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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Eike, Cabral, Dilma: sem petróleo, competência, vergonha

Vídeo de abril de 2012 é emblema da tragédia moral brasileira. A solenidade marcava o início da operação da OGX, a petroleira de Eike Batista, do grupo EBX

Este vídeo circula faz tempo por aí. Mas merece ser revisto por aquilo que encerra de emblemático.

Volto-me a ele daqui a pouco.
Eike Batista está chegando nesta manhã. Seus advogados já haviam negado a sua suposta intenção de fugir para a Alemanha — ele tem dupla nacionalidade. Se o fizesse, não seria extraditado para o Brasil. A esmagadora maioria dos países não extradita seus naturais. O máximo que poderia acontecer seria responder na Alemanha por eventuais crimes cometidos no Brasil, desde que atos criminosos também naquele país.

Em entrevista à TV Globo, disse que vai esclarecer tudo e resgatar a verdade. Vamos ver. Será que os dois doleiros mentiram quando afirmaram que ele pagou US$ 16,5 milhões de propina a Sérgio Cabral? O dinheiro foi depositado no Uruguai, e se fez uma simulação da compra e venda de uma mina de ouro a uma tal Arcádia. Segundo as investigações, a empresa nunca existiu, e os delatores afirmam que Cabral era mesmo o destinatário da bolada.

Eike é uma espécie de coquetel de livros de autoajuda e um verdadeiro “performer” da autoconfiança. Nas entrevistas que deu depois da derrocada, a gente via a imagem de alguém que estava tentando ser o primeiro ex-bilionário por excesso de talentos particulares. Inventou uma personagem para si mesmo, que fez um sucesso estrondoso. Quando o petróleo que prometeu não deu as caras, a fantasia não tinha como responder às evidências do mundo real.

O vídeo 
Um vídeo de abril de 2012 é um emblema da tragédia moral brasileira — e de outras tragédias. A solenidade marcava o início das operações da OGX, a petroleira de Eike, do grupo EBX. Sérgio Cabral, então no governo do Rio, discursa com aquela ligeireza descontraída que marcava a sua atuação pública, abusando de neologismos e rapapés. 

Referindo-se a Eike, disse: “[trata-se de] um projeto estruturante vindo de uma pessoa com uma visão como a sua. Essa combinação de uma pessoa com uma visão ‘fordiana’, ‘steve-jobiana’ como você, com um Brasil de Lula e de Dilma, um Brasil que distribui renda — hoje de manhã comemorávamos um milhão e meio de pessoas atendidas por um programa chamado ‘Rio sem Miséria’, complementando o Brasil sem Miséria da presidenta Dilma… Quer dizer: um país que consegue combinar desenvolvimento econômico com distribuição de renda. E, para nós, do Estado do Rio de Janeiro, que vivemos um momento extraordinário, com uma agenda de desenvolvimento, de crescimento, ter você como o líder de todos os investimentos privados na América do Sul é extraordinário. Eu quero dizer, Eike, é que, para nós, é um grande orgulho. O Brasil precisa cada vez mais de (sic) reconhecer os seus empreendedores (…) Como governador do Estado, em nome de 16 milhões de habitantes, meu muito obrigado a você por gerar riqueza numa área que antes não tinha nada”.

Aí foi a vez de Dilma: “Vou dirigir um cumprimento muito especial ao Eike Batista, presidente da EBX. O Eike é o nosso padrão, a nossa expectativa e, sobretudo, o orgulho do Brasil quando se trata de um empresário do setor privado”.

Eis aí! Menos de cinco anos depois, Cabral está preso, acusado de roubar US$ 100 milhões dos cofres públicos. O equivalente a R$ 270 milhões já foi encontrado. O Brasil quebrou. O Rio de Janeiro quebrou. Eike quebrou. O empresário poderia ter se contentado com o infortúnio. Mas parece que são fortes as evidências de que se meteu também em lambança.
Eike não tinha o petróleo que prometeu.

O governo Dilma não tinha planejamento, não tinha responsabilidade fiscal, não tinha competência para entender o momento econômico vivido pelo mundo.  O governo Cabral — e vejam o Estado do Rio na falência, de pires na mão — compartilhava com o da “presidenta” as mesmas dificuldades. E Cabral, como resta evidente (e, para mim, era assim desde sempre), não tinha vergonha na cara.

A exemplo de todo mundo, estou curioso para ouvir as explicações de Eike. Deve haver alguma. Quando ao vídeo… Ulalá! Cabral era exemplo de governador, Dilma era exemplo de “presidenta”, e Eike, exemplo de empreendedor.Foi por esses valentes terem conseguido engabelar tanta gente que vivemos a maior recessão da história, uma das maiores taxas de desemprego da história e a era mais corrupta da história.

Eis aí os heróis.
Mas Eike já pensa em revolucionar o mundo com um novo creme dental. É sua nova mina de ouro.
Ah, sim! Tomara que Sérgio Cabral tenha tempo de ler sobre o “fordismo” na cadeia para ter a noção da batatada que disse ao juntar o conceito à visão “steve-jobiana”.
Ele falava qualquer coisa na certeza de que poderia seguir enganando os trouxas indefinidamente.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo


 

domingo, 29 de janeiro de 2017

A guerra é maior do que parece

Quem são e como agem as cerca de 80 facções criminosas que se fortalecem em todo o País, controlam rotas do tráfico dentro de estados e ameaçam autoridades e órgãos públicos

Um plano arquitetado por integrantes da facção criminosa Família do Norte e descoberto pelo setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas revelou que, além das rebeliões no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, os membros do grupo pretendiam executar um atentado contra autoridades de segurança pública do estado. O relatório, divulgado em 12 de janeiro, apontou que, em uma reunião entre presos do regime semiaberto e líderes do regime fechado, os integrantes concluíram que a primeira parte da missão havia sido cumprida. A outra etapa seria um atentado ao Tribunal de Justiça do Amazonas e ao Ministério Público de Estado. Para isso, os criminosos acionariam colombianos especializados em explosivos e pistoleiros. Hoje, os edifícios dos órgãos públicos contam com segurança reforçada e os funcionários não podem dar declarações. Esse cenário de terror reflete as proporções que chegou a disputa pelo tráfico. 

[se alterna entre o absurdo e o ridículo a ação extremamente midiática  de autoridades  brasileiras para prender Eike Batista, quando o Brasil não consegue controlar nem os bandidos que já estão presos; a presente matéria deixa claro que o autoridades brasileiras - entregaram,  por leniência e incompetência, o controle dos presídios brasileiros aos que lá deveriam estar na condição de encarcerados , mas, ao contrário, agora administram, sob as regras das dezenas de facções, os estabelecimentos prisionais.
Eike Batista sem dúvida deve ter várias pendências a acertar com a Justiça do Brasil e certamente será condenado em muitas delas.
Mas, é sabido que não existe nenhuma urgência estilo 'sangria desatada' que torne sua prisão tão urgente. Se existisse urgência, se pergunta: o que motivou que um 'mandado de prisão' expedido em 13 de janeiro só fosse objeto de ações para cumpri-lo quase quinze dias após? se espera que quando um juiz expede um mandado de prisão o mesmo esteja em condições de ser cumprido de pronto, ou pelo menos dado ciências as autoridades aeroportuárias para impedir que o alvo do mandado saia do país.
Sumir do mundo ele não vai - mais dia, menos dia, será preso ou se entregará - cometer novos crimes não pode - seu potencial criminoso só podia ser exercido quanto tinha o apoio da gang lulopetista.
As autoridades competentes - competentes por ser atribuição delas e incompetentes por não saber como cumprir seus deveres - devem cuidar primeiro de assumir o controle das penitenciárias para depois efetuar prisões de presos que já perderam a capacidade de cometer novos crimes.]

Mais que isso: a crise penitenciária expôs o poder de dezenas de facções até então subestimadas em todo o País.  Dados obtidos a partir do cruzamento de informações dos serviços de inteligência da Polícia Federal e das secretarias de segurança pública apontam que o Brasil tem atualmente cerca de 80 facções criminosas que atuam dentro e fora dos presídios. As primeiras surgiram em São Paulo e no Rio de Janeiro, com membros dissidentes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). 

Hoje, porém, muitas outras nasceram para atuar como sócias minoritárias que controlam o tráfico em diversos estados, distribuem as drogas e, na esteira das maiores, podem se tornar grandes potências do crime. Além disso, o próprio sistema prisional favorece a multiplicação das organizações criminosas. “A primeira pergunta dos agentes penitenciários é a qual facção o detento pertence”, diz Luciano Taques Ghignone, promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia. “Se não existe filiação, ele é encaminhado para a ala da cadeia na qual estão membros do grupo predominante no bairro em que vivia, e assim será facilmente cooptado.”

Os grupos criminosos se multiplicam no Norte e no Nordeste e distribuem para os estados as drogas que vem da fronteira com o Peru
Desde que adotou a estratégia de se expandir para outros estados, o Primeiro Comando da Capital deixou pelo caminho opositores que não estavam dispostos a seguir ordens dos líderes Cesinha e Marcola em São Paulo. Surgiram, então, grupos como Terceiro Comando da Capital, Seita Satânica e Comando Democrático da Liberdade, que tentam até hoje enfrentar a hegemonia do PCC. Já no Amazonas, a FDN, que conta com o apoio do Comando Vermelho, conseguiu um poder de barganha importante na disputa pelas rotas do tráfico. Eles controlam o caminho que possibilita a entrada de drogas pelo norte do País, na fronteira com o Peru. “O PCC tem o domínio da rota do sul, agora eles querem controlar a rota do norte”, diz Márcio Sérgio Christino, procurador de Justiça. “É assim que as facções regionais se multiplicam, com a tomada de bocas e regiões que pertencem a grupos rivais.

Opositores do PCC
Nas regiões em que não há hegemonia do PCC, facções menores encontram facilidade para se organizar – o Norte e Nordeste são as que mais sofrem com a multiplicação. As autoridades de segurança não conseguem reprimir a atuação das facções. “Esse modelo leva ao aumento da criminalidade e, com o descontrole nos presídios, tudo indica que o quadro deva se agravar”, diz Edison Brandão, desembargador e presidente da Comissão de Segurança do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Fonte: Revista IstoÉ 

 

Em nota, Eike nega estar negociando condições para se entregar

Nesta sexta (27), a Polícia Federal passou a considerar o empresário foragido internacional e pediu sua inclusão na lista da Interpol

A defesa de Eike Batista negou, em nota, que ele esteja negociando condições para se entregar à Justiça. “Desde o momento em que lhe foi comunicada a decretação de sua prisão preventiva, realizou todos os esforços para retornar, no mais breve tempo possível, ao país”, afirma a nota.

Eike foi alvo de pedido de prisão preventiva nesta quinta (26). O mandado foi expedido no contexto da Operação Eficiência, segunda fase da Lava Jato no Rio de Janeiro que investiga pagamentos de propina durante a gestão do peemedebista Sergio Cabral, governador entre 2007 e 2014. 


Segundo a defesa de Eike, o ex-bilionário está em Nova York, nos Estados Unidos, onde participa de reuniões de negócio e que vai se apresentar o mais rápido possível. Na noite desta sexta (27), a Polícia Federal, passou a considerá-lo foragido internacional e pediu sua inclusão na lista da Interpol. 

Leia, abaixo, a declaração na íntegra:
“Em face do que tem sido veiculado na imprensa, no sentido de que Eike Batista estaria “negociando” as condições em que se apresentaria à Justiça, vimos esclarecer que:
o Sr. Eike Batista em nenhum momento realizou manobra para eximir-se de suas obrigações com a Justiça;ele se encontra no exterior, desde antes da decretação de sua prisão preventiva, por razões de trabalho;desde o momento em que lhe foi comunicada a decretação de sua prisão preventiva, realizou todos os esforços para retornar, no mais breve tempo possível, ao país;jamais submeteu sua apresentação à Justiça a qualquer tipo de condição, o que seria juridicamente incabível e não se coaduna com suas convicções éticas nem corresponde à sua conduta de, sempre que necessário, e como já tantas vezes, colaborar com a Justiça.”

Fonte: Luisa Bustamante, Redação VEJA 

 

sábado, 28 de janeiro de 2017

Eike Batista, nem santo nem diabo



Eike hoje paga pela ostentação, pelos carrões, jatinhos, barcos e botox. O povo não perdoa ricos exibidos 

Eike Batista uma hora vai delatar. Não por maldade ou vingança. Não para crucificar a enorme lista de políticos que ele beneficiou, à vista de todos ou por baixo da mesa. Vai delatar porque nenhum empresário famoso consegue se manter “foragido da Interpol” por muito tempo, mesmo com passaporte alemão.  Vai delatar porque o ex-homem mais rico do Brasil, pai de Thor e Olin, ex-marido de Luma, se recusará a ser trancafiado em cela comum de presídio. Eike não concluiu o ensino superior de engenharia na Alemanha e, por isso, sem diploma, não tem direito a regalias. É o X do problema. Falência financeira, tudo bem, Eike já se reergueu com saídas mirabolantes. Falência moral é outra coisa para o filho do nonagenário Eliezer Batista.

Eike não se enxerga como chefe de quadrilha criminosa. Seus amigos e ex-funcionários tampouco o viam assim. Muitos ganharam e perderam dinheiro embarcando em seus delírios. Louco, visionário, audacioso, megalômano, empreendedor, místico e generoso – e até cafona e ingênuo – são adjetivos mais associados a Eike do que “bandido” ou “mau-caráter”, segundo quem o conhece bem. Era “mão-aberta”, não só em troca de incentivos fiscais. Não fazia segredo de sua carência maior: ser amado, especialmente no Rio.

Acusado de repassar e ajudar a esconder propina de US$ 16,5 milhões – um pingo no oceano que inundou as finanças do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral –, Eike é o alvo da hora da Operação Lava Jato. Mesmo antes de ter mandado de prisão preventiva contra ele, Eike já despertava misto de ódio e inveja. Era o 171 mais bajulado e contraditório do Brasil, recebido como Midas por banqueiros do mundo. Hoje paga pela ostentação, pelos carrões na sala de sua casa no bairro do Jardim Botânico, os jatinhos, os barcos de corrida, os implantes de cabelo e Botox. Paga pela insistência em prever, com seu riso estranho, que se tornaria o homem mais rico do mundo. O povo não perdoa ricos exibidos. 


O que me surpreende é que seus amigos não tenham coragem de vir a público defender seu outro lado. Uma vez testemunhei, no restaurante chinês Mr Lam, de sua propriedade, os efeitos de sua personalidade. O trabalho parecia ser sua maior diversão. Seus convidados, um bando de empresários orientais, só faltavam beijar seus pés. Ao longo de sua ascensão, vimos alguns admiradores ferrenhos de Eike.

“O Eike é nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil”, afirmou a então presidente Dilma Rousseff na inauguração do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense. Para Dilma, Eike tinha “capacidade de trabalho”, buscava “as melhores práticas”, queria  “tecnologia de última geração”, percebia “os interesses do País” e merecia “o nosso respeito”.   Eike arrematou por R$ 500 mil o terno usado por Lula na primeira posse de janeiro de 2003. Era um leilão beneficente promovido pelo cabeleireiro da então primeira-dama, Dona Marisa, para arrecadar dinheiro para crianças do projeto Escola do Povo, na favela de Paraisópolis, em São Paulo.

Eike fez Madonna chorar,
num jantar íntimo no Rio em sua casa, ao dar R$ 12 milhões para a Fundação SFK (Success for Kids), que ajudaria crianças brasileiras e suas mães vítimas de violência. Eike deu para a Santa Casa da Misericórdia um aparelho de ressonância magnética que custou quase US$ 2 milhões. “Todo mundo pede socorro ao Eike. Daqui a pouco vão ter de fazer uma estátua dele de braços abertos no alto de um morro”, afirmou o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho.

Uma vez, caminhando no Morro do Borel com o ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame, perguntei sobre o acordo entre o governo do estado e sete grandes empresários que criaria um fundo para infraestrutura nas favelas ocupadas. “Só o Eike Batista honrou esse acordo”, disse Beltrame. “Ele contribui com R$ 20 milhões por ano.” A sede azul e branca da UPP exibia carros reluzentes. “Viu as camionetes?”, perguntou Beltrame. “Todas compradas com a ajuda do Eike. As motos para coleta de lixo também.”


O ator Rodrigo Santoro disse que o apoio financeiro de Eike foi “o fator decisivo” para que o filme Heleno de Freitas acontecesse. Eike ajudou Arnaldo Jabor a financiar A suprema felicidade, ajudou Cacá Diegues a realizar Cinco vezes favela. Nunca vimos antes no Brasil um pilantra com essas conexões.  Eike começou comprando ouro no Xingu aos 22 anos, magrelo, com botas e chapéu. Terminou vendendo ilusões e pasta de dentes – seu negócio mais recente. Dizia, no auge, que seu sonho era nadar “numa Lagoa Rodrigo de Freitas limpa” e por isso deu milhões para a despoluição-fantasma. Seu pesadelo agora é a cela comum de Bangu.

Fonte: Ruth de Aquino - Época

 

 

A segunda queda de Eike Batista

A saga de Eike Batista, o empreendedor que sonhou em ser o homem mais rico do mundo fazendo negócios escusos em parceria com o ex-governador Sérgio Cabral 

>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana

Até quatro anos atrás, quando começou a desmoronar o império financeiro de Eike Batista, o empresário era visto como um caso raro de bilionário generoso no Brasil. Com aparente desprendimento, destinava parte de sua fortuna a causas ecológicas, hospitais e atrações culturais. Assim, ganhou fama de benevolente e passou a receber uma avalanche de pedidos das mais diversas ordens. Eike, mineiro de Governador Valadares, era particularmente mão-aberta em relação ao Rio de Janeiro, lugar que escolheu para morar. No total, desembolsou quase R$ 60 milhões na campanha para a cidade sediar a Olimpíada, no programa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A fama de empreendedor bem-sucedido de Eike já havia caído. 

Agora, o pedido de sua prisão, feito na quinta-feira, dia 26, pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, fez com que caísse também a máscara de benfeitor desapegado. Como mostra a Operação Eficiência, um dos desdobramentos da Lava Jato cuja etapa anterior levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral e alguns de seus colaboradores, por trás do altruísmo de Eike havia um pesado jogo de interesses e ilicitudes. Ele adulava o Poder Executivo para obter vantagens – e vice-versa. Eike é um dos nove nomes cuja prisão preventiva foi determinada pelo juiz Bretas.


Na verdade, a relação estreita entre o empresário e o ex-governador do Rio era um espúrio toma lá, dá cá. No depoimento dado ao Ministério Público Federal (MPF) pelos irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar, que tiveram Cabral como cliente, Eike está envolvido nos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Na delação premiada dos irmãos Chebar, sai de cena o empreendedor dinâmico e emerge o operador de propina. Segundo Renato, há sete anos ele foi procurado por Carlos Miranda, homem de confiança do ex-governador, e pelo ex-secretário Wilson Carlos – ambos presos pela Lava Jato – para viabilizar o pagamento de US$ 16,5 milhões (R$ 52 milhões) de Eike para Cabral. Os delatores relatam com detalhes a manobra engendrada para a lavagem do dinheiro. Numa reunião na sede da EBX, holding do magnata, Flávio Godinho, àquela altura executivo da empresa de Eike e hoje vice-presidente de futebol do Flamengo, sugeriu que fosse feito um contrato de fachada para intermediação da compra de uma mina de ouro entre uma empresa de Eike e outra pertencente ao delator. Concluída a operação, o dinheiro pousou numa conta de Cabral no exterior.

Continuar lendo em Época

Leia também: >> Procuradoria acusa Eike de pagar propina a “agentes públicos”, no plural


 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Eike Batista: Dupla nacionalidade o protege da extradição - Alemanha não extradita seus cidadãos

Se for para a Alemanha, Brasil terá problemas para prender Eike

Por ter dupla nacionalidade, brasileira e alemã, Eike pode se safar. A Alemanha não extradita seus cidadãos, diz especialista em direito internacional

O professor de direito penal internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e procurador regional da República Artur Gueiros considera que será “muito difícil” trazer Eike Batista, que tem dupla nacionalidade brasileira e alemã, de volta para o Brasil, caso ele vá para a Alemanha, país que não extradita seus nacionais.

O fato de Eike estar no exterior, neste momento, possibilita que ele não seja preso?
Sim.
Dentro deste quadro, há o risco da não aplicação da lei penal brasileira pelo fato de ele estar fora do Brasil e ter nacionalidade alemã. Se ele realmente estiver nos Estados Unidos, a Interpol, que o incluiu na lista vermelha, pode prendê-lo e extraditá-lo. Agora, é uma corrida contra o tempo. É fundamental que evitem que ele vá para Alemanha.


E se ele for para a Alemanha?
Neste caso, vai ser muito difícil trazê-lo, porque a Alemanha não extradita nacionais. O governo brasileiro até poderia tentar uma extradição por vias diplomáticas. Mas a repercussão negativa da situação carcerária no Brasil, com as rebeliões, pode ser um elemento contra.


Como fica a situação com ele nos EUA?
Se ele for capturado, pode ser deflagrado um processo de extradição dele para o Brasil. Fora da Alemanha, ele não tem nenhuma proteção. Também há a possibilidade de a promotoria americana resolver instaurar uma investigação sobre os fatos da Lava Jato e abrir um processo criminal contra ele. É possível que haja esse interesse devido à dimensão dos seus negócios, inclusive internacionais. O pior lugar do mundo fora do Brasil para ele estar, neste momento, é os EUA, porque eles têm essa permissão de perseguir criminalmente práticas corruptas no mundo inteiro.


A decisão de prendê-lo foi do dia 13 de janeiro, mas a PF só deflagrou a operação ontem. Houve erro neste tempo?
Devido a profundidade desta operação, que é complexa porque envolve muitos mandados de prisão e de apreensão. Mas já acompanhei casos em que houve monitoramento em tempo real do acusado. Não sei o que aconteceu, se esta pessoa é difícil de fazer esse monitoramento em tempo real, se ela não usa o telefone.


Fonte:  VEJA On-Line 







quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Eike Batista tem prisão decretada em nova fase da Lava-Jato

A Operação Eficiência é um desdobramento da Operação Calicute que prendeu o ex-governador Sergio Cabral; Eike não foi encontrado em casa pelos agentes da PF

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira a Operação Eficiência, segunda fase da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Entre os alvos de mandado de prisão preventiva está o empresário Eike Batista, dono do grupo EBX, que não foi encontrado em sua casa na Zona Sul do Rio de Janeiro. As investigações miram pagamentos de propina durante o governo de Sergio Cabral (2007 a 2014), que também é alvo de um mandado de prisão preventiva e está detido na penitenciária de Bangu.

A PF também investiga crime de lavagem de dinheiro, que envolve cerca de 100 milhões de dólares no exterior. Parte desse valor já foi repatriado. Nesta fase da operação, também são investigados crimes de corrupção ativa e passiva, além de organização criminosa.
Segundo o advogado que representa o empresário, Eike está viajando e vai se entregar às autoridades. A operação desta quinta é um desdobramento da Operação Calicute, que prendeu o governador Sérgio Cabral em novembro do ano passado. O vice-presidente de futebol do Flamengo Flávio Godinho, ex-braço direito de Eike, também é alvo de prisão preventiva.

Cerca de oitenta policiais federais cumprem nove mandados de prisão preventiva, quatro de condução coercitiva e 22 de busca e apreensão. As investigações miram pagamentos de propina envolvendo o ex-governador Sergio Cabral, que também é alvo de um mandado de prisão preventiva.

Segundo as investigações, Eike e Flávio Godinho, do grupo EBX, realizaram pagamento de propina no valor de 16,5 milhões de dólares ao ex-governador usando a conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá. O valor foi solicitado por Cabral a Eike em 2010, e para dar aparência de legalidade à operação, foi realizado em 2011 um contrato de fachada entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Eike, e a empresa Arcadia Associados, por uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro. A Arcadia recebeu os valores ilícitos numa conta no Uruguai, em nome de terceiros, mas os valores eram direcionados à Cabral.

Eike Batista, Godinho e Cabral também são suspeitos de terem cometido atos de obstrução da investigação. Segundo as investigações, após uma busca e apreensão realizada em 2015 em um dos endereços de Eike foram apreendidos extratos que comprovavam a transferência dos valores ilícitos da conta Golden Rock para a empresa Arcádia. Na ocasião, os três investigados orientaram os donos da Arcadia a manterem a versão de que o contrato de intermediação seria verdadeiro diante das autoridades.

“De maneira sofisticada e reiterada, Eike Batista utiliza a simulação de negócios jurídicos para o pagamento e posterior ocultação de valores ilícitos, o que comprova a necessidade da sua prisão para a garantia da ordem pública”, afirmam os procuradores do MPF.  Os outros alvos da operação são Sergio Castro, apontado como operador do esquema, Francisco Assis, o doleiro Álvaro Galliez, Thiago Aragão, ex-sócio da esposa de Cabral, e três pessoas ligadas a Cabral que também já estão presas – Wilson Carlos, Carlos Emanuel Miranda e Luiz Carlos Bezerra. Além deles, o irmão de Cabral, Maurício de Oliveira Cabral Santos e Suzana Neves Cabral, ex-mulher do ex-governador, são alvos de condução coercitiva.

Para o MPF, há elementos suficientes para pedir as prisões temporárias de Susana e Maurício Cabral, mas foi pedida uma medida menos grave – que são as conduções coercitivas – para que deponham conforme for ordenado pela Justiça. Todas as diligências tiveram origem nos desdobramentos da investigação da Operação Calicute e estão sob tutela do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Na fase desta quinta, as informações foram coletadas em dois acordos de colaboração que abordaram os detalhes do esquema de lavagem de dinheiro por trás dos desvios praticados pelo grupo do ex-governador Sergio Cabral.

Operação Arquivo X
Em 2016, Eike Batista já havia prestado depoimento voluntário à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba. Na ocasião, o empresário declarou que em novembro de 2012 recebeu um pedido do então ministro e presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, Guido Mantega, para que fizesse um pagamento de 5 milhões de reais, no interesse do PT com o intuito de pagar dívidas de campanha.

Mantega teve a prisão decretada devido as declarações de Eike na fase Arquivo X, deflagrada em 22 de setembro de 2016, que foi revogada pelo juiz Sergio Moro horas depois. Mantega acompanhava a mulher numa cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, quando foi preso pelos agentes da PF.  O nome da operação era uma referência à empresa OSX, de Eike, que costumava batizar as suas companhias sempre com a letra “X”, um sinal de multiplicação de riquezas, segundo ele.

Eike pagou US$ 16,5 milhões a Cabral por meio de falsa venda de mina de ouro

A Eficiência, nova fase da Lava-Jato no Rio, investiga o pagamento de US$ 16,5 milhões a Sérgio Cabral por Eike Batista e Flávio Godinho, vice-presidente do Flamengo e ex-braço-direito do grupo EBX, usando a conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá.


Marcelo Carnaval | Agência O Globo
 
Segundo os procuradores, o dinheiro foi solicitado por Cabral a Eike Batista em 2010, e, para dar aparência de legalidade à operação, foi feito em 2011 um contrato de fachada entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Batista, e a empresa Arcadia Associados, por uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro.

A Arcadia recebeu a propina numa conta no Uruguai, em nome de laranjas, mas à disposição de Cabral.

Fonte: O Estado de S. Paulo, O Globo  e Reuters
 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Guido Mantega é preso na 34ª fase da Lava-Jato

Ex-ministro de Lula e Dilma, Guido Mantega é preso na 34ª fase da Lava-Jato que mira empresa de Eike

 Prisão se deu a partir do depoimento de empresário; ex-titular da Fazenda estava acompanhando mulher em hospital

O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi preso temporariamente nesta manhã de quinta-feira na 34ª fase da Lava-Jato. Policiais federais estão nas ruas desde a madrugada para cumprir 48 mandados entre prisões temporárias, conduções coercitivas e busca e apreensão. Agentes foram até sua casa em São Paulo, mas ele estava no hospital acompanhando uma cirurgia da mulher. Além de São Paulo, as ações ocorrem no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e no Distrito Federal. 
 Mantega foi ministro da Fazenda nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Além dele, o empresário Eike Batista é um dos alvos centrais da operação deflagrada na manhã desta quinta-feira. A Polícia fez buscas em endereços da empresas Kriadon, Conceito, JCIS e RT. Elas estariam em nome de Júlio César Oliveira Silva, suposto operador de pagamentos de propina em nome de Eike e da Mendes Júnior. Segundo investigadores, as empresas simulavam prestação de serviços para fazerem pagamentos ilegais no esquema de corrupção da Petrobras.

Batizada de Arquivo X, em referência a um dos grupos empresarias investigados e que tem como marca a repetição do “X” nos nomes das pessoas jurídicas, como a empresa OSX, de propriedade de Eike, a ação cumpre 32 mandados de busca e apreensão, 8 mandados de prisão temporária e 8 mandados de condução coercitiva.

A prisão de Mantega se deu a partir de um depoimento prestado por Eike ao Ministério Público Federal (MPF), no qual diz ter recebido pedido do então ministro e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, para que fizesse um pagamento de R$ 5 milhões, no interesse do Partido dos Trabalhadores (PT).  
Em seu depoimento à força-tarefa, o empresário disse ter feito um depósito de US$ 2,3 milhões no exterior para as contas de João Santana e Monica Moura. Ele assumiu o pagamento depois que O GLOBO revelou que Moura relatou o mesmo à força-tarefa, durante tentativa de delação premiada. Para operacionalizar o repasse da quantia, o executivo da OSX foi procurado e firmou contrato ideologicamente falso com empresa ligada a publicitários já denunciados na Lava-Jato por "disponibilizarem seus serviços para a lavagem de dinheiro oriundo de crimes. Após uma primeira tentativa frustrada de repasse em dezembro de 2012, em 19/04/2013 foi realizada transferência de US$ 2.350.000,00, no exterior, entre contas de Eike Batista e dos publicitários".

O advogado de Mantega, José Roberto Batochio, confirmou ao GLOBO que policiais foram à casa do ex-ministro hoje cedo, em São Paulo. Mantega, no entanto, estava no Hospital Albert Einstein acompanhando uma cirurgia da mulher. O advogado disse que não tem mais detalhes da operação.
Mantega já havia sido levado para depor, em maio, em outra operação, a Zelotes.

CONTRATOS DE PLATAFORMAS
Segundo a PF, na Arquivo X são investigados fatos relacionados à contratação pela Petrobras de empresas para a construção de 2 plataformas (P-67 e P70) para a exploração de petróleo na camada do pré-sal, as chamadas FSPO´s (Floating Storage Offloanding).
“Utilizando-se de expedientes já revelados no bojo da Operação Lava-Jato, fraude do processo licitatório, corrupção de agentes públicos e repasses de recursos a agentes e partidos políticos responsáveis pelas indicações de cargos importantes da estatal, empresas se associaram na forma de consórcio para obter os contratos de construção das duas plataformas muito embora não possuíssem experiência, estrutura ou preparo para tanto”, disse nota da PF.

Durante as investigações verificou-se ainda que, no ano de 2012, “um ex-ministro da Fazenda” (Mantega) teria atuado diretamente junto ao comando de uma das empresas para negociar o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha de partido político da situação. Estes valores teriam como destino pessoas já investigadas na operação e que atuavam no marketing e propaganda de campanhas políticas do mesmo partido.


São apuradas as práticas, dentre outros crimes, de corrupção, fraude em licitações, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Nos casos dos investigados para os quais foram expedidos mandados de condução coercitiva, estes estão sendo levados às sedes da Polícia Federal nas respectivas cidades onde foram localizados a fim de prestarem os esclarecimentos necessários. Os investigados serão liberados após serem ouvidos no interesse da apuração em curso.  Quanto aos investigados com prisão cautelar decretada, tão logo sejam localizados eles serão trazidos à sede da Polícia Federal em Curitiba onde permanecerão à disposição das autoridades responsáveis pela investigação.
 
Fonte: O Globo

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Delação à vera

Investigações revelam a existência de muitas conexões entre a Odebrecht e as campanhas de candidatos aliados do PT nos países onde a empresa tem obras financiadas pelo BNDES

O empresário norte-americano Percival Farquhar (1864-1953) foi uma das figuras mais controvertidas da história econômica do Brasil. Natural da Pensilvânia, formou-se em engenharia na Universidade de Yale e tornou-se um magnata dos transportes, da energia e da mineração no começo do século passado. Seu império incluiu os bondes em Nova Iorque, a Companhia de Eletricidade de Cuba, ferrovias na Guatemala e minas na Europa Central. Na Rússia, negociou seus investimentos nesses setores pessoalmente com Lênin, para quem "o socialismo era a eletrificação". Entre 1905 e 1918, foi o maior investidor privado do Brasil.

Seus interesses por aqui surgiram após a anexação do Acre, por causa da borracha. Construiu o porto de Belém e a famosa estrada Madeira-Mamoré. No ramo ferroviário, adquiriu o controle e concluiu as ferrovias São Paulo-Rio Grande, Sorocabana e Vitória-Minas. Explorou as jazidas de ferro de Itabira (MG) e implantou uma siderúrgica em Santa Cruz (ES), negócios que deram origem à Companhia Vale do Rio Doce. Amante dos bons restaurantes e hotéis, construiu em São Paulo a Rotisserie Sportsman, para o qual contratou o chef Henri Galon, do famoso Elisée Palace Hotel de Paris. Na mesma época, deu início à construção do balneário de Guarujá, onde comprou e reformou o Grande Hotel de La Plage.

Farquhar rivalizou em ambição e audácia com o Conde Francisco Matarazzo e com Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá. Foi à falência duas vezes, na I Guerra Mundial (1014-1918) e no Grande Recessão de 1929. Quem lhe deu o golpe misericórdia foi o presidente Getúlio Vargas, durante o Estado Novo (1937-1945), ao estatizar suas propriedades. Sua história nos remete ao empresário falido Eike Batista, cujo império desmoronou, mas não é dele que estamos falando. Nosso personagem é outro candidato à ruína espetacular: o empresário Marcelo Odebrecht, o ex-presidente da maior empreiteira do país, que negocia sua delação premiada e promete entregar todos os políticos que receberam dinheiro da sua companhia, na tentativa desesperada de salvar os negócios da família no Brasil, na África e na América Latina.

Ontem, Camilo Gornarti, responsável pela informática utilizada pelo "setor de propina" da Odebrecht, afirmou à Justiça Federal que o servidor do sistema ficava na Suíça "por questões de segurança". A existência do mesmo havia sido revelado por Maria Lúcia Tavares, que era responsável dentro do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht por gerenciar requerimentos de propina e repassá-los aos entregadores, que por sua vez fariam chegar os recursos aos destinatários finais. As comunicações eram feitas através de um sistema de intranet chamado Drousys. Marcelo Odebrecht resolveu "profissionalizar", "modernizar" e "globalizar" o esquema da propina.

Cervejaria
Gornarti é testemunha de acusação contra o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht e o publicitário João Santana, que teria recebido dinheiro de caixa dois no exterior, em pagamento da campanha de Dilma Rousseff, com base em acerto feito entre a presidente afastada e o empresário preso em Curitiba. Segundo ele, o sistema funcionou entre os anos de 2008 e 2014. Quando foi bloqueado pelo Ministério Público federal, um novo sistema foi criado na Suíça e esteve operacional até dois meses atrás. Em sua defesa, Santana alegou que os recursos obtidos no exterior tinham origem nas campanhas eleitorais que fez vários países, como Angola, Argentina, Equador e República Dominicana. Outras delações e informações obtidas nas investigações revelam a existência de muitas conexões entre a Odebrecht e as campanhas de candidatos aliados do PT nos países onde a empresa tem obras financiadas pelo BNDES.

Outro delator, Vinícius Veiga Borin, revelou a existência de um banco para operar o esquema da propina. Para fazer as operações financeiras no exterior, um grupo de funcionários da Odebrecht teve a ideia de comprar 51% do Meinl Bank Antigua, um banco austríaco que tinha uma filial sem atividade em Antígua. Foram acertados pagamentos de US$ 3 milhões e mais quatro parcelas anuais de US$ 246 mil para a compra de 51% do Meinl Bank Antiqua. Essa sociedade foi dividida em três partes: uma para Borin e seus sócios, uma para os funcionários da Odebrecht, e uma terceira para uma Vanuê Farias, que teve US$ 50 milhões bloqueados, e vendeu sua participação para os outros dois grupos, que ainda compraram mais ações do Meinl Bank Antiqua e chegaram a 67% da sociedade. Vanuê é sobrinho de Walter Farias, dono da cervejaria Itaipava (Grupo Petrópolis) e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Fonte: Luiz Carlos Azedo -  Correio Braziliense

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Favores a Lula na mira dos investigadores



Bancado por três envolvidos no petrolão, o sítio Santa Bárbara abre definitivamente o portão da Lava Jato para o ex-presidente
No final de seu governo, no segundo semestre de 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizia a amigos que queria levar uma vida tranquila após deixar o Palácio do Planalto. Confidenciava aos mais próximos, alguns deles ouvidos por ÉPOCA, que sentia falta das tardes de futebol e churrasco no Los Fubangos, sítio modesto que curtia com os companheiros antes de chegar ao poder. Um dos amigos a ouvir os desejos de Lula foi José Carlos Bumlai, empresário e lobista que viria a ser preso na Operação Lava Jato, acusado de embolsar propina do petrolão.

Ainda não se sabe de quem partiu a ordem para providenciar um novo refúgio ao então presidente, nem sequer se houve uma ordem verbal e explícita, mas, dali a poucos meses, Bumlai tomou para si a tarefa – e se jactou dela entre os familiares de Lula e dirigentes do PT. Nascia o Santa Bárbara, um sítio na área rural de Atibaia, a cerca de 60 quilômetros de São Paulo, generosamente reformado para combinar com as preferências de lazer de Lula. Seis anos depois, as negativas do ex-presidente sobre a propriedade do sítio e a revelação dos nomes dos responsáveis pela reforma do imóvel transformaram o bucólico Santa Bárbara na maior encrenca já enfrentada pelo petista.

No papel, o sítio Santa Bárbara pertence aos empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar, parceiros comerciais de Fábio Luís da Silva, filho de Lula que no primeiro mandato do pai se tornou um empreendedor de sucesso na área de tecnologia, graças à compra de sua empresa pelo grupo da empreiteira Andrade Gutierrez, também envolvida na Lava Jato. [vale lembrar que o inicio da riqueza do Lulinha foi o investimento de US$ 5.000.000  feito pela antiga TELEMAR, atual OI, em uma empresa de joguinhos para computador que o pupilo de Lula tinha – a GAMECORP; ;
Feito o investimento, a fundo perdido, já que a ‘gamecorps’  não valia sequer R$ 5.000, Lula retribuiu assinando um decreto que permitiu a fusão da TELEMAR com a BRASIL TELECOM resultando na gigantesca OI.]  

Desde que passou a ser questionado sobre o Santa Bárbara, Lula admitiu apenas, e mesmo assim somente por meio de sua assessoria, “frequentar” o local, que seria de propriedade de “amigos” dele, “em dias de descanso”. Em nota, a assessoria de Lula afirmou: “Embora pertença à esfera pessoal e privada, esse é um fato tornado público pela imprensa já há bastante tempo. A tentativa de associá-lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a imagem do ex-presidente”.  Os assessores de Lula tentavam demonstrar que se tratava de uma falsa questão.

Não é, conforme apontam as evidências publicadas pela imprensa e investigadas pela Força-Tarefa da Lava Jato e  por promotores paulistas. Na segunda-feira, dia 1º, a reportagem publicada por ÉPOCA revelou a fragilidade da versão de Lula. A partir de dados públicos dos gastos e dos deslocamentos dos seguranças de Lula, ÉPOCA descobriu que, desde 2012, o ex-presidente e sua família foram 111 vezes a Atibaia. Como todo ex-presidente da República, Lula tem direito a uma equipe de seguranças e assessores pelo resto da vida. 

Os salários e os custos do trabalho deles são pagos com dinheiro público, como manda a lei. As informações fornecidas pela Presidência da República mostram que sete seguranças dedicados a Lula passaram, no total, 283 dias na cidade. Em média, a cada cinco dias um segurança de Lula foi deslocado a Atibaia, em datas que incluem fins de semana, períodos de férias escolares, feriados e até o Réveillon. Quem visita amigos tantas vezes? Isso é frequência de dias de descanso na propriedade de amigos ou é uma casa de veraneio?

Até surgir o escândalo do petrolão, Lula e seus aliados referiam-se cotidianamente ao “sítio em Atibaia” como um local de descanso do ex-presidente. Testemunhas e notas fiscais comprovam que o Santa Bárbara foi projetado, reformado direta e indiretamente com dinheiro das empreiteiras Odebrecht e OAS e da Usina São Fernando, que pertence a Bumlai. Três dos principais beneficiários do petrolão, portanto, financiaram o sítio. Nenhuma das três partes desse consórcio deu qualquer explicação sobre os gastos. E por que Odebrecht, OAS e Bumlai empenhariam tamanha generosidade à dupla Jonas Suassuna e Fernando Bittar? Até agora, Suassuna e Bittar permanecem em silêncio – como todos os que devem explicações nesse caso. 

Entre outubro de 2010 e janeiro de 2011, a propriedade de 173.000 metros quadrados, com lago e uma casa antiga, ganhou uma segunda casa com quatro suítes e um espaço para churrasqueira. O jornal Folha de S.Paulo mostrou, a partir de entrevistas com fornecedores, que pelo menos R$ 500 mil foram gastos em materiais para a obra, tocada pelo engenheiro Frederico Barbosa, da Odebrecht. Além do engenheiro, a empreiteira comprou o material no comércio local. À OAS coube, entre outros consertos, reformar e instalar equipamentos na cozinha. Amigo de Lula desde 2002, o empresário José Carlos Bumlai forneceu o arquiteto Ingenes Irigaray Neto, que vive em Dourados, Mato Grosso do Sul, a mesma cidade de Bumlai, e já trabalhou para a Usina São Fernando.

Em qualquer circunstância seria desconfortável para um homem público como Lula admitir que empreiteiras com negócios bilionários com o governo, e um amigo beneficiado por empréstimos do BNDES, pagaram a reforma do sítio. Mas a Lava Jato deixa tudo muito, muito pior. O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, está preso em São José dos Pinhais há quase oito meses. Contra sua empresa pesam acusações – apoiadas em fortes evidências – de participar de um cartel que pagava propina a diretores, políticos e lobistas em troca de obras. Além de bancar a reforma, a Odebrecht figura entre as maiores contribuintes do Instituto Lula e uma das principais clientes da LILS, a empresa aberta por Lula para agenciar suas palestras no exterior. A Odebrecht foi a principal contratante das 47 palestras que Lula fez no exterior entre 2011 e junho do ano passado. Logo após o término das reformas, Lula deixou de ser cliente para ser prestador de serviços para a Odebrecht, ao fazer duas palestras, uma na Bahia e outra no Panamá.

Assim como Marcelo Odebrecht, José Carlos Bumlai está preso em Curitiba. Ele é suspeito de ter conseguido um contrato para a construtora Schahin com a Petrobras, em troca de um empréstimo para o PT. Bumlai prosperou no governo Lula, a ponto de montar uma usina de álcool, bancada em parte com recursos do BNDES. Era conhecido como um caminho mais curto para quem queria chegar a Lula. Em seu acordo de delação premiada, o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, disse que foi por essa trilha: pagou R$ 2 milhões de propina a Bumlai para tentar emplacar um negócio entre a OSX, do empresário Eike Batista, e a Sete Brasil, o filhote que forneceria sondas para a Petrobras explorar o pré-sal. Segundo Baiano, no começo de 2011, quando o concreto da reforma do sítio ainda estava fresco, Bumlai levou o presidente da Sete, João Carlos Ferraz, para uma conversa com Lula em seu instituto, com o intuito de facilitar as coisas entre Sete Brasil e OSX. Na ocasião, o Instituto Lula disse que o ex-presidente “não se envolveu como intermediário de empresas e não autorizou José Carlos Bumlai a usar o nome dele para qualquer tipo de lobby”.


O terceiro contribuinte do sítio foi a construtora OAS, cujo presidente, Leo Pinheiro, passou uma temporada em Curitiba, foi condenado a 16 anos de prisão e recorre em liberdade. A empresa de Pinheiro é caso de dupla parceria com Lula na área de imóveis. Além do sítio, bancou a reforma no tríplex reservado para a família do ex-presidente no Condomínio Solaris, em Guarujá. De acordo com documentos publicados pelo site O Antagonista e pelo jornal O Estado de S. Paulo, a OAS fez a reforma e comprou móveis e equipamentos para as cozinhas do sítio e do apartamento. Testemunhas viram Pinheiro em pessoa visitar o tríplex com a ex-primeira-dama Marisa Letícia. 

Não foi a única deferência da OAS com os Lulas da Silva. Na semana passada, ex-cooperados da Bancoop, a cooperativa de bancários que começou a construção do Solaris, quebrou e repassou à OAS, reclamaram da diferença de tratamento. Enquanto a maioria foi pressionada pela OAS a decidir em pouco tempo se colocaria mais dinheiro para terminar a obra micada, Lula teve cinco anos para isso. A OAS ainda bancou uma reforma de cerca de R$ 770 mil no imóvel. Com a Lava Jato na rua, em 2015, Lula desistiu do apartamento.

A Força-Tarefa em Curitiba e o Ministério Público do Estado de São Paulo investigam se Lula ocultou patrimônio. O sítio em Atibaia e o apartamento em Guarujá, que deveriam ser refúgios para o ex-presidente, não darão descanso a Lula. Abriram os portões da Lava Jato para o petista.

Fonte: Época