Ora, hoje, na Câmara, não há 308 votos sinceros pela reforma. De maneira que a proposta só passa com votos fisiológicos
Por quantos votos se compra a Previdência?
A gente tem que admitir: além de atrapalhada, essa mistura de
política, economia e mercados pode ser engraçada. O PSDB é o partido das
reformas, credencial obtida no primeiro governo FHC. É verdade que
parte da agremiação andou renegando as privatizações, por exemplo, mas,
no essencial, e hoje, está como o partido das reformas.
Pois quando o
ministro do PSDB, Bruno Araujo, deixou o governo , a Bolsa subiu e os
mercados se animaram, entendendo que a saída favorecia a aprovação da
reforma da Previdência. Ou, visto de outro lado, o PSDB estava
atrapalhando, mesmo com Araujo dizendo que, na Câmara, votaria pelas
reformas. Quando a gente pensa que o PSDB já fez todas as bobagens, o pessoal
do partido acaba arranjando outras. Mas o mais engraçado é que, no
momento, o PSDB está mesmo atrapalhando as reformas, no sentido prático,
digamos. Ocorre que muitas lideranças da base Temer - a turma do Centrão
fisiológico - andam dizendo que só votam o que sobrou da reforma da
Previdência se ganharem alguns ministérios. E os postos que estão mais à
mão são justamente os do PSDB, que tinha quatro ministérios e entregou
apenas metade de seus votos na Câmara para salvar Temer.
Entre os deputados do Centrão que votaram pela derrubada das
denúncias contra Temer, certamente há muitos, alguns, talvez, que
acreditam na necessidade das reformas. Mas está claro que a maioria
votou por dois motivos: um, obter mais vantagens do presidente Temer;
outro, bloquear as investigações que, pegando o presidente, apanham
muita gente em volta. Ora, hoje, na Câmara, não há 308 votos sinceros pela reforma. De
maneira que a proposta só passa com votos fisiológicos. E esse tipo de
voto se compra. O Ministério das Cidades, aquele deixado por Bruno
Araujo, vale ouro. Com orçamento gordo, de R$ 20 bilhões, administra o
Minha Casa Minha Vida (MCMV), incluindo o novo Cartão Reforma, que é um
dinheiro dado para famílias de mais baixa renda reformarem imóveis. Além
disso, um ministério tem centenas de cargos para nomeação direta, sem
contar os secundários.
Quantos votos pela reforma da Previdência vale uma carta dessa? É esse tipo de conta que o presidente Temer e seu time da política estão anotando. Dirão: realismo pragmático. O importante é que o cara vote, não interessando se é por consciência ou por negócio.
É também o que pensa o mercado. Vai até mais longe: o governo Temer
tem corrupção? Passa projetos no balcão de negócios? Compra votos?
Por: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Por: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
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