Boa ideia. E, pra
começar, basta olhar para muita gente da base de sustentação do governo Dilma
O novo ministro
da Defesa, Jaques Wagner, ex-governador petista da Bahia, assumiu ontem o
cargo, recebendo-o do já ex-ministro Celso Amorim em solenidade em Brasília. Em
seu discurso, repleto de generalidades, Wagner assegurou que o governo
Dilma tem compromisso com “Forças Armadas cada vez mais capacitadas,
modernas e integradas.”
A
ver. Não tocou
em política em sua fala. Dias atrás, porém, ainda governador, cheio de dedos
e pisando em ovos, o novo ministro da Defesa fez um discurso ao receber o
relatório parcial da Comissão Estadual da Verdade de seu Estado em que defende
que a “revisão histórica” do período da ditadura militar (1964-1985)
seja feita em “movimentos suaves”, uma vez que “qualquer
precipitação” (não deu exemplos) “não
contribui” para esse processo.
Sendo
o primeiro ex-sindicalista a estar à frente das Forças Armadas, possivelmente Wagner haja tomado
cuidados especiais em seu discurso, tanto é que tirou o
corpo fora diante da recomendação da comissão de que os crimes contra os
direitos humanos cometidos durante a ditadura devem ser punidos, e que a Lei de Anistia, de 1979, deve ser revista. Para ele,
o tema não está no âmbito de seu novo ministério.
CEM MIL: A chamada “passeata dos 100 mil” contra
a ditadura, em 1968: Jaques Wagner fala nos civis que apoiaram o regime mas
parece se esquecer que vários deles estão, tal como ele, com o governo Dilma
(Foto: Evandro Teixeira/Jornal do Brasil)
Está
porém, absolutamente correto ao opinar que não se pode
responsabilizar instituições do Estado por crimes cometidos por seus
integrantes. Mas o ponto do discurso em que gostaria de me deter é
a passagem em que defende que sejam lembrados, além de militares e outros
agentes públicos envolvidos com violações dos direitos humanos, líderes civis
que apoiaram e se beneficiaram da ditadura. Sua frase específica a respeito:
– É sonegador da verdade a gente não endereçar críticas duras a uma
elite política, empresarial e jornalística que foi braço consolidador da
ditadura e que se escondia atrás de quem tinha fuzil.
Ele não
falou em punição para esses civis, mas apenas em “duras críticas” —
talvez porque, se der uma olhada para o governo Dilma e
sua base de sustentação no Congresso, verá fisionomias familiares, que
estiveram firmes ao lado da ditadura tanto quanto, agora, estão firmes
no apoio ao governo petista. Não preciso me estender muito a esse
respeito, não é mesmo? Basta lembrar que o czar-mor da
economia durante o período militar, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Netto, um dos signatários do Ato
Institucional número 5 — que instituiu o período mais negro de tirania no
país desde a proclamação da República, em 1889 –, foi durante anos
conselheiro e guru de ninguém menos do que Lula.
Se hoje
Delfim, que é tudo menos bobo, se afastou do desastre sobretudo econômico
que é o governo Dilma, isso não muda as coisas, até porque seu chefe político
durante muitos anos, o deputado Paulo Maluf (PP-SP), é
dilmista até a raiz dos cabelos. Como é o senador Fernando Collor
(PTB-AL) que, como deputado, votou em Maluf e contra Tancredo Neves no
Colégio Eleitoral, em 1985. Sem esquecer, evidentemente, do senador José
Sarney (PMDB-AP), sólido sustentáculo dos governos Lula e Dilma, que, como se
recorda, foi presidente do PDS, o partido oficial do regime militar.
Wagner
pode, portanto, começar quando quiser suas “duras críticas” a esse
pessoal. Já estão aí quatro nomes para ele incluir na relação dos
criticáveis.
Fonte: Blog do Ricardo Setti
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