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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Sem medo do ridículo e certo da impunidade, Janot usa evidência de falcatrua como se álibi fosse

Se o STF tiver a coragem de seguir a Constituição — vejam a que ponto chegamos! — são nulas aquelas estrovengas apresentadas como provas. O Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição diz claramente que não serão aceitas no processo provas ilícitas

Rodrigo Janot é mesmo um pândego. Nesta quarta-feira, confrontado com reportagem da Folha que evidencia que a Procuradoria Geral da República soube em data muito anterior à admitida por ele próprio que o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves seriam delatados pela turma da JBS, saiu-se com uma cascata fabulosa. E que evidência era essa? Um e-mail que o então procurador Marcelo Miller, que trabalhava diretamente com Janot, como seu braço-direito na investigação, enviou a si mesmo.

Lembro rapidamente: a CPMI da JBS quebrou o sigilo da correspondência eletrônica de Miller. Numa mensagem enviada a si mesmo no dia 9 de março, ele afirma:
que a JBS já estava em processo de delação;
– que Temer seria um dos delatados;
– que Aécio seria outro.
Vamos lá:
– Joesley gravou conversa com Temer no dia 7 de março;
– o procurador-geral afirmou mais de uma vez, inclusive em documento oficial, que as tratativas para a delação só começaram no dia 27 de março;
– Janot disse só então ter tomado ciência da gravação com o presidente;
– se Miller sabia da coisa ao menos desde o dia 9, como acreditar que ele, Janot, não soubesse?;

– como o então procurador tinha ciência de que Aécio seria delatado se a gravação com o senador só foi feita no dia 24 de março?

E o que disse o ex-procurador-geral? Prestem atenção: “[o e-mail] é a prova absoluta de que nós não tínhamos nenhum acerto. Tanto é assim que Miller instruía as pessoas sobre eventuais obstáculos que nós faríamos e como eles deveriam superá-los”.
Falou essa maravilha depois de participar de um evento em Cuiabá. A declaração traz o cinismo de quem tem a certeza da impunidade.
Janot finge ignorar o fato de que, no tal e-mail, Miller, seu auxiliar direto, se refere à JBS como “nós”, e ao MPF como “eles”. A lista dos delatados estava feita, como revela a mensagem, antes que as supostas evidências fossem produzidas.

Na versão da Carochinha que Janot sustentava — em entrevistas e em documentos —, Joesley se apresentou, disse ter as gravações, e só então começaram os entendimentos. Como se vê, trata-se de uma deslavada mentira. Sabe que isso torna a delação sem efeito se o Supremo cumprir aquilo que o próprio tribunal votou.
Mas há mais: se o STF tiver a coragem de seguir a Constituição — vejam a que ponto chegamos! — são nulas aquelas estrovengas apresentadas como provas. O Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição diz claramente que não serão aceitas no processo provas ilícitas.
Julgando que fala com tolos, soltou esta: “Ela [a reportagem] me questionou sobre o fato de que este caso só entrou na Procuradoria dia 27 de março, e o email é do dia 9, portanto seria incoerente. Incoerente por quê se quem mandou o e-mail foi o Miller, do computador pessoal dele, como diz a própria reportagem, dirigido ao pessoal da JBS?”

É espantoso! E para quem Miller trabalhava? Em nome de quem atuava? Mais: e a nota emitida pelo próprio Janot, quando se descobriu que Miller instruía também o acordo de leniência, assegurando que o então procurador não participara dos acordos de delação? Como se nota, isso também é falso.
Janot tentou se comportar ainda como ombudsman da reportagem: “O fato de o presidente da República ter praticado mais de um crime, no exercício da Presidência, não é notícia. A notícia é que um dos ‘braços direitos do procurador’ instruiu a JBS a se comportar desta ou daquela maneira. Esta é a coerência de se comparar, como pares, sorveteiros e esquimós. Os dois mexem com gelo”.

O doutor fala como se Miller, à época, não estivesse nos quadros da PGR, servindo-o.
Vamos ver. Se o presidente cometeu crimes, ele, Janot, não provou. Quem os pratica é criminoso, e pode ser tratado assim desde que pego em flagrante, que confesse ou que seja condenado. Temer não se encaixa em nenhum caso. O ex-procurador é menos inteligente do que parece ao abusar da metáfora.  Se Temer é o esquimó, o próprio Janot admite ser o sorveteiro, e a matéria que os uniria seria o “gelo”, os atos criminosos. Janot está nos pedindo que condescendamos com o seu crime porque, afinal, seria menor… Pra começo de conversa, quando o agente do Estado agride a lei para combater o malfeito, está, na verdade, atacando as instituições. Sempre será coisa mais grave.

Mas esperem! Ao agora ex-procurador-geral cabia ter provado o que disse. E não provou. Temer, reitero, não confessou nada. Janot sim!  De resto, que papo é de que a imprensa não noticiou os supostos crimes do presidente? Desde maio, esse é o tema permanente. Janot ainda não está satisfeito com os panegíricos que lhe dedicaram os veículos das Organizações Globo? Ele até conseguiu convencê-los de que está na tal fita gravada por Joesley o que lá não está, não é mesmo? Chega a ser patético que uma mentira seja convertida em linha editorial. É proibido falar ou escrever, naquelas cercanias, que a gravação NÃO TRAZ a anuência de Temer com a compra do silêncio de Eduardo Cunha. E não traz.
Janot sabe que a casa caiu. A menos que o Supremo decida condescender com atos criminosos contra o crime. Delações e supostas provas têm de ser arquivadas no lixo.

Blog do Reinaldo Azevedo

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