O Estado de S.Paulo
Fenômeno que não encontra paralelo em nenhum país do mundo ao longo de toda a quarentena
O Brasil
acaba de chegar a um número espetacular: crianças e jovens estão há 200 dias
seguidos sem aulas, fenômeno que não encontra paralelo em nenhum
país do mundo. É a maior realização, até agora, da quarentena defendida
com tanto entusiasmo por nossos “gestores” públicos, médicos que só pensam
naquilo – “fique em casa” –, sindicatos de professores e todos os militantes,
como eles, do Partido Funerário Brasileiro. É mais um título mundial, para se
juntar ao “penta”: nenhuma nação do planeta conseguiu chegar nem perto deste
recorde. Na Dinamarca, as escolas públicas ficaram fechadas 30 dias. Na França,
56. Na Alemanha, 68. Mais uma vez a Europa se curva ante o Brasil.
Deve ser,
obviamente, porque o sistema de ensino europeu é muito inferior ao
brasileiro. Aqui, com a prodigiosa qualidade da nossa escola pública, podemos
ficar praticamente um ano sem aulas – e garantir assim a perfeita saúde das
crianças, enquanto a Europa, irresponsável, ignorante e coitada, está criando
“aglomeração” nas escolas e fazendo esse genocídio infantil porque precisa
tirar o seu atraso em matéria de educação. Só pode ser isso. No Brasil quem
entende mesmo do assunto é gente como a deputada Bebel, que manda no sindicato
de professores de São Paulo, ou dr. Drauzio, especialista vitalício da mídia
para questões de medicina pública, privada e de qualquer outra natureza – e
mais uma penca de celebridades tão parecidas com esses dois que nem é preciso
ficar citando mais nomes. [para o dr Drauzio vale tudo em nome da especialidade vitalícia;
faz algum tempo que foi assessorar tecnicamente um programa de TV sobre a febre amarela e conseguiu a proeza de contrair a doença, um pouco antes do programa.
Considerando que a vacina existe há tempos e ela tem acesso, muitos deduzem que ele contraiu a febre para se sentir mais especialista.] Eles não podem nem ouvir falar em volta às aulas; os 200 dias de escola fechada são a maior vitória que já conseguiram até agora ao longo de toda a quarentena.
faz algum tempo que foi assessorar tecnicamente um programa de TV sobre a febre amarela e conseguiu a proeza de contrair a doença, um pouco antes do programa.
Considerando que a vacina existe há tempos e ela tem acesso, muitos deduzem que ele contraiu a febre para se sentir mais especialista.] Eles não podem nem ouvir falar em volta às aulas; os 200 dias de escola fechada são a maior vitória que já conseguiram até agora ao longo de toda a quarentena.
A
sindicalista diz que não há nenhuma condição de reabrir as escolas no momento,
embora o número de crianças que contraíram o vírus pelo mundo afora seja, em
geral, inferior a 1% dos infectados; as mortes são menos de 1% desse 1%. [mortes entre crianças tendo como causa a covid-19 < 1/10000 das crianças infectadas.] Ela
acaba, aliás, de fazer uma ameaça: se as autoridades ensaiarem qualquer
tentativa de volta às aulas os professores entrarão “em greve”. O especialista
diz que todo mundo tem de continuar trancado em casa – salvo, por alguma razão
não explicada, os mesários das próximas eleições municipais, segundo sua
mensagem ao público na propaganda da justiça eleitoral. Todos falam, naturalmente,
que a solução é substituir as aulas “presenciais” (como se fosse possível dar
algum outro tipo de aula) por lições “no computador” – que servem, talvez, para
quem quer fazer um curso de corte e costura, mas não ensinam coisa nenhuma de
aritmética, ciências ou português.
Em países
que contam com um mínimo de decência por parte dos seus “gestores”, levar as
crianças de volta às aulas foi uma prioridade absoluta desde o começo da
epidemia.
Aqui, manter as escolas fechadas por 200 dias, e quantos mais for possível, é um ato de patriotismo.
J.R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo
Aqui, manter as escolas fechadas por 200 dias, e quantos mais for possível, é um ato de patriotismo.
J.R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo
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