O
presidente Temer é um caso de estudo. Ele é o único governante brasileiro que
não tem aumento de popularidade quando a inflação está em queda. Desde o início
da era do real há uma correlação entre inflação e aprovação presidencial,
quando ela sobe a rejeição aumenta, e quando desce a imagem do governo melhora.
Temer tem uma espécie de fator teflon ao contrário, o que é bom não gruda nele.
Mesmo o
avanço em outros indicadores da economia não tem tido impacto na imagem do
governo. Só ontem foram dois dados positivos. O IBC- Br, índice de atividade
econômica do Banco Central, e o Caged, que mede os empregos formais criados a
cada mês. A melhora
na economia tem aparecido em vários indicadores. A atividade cresceu em
setembro, como se esperava, e fechou o terceiro trimestre com alta de 0,58% no
cálculo do BC. Na comparação com o mesmo período de 2016, o IBC- Br agora marca
alta de 1,4%, após cair 0,2% no segundo trimestre. O PIB mesmo, dado oficial,
só será divulgado dia 1 º pelo IBGE.
Os
empregos com carteira estão sendo gerados a uma velocidade muito abaixo da
necessária. Mas o número divulgado ontem, de criação de 76 mil vagas, marca o
sétimo mês consecutivo de saldo positivo e é o melhor resultado para outubro
desde 2013. Naquele mês de 2015, para se ter uma ideia, o país perdeu 169 mil
vagas com carteira. O IBGE
divulgou na semana passada um dado favorável no consumo. As vendas de comércio
em setembro subiram 6,4% quando comparadas com setembro de 2016. Isso já sem o
efeito da liberação do FGTS, que manteve as vendas nos meses anteriores. O
consumo está sempre ligado ao humor do consumidor. O país amargou nove
trimestres de queda nas vendas. A inflação é baixa, e a dos mais pobres é ainda
menor, segundo o novo indicador do Ipea. Isso tem a ver com a grande produção
agrícola por causa do clima favorável. Como o peso dos gastos com alimentação é
duas vezes e meia maior entre famílias de menor renda, a inflação dos pobres
está em 2% este ano.
Mesmo
assim, nada promove a aceitação de Temer em nenhuma classe social. Pode- se
pensar numa série de razões políticas e sociais, mas ele é um ponto fora da
curva nessa relação entre economia e política. Mesmo se melhorar, está num
nível tão baixo que não fará muita diferença. Um caso que precisa ser estudado. Há outros
fatores que produzem queda da popularidade, claro, e podem ser parte da
explicação desse baixo desempenho. Todos os governantes desde a era do real
tiveram altas ou quedas de popularidade conforme as oscilações do nível de
preços. Só para ficar no último exemplo: em 2014 a presidente Dilma foi
reeleita, mas a disparada da inflação em 2015, provocada pelos reajustes que
estavam represados, e agravada pela recessão, derrubaram as avaliações de ótimo
e bom no início do segundo mandato. Quando ela saiu, a aprovação estava em 10%
pelo CNI/ Ibope. Com Temer, a situação econômica melhora, mas nada influencia
os seus índices de popularidade. Ele caiu ao nível mais baixo da história: entre
5% e 3%, dependendo da pesquisa.
Uma das
razões da persistente rejeição certamente é o alto nível do desemprego. Melhora
houve, mas insuficiente. O problema permanece enorme e angustiando as famílias.
A revelação das conversas do presidente com Joesley Batista e a sensação de
crise política permanente — com as denúncias da PGR e as manobras feitas por
Temer para se livrar delas — também ajudam a explicar. Haverá outros motivos.
Mas o fato é que a ajuda que a economia costuma dar aos governantes impopulares
não está acontecendo com Temer.
A dúvida
é a quem a economia vai ajudar — ou prejudicar — no ano que vem? Os cenários
mais comuns adiantam que o nível de atividade vai continuar melhorando
moderadamente, a inflação vai subir um pouco mas ficará na meta, o desemprego
terá queda bem lenta. A economia estará morna. Neste caso, a tendência é não
provocar qualquer efeito positivo. Quando se tem que explicar que a economia
melhorou é porque ela não influenciará o voto. As pessoas precisam sentir. E
tudo o que sentirão será pouco para produzir o efeito de satisfação que leva ao
voto situacionista. Outros fatores vão influenciar a decisão do eleitorado.
Dois assuntos, corrupção e desemprego, certamente estarão no centro do debate
do ano que vem.
Coluna da Miriam Leitão
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