa de choque novamente para atemorizar a população. Disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), na última segunda-feira: “Programas sociais como Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Fies e tantos outros que beneficiam os mais pobres correm sério risco de sofrer corte caso a presidente Dilma seja impedida de continuar seu governo”.

Não bastasse a repetição da retórica cretina da campanha eleitoral, a presidente disse nos últimos dias que o que está se vendo o País é um verdadeiro “nazismo”, sem lembrar que o discurso do “nós contra eles” foi gestado e cultivado por sua equipe. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, foi na mesma toada ao tentar reverter a posição do governo de incitador de ódio para pacificador: “Nós vamos baixar o tom ou esperar o primeiro cadáver?”. Sem mencionar, é claro, provocações até do presidente do PT, Rui Falcão, que no twitter escreveu recentemente: “Queremos a paz, mas não tememos a guerra”. Ou as palavras de Guilherme Boulos, coordenador do MTST, que disse que se o impeachment for efetivado ou Lula for preso, o Brasil seria “incendiado por greves, ocupações e mobilizações” e que “Não haverá um dia de paz do Brasil”.

As diabruras de “Maria, a Louca”
Não é exclusividade de nosso tempo e nem de nossas cercanias que, na iminência de perder o poder, governantes ajam de maneira ensandecida e passem a negar a realidade. No século 18, o renomado psiquiatra britânico Francis Willis se especializou no acompanhamento de imperadores e mandatários que perderam o controle mental em momentos de crise política e chegou a desenvolver um método terapêutico composto por “remédios evacuantes” para tratar desses casos. Sua fórmula, no entanto, pouco resultado obteve com a paciente Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança, que a história registra como “Maria I, a Louca”. Foi a primeira mulher a sentar-se no trono de Portugal e, por decorrência geopolítica, a primeira rainha do Brasil. 


O psiquiatra observou que os sintomas de sandice e de negação da realidade manifestados por Maria I se agravaram na medida em que ela era colocada sob forte pressão. “Maria I, a Louca”, por exemplo, dizia ver o “corpo” de seu “pai ardendo feito carvão”, quando adversários políticos da Casa de Bragança tentavam alijá-la do poder. Nesses momentos, seus atos de governo denotavam desatino, como relatou doutor Willis: “proibir a produção de vinho do Porto na cidade do Porto”. Diante desse quadro, era preciso que ocorresse o seu “impedimento na Coroa”. Quanto mais pressão, mais a sua consciência se obnubilava, até que finalmente foi “impedida de qualquer ato na Corte”. Já com o filho Dom João VI no comando de Portugal, “Maria I, a Louca” veio às pressas para o Rio de Janeiro com a Família Real diante da invasão de Portugal. Aqui, ela tinha por hábito usar longos vestidos pretos e passava horas correndo pelos corredores palacianos gritando palavrões desconexos. Costumava acordar na madrugada e “berrava para seres imaginários descerem do Pão de Açúcar” porque nele “morava o diabo”. A sua derradeira frase em território lusitano pode ser interpretada como faísca de lucidez na loucura: “Não corram tanto, vão pensar que estamos sendo tocados ou que estamos fugindo”.
Antonio Carlos Prado


Fonte: Isto É -  Sérgio Pardellas e Débora Bergamasco

Fotos: Adriano Machado, Claudio Belli/Valor; Adriano Machado/Ag. Istoé; CELSO JUNIOR/AE; EPITACIO PESSOA/AE, Marcelo Camargo/Agência Brasil, Givaldo Barbosa/Agência O Globo 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Canhões de Agosto - 16 de agosto, o BRASIL inteiro nas ruas – Os Canhões de Agosto somos todos nós!

Agosto é o mês das bombas de Hiroshima e Nagasaki, agosto está no título da obra-prima de Barbara Tuchman e é, agora, para todos nós sinônimo de esperança de retirada do poder dessa organização criminosa chamada PT.

O PT destruiu a economia, humilhou os médicos, colocou os policiais na condição de bandidos e matou professores de fome. O PT destruiu a Universidade Brasileira, liquidou com a cultura, acabou com carreira de artistas e roubou da nação a maior quantidade de dinheiro já desviada da História. Essa legião precisa ser varrida do poder. Está nas nossas mãos!

Só depende de nós! Nós precisamos mostrar ao mundo que o Brasil não pertence ao PT, que aqui existe gente honesta, que esse povo é sério e que o país merece respeito. Não vai ser possível fazer tudo isso com essa corja de marginais no poder. Não podemos esperar por Eduardo Cunha nem pelas Forças Armadas.

Precisamos estar, aos milhões, nas ruas do Brasil exigindo a renúncia imediata desta verdadeira BANDIDA que nos governa. Mensalão, Petrolão, Eletrolão ...só muda o nome: tudo é uma coisa só – o projeto criminoso destes marginais que construíram hospitais no Oriente Médio, usinas hidrelétricas na América Central, autoestradas na África e fraudaram, ROUBARAM, a eleição de 2014 na urnas eletrônicas! O lugar dos petistas é na cadeia – nós NÃO precisamos de justificativa legal alguma para varrer estes bandidos de Brasília.

O impeachment é um DIREITO NOSSO; não um favor que deputados e senadores vão (se é que vão) nos fazer. O que nos falta é a capacidade de retomarmos, todos nós, o controle do nosso destino, da nossa história, que estes verdadeiros marginais bolivarianos do Foro de São Paulo nos tomaram. O doutor Sérgio Moro e a Operação Lava Jato estão fazendo a parte deles; nós precisamos fazer a nossa pois não necessitamos de nenhum motivo maior do que a nossa própria vontade para derrubar do poder o PT e o seu projeto criminoso de governo.

Meus amigos, o PT nos humilhou, nos apresenta ao mundo como o país mais corrupto do planeta. Uma simples declaração da presidente Dilma beira à esquizofrenia e a plateia não consegue, sequer, conter as gargalhadas. Aproxima-se a hora de José Dirceu, Lula, Palocci e tantos outros marginais do PT serem mandados para Curitiba. A prisão deles é CERTA e cabe a nós todos, na próxima manifestação, mostrar aos políticos que ainda estão “soltos” que eles podem ser os próximos, que nós sabemos de tudo, que nada nos passa despercebido, e que os verdadeiros marginais com cargo público tem os dias contados.

Dia 16 de agosto, o BRASIL inteiro nas ruas – Os Canhões de Agosto somos todos nós!

Por: Milton Simon Pires é Médico - Transcrito do Blog Alerta Total

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Se eu fosse petista, sinceramente, sumiria da face do planeta – afinal, ser petista, é o primeiro passo, e também a concretização de ser uma nulidade



Se eu fosse petista
Lutaria por uma verdadeira renovação doutrinária, e não por esse arremedo anacrônico constituído pelas “teses” das diferentes tendências partidárias e pela Resolução do partido 

Se eu fosse petista, não adotaria uma postura esquizofrênica. De um lado, em seus momentos de responsabilidade, o PT levou a cabo uma prática social-democrata, que se assemelha aos governos social-democratas alemães ou ao trabalhismo inglês. De outro lado, o partido manteve inalterada a sua doutrina socialista, que retoma essencialmente o que era considerado como a concepção socialista/comunista do século XX. Na brecha desta esquizofrenia, foi introduzido o aparelhamento partidário do Estado, como se essa fosse uma espécie de terceira via de sua manutenção “socialista” do poder, da qual o seu fruto mais visível é a corrupção instalada no aparelho estatal.

Se eu fosse petista, assumiria uma postura social-democrata, abandonando a fraseologia marxista e de conflito de classes. No governo, o PT, com nuances internas nos governos Lula e Dilma, adotou, na prática, uma política de tipo social-democrata, privilegiando programas sociais, dentre os quais o mais visível foi o Bolsa Família. Na mesma esteira, embora com apoio cubano, fez o programa Mais Médicos, visando a fornecer atendimento a populações desatendidas de municípios carentes. O programa Minha Casa, Minha Vida seguiu a mesma orientação, com o objetivo de prover habitação para as mais baixas faixas de renda. Do mesmo modo, fez o programa Minha Casa Melhor, com a finalidade de possibilitar a mobília e eletrodomésticos dessas mesmas moradias.

Se eu fosse petista, faria o que fez a social-democracia alemã e o trabalhismo inglês. Diga-se de passagem que a direita seguiu o mesmo caminho no caso da democracia cristã na Alemanha e na Itália ou dos governos gaullistas na França. Não é só a esquerda que faz política social! O marxismo e o comunismo não lhe foram, neste sentido, de nenhuma valia, se considerarmos suas medidas sociais, próprias de governos inseridos numa economia capitalista. Ou seja, trata-se de iniciativas que são não só plenamente compatíveis com a economia de mercado, mas somente nesta podem se viabilizar, dada a riqueza proveniente da livre iniciativa e da liberdade de empreender, em relações regradas segundo as normas do Estado Democrático de Direito.

Se eu fosse petista, lutaria por uma verdadeira renovação doutrinária, e não por esse arremedo anacrônico constituído pelas “teses” das diferentes tendências partidárias e pela Resolução do partido. Acontece que o programa partidário está baseado na luta de classes, na tutela estatal, na intervenção da economia, no menosprezo ao lucro, no desrespeito ao direito de propriedade, no desprezo da democracia representativa e sempre colocando como objetivo final a criação de uma “sociedade” socialista no Brasil. Note-se que o PT jamais deixou de prestar solidariedade aos governos comunistas de Chávez, Maduro e dos irmãos Castro. Por mais que esses governos pisoteiem os direitos humanos que o PT diz representar, nenhuma crítica governamental nem partidária é a eles endereçada. Lembre-se que a ditadura cubana vivia das mesadas da União Soviética!

Tudo, evidentemente, na visão deles é culpa do “imperialismo”, apesar de o comunismo soviético, em décadas do século XX, ter ocupado mais da metade do planeta. Sucumbiram esses países às suas próprias contradições. Fracassaram simplesmente.

Se eu fosse petista, não endeusaria Lula. Em seus governos, o PT jamais abandonou essas posições doutrinárias. O ex-presidente, por exemplo, teve uma política sistemática de apoio e financiamento de uma organização revolucionária como o MST. Deu sustentação a invasões de propriedades rurais, em um manifesto desrespeito ao direito de propriedade, algo muito próprio da esquerda revolucionária. Sustentou, embora sem sucesso, várias tentativas de controle da imprensa e dos meios de comunicação, por intermédio das Conferências Nacionais. Apoiou iniciativas de Conselhos Populares e Conferências, com o claro intuito de minar as bases da democracia representativa. Apoiou o aparelhamento partidário do Estado, tendo a corrupção do mensalão enquanto símbolo e legado seu. Aliás, foi também em seu governo que foram sentadas as bases do petrolão.

Se eu fosse petista, depuraria o governo Dilma de suas contradições. A presidente Dilma distanciou-se de algumas posições de Lula e do PT, sinalizando para uma renovação. Em seu primeiro mandato, procurou afastar-se da corrupção, tentando uma faxina ética em seu Ministério, não tendo, porém, conseguido sustentar essa posição. No que diz respeito ao MST, relegou essa organização revolucionária a uma posição secundária. Foi, ademais, defensora intransigente da liberdade de imprensa e dos meios de comunicação, não tendo levado adiante o projeto de “controle social dos meios de comunicação”, deixado por seu antecessor. Por outro lado, no que concerne aos conselhos populares tentou, com um decreto, fazer valer essa proposta revolucionária que solaparia as bases mesmas da democracia representativa.  

Sua recaída esquerdista foi manifesta. Seguindo, ainda, a mesma orientação de esquerda, seguiu as linhas de um capitalismo de compadrio com intervenção estatal crescente, cujo desfecho estamos hoje vivenciando com PIB negativo, inflação que estourou o teto da meta e juros estratosféricos. Agora, neste seu segundo mandato, volta-se para os ditos “movimentos sociais” que desprezara.

Se eu fosse petista, aceitaria as críticas e faria uma autocrítica. No que diz respeito à corrupção, o partido nega contra todas as evidências a sua participação. Afastou o tesoureiro Vaccari só após ele ter sido preso e ainda assim fazendo a sua defesa. No mensalão, considerou os seus artífices “guerreiros do povo brasileiro”, em uma clara afronta às nossas instituições republicanas. Pior ainda, o PT ataca essas mesmas instituições republicanas, como o Ministério Público, o Judiciário e a Polícia Federal, e a imprensa e os meios de comunicação, que são os pilares de uma sociedade livre.

Por: Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul