O ex-presidente Lula poderá concorrer às eleições
mesmo sendo condenado à interdição para o exercício de função pública,
porque a sentença valerá depois do processo transitado em julgado. A lei
da ficha limpa não o impedirá porque só seria aplicada após eventual
condenação em segunda instância. Lula continuará travando na política a
briga judicial como forma de escapar da lei.
Suas contas com a Justiça ainda vão produzir ainda muitos eventos. Há
outras ações em curso. Ele terá novos depoimentos a fazer na ação de
corrupção na Lils Palestra, e na ação, cuja denúncia ainda não foi
recebida, pelo sítio de Atibaia. Nessas duas, ele tem novos encontros
marcados com o juiz Sérgio Moro. A chance que Lula tem de escapar da sentença da Justiça é a de buscar
uma saída política. Por isso, toda a defesa se baseia na tese delirante
de que ele é um perseguido político. Se a condenação for confirmada no
TRF-4, o que dirão os advogados, já que o argumento é que ele é
pessoalmente perseguido pelo juiz Sérgio Moro? Os desembargadores também
serão acusados de praticarem a guerra jurídica contra o Lula? Bom, o
que a defesa imagina é que até lá a política daria a ele uma situação
inatacável, porque ele seria candidato com chances de vitória. E,
vencendo, todos esses processos seriam paralisados. Se o Tribunal da
quarta região levar um ano e dois meses para analisar o recurso à
sentença de Moro, a decisão sairia às vésperas das eleições.
Esse é o plano: aproveitar a contradição das leis brasileiras que
dizem que um réu não pode ser presidente da República, mas um réu, mesmo
condenado em primeira instância, pode ser candidato a presidente. Lula
pode se candidatar a um cargo que pela Constituição ele não pode
exercer. Essa é a contradição louca da lei brasileira. E disso se
aproveita Lula. [o Brasil é um país de legisladores tão sem noção, tão estúpidos, que consegue promulgar uma lei que autoriza que se gaste milhões de recursos públicos na candidatura de um indivíduo que é candidato a um cargo eletivo, mesmo sendo réu; só que a mesma legislação proíbe que um réu seja presidente da República.
A stiuação é tão absurda que o condenado Lula pode ser candidato, com uso de recursos públicos, a um cargo que, sendo eleito, não poderá exercer.]
A candidatura seria assim, em seu plano, uma posição
para fugir da Justiça, um esconderijo. A defesa repete que o imóvel nunca foi de Lula e que ele “tem sido
objeto de uma investigação politicamente motivada”. Esse discurso é
perfeito para ser usado na briga política que ele tenta fazer. Ele
aproveitaria em palanque a tese do perseguido. O ex-amigo do peito de
Lula, Léo Pinheiro, disse que o triplex sempre foi de Lula e que a OAS
foi informada disso desde que assumiu a continuidade das obras do
edifício Solaris. E Léo disse também que os custos desse presente não
foram da OAS, mas descontados das propinas que a empresa teria que pagar
pelas obras da Refinaria Abreu e Lima. Ou seja, não apenas Lula recebeu
vantagens indevidas, como o custo disso foi pago indiretamente pela
Petrobras no sobrepreço cobrado pela empreiteira naquela obra cujo preço
disparou e multiplicou-se por dez. Além disso, Moro apontou os
documentos rasurados como provas materiais, confirmando que o imóvel era
para o ex-presidente.
A tese da defesa é a de que o juiz e o grupo de procuradores de
Curitiba perseguem politicamente o ex-presidente Lula. E que isso “ataca
o Estado de Direito, a democracia e os direitos humanos”. Segundo os
advogados, “o juiz Sérgio Moro deixou seu viés e sua motivação política
clara desde o início do processo”. E mais: “o julgamento prova que o
juiz Sérgio Moro e a equipe do Ministério Público da Lava-Jato foram
conduzidos pela política e não pela lei.”
Se tudo isso fosse verdade, as instituições da República assistiriam a
tudo de braços cruzados? E a segunda instância continuaria a confirmar
as sentenças de Moro com a frequência com que isso acontece? Do ponto de
vista jurídico, essa estratégia leva o réu a um beco sem saída.
Contudo, quem politizou tudo foi o próprio Lula e seus advogados porque
esta porta foi escolhida como a única saída possível do presidente.
O que levou Lula ao poder foi a mudança da estratégia de campanha. Em
vez do Lula raivoso, que se dizia perseguido pelas elites, entrou o
candidato moderado que conseguiu atrair a classe média. Uma grande
parcela do seu eleitorado ele perdeu para sempre. Ele sabe disso, mas o
importante para Lula é ser candidato para que quanto mais perto fique do
pleito, mais difícil seja para o tribunal de segunda instância
condená-lo. É uma corrida contra o tempo, que será atravessada em um
período de aumento da tensão política no país.
Fonte: Coluna da Miriam Leitão - O Globo
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