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quinta-feira, 26 de março de 2020

Como achatar a curva do desemprego? - O Estado de S.Paulo

 José Pastore


Para evitar tamanha catástrofe, é imperioso acionar medidas para salvar empresas, empregos e empregados no mais curto prazo - o que exige recursos gigantescos.

Os epidemiologistas estão lutando para achatar a curva dos contagiados pelo coronavírus. 
Os analistas do trabalho, igualmente, buscam medidas para achatar a curva dos desempregados. Isso para viabilizar o oxigênio para os doentes e a renda para os desempregados.

[as duas curvas precisam ser achatadas de forma quase simultânea e para tanto muitos recursos são necessários.
A competência, o poder, é do Presidente da República, que tem s chaves do cofre, que está vazio.
Ele é, e continuará sendo cobrado, mas para obter recursos precisa do apoio de todos - qualquer boicote ao Presidente, má vontade, ou gesto de contestação, prejudicará o Brasil e, na sequência, aos mais pobres, inclusive com perdas de vidas.]

O confinamento prolongado provocará uma devastação ciclópica na economia brasileira. Os mais atingidos serão os que trabalham por conta própria e como empregados nas pequenas empresas do setor terciário – prestadores de serviços pessoais, profissionais do entretenimento, dos restaurantes, agências de viagens, hotéis, transporte, varejo em geral e também os que vivem do trabalho por conta própria. As pequenas empresas não dispõem de gordura financeira para pagar salários e encargos sociais quando não geram renda. Muitas demitirão antes de quebrar; outras quebrarão antes de demitir.

As medidas convencionais para postergar as demissões (redução de jornada, banco de horas, férias coletivas, layoff, etc.) se exaurem depressa no meio de um tsunami gigantesco como este. Muitas demissões já estão ocorrendo. Como na pandemia, o desemprego vai disparar se as dispensas dobrarem a cada dois dias.

Para evitar tamanha catástrofe, é imperioso acionar medidas para salvar empresas, empregos e empregados no mais curto prazo. Isso exige recursos gigantescos. Rodrigo Maia sugere R$ 500 bilhões para um orçamento de guerra. Armínio Fraga adverte que o dinheiro deve ser direcionado prioritariamente para as pequenas empresas de modo desburocratizado, rápido e quase automático. 

Assim está sendo na Alemanha, que já destinou 866 bilhões de euros para evitar a quebradeira das pequenas empresas, e no Reino Unido, na Irlanda e na Dinamarca, onde imensos recursos públicos chegam às empresas para aliviar o custo do trabalho na ausência de vendas. Nos EUA, além dos US$ 2 trilhões aprovados pelo Congresso, o Federal Reserve declarou estar preparado para injetar o que for necessário para salvar empresas e empregos. A rigidez dos manuais dos bancos centrais está sendo substituída por ações rápidas e ousadas, como é o uso de reservas cambiais, a oferta de títulos públicos e até emissão de moeda – tudo para garantir transferências de renda rápidas e diretas para empregadores, empregados, autônomos e desempregados.

A pandemia não deixou escolhas: remédios raramente utilizados são ministrados em altas dosagens para proteger vidas e empresas, deixando para depois o combate aos efeitos secundários.  Reformar regras trabalhistas que engessam e impedem as empresas de fazer ajustes rápidos também ajuda. A Medida Provisória (MP) 927 está nessa direção e outras devem vir para completá-la. Mas, sem as maciças injeções de recursos, sozinhas, MPs não têm força para dar sobrevida às empresas e aos empregos.

A violência da hecatombe que se aproxima vai requerer medidas ainda mais profundas. A imprensa noticia que, para manter seus empregos, os trabalhadores das empresas aéreas aceitam uma redução de 80% nos seus salários! Segurar os anéis para não perder os dedos.  A luta contra o coronavírus neste clima de guerra pode se arrastar o ano todo, fazendo a recessão adentrar 2021. Na reconstrução das pontes destruídas, será crucial estimular as cadeias produtivas longas para reempregar muitos dos desempregados. Refiro-me, por exemplo, à retomada das obras paradas, Minha Casa Minha Vida, saneamento e infraestrutura em geral.

Até aqui tratei apenas dos trabalhadores formais. A análise da situação dos informais ficará para outra oportunidade.

José Pastore professor e membro do Conselho da  Fecomercio-SP  - O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 24 de julho de 2019

As ameaças de tributar transações financeiras - Mailson da Nóbrega

Felizmente, parecem muito baixas as chances de vigorar a nova CPMF ou o imposto único

Renasceu a ideia de tributar as transações financeiras, uma incidência disfuncional e prejudicial à produtividade. Ela tem o patrocínio do secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, que defende uma CPMF repaginada para compensar a eliminação de contribuições previdenciárias sobre a folha de pagamentos. Indo mais longe, um grupo de empresários, o Brasil 200, propõe a substituição do sistema tributário por um imposto único sobre transações financeiras. O impacto sobre a eficiência da economia passaria de negativo (no caso da proposta federal) a desastroso.

O imposto único sobre transações financeiras
foi defendido pioneiramente na década de 1980 pelo economista americano Edgard Feige, da Universidade de Wisconsin-Madison. A ideia chegou ao Congresso dos Estados Unidos, mas foi rejeitada com base em parecer do Federal Reserve (o banco central norte-americano), que apontou seus inconvenientes econômicos e sociais.  Feige parece ter inspirado Cintra, que lançou a ideia no Brasil em 1989 e a tornou uma espécie de obsessão pessoal. Na época, o Ministério da Fazenda manifestou-se contrário à proposta, mas ela encantou parte do empresariado, que criou campanha em favor do imposto único. O empresário Flávio Rocha, ora membro do Brasil 200 e então deputado federal, apresentou emenda constitucional para adoção da medida – com base na qual se lançou candidato à Presidência da República nas eleições de 1994 –, da qual desistiu.

O imposto único prometia radical simplificação do sistema tributário e, assim, a redução dos custos de pagar impostos. A nova incidência, arrecadada nas transações financeiras, dispensaria formulários e outras obrigações. A Secretaria da Receita Federal seria extinta. A emenda não foi adiante. Eram muitos os seus graves defeitos. O imposto único seria uma incidência cumulativa, em cascata, que impregnaria cada etapa do processo produtivo. Haveria incentivos para a integração vertical. As empresas procurariam reduzir ao máximo suas aquisições de insumos, promovendo internamente sua produção. Haveria séria redução da eficiência. Ficaria impossível desonerar as exportações, pois não se teria como calcular o imposto incidente na cadeia produtiva.

A medida atentaria contra a Federação, pois Estados e municípios passariam a depender exclusivamente da União para financiar seus orçamentos. Seria inconstitucional. Governadores e prefeitos combateriam a proposta. Mais, o imposto único agravaria as desigualdades, pois os pobres pagariam mais do que os ricos como proporção de sua renda.

Sob o aspecto creditício, ao incidir sobre as transações com uma alíquota de 2,5% nos recebimentos e pagamentos, o imposto único criaria uma cunha de 5% sobre o custo dessas transações. O spread bancário, já em si alto, aumentaria ainda mais. A elevação da taxa de juros ao tomador final pioraria a atividade de produzir bens e serviços, com efeitos deletérios sobre a produtividade da economia. O Brasil 200 reivindica uma medida suicida.  Desde a criação do Imposto de Renda, a grande inovação foi o imposto de consumo sobre o valor agregado em cada etapa do processo produtivo (IVA). Implementado inicialmente na França em 1954, o IVA permitiu a completa eliminação da cumulatividade, incentivando ampla descentralização econômica. Seu efeito positivo na eficiência e na produtividade inspirou vários países a adotá-lo. Hoje, o IVA é adotado em mais de 160 países e se tornou a regra na União Europeia.

Flávio Rocha voltou a defender o imposto único. Em artigo na Folha de S.Paulo (11/7) tachou o IVA de imposto de nossos avós. Foi sua resposta ao projeto de emenda constitucional do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), que prevê a criação do imposto sobre bens e serviços (IBS), uma espécie de IVA. Sua base é o estudo realizado pelo Centro de Cidadania Fiscal, liderado pelo economista Bernard Appy.  Nenhum país cogitou de substituir o “avô” IVA por um imposto único sobre transações financeiras. Muito recentemente (2018) a Índia implementou um IVA moderno, em substituição ao caótico sistema de tributação do consumo. Estima-se que a medida tenha acrescentado dois pontos porcentuais ao PIB potencial indiano.

Rocha defende o imposto único, por ele agora denominado e-tax. Para ele, “com uma economia cada vez mais uberizada, não faz sentido se cogitar uma tributação dos tempos das charretes”. Seu entusiasmo se baseia na ideia de que a revolução digital teria aposentado as formas tradicionais de cobrança de impostos. E isso poderia implicar, como se dizia antes, a extinção da Secretaria da Receita Federal. A era digital está revolucionando o sistema de pagamentos e a forma de produzir, comprar e vender, mas os atos comerciais continuam os mesmos. As pessoas adquirem bens e serviços de consumo e investimento exatamente como antes, apenas de forma mais eficiente. As compras de pão, leite, vestuário, eletrônicos, automóveis e da ampla gama de serviços passaram a ser feitas mediante o uso de cartões de crédito ou débito, via comércio eletrônico e pelo uso de códigos QR. Mas, do mesmo jeito, elas continuam agregando valor em cada etapa do processo produtivo.

Acresce notar que nenhum país, nem mesmo os desenvolvidos e a China, onde se originou e evoluiu a revolução digital, e onde é vasta a produção acadêmica associada ao tema, até hoje tenha discutido a criação de uma e-tax. Eles não perdem tempo com ideias esfuziantes, mas injustificáveis e perigosas. Do lado federal, custa a crer que uma equipe econômica composta de liberais e ultraliberais apoie a recriação da CPMF. O próprio presidente rejeitou a ideia. Por tudo isso parecem muito baixas, felizmente, as chances de vigorar a nova CPMF ou a barbaridade do imposto único.


O Estado de S. Paulo - Mailson da Nóbrega,  ex-ministro da Fazenda 


segunda-feira, 22 de julho de 2019

FGTS é mais uma tentação para gastar - O Globo - Samy Dana

Se o dinheiro pertence aos trabalhadores, o mais lógico é que possam investir ou gastar como quiserem

[discordamos do acima exposto - o dinheiro pertence ao trabalhador, mas, como uma reserva seja para fazer frente a um desemprego (situação comum nos dias atuais) auxiliar na compra da casa própria, tratar uma doença séria e servir como para a adaptação após se aposentar.
 
Não pode ser liberado para  aquecer a economia - parcialmente, já que a construção civil sofre abalos ao perder uma das suas fontes de recursos, não a mais importante, mas que auxilia - visto que após o aquecimento, que não é auto sustentável, vem a queda da atividade e aquele empregado que gastou o FGTS liberado em compras, muitas vezes desnecessárias, pode ficar desempregado e sem o amparo do FGTS.
 
liberar para saque a cada dois, três anos, ainda que parcialmente, saldo das contas ativas de FGTS não é boa política - até a frequência com que se repete confirma tal entendimento.]


A liberação das contas do FGTS, planejada pelo governo, é uma boa notícia. Se o dinheiro pertence aos trabalhadores, o mais lógico é que possam dispor ou investir os valores como quiserem. Os recursos nas contas vinculadas, que ficam presos na Caixa Econômica Federal, rendem só 3% mais TR ao ano, menos até do que a poupança e pior que a inflação, ou seja, o dinheiro é corroído pelo tempo...
Mas quem recebe uma quantia inesperada, como a liberação do Fundo, também precisa ficar alerta. Um dinheiro nessas condições é um convite aos gastos, seja um celular, aquela jaqueta desejada ou fazer uma viagem, explicam Greg Kaplan, Andreas Fuster e Basit Zafar, três economistas, em artigo publicado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Considere que você ganhou inesperadamente R$ 2 mil. Ou R$ 20 mil. O que faria com o dinheiro? Aplicando essas perguntas a 2.856 consumidores americanos como parte da pesquisa mensal do Fed sobre renda e trabalho, os três autores verificaram como cada um lidaria com essa situação. Foram quatro rodadas de entrevistas, de março de 2016 a março de 2017.

Há décadas os economistas tentam entender as situações que nos levam a consumir mais. A grande maioria dos estudos usa como base o momento da compra, em uma loja, um site ou outra situação. Mas, explica o artigo, também importa como ganhamos o dinheiro gasto. Muitos consumidores tratam de maneira diferente uma quantia que faz parte da renda mensal e um valor recebido de outra fonte, como um prêmio da loteria ou o dinheiro do FGTS.A boa notícia é que nem uma em cada cinco pessoas (19%) pesquisadas pretendia gastar se o valor fosse de US$ 500, mas a média vai subindo conforme aumentam os valores. Se o ganho era de US$ 2.500, os gastadores somavam 27%. E, quando o valor passou para US$ 5 mil, 39%, ou seja, quase quatro a cada dez pessoas, se dispunham a gastar parte do dinheiro.
E quanto? Para quem iria receber US$ 500, era aceitável gastar até US$ 250 em um jantar fora, um celular ou outro mimo. Já quem ganharia US$ 2.500 considerou tudo bem gastar até US$ 1 mil. Os maiores gastadores foram os possíveis ganhadores de US$ 5 mil. Ainda que, proporcionalmente, o gasto fosse menor (30%), eles não viam qualquer problema em torrar até US$ 1.500. As respostas mudaram quando os entrevistadores perguntaram a dois grupos como gastariam o dinheiro sabendo que só seria pago dali a três meses. Desta vez havia apenas duas opções, ganhar US$ 500 ou US$ 5 mil. A proporção de gastos se mantém, mas é bem menor o percentual de pessoas dispostas a gastar. Foi perguntado ainda o que as pessoas fariam se, em vez de ganhar US$ 500 ou US$ 5 mil, pedissem o dinheiro emprestado. Só 8% disseram pretender gastar algum valor.
Os resultados completam alguns estudos recentes. Depois da crise de 2007-2008, por exemplo, o governo dos Estados Unidos pagou um bônus aos americanos para estimular o consumo. Parte das pessoas guardou o dinheiro, mas quem se dispôs a consumir gastou em média 75% do bônus, segundo pesquisa do Departamento do Trabalho. Para nos convencer a gastar, é como se nosso cérebro tentasse nos convencer também de que o dinheiro fará menos falta. Pode parecer a solução para aquele gasto que você vinha adiando, mas que tal, então, como FGTS ou suas economias, esperar três meses antes de usar? Verá que muita coisa não era tão importante assim.
Samy Dana - Jornal O Globo
 
 

segunda-feira, 3 de abril de 2017

O mau exemplo

Não há o que discutir sobre o conceito da autonomia de bancos centrais

Uma peculiaridade do Brasil é ter testado tantos modelos de política econômica que se tornou um laboratório à disposição de quem se dispuser a estudar a diversidade do poder de criação dos economistas nacionais. Sendo que muitos passam a vida em embates contra a racionalidade.

Entre inúmeros conceitos econômicos em torno dos quais especialistas e políticos se digladiam está a autonomia do Banco Central. A inevitável contaminação ideológica do debate produz bizarrices. Como a ideia de o BC ser capturado por interesses malévolos do capitalismo financeiro e, assim, preservar juros nas nuvens e espalhar miséria pelo país.  O ícone desta fantasia foram os filmetes da campanha à reeleição de Dilma Rousseff produzidos por João Santana e Mônica Moura, em que banqueiros faziam a comida desaparecer da mesa do pobre. Foi um grande estelionato eleitoral. No fim, Dilma perdeu o mandato e o casal foi preso.

Dilma, na campanha, centrou fogo contra qualquer autonomia do BC, política defendida pelo seu adversário mais forte, o tucano Aécio Neves. Entre vários argumentos, há o de que o manejo dos juros é tão importante que apenas quem for eleito tem legitimidade para tratar do assunto. O problema é que voto não dá conhecimento técnico, nem bom senso.
A própria Dilma Rousseff era, ela mesma, um forte argumento contrário à interferência na ação do BC. Pois foi o que fez, ao induzir a autoridade monetária, presidida por Alexandre Tombini, a reduzir os juros na base da canetada. Assim ocorreu e, de 2011 para 2012, as taxas caíram de 12,5% para 7,25%. Tudo faturado politicamente.

Como esperado, a inflação subiu de patamar — passou para a faixa dos 6%/6,5%, este o teto da meta de 4,5%. Depois, vitoriosa na campanha, Dilma não sobreviveu à mistura das criminosas fraudes contábeis, da recessão e da disparada do desemprego. Com um BC sem credibilidade — palavra-chave em política monetária —, a inflação atingiu a zona de extremo perigo dos dois dígitos.  Não há o que discutir sobre o conceito da autonomia de bancos centrais. Existe o exemplo mais citado de todos, o Federal Reserve, o BC americano, em que o diretor-geral tem mandato fixo, responde ao Senado, e a instituição tem longa história de bom funcionamento a favor da estabilidade econômica.

O curioso é que o próprio PT acumulava uma experiência bem-sucedida, no primeiro governo Lula, em que o presidente recém-empossado teve a sensatez de manter o modelo de autonomia do BC, com Henrique Meirelles, adotado por FH na gestão de Armínio Fraga. A dosagem de juros e aperto fiscal feita pela dupla Palocci, da Fazenda, e Meirelles trouxe a inflação de volta ao terreno do dígito único.  O mau exemplo foi o de Dilma. E, por força religiosa da fé ideológica, o partido não enxerga o que vê. É cego.

Fonte: Editorial - O Globo
 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O grande perigo da taxa de juros zero

Vários bancos centrais consideraram elevar a meta de inflação. Mas tal iniciativa tem diversas desvantagens 

Os mercados hoje estão obcecados sobre qual será o nível de elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) nos próximos 12 meses. Isso representa uma miopia perigosa: a verdadeira preocupação deveria ser o quanto ele poderá cortar os juros na próxima recessão profunda. Considerando-se que o Fed deve lutar para conseguir elevar seu juro básico para 2% no ano que vem, haverá muito pouco espaço para corte se houver uma recessão. 

A presidente do Fed, Janet Yellen, tentou tranquilizar os mercados numa palestra no fim de agosto, sugerindo que uma combinação de compra massiva de títulos do governo e orientação direta sobre política de juros poderiam alcançar o mesmo estímulo que cortar a taxa do overnight para -6%. Ela pode estar certa, mas a maioria dos economistas duvida que os instrumentos não convencionais de política monetária do Fed sejam tão eficazes. 

Há outras ideias que podem ser experimentadas. Por exemplo, o Fed poderia seguir a iniciativa recente do Banco do Japão de ter como meta taxas de juros de dez anos, em vez daquela de curto prazo na qual normalmente mira. A ideia é que, mesmo que as taxas de juros de curto prazo sejam zero, as taxas de longo prazo continuarão positivas. A taxa sobre os títulos de dez anos do Tesouro americano estavam em torno de 1,8% no fim de outubro. 

Esta abordagem pode funcionar por um tempo. Mas há igualmente um risco significativo de que eventualmente ela explodirá, da mesma forma como taxas de câmbio fixo tendem a funcionar por um período e depois provocam uma catástrofe. Se o Fed conseguir ser altamente convincente em sua meta de manter baixa a taxa de juros de dez anos, provavelmente poderia passar sem ter que intervir muito nos mercados, cujos agentes em geral estariam com muito medo para lutar contra o banco central mais poderoso do mundo. 

Mas imagine que o mercado comece a ter dúvidas, e que o Fed tenha sido forçado a intervir massivamente, comprando uma alta porcentagem da dívida total do governo. Isso deixaria o BC americano extremamente vulnerável a enormes perdas, caso as forças globais repentinamente elevassem o equilíbrio das taxas de juros, com o governo americano compelido a pagar taxas de juros muito mais elevadas para rolar sua dívida. 

As duas melhores ideias para lidar com o limite zero da taxa de juros parecem estar fora de alcance no momento. A melhor abordagem seria implementar todas as variadas mudanças institucionais, legais e tributárias necessárias para tornar as taxas de juros significativamente negativas, eliminando assim a necessidade do limite zero. Isso exige evitar que as pessoas reajam acumulando papel moeda; mas isso não é tão difícil. De fato, tentativas iniciais com políticas de juros negativos no Japão e na Europa causaram algum desapontamento. Mas as falhas nesses casos refletiram, em sua maioria, o fato de que os bancos centrais não podem por si mesmos implementar as políticas necessárias para tornar totalmente efetiva a política de taxa de juros negativa. 

A outra abordagem, analisada pelos economistas do Fed em meados dos anos 1990, seria elevar a meta de inflação de 2% para 4%. A ideia é que isto acabaria por eventualmente elevar o perfil de todas as classes de juros em dois pontos percentuais, reservando assim aquele espaço extra para corte.  Vários bancos centrais, inclusive o Fed, consideraram elevar a meta de inflação. Mas tal iniciativa tem várias desvantagens significativas. O problema principal é que uma mudança dessa magnitude arrisca minar a preciosa credibilidade do Banco Central; afinal, os bancos centrais têm prometido manter a inflação em 2% já há algumas décadas, e este patamar está profundamente incorporado em contratos financeiros de longo prazo. 

Além disso, assim como ocorreu na crise financeira de 2008, simplesmente ser capaz de reduzir as taxas de juros em 2% provavelmente não será suficiente. Muitas estimativas sugerem que o Fed gostaria de ter cortado os juros 4% ou 5% mais do que fez, mas não pôde reduzir mais depois que as taxas chegaram a zero.  Uma terceira falha é que, após um período de ajuste, os salários e contratos se tornam mais propensos a se ajustarem com mais frequência do que fariam com uma meta de inflação de 2%, tornando a política monetária menos eficiente. E, finalmente, uma inflação maior provoca distorções nos preços relativos e no sistema tributário — distorções que têm custos significativos, e não apenas durante recessões. 

Se ideias como taxas de juros negativas e metas de inflação mais elevadas soam perigosamente radicais, bem, a radicalidade é relativa. A não ser que os bancos centrais descubram uma maneira convincente de resolver sua paralisia no limite zero, provavelmente haverá uma torrente contínua de propostas inusitadas, ainda mais radicais. Por exemplo, Barry Eichengreen, economista da Universidade da California Berkeley, já argumentou que o protecionismo pode ajudar a gerar inflação quando os bancos centrais estão presos ao juro zero. E muitos economistas, incluindo Lawrence Summers e Paul Krugman, alertaram que reformas estruturais para aumentar a produtividade podem ser contraproducentes quando os bancos centrais estão paralisados, exatamente porque elas reduzem os preços.


Claro, há sempre política fiscal para gerar estímulo econômico. Mas é altamente desaconselhável que os gastos do governo sejam tão voláteis quanto teriam que ser para compensar a ineficiência da política monetária. Talvez não haja tempo suficiente antes que a próxima recessão profunda para lançar as bases para uma política de taxa de juros negativa ou para estabelecer uma meta de inflação mais alta. Mas isso não é desculpa para não considerar seriamente estas opções, especialmente se alternativas forem provavelmente mais problemáticas. 

Fonte: Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, é professor de Economia e Política Pública na Universidade de Harvard


terça-feira, 22 de setembro de 2015

E a mulher continua acumulando recordes negativos: US$ 1 = R$ 4,05 - previsão é fechar 2015 a, no mínimo, R$ 5,90

Dólar fecha a R$ 4,05, maior valor da história do real

Incertezas sobre a situação fiscal e turbulências políticas no Brasil fizeram moeda americana superar o recorde anterior, de 3,99 reais, de outubro de 2002

O dólar fechou nesta terça-feira a 4,05 reais, seu maior valor desde a criação do real, em 1994. A alta no dia, de 1,83%, foi puxada principalmente por incertezas sobre a situação fiscal do país e as turbulências políticas. Antes desta terça, o valor mais elevado de fechamento havia sido o de 10 de outubro de 2002, quando a moeda encerrou a sessão a 3,99 reais. Na época, a valorização do dólar foi impulsionada especialmente pelas incertezas sobre os destinos do país com a possível eleição do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), naquele momento uma incógnita para o mercado financeiro.

No cenário político, as atenções se concentraram na expectativa em torno da sessão conjunta da Câmara e do Senado, na qual os parlamentares vão decidir se mantêm ou derrubam vetos a projetos feitos pela presidente Dilma Rousseff. A derrubada, se ocorrer, atrapalha ainda mais os esforços fiscais do governo - os vetos tentam impedir gastos públicos de 127,8 bilhões de reais até 2019.

Em princípio, a sessão está prevista para começar às 19 horas, mas pode ser adiada, conforme estratégia da base governista. O governo passou o dia contando votos para avaliar se há condição de vitória. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), defendeu o adiamento da sessão e afirmou que uma derrota do governo seria uma "sinalização horrorosa" para o mercado. "Essas dificuldades que o governo enfrenta no Congresso deixam o país quase ingovernável do ponto de vista fiscal", disse o operador da corretora SLW, João Paulo de Gracia Correa.

Apesar de a agência de classificação de risco Moody's ter garantido que não vai mexer no rating brasileiro neste ano, os temores de novo rebaixamento continuam presentes nas mesas de operação. As atenções se voltaram principalmente para a Fitch Ratings, que tem uma equipe no Brasil para avaliar a situação econômica do país. Nos encontros com os técnicos da Fitch, o governo busca mostrar seu esforço para que não sofra novo rebaixamento. Vale lembrar que o rating brasileiro pela Fitch está dois níveis acima do "grau especulativo". Para tirar o selo de bom pagador do Brasil, a agência precisaria, portanto, rebaixar o país em dois patamares.

Os economistas ainda veem a crise atual como mais grave do que a vivida em outubro de 2002. Guardadas as suas peculiaridades, a economia daquela época também se deparava com uma crise de confiança, mas que logo foi resolvida com os acenos de Lula ao mercado. "Naquela época a economia teve avanços institucionais, em termos de política econômica e manutenção do tripé econômico. Hoje, a economia está doente, os fundamentos estão machucados", avalia a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

O economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, diz que a alta do dólar deve pressionar a dívida bruta do país, mas, por outro lado, pode aliviar o setor externo, estimulando a competitividade da indústria. Ele acrescenta que a trajetória de ajuste passa pela desvalorização do real. "O ideal seria termos, aliado ao ajuste do câmbio, também o ajuste fiscal. Como não há, a intensidade de alta do dólar acelera", explica.

Exterior - O panorama externo tampouco ajudou o ânimo dos investidores. O dólar subia globalmente após uma série de integrantes do Federal Reserve, banco central americano, ressaltarem na segunda que podem dar início ao aperto monetário ainda neste ano, depois de postergar na semana passada esse movimento em meio a preocupações com a economia global. O salto da moeda dos EUA também deu força às apostas nas mesas de câmbio de que o BC pode ampliar ainda mais sua intervenção, já que cotações mais altas tendem a pressionar a inflação já elevada.

"(O dólar) vai continuar subindo, sabe-se lá até onde", disse o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues. "O problema é a falta de credibilidade, o ambiente de incertezas. Não há leilão que segure", acrescentou, referindo-se às intervenções do BC. O economista-chefe da FN Capital, Edgar de Sá, avaliou que, se a crise política continuar, o dólar pode seguir em alta. "É difícil cravar um valor, como 4,30 ou 4,50 reais. Mas uma coisa é certa: o mercado continuará pressionado, se as incertezas não diminuírem."
(Com agências)


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mais um recorde negativo da Dilma = dólar a R$ 3,87 – com essa mulher no governo o dólar este ano chega aos R$ 5



Dólar fecha a R$ 3,87, maior cotação desde outubro de 2002 - Deterioração das contas públicas e crise política golpeiam o ânimo dos investidores
Cenário político faz dólar fechar a R$ 3,87, seu maior nível desde outubro de 2002
Ao longo da sessão, moeda americana chegou a ser negociada por 3,91 reais; cenário externo também preocupa

O dólar fechou no maior nível desde 2002 nesta sexta-feira, em meio a renovadas preocupações com a crise política e econômica no Brasil e com investidores buscando proteção antes de eventos importantes nos próximos dias, tanto no cenário local quanto no externo. A alta foi de 0,69%, para 3,87 reais, o, maior nível de fechamento desde 23 de outubro de 2002, quando foi a 3,91 reais. Na semana, o dólar acumulou alta de 0,43%. 

Nesta manhã, a moeda americana chegou a recuar 0,78%, para 3,82 reais na mínima, mas o movimento atraiu compradores em meio às perspectivas ainda incertas. Na máxima, a divisa subiu 1,15%, para 3,89 reais. "Quando você acha que vai ter um dia tranquilo, vem mais notícia ruim. O mercado não está para fracos", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano. A moeda americana já havia sido influenciada nesta semana pelo rebaixamento da nota de crédito do Brasil feito pela agência Standard & Poor's.

Preocupações com a deterioração das contas públicas e com a crise política no Brasil vêm golpeando o ânimo dos investidores nas últimas semanas, em meio a dúvidas sobre o comprometimento do governo com o ajuste fiscal.

No front político, a Polícia Federal confirmou nesta sexta-feira que pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja ouvido em um inquérito relacionado à operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção em estatais. No cenário externo, investidores também recorreram ao dólar para se proteger antes da reunião do Federal Reserve, o banco central americano, na semana que vem e da divulgação de dados sobre produção industrial e vendas no varejo da economia chinesa, no fim de semana.


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Dilma quebra mais um recorde negativo - enquanto essa mulher continuar presidente do Brasil, cada dia será pior que o anterior

Dólar fecha a R$ 3,49 com incerteza política e expectativa de alta de juros nos EUA

Moeda americana renova alta em mais de 12 anos

Com os temores em relação ao equilíbrio das contas públicas e o conturbado cenário político no Brasil fizeram o dólar comercial registrar o quinto dia consecutivo de alta. A moeda americana fechou o pregão cotada a R$ 3,488 na compra e a R$ 3,490 na venda, alta de 0,72% ante o real. Esse valor não era atingido no fechamento desde 11 de março de 2003. Na máxima do pregão, a divisa chegou a R$ 3,50, patamar que não era registrado desde os R$ 3,509 do dia 12 de março de 2003. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou alta de 0,46%, aos 50.287 pontos.

Na avaliação de analistas, essa pressão sobre o câmbio deve continuar no curto prazo, já que não há expectativa de solução para o atrito político entre governo e Congresso Nacional. Esse ambiente conturbado pode fazer com que as medidas do ajuste fiscal não sejam aprovadas, comprometendo o controle das contas públicas, item avaliado pelas agências de classificação de risco. Além disso, é esperado para esse ano o aumento da taxa de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o BC americano), o que deve retirar recursos de países emergentes, ou seja, mais um fator para a alta das cotações das moedas.  No curto prazo a questão da política interna vai continuar pressionando a moeda. E tem a expectativa de que a Moody’s nos próximos dias anuncie o rebaixamento da nota brasileira e mantenha a perspectiva negativa. Esse é um fator que mexe com o mercado — afirmou Luciano Rostagno, estrategista chefe do Mizuho Bank.

Se for rebaixada pela Moody’s, o Brasil mantém o grau de investimento, mas assim como na Standard & Poor’s, cresce o risco de perda do grau de investimento, já que estará apenas uma nota acima do nível especulativo e com a perspectiva (viés) negativa.

O dólar até iniciou os negócios em queda, mas o cenário interno acabou contribuindo para a reversão da tendência. João Medeiros, diretor da Pionner Corretora de Câmbio, lembrou que a avaliação das contas da presidente Dilma Rousseff pelo Congresso Nacional, em manobra feita pelo presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-SP), aumentou a preocupação de investidores e analistas, porque mostra o desgaste na relação entre os dois poderes - Cunha teve o seu nome citado na operação Lava Jato. — Há um temor em relação à aprovação das contas da presidente Dilma Rousseff, agora que o Congresso Nacional vai analisar todas as contas desde o período de Itamar Franco. O cenário político está bem conturbado e pressiona o dólar — disse.

SAÍDA DE DÓLARES
O Banco Central anunciou ainda que o fluxo cambial ficou negativo em US$ 3,9 bilhões em julho. Já a posição vendida dos bancos, que é quando essas instituições apostam que a cotação vai subir, passou de US$ 17,5 bilhões em junho para R$ 21,7 bilhões no mês passado.

No mercado futuro, o dólar no contrato com vencimento em setembro está sendo negociado a R$ 3,519, após atingir R$ 3,529 pela manhã. Nos contratos que vencem em junho do ano que vem, a moeda bateu nos R$ 3,80. Para esse ano, analistas esperam que o dólar possa chegar até a R$ 3,70.

Além disso, há a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos ainda em 2015. No exterior, o "dollar index" tinha leve queda de 0,03% no momento do encerramento dos negócios no Brasil. Esse indicador é medido pela Bloomberg e leva em conta o comportamento do dólar em relação a uma cesta de dez moedas. O indicador até chegou a cair após dados do Automatic Data Processing (ADP) mostrarem que foram criados 185 mil vagas nos Estados Unidos em julho, abaixo da expectativa de analistas (em torno de 215 mil) e uma queda em relação ao número de junho (237 mil). No entanto, um outra pesquisa, sobre o setor de serviços, mostrou uma melhora no nível de emprego do setor. A retomada do mercado de trabalho é vista como fator importante para que o Fed decida elevar os juros.

VALE DEIXA BOLSA EM TERRENO POSITIVO
O desempenho das ações da Vale sustentou a Bolsa em terreno positivo nesta quarta-feira, mesmo após os papéis da Petrobras terem perdido força. As preferenciais (PNs, sem direito a voto) da mineradora subiram 3,91% e as ordinárias (ONs, com direito a voto) avançaram 5,02%, seguindo a melhora do preço do minério de ferro na China. Já as ações da estatal, que subiram forte pela manhã, fecharam em queda. As PNs recuaram 1,66%, cotadas a R$ 10,01, e as ONs tiveram variação negativa de 1,08%, a R$ 10,99.

Ainda entre as ações mais negociadas, os papéis do Itaú Unibanco tiveram leve queda de 0,17% e os do Bradesco recuaram 0,30%. No caso do Banco do Brasil, as ações subiram 1,16%.  A Petrobras abriu em forte alta, mas o petróleo perdeu força no mercado internacional e as ações da estatal acompanharam esse movimento. Já os bancos são penalizados pela expectativa de rebaixamento da nota do Brasil — avaliou Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor, lembrando que essas instituições, pela exposição que possuem ao crédito doméstico, costumam acompanhar a nota de risco (rating) soberana.

No mercado externo, os principais índices de ações operaram em alta. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones fechou praticamente estável, com leve variação negativa de 0,03%, enquanto o S&P 500 teve alta de 0,31%. Já na Europa, o DAX, de Frankfurt, fechou em alta de 1,57% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, avançou 1,65%. O FTSE 100, de Londres, registrou variação positiva de 0,98%.

Fonte: O Globo