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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Responsabilidade vacinal - Alon Feuerwerker

Análise Política

O debate sobre tomar ou não vacina para a Covid-19, ou obrigar que seja ministrada, tem tudo para perdurar no tempo, já que a vacinação em massa não parece tão próxima assim. Junto com a suspensão do auxílio emergencial em janeiro, corre o risco de virar uma dor de cabeça e tanto para o governo federal.

Suponhamos que a vacina chinesa de João Doria fique pronta antes da inglesa de Jair Bolsonaro. O que este vai fazer? 
Mandar a Anvisa enrolar a liberação da vacina do desafeto? Complicado. 
E se a vacina, qualquer uma, mostrar-se eficaz, o governo vai fazer corpo mole?

Afinal, se tem campanha de vacinação para tudo, por que não para a Covid-19? Difícil de explicar para o cidadão ou cidadã comum, que querem uma solução e não estão nem aí para as arengas dos políticos. Essa história de liberdade individual é bonita, mas sabe-se que ela vai até onde começa a do outro.

Pois um objetivo de qualquer campanha de vacinação é provocar a tão falada imunidade de rebanho, mas sem o custo de deixar a grande massa da população adoecer. A pessoa não se imuniza só para não ficar doente, imuniza-se para não transmitir o patógeno a outros.

É o que se chama de, na expressão da moda, responsabilidade social.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Dia das Crianças - Nas entrelinhas

Passou da hora de as crianças terem uma vida quase normal, o confinamento doméstico prejudica o desenvolvimento infantil, ainda mais com o liberou geral do celular e eletrônicos

Vivemos tempos sem beijos nem abraços, entre amigos, familiares e até mesmo os amantes. A vida virou uma roleta-russa, todo dia chega uma notícia triste de alguém que morreu e, em maior número, para nossa alegria, das pessoas queridas que sobreviveram à Covid-19. O isolamento social está sendo quebrado à medida em que a taxa de transmissão da doença diminui e as pessoas ficam mais confiantes de que podem desenvolver certas atividades essenciais, com os devidos cuidados. Todos torcem pela vacina eficaz, chinesa, russa, inglesa ou norte-americana, e se arriscam um pouco mais.

Tempos darwinistas sob todos os pontos de vista: sanitário, econômico, social. A sobrevivência humana não está ameaçada, muitos tiram a doença de letra, como se fosse uma “gripezinha”, mas a capacidade de adaptação às contingências do momento é mais importante do que a resistência física de cada um para sobreviver à pandemia. Para isso servem a ciência e a consciência humana. Como diz o ditado, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Depois de tanto tempo, as comorbidades começam a se tornar um problema muito grave, porque as pessoas deixaram de ir ao médico e ao dentista, reduziram as atividades físicas, alimentam-se por ansiedade, adiaram ou interromperam tratamentos, subestimam pequenos sintomas, enfim, não dão importância aos sinais que o corpo nos envia. E têm os nervos à flor da pele, o que agrava conflitos familiares e problemas psicomentais.

Mas, há muita esperança e fé. Amanhã é dia das crianças, os clubes estão abrindo para recebê-las em relativa segurança, apesar da pandemia. Os templos também promovem cultos, recebendo as famílias com maior ou menor distanciamento social, dependendo da fé na ciência de cada padre ou pastor. Criança é sinônimo de futuro. As escolas, porém, estarão fechadas. Desperdiçam a oportunidade de virar o jogo, jogar todos para cima. Por um desses mistérios da criação, desculpem-me o trocadilho, crianças têm menos vulnerabilidade ao coronavírus, quando não têm comorbidades, é claro; porém, podem ser agentes transmissores da doença, porque geralmente são assintomáticas quando contaminadas, dizem os especialistas. Por causa disso, os adultos estão com inconfessável medo das crianças, isso é um problema.

Azedo, você não vai escrever sobre as crianças?

A pergunta foi feita por um amigo querido, o pediatra carioca Ricardo Chavez,  parceiro de muitos blocos e passeatas, preocupado com o fato delas não estarem frequentando a escola. Entre os primeiros a defender o isolamento social, avalia que já passou da hora de as crianças terem uma vida quase normal, o confinamento doméstico prejudica o desenvolvimento infantil, ainda mais com o liberou geral do celular e outros equipamentos eletrônicos. Mandou-me um artigo excelente sobre o tema, da colega Ruth de Aquino, de quem foi um dos interlocutores, que recomendo. Repassei o texto e a pergunta para outro amigo querido, Luciano Rezende, prefeito de Vitória, que conclui o segundo mandato com reconhecido êxito administrativo e zero escândalos em oito anos. Médico também, respondeu-me dizendo a mesma coisa. Seu problema é convencer diretores de escola, professores e pais de alunos, na rede pública.

Pacto perverso
De memória, porque emprestei o livro e não me devolveram ainda, lembro de certa passagem de A quarta revolução (Portfólio/Penguin), de John Micklethwait e Adrian Wooldridge, sobre a desilusão da sociedade com os governos. O Ocidente está ficando para trás. Não se trata da chamada indústria 4.0, como o título induz, mas da necessidade de uma nova revolução política para reinventar o Estado. Vivemos uma corrida em busca de eficiência e eficácia, não apenas nas inovações tecnológicas. Estão em jogo os valores políticos que triunfarão no século XXI. Vem daí a tensão no mundo entre forças reacionárias e democráticas.

Quando o livro fala dos lobbies corporativos, cita dois exemplos da Califórnia. O dos agentes penitenciários, focado na luta contra a violência e a criminalidade, que conseguiu endurecer a legislação e multiplicar o número de presídios e a população carcerária, sem reduzir a violência, é claro. E o dos professores, que têm muito mais poder de pressão sobre os políticos, porque conseguem mobilizar os pais de alunos. Pesquisando, vi que em abril do ano passado, por exemplo, pais de alunos de São Francisco promoveram uma campanha para arrecadar fundos para uma professora, após descobrirem que ela, além de lutar contra um câncer de mama, pagava seu próprio substituto na escola. O relato do caso no San Francisco Chronicle gerou indignação em escala nacional, chegando ao Senado. Ao jornal The Washington Post, Eric Heins, presidente da Associação dos Professores da Califórnia, denunciou que o sistema de financiamento da educação sobrecarrega os professores e não os poupa, nem mesmo em momentos críticos, como períodos de doença grave.

Desde 1970, na Califórnia, o acordo coletivo dos professores garante 10 dias de folga para tratamento de saúde, que podem ser prorrogados por mais 100 dias, mas são descontadas do salário as despesas com o substituto, entre US$ 174 e US$ 240 a diária. Um educador infantil recebe por mês, em média, US$ 4.931,67; um professor primário, US$ 4.971,67; no ensino médio, US$ 5.138,33. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório de terça-feira passada, no ensino infantil brasileiro os professores receberiam por mês o equivalente a US$ 2.063,75; 
no primeiro grau do ensino fundamental, US$ 2.083,75; e no segundo, US$ 2.089,33. 

A alta do dólar, com certeza, distorceu esses números. O piso do Fundeb é de R$ 2.886,24, sendo que apenas 11 estados cumprem essa regra, segundo o Dieese. No câmbio oficial, isso equivale a US$ 521,04. Por isso, desconfio que as nossas escolas públicas já não estão fechadas por causa da pandemia; estão sem aulas por causa dos salários e, em muitos casos, das condições em que se encontram. Quem paga o pato são as crianças.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


quarta-feira, 29 de julho de 2020

"Vira-latas" - Alexandre Garcia


Coluna no Correio Braziliense 


Somos subservientes aos estrangeiros? 

''Os chineses agora alegam que nossa carne pode levar o corona. Que ironia, já que o vírus saiu de um mercado de animais, em Wuhan. Eles têm 1,3 bilhão de bocas para alimentar, precisam de proteína, e nós é que dependemos deles?''

O tempo passa e nós não aprendemos. Continuamos subservientes, com complexo de vira-lata, aceitando tudo que o estrangeiro inventa contra nós. Pior é que, aqui dentro, a cumplicidade que aplaude, estimula e amplia a conspiração lesa-pátria, fingindo que não sabe que se trata de business.
Não se encolheram assim Pedro Teixeira, que subiu o Amazonas, empurrando para os Andes os que não falavam a língua lusitana; Floriano, que ameaçou receber os metidos da esquadra inglesa a bala; peitamos os franceses, que vinham buscar lagosta no nosso mar territorial, escoltados por navios de guerra.
Hoje eles têm um trigal contínuo, entre o Sena e o Loire, e ninguém sugere que antes de falar do Brasil, reflorestem 20% de cada propriedade, como aqui se faz.

[Eles dependem de nós e terão que aceitar isso ou morrer de fome - alimentos são impossíveis de serem confiscados (lembramos esse detalhe já que nos tempos do maldito perda total, refinarias brasileiras na Bolívia foram expropriadas a mando do cocaleiro Morales).
Porém, comercialmente, podem ser úteis caso algum país favorável à preservação do meio ambiente,  de outros,  resolva boicotar o Brasil.]

Ontem foi Dia do Agricultor, que produz a comida que nos mantém vivos, as fibras com que nós vestimos e a energia que impulsiona nossos veículos e nossas indústrias. E temos que humilhar e responder a mentiras e ameaças de estrangeiros que, sabemos, estão movidos por money, argent, geld. Querem atingir o nosso negócio mais próspero, mais atualizado; a nossa conquista de ter alimentos para o mundo. Querem que voltemos à condição de colônia fornecedora. Nossa soja e nossa carne crescem em produtividade e, claro, em competitividade. E não querem competição. Será que nesse complexo de vira-latas alguns de nós nem se dão ao trabalho de ir ao google para checar as mais recentes fotos da Nasa sobre fogo no mundo? Vão achar; mas não na Amazônia. 

Os chineses agora alegam que nossa carne pode levar o corona. Que ironia, já que o vírus saiu de um mercado de animais, em Wuhan. Eles têm 1,3 bilhão de bocas para alimentar, precisam de proteína, e nós é que dependemos deles? E, secundando o dinheiro internacional, aparecem banqueiros nacionais, a pressionar produtores de carne que já reservam 80% de suas propriedades como proteção ambiental na Amazônia. Será que só conhecem juros e taxas, e não sabem que a produção de carne tem subido, mas a área de pastagem tem diminuído

[Saber mais sobre o que o Brasil preserva do meio ambiente, clique aqui.]

O Brasil é este gigante graças a gente como Pedro Teixeira, Fernão Dias, Rio Branco, Juscelino –– e por causa de milhões de brasileiros que semearam suor na vastidão e colhem a comida que vai para as mesas do Brasil e de boa parte do mundo. Antes de Cabral chegar, tínhamos menos de 10% das florestas do planeta; 
hoje temos quase 30%, porque o mundo destruiu suas matas e agora cobiça nossas riquezas. Até se compreende que estrangeiros criem fake news contra o Brasil, mas não se pode compreender a cumplicidade de brasileiros nisso.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense


domingo, 22 de março de 2020

Vamos vencer a batalha? Depende (por Gaudêncio Torquato) - VEJA - Blog do Noblat



sábado, 1 de fevereiro de 2020

Limite ao direito de impor tributos - José Pio Martins

Daqui a algumas semanas, o Congresso Nacional retorna com o tema da reforma tributária. Uma coisa aprendi com a história política do país: nunca houve uma reforma tributária que tenha diminuída a carga de impostos pagos pela população. Por mais que o sistema tributário seja caótico, disforme, complicado, caro e injusto, não vejo como desta vez será diferente.  Aliás, tem havido aumentos de impostos no Brasil inteiro quase silenciosamente.
Citemos dois exemplos. Um, a elevação do imposto sobre veículos (o IPVA) de 2,5% para 3,5%, que representou aumento de 40% no total a pagar. Na conta de energia, quase metade do valor são tributos, e chegou a esse ponto sem a população perceber claramente, pois os impostos sobre energia são principalmente indiretos, estão embutidos (escondidos) no preço.
Nas mais importantes revoluções ao longo da história, a revolta contra os impostos esteve presente. A Revolução Inglesa (1689), A Revolução Americana (1776) e A Revolução Francesa (1789) tiveram, como uma das causas, a revolta contra o excesso de tributação interna ou contra a tributação imposta pelo império sobre a colônia. Aqui mesmo no Brasil, tivemos movimentos sangrentos contra a pesada tributação imposta por Portugal. Tiradentes morreu por lutar contra a “derrama”, a cobrança forçada dos impostos atrasados, o chamado “quinto”.
Na Revolução Inglesa, chamada de “gloriosa”, houve grande revolta contra os altos impostos e o direito do rei de elevar tributos a qualquer momento e em qualquer medida. A Inglaterra vivia sob a monarquia absoluta, o rei detinha poderes plenos e não se submetia às mesmas leis impingidas aos cidadãos. O resultado foi a substituição da monarquia absoluta pela monarquia parlamentar, o rei deixou de ser soberano, e expressiva parcela de seus poderes foi transferida ao parlamento formado por representantes eleitos. Nascia o princípio de que não pode haver tributação sem representação.
Na Revolução Americana, uma das causas da revolta e da declaração de independência dos Estados Unidos em relação à Inglaterra foi a “Revolta do Chá”, em 1773. A coroa britânica sobretaxou o chá exportado para os Estados Unidos e provocou indignação geral, inclusive entre os próprios ingleses que haviam emigrado para a América do Norte.
Na Revolução Francesa, produtores enraivecidos se revoltaram contra as arbitrariedades no aumento de tributos e contra a figura dos contratadores (ou rendeiros gerais), que detinham o direito, cedido a eles pelo rei mediante pagamento, de cobrar tributos sobre determinado produto ou região. O famoso cientista Antoine Lavoisier, considerado pai da química moderna, foi guilhotinado pelos revoltosos em dezembro de 1771 porque era um contratador, ou rendeiro geral.
Esses fatos históricos nos remetem aos poderes concedidos a prefeitos, governadores e presidente da República para criar e aumentar tributos sem passar pelos representantes do povo. O chefe do Poder Executivo também é eleito pelo povo, mas como ele administra os gastos públicos, não se deve dar-lhe poderes para criar ou elevar tributos. Isso é como dar ao síndico de um prédio o direito de cobrar taxas dos moradores sem submeter à votação e aprovação deles.É essencial para a segurança jurídica, a previsibilidade econômica e a paz social que a criação ou a elevação de tributos seja votada pela câmara de representantes. A divisão de poderes entre legislativo, executivo e judiciário, que devem ser harmônicos e independentes entre si, com poderes limitados, é fundamental para a defesa do indivíduo contra os excessos e o arbítrio do governo e dos governantes.
Um dos problemas da existência dessa entidade chamada “Estado” e de seu braço executivo, o governo, é que não há anjos na Terra. É grande a parcela de governantes e burocratas, inclusive os concursados, que uma vez no governo colocam seus interesses pessoais acima dos interesses daqueles que os puseram lá. Uma das facetas dessa realidade é que, uma vez no cargo público, o eleito ou concursado mude de lado. Isto é, ele passa a representar o Estado, não a sociedade. Seria esperar muito da natureza humana que fosse diferente. Não nos iludamos: o primeiro objetivo de quem disputa eleição é conseguir o poder; o segundo é manter-se no poder. Para muitos, o objetivo é mandar e se enriquecer no cargo. Então, a sociedade deve cuidar para que haja limitação dos poderes do governo e o controle das ações dos governantes, coisas das quais não gostam os governantes com inclinação autoritária. Entre as limitações, deve estar a limitação do direito de impor tributos.
Transcrito do Alerta Total
José Pio Martins, economista, é Reitor da Universidade Positivo.


 

domingo, 8 de dezembro de 2019

O dever de controle sobre a Polícia – Editorial - O Estado de S. Paulo

Diante da tragédia ocorrida no baile funk, em Paraisópolis, é imprescindível, que protocolos e procedimentos de ação sejam revistos

Na quinta-feira passada, o governador João Doria fez um importante recuo na sua avaliação sobre a atuação da Polícia Militar num baile funk em Paraisópolis, quando 9 pessoas morreram e 12 ficaram feridas. [importante: nenhuma das vítimas , as vivas e as mortas, sofreu ferimentos de tiros ou arma branca;
a acusação que recai sobre a Polícia é de ter agido com uso excessivo da força - tudo bem, a Polícia não pode usar força além da necessária, mas, também, é inaceitável que sofra baixas decorrente de se acovardar diante do abuso de injusta agressão do outro lado (consta que os primeiros policiais ao entrar na área do baile, foram cercados pela turba exaltada, tiveram que pedir reforços,no que foram atendidos pelo Grupo Tático, ao que tudo indica - depoimentos na maior parte de moradores da favela e que, de forma espontânea ou por coação, sempre depõe contra a polícia - fez uso excessivo da força.
Vale ressaltar que as mortes foram causadas por ferimentos causados por pisoteio, que é atribuído ao temor infundido pela ação do grupo Tático.
A polícia não tem o direito de sair espancando, atiranto, matando ou ferindo, sem justa razão, mas, também não está obrigada a apanhar passivamente.] O reconhecimento de que erros foram cometidos não desprestigia e tampouco desautoriza a corporação policial. Trata-se, na verdade, de uma demonstração de compromisso com o aprimoramento da Polícia Militar, o que contribui para fortalecer a imagem da instituição.

Num primeiro momento, o governador afastou qualquer responsabilidade da Polícia Militar pelas mortes ocorridas. “A letalidade não foi provocada pela Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo o baile funk. É preciso cuidado para não inverter o processo”, disse João Doria no domingo passado. Na ocasião, o governador afirmou que seriam mantidos os protocolos de atuação da Polícia Militar. [por ocupar um cargo político, o governador mudou o tom do discurso, apesar de nenhum fato apresentado - falamos de fatos, não de versões - justificar a guinada governamental.] 

Eram muitas, no entanto, as evidências de que a atuação policial em Paraisópolis foi, no mínimo, imprudente. Segundo o relato da própria Polícia, agentes de segurança pública colocaram em risco a vida e a integridade de 5 mil pessoas para perseguir dois suspeitos no meio de um baile funk. Além disso, vídeos feitos por moradores da região evidenciaram condutas violentas e totalmente desproporcionais de policiais militares nas proximidades da festa.  Um desses vídeos, gravado em outubro do ano passado, [o incidente ocorreu na madrugada de domingo passado, 1º de dezembro, qual a razão de apresentar como 'prova' um vídeo gravado em outubro passado? 
indiscutivelmente, foi provado que alguns dos vídeos apresentados como gravados no domingo passado, na favela Paraisópolis, foram gravados na favela Heliópolis. 
Recai sobre a polícia acusação de alguns policiais terem efetuados disparos contra um cidadão que escondido em uma viela efetuou disparos contra a polícia - o que queriam? que os policiais, fossem com rosas ao encontro do atirador?]
chamou especialmente a atenção do governador. “Eu mesmo fiquei muito chocado quando vi as imagens”, disse João Doria, para quem as agressões aconteceram “gratuitamente”. No vídeo, um policial agride várias pessoas, inclusive um rapaz de muletas. Após a agressão, o agente sorria. “Aquele policial não representa a melhor Polícia Militar do País e tristemente fez o mau papel”, afirmou o governador. Em relação à tragédia de domingo passado, João Doria admitiu a possibilidade de falhas na conduta dos policiais militares. “Se existirem falhas, e elas forem apontadas, aqueles que falharam serão punidos”, afirmou.

O mais importante, no entanto, foi o anúncio de que os protocolos serão revistos. “Independentemente disso (se houve falhas de agentes), a Polícia Militar e a Polícia Civil já foram orientadas a rever protocolos e identificar procedimentos que possam melhorar e inibir, se não acabar, com qualquer perspectiva da utilização de violência e de uso desproporcional de força”, anunciou João Doria.

Diante da tragédia ocorrida no baile funk em Paraisópolis – nove pessoas morreram em razão de tumulto surgido a partir de uma ação da Polícia Militar – é imprescindível que protocolos e procedimentos de ação sejam revistos. É simplesmente inaceitável que policiais – agentes públicos treinados para promover a segurança pública – atuem de forma imprudente e desproporcional à ameaça.

As investigações devem ser feitas com rigor e agilidade, de forma a revelar as causas, os responsáveis e as circunstâncias de tão desastroso desfecho. No entanto, já agora, com as informações disponíveis, é de justiça reconhecer que foi flagrantemente equivocada a atuação policial em Paraisópolis. Por isso, ainda que não tenha vindo num primeiro momento, a reação do governador João Doria de não negar as evidências e reconhecer a ocorrência de falhas, bem como a necessidade de rever critérios e procedimentos, é digna de nota.



 As forças policiais precisam ser bem treinadas. [a polícia inglesa, destaque para a Scotland Yard] é conhecida por ser bem treinada, não ser violenta, só em situações especiais seus agentes usam armas de fogo.
Mesmo com tantos bons predicados, no mês passado, um individuo esfaqueou Londres, várias pessoas, até ser detido por populares. Quando já estava controlado, a polícia chegou e pós afastar os populares que continham o agressor, matou o esfaqueador.] expulsou os populares   Para que sejam eficientes e atuem sempre dentro da lei, os agentes devem saber o que fazer e como fazer. No entanto, as forças policiais não exigem apenas treinamento, como se uma atuação adequada fosse mera questão técnica. As forças policiais exigem um contínuo cuidado por parte das autoridades. Assim como o exercício do poder, o da violência por parte do Estado sempre requer controle. Que as autoridades políticas estejam atentas, para garantir que as forças policiais atuem sempre dentro da mais escorreita legalidade. No cumprimento desse dever, é imprescindível não fechar os olhos quando alguns agentes atuam fora dos limites da prudência e da lei.

Editorial - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 29 de julho de 2019

Como saber quem está mais perto de ganhar a guerra entre a LavaJato e a VazaJato - Alon Feuerwerker

Análise Política

A propaganda e a guerra psicológica têm seu papel nos conflitos, mas só podem ser declaradas decisivas quando um lado decide capitular apesar de ainda ter recursos suficientes para virar o jogo. Outro jeito de ganhar guerras é eliminar o inimigo. Outro desfecho é o armistício sem capitulação. A Alemanha perdeu a Primeira Guerra Mundial do primeiro jeito, e a Segunda do segundo. A Guerra da Coreia terminou do terceiro jeito.
Ganhar ou perder depende também, e muito, do objetivo proposto. Se a meta é eliminar o inimigo mas ao final ele foi apenas contido, fica aquele gostinho ruim. Tipo a Guerra do Golfo contra Saddam Hussein. Também por isso, ninguém deveria começar uma guerra sem ter ideia de como acabar a dita cuja. Às vezes dá zebra. Só olhar as invasões inglesa, soviética e americana no Afeganistão. Errar a conta do custo de ganhar uma guerra é sempre complicado.

A leitura das manchetes e #hashtags na disputa da LavaJato contra a VazaJato é divertida de ver, pois diz algo sobre quem ganha e quem perde cada batalha, mas infelizmente diz quase nada sobre quem vai ganhar a guerra. O que é preciso olhar? O objetivo de cada um, e que lado tem mais recursos, ou recursos suficientes, para atingir o objetivo proposto. Na Segunda Guerra morreram na Europa duas vezes mais militares soviéticos do que alemães. E todo mundo sabe quem ganhou no fim. #FicaaDica.   A LavaJato vinha em vantagem havia cinco anos, principalmente por causa da superioridade esmagadora em recursos. Um essencial, como a operação sempre fez questão de enfatizar, era a aliança com a imprensa. Com o controle quase absoluto dos instrumentos policiais e judiciais, a LavaJato vinha voando este tempo todo em céu de brigadeiro, navegando em mar de almirante. Mas a realidade mudou.

A LavaJato foi arrastada agora a uma guerra de atrito contra uma tropa irregular aliada a parte dos antigos aliados da LavaJato na imprensa. O que a LavaJato precisa para declarar vitória? Interromper as revelações da VazaJato e impedir eventuais efeitos judiciais. Esta segunda coisa ainda está à mão. Já a primeira, não. E do que a VazaJato precisa? Apenas sobreviver. Isso está totalmente ao alcance dela, também por a disputa envolver a liberdade de imprensa.   A linha de “caça ao hacker” faz sentido para a construção de uma narrativa, mas não mata a VazaJato. Até agora, ao contrário, apenas reforçou a autenticidade das revelações. Mesmo que as autoridades consigam levar os hackeadores a admitir algum ilícito em associação com Glenn Greenwald, isso não implicará os demais jornalistas do TheInterceptBR ou o próprio veículo, uma pessoa jurídica, em qualquer crime.

Mesmo que as autoridades conseguissem fechar o TheIntercepBR, isso não impediria os demais veículos parceiros de continuar publicando reportagens a partir do vasto material. E se a Justiça brasileira decretasse, numa hipótese hoje alucinada, a censura, a coisa poderia continuar a ser divulgada a partir do exterior. Aí a proibição teria de partir, por exemplo, do governo ou da Justiça nos Estados Unidos. Mas ali a liberdade de imprensa é ainda mais protegida do que aqui. [fato é  que a cada dia que passa menos interesse o produto da disenteria do intercePTação deixa de despertar;
em meados da semana passada o assunto voltou a ser interessante,  devido a prisão dos hackers - no final de semana passado quase não houve interesse.]

Onde está a brecha das defesas até agora erguidas pela LavaJato contra a VazaJato? Para matar a divulgação, a LavaJato precisa atacar e derrotar seu principal aliado dos últimos cinco anos e meio: a imprensa. E se é verdade que a imprensa gosta da LavaJato, é natural que goste ainda mais de preservar seu próprio poder. Pois ninguém sabe o dia de amanhã. Por isso a imprensa está dividida. E também por isso o objetivo da LavaJato na guerra contra a VazaJato é tão difícil de alcançar.

Claro que há sempre a hipótese de a LavaJato recooptar toda a imprensa. Mas esse haraquiri do jornalismo ainda não está no radar. E um detalhe: se a VazaJato é uma ameaça para Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros menos visíveis, não chega a ser um problema relevante para Jair Bolsonaro ou Paulo Guedes. E à medida que os personagens principais vão se enrolando, as instituições a que pertencem são estimuladas a ir se distanciando, mesmo que esse distanciamento seja disfarçado por grandiloquentes declarações de apoio e solidariedade. 
 
Alon Feuerwerker - Análise Política