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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

100 mil mortos - Boletim da Covid-19 dá nome aos bois: governadores [prefeitos e também o STF.]

Alexandre Garcia

100 mil mortes



[Não só os governadores, também os prefeitos e todos que de alguma forma colaboraram para o fracasso do combate ao coronavírus, devem ser apontados como culpados e responsabilizados.

Sendo simples e direto: apenas o presidente Bolsonaro não tem culpa - foi impedido de agir. Apesar do comportamento da pandemia, deixar claro que a imunidade de rebanho começou, graças a DEUS.

Descendente de libanês, o ex-presidente Michel Temer vai chefiar a missão humanitária do Brasil que levará ajuda ao Líbano. Depois da explosão no porto de Beirute, o país todo explodiu politicamente. O primeiro-ministro do país renunciou e está havendo manifestações na rua. O povo libanês não aguenta mais a corrupção que impera nessas últimas décadas.


Vítimas da Covid-19 são enterradas em cemitério de Fortaleza: de quem é a culpa pelas 100 mil mortes?| Foto: Jarbas Oliveira/AFP

Temer falou que o país precisa de uma pacificação.Isso será difícil porque ao sul está Israel, ao leste a Síria e no país tem os terroristas do Hezbollah. Sempre houve grupos apoiados pelo exterior a atrapalhar o Líbano. Eu lembro disso quando cobri a guerra civil lá, em 1982. Os libaneses têm muito orgulho dos seus 12 milhões de compatriotas que vivem no Brasil. Por isso, o Brasil e a França — a segunda língua do país é francesa — têm uma responsabilidade muito grande.

O Brasil está doando ao Líbano 4 mil toneladas de arroz — o alimento vai chegar de navio. A comitiva de Temer vai levar inclusive donativos da área médica. O Brasil segue assim o exemplo dos Estados Unidos, onde é tradição indicar ex-presidentes para missões humanitárias.

“Calúnia para fugir da própria culpa”
O último boletim de estatísticas estaduais do coronavírus saiu com o nome dos governadores. Isso provocou um tititi, mas foi o STF que determinou que quem toma as medidas sanitárias são os chefes dos estados. Os prefeitos se queixam de que só têm margem de manobra para tornar mais rígidas medidas do governador. Se for para atenuar eles não podem. Os comerciantes estão fazendo queixas às prefeituras, essas reclamações não chegam aos governadores. Os prefeitos sabem que se o comércio não funcionar não há arrecadação e consequentemente não tem como pagar a folha de pagamento.

Percival Puggina, que é um grande articulista no Rio Grande do Sul, fez um post no Facebook dizendo: “se o STF não deixou fazer, se governadores e prefeitos não fizeram e se a grande imprensa desqualificou o que Bolsonaro queria ter feito, responsabilizar o presidente por 100 mil mortes é calúnia para fugir da própria culpa.”
Essa publicação foi de uma clareza cristalina. Foi por isso que o boletim saiu com o nome do administrador do estado, o responsável por coisas como o lockdown em Pelotas, onde teve até sirenes para anunciar o isolamento social — parecia alerta de ataque aéreo.

A importância do juiz de carreira
Tem um juiz de carreira no Supremo Tribunal Federal, felizmente próximo  presidente da Corte, Luiz Fux. Juízes do trabalho de carreira são dois: Marco Aurélio e Rosa Weber; os outros são promotores de carreira, advogados ou professores de Direito.
A formação real de um juiz é na primeira instância, porque há contato direto com a população. 
O sujeito que passa o dia inteiro em uma cátedra, dentro de uma banca de advogados ou trabalhando no Ministério Público não tem a mesma tarimba de um juiz de carreira que trabalha num fórum lá no sertão, no interior do país. Esse sim sabe ser justo, com base na lei.

Alexandre Garcia, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes




sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O arquiteto do imprevisível - Fernando Gabeira

Em Blog
 

Tantos votos no fim de 2019 de que o ano novo fosse leve, e ele praticamente começou com as bombas sobre o carro do general Suleimani, no Iraque. De novo a tensão, o medo da guerra e tonitruantes ameaças. Com a humildade de quem não conhece os meandros da política no Oriente Médio, meu primeiro impulso foi entender a estratégia de Trump. Recorri aos especialistas, mas não foram poucos os que admitiram incompreensão diante dos passos do presidente dos EUA. O que ele quer adiante, como vai desdobrar esta crise por ele agravada?

O próprio Trump afirmou que não estava começando uma guerra, e sim tentando acabar com um conflito. Dois tipos de debate surgiram: os que valorizam ou condenam a ação do Trump e os que, simplesmente, se limitam a perguntar se foi sábia a sua decisão.  Há uma longa história de atritos entre EUA e Irã, mortes, sequestros, derrubada de aviões. Por que agora Trump deu um passo que nem Bush nem Obama ousaram arriscar?  Havia uma tensão crescente, morte de um americano, bombardeio das guerrilhas xiitas no Iraque, invasão da embaixada americana. Era uma sucessão de escaramuças, mas não completamente estranha às relações dos dois países.

Assim como é difícil entender por que Trump decidiu isso agora, também é difícil prever todas as consequências. Não creio que o Irã, apesar da pressão popular, vá retaliar cegamente ou mesmo abrir várias frentes de luta contra os EUA. Seus líderes são experientes, embora alguma resposta tenham de dar imediatamente.
Suleimani era um dos artífices da repressão interna aos manifestantes contra o regime iraniano. Sua morte uniu o país e, certamente, esvaziou, no momento, os anseios democráticos de uma parte da população. Sua influência se estendia às milícias do Iêmen e do Iraque, aos governos na Faixa de Gaza, na Síria e no Líbano, onde o Hezbollah também é forte.

No entanto, até agora houve apenas duas reações políticas consideráveis. No Iraque, houve a decisão da retirada das tropas americanas, decisão cujo modo de realizar ainda é incógnito. Por seu lado, Teerã anunciou que deixaria o acordo nuclear costurado por Obama com a participação da Europa. Trump já se desligou dele em 2018, abrindo o caminho para seu fracasso.Não só pela clássica hostilidade entre EUA e Irã, a política norte-americana na região não é fácil de ser formulada. Obama tentou um caminho conciliatório, baseado em negociação. Mas dois importantes aliados, Israel e Arábia Saudita, não aprovavam esse enfoque. O próprio Obama ordenou a execução de muitos oponentes usando drones. No seu governo, Osama bin Laden foi despachado deste mundo. Mas os executados por Obama eram considerados terroristas e, sobretudo, não tinham cargos em governo, como Suleimani, nem eram tratados como heróis nacionais.

É essa linha que Trump ultrapassou, linha que, submetida ao Congresso, talvez tivesse enormes dificuldades de aprovação.  Ainda não conhecemos as consequências. Mas Trump arriscou um passo perigoso quando ameaçou destruir os bens culturais do Irã. Apesar da simpatia que desperta entre seus adeptos e admiradores, incluído o governo brasileiro, Trump isolaria dramaticamente os EUA se rebaixasse o país ao nível dos taleban ou do Isis, que destruíam, sorrindo, obras caríssimas à humanidade.

Em primeiro lugar, romperia com a própria posição americana, que respaldou em 2017 a condenação ao bombardeio do legado cultural dos países em guerra. Mesmo dentro dos EUA, não sei se seria respaldado nessa decisão. Vi uma entrevista de fonte do Pentágono dizendo que não tinham planos de atacar alvos culturais. Não deixa de ser um apelo do tipo: não nos meta nessa empreitada.
Se um simples articulista tem de estudar e tomar certas precauções diante de um quadro complexo e dinâmico, imaginem um país. Se me lembro bem dos tempos da política, a fórmula clássica é estimular a distensão e reforçar os votos pela paz e pela solução pacífica dos problemas. Mesmo sem entender bem o quadro, é uma declaração que não tem como comprometer o País.É compreensível que Bolsonaro e seu ministro tenham tomado uma posição de apoio a Trump, se levamos em conta suas ideias. Entra aí uma questão que cansei de criticar no PT: a política externa não é uma decorrência direta das ideias de um presidente ou de um partido. Ela se move de forma mais cautelosa, porque representa uma política nacional, certo tipo de consenso que tem um passado e, certamente, um futuro.


Na cabeça de Bolsonaro, as coisas funcionam assim: o PT apoiava Cuba e Venezuela, ganhamos as eleições, temos o direito de apoiar os EUA de forma irrestrita. Essa é a dificuldade, supor que uma vez ganha as eleições o vencedor impõe ilimitadamente sua vontade. A suposição de que a política externa seja apenas uma decorrência da visão partidária se estende a outras áreas, com o mesmo potencial corrosivo. A produção artística, por exemplo. A ideia é a mesma: se o PT apoiou um determinado tipo de produção cultural, a hora é de mudar radicalmente e apoiar um campo simetricamente oposto. Em ambos os casos – política externa e produção cultural – uma visão desse tipo é perigosa.[toda atividade cultural apoiada pelo =perda total = deve ser combatida.]
 
No campo internacional, desfigura uma construção simbólica que o País levou décadas para afirmar. No campo cultural, simplesmente anula o estatuto independente da arte e a considera apenas petista ou bolsonarista, na realidade, uma extensão do populismo de esquerda ou de direita. É esse tipo de equívoco que talvez leve Trump a afirmar tão naturalmente que pode bombardear os bens culturais do Irã. A mesma ilusão dos aiatolás, que tentaram remover as ruínas de Persépolis por acharem ser símbolo de uma cultura decadente. Não conseguiram, mas a ideia é sempre a mesma: ou a cultura é uma propaganda ou merece ser destruída.

Fernando Gabeira, jornalista - Blog do Gabeira


Artigo publicado no Estadão em 10/01/2020 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

TERREMOTO NO IRÃ - Alexandre Garcia


Gazeta do Povo



No fim de semana, a terra tremeu no nordeste do Irã, na magnitude 5,8 da escala Richter. Mas a morte de Qassim Suleimani foi um sismo em grau máximo da escala.   O Chefe da Guarda Revolucionária da teocracia iraniana era também planejador estratégico e tático para controle do poder no Líbano, Síria, Iraque, Afeganistão e Iêmen, para cercar Israel e enfraquecer outros aliados dos Estados Unidos, como a Arábia Saudita.

O Hezbollah no Líbano se tornou um estado dentro do estado. Os Xiitas na Síria, os Houthis no Iêmen, o Hamas, o movimento Jihad Islâmico, eram instrumentos para Suleimani, que usava árabes e afegãos para não constranger as forças regulares do Irã em missões alheias à defesa de seu país."Parecia um herdeiro de Xerxes, filho de Dario e neto de Ciro, a dinastia que fez da Pérsia, hoje Irã, a grande potência que dominou o oriente médio da antiguidade, até que o macedônio Alexandre, o Grande, destroçasse o império.

Não parece sonho imaginar que o objetivo de Suleimani fosse o reerguimento do Império Persa. Sua presença ia das praias do Mediterrâneo ao Golfo Pérsico. Estava dentro do Iraque quando foi atingido, depois que os americanos, por falta de decisão, adiaram o momento de “puxar o gatilho”, embora tivessem tido outras oportunidades para lançar o ataque. A decisão de matar Suleimani não é um desafio dos Estados Unidos ao Irã; é um aviso e uma ameaça. O governo americano não está preocupado com a pesquisa nuclear iraniana; já sabia que acordos só seriam cumpridos no cerimonial. Israel vem monitorando o programa nuclear do Irã, pois disso depende a sobrevivência do país que se fundou com sangue e se mantém com sangue e vigilância.

Suleimani era a fonte de foguetes que sempre ameaçam Israel por todos os lados. Ele é dessas figuras de retaguarda e front, sempre presente a incentivar seus comandados. Por isso, sua morte é um desfalque maior que a de Bin Laden ou do líder do Estado Islâmico. No Irã, só estava abaixo do Aiatolá.  Seus seguidores atacaram petroleiros, cobriram de mísseis a maior refinaria da Arábia Saudita, mataram quase mil americanos no Iraque. E o governo americano esperou. Mas o recente ataque à embaixada em Iraque, onde estava Suleimani, fez Trump dar a ordem de fogo. "Até o momento em que escrevo, não vi manifestações fortes da China ou Rússia. Cada potência respeita os interesses da outra. Americanos não se meteram na Ucrânia ou em Hong Kong. O Irã não ganharia a guerra, mas pode fazer uma boa negociação. Só não pode controlar movimentos que ficaram órfãos de seu comandante e inspirador.

Pode haver vinganças de um lado, com punição imediata por parte dos americanos. Mas não haverá guerra mundial, como catastrofistas de plantão falam. Se houvesse, duraria apenas um dia e acabaria."

Alexandre Garcia, jornalista -  Coluna na Gazeta do Povo

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

E o Brasil com isso? - Eliane Cantanhêde

No maior teste da nova política externa, Brasil adota neutralidade ou assume lado?

O conflito dos Estados Unidos com o Irã é o maior teste do governo Jair Bolsonaro e já exibe duas claras guinadas, não apenas em relação aos governos petistas, mas à própria política externa tradicional do Brasil. E o pior está por vir, pois a vingança do Irã é certa, mas não se sabe quando, como e com que grau de ferocidade. O que fará o Brasil? [O Brasil tem que ser pragmático e seguir o caminho que qualquer estadista de importância, digno do nome - incluindo o próprio Trump - faria:
Colocar os INTERESSES do BRASIL ACIMA DE TODOS os demais interesses.
Acima do Brasíl, só DEUS ACIMA DE TUDO - que está, sempre esteve e sempre estará acima de tudo. 
E na situação atual a NEUTRALIDADE é a melhor, e mesmo a única opção de privilegiar os interesses do Brasil, colocando-os acima de todos os outros.
Registramos nosso entendimento de que não haverá guerra.
Saiba mais, lendo aqui.]

As duas mudanças perpassam as discussões de cúpula do governo e podem ser identificadas na nota do Itamaraty. A primeira é que o foco no Oriente Médio não é mais o conflito Israel-Palestina e sim o Irã. A segunda é que o Brasil deixa de tratar o terrorismo como uma questão distante, dos países desenvolvidos e do Oriente Médio. O terrorismo passa a ser problema nosso, sim.[considerando a natureza da operação, o caráter que não existe uma guerra declarada, estamos diante de um novo tipo de terrorismo? o terrorismo de estado?]

No “novo Brasil”, alinhado incondicionalmente não só aos EUA, mas ao governo Trump, o Irã é a maior ameaça internacional, com seu projeto audacioso de hegemonia na região e insinuando-se até como novo líder mundial a partir do seu programa nuclear. Persa, não árabe, é o Irã quem assume a dianteira no enfrentamento a Israel, negando até o holocausto e o próprio Estado de Israel, como já se esgoelava Mahmoud Ahmadinejad, homem forte do país entre 2005 e 2013.

Tanto Trump quanto Bolsonaro têm forte base política entre judeus e evangélicos, que estão na linha de frente pró-Israel. Não por acaso, o primeiro compromisso e a segunda manifestação de Trump após o ataque que matou o principal líder militar iraniano foram em Miami, num evento evangélico. Agregue-se à ascensão do Irã a sua proximidade com a Venezuela de Nicolás Maduro e tem-se a suspeita de apoio iraniano à instalação de células do Hezbollah na América do Sul. Bom pretexto para a mudança da posição brasileira sobre terrorismo. Não é mais “coisa dos outros”.

As primeiras manifestações do presidente Jair Bolsonaro foram bem-vindas. Ele admitiu o impacto da crise sobre o preço do petróleo, mas descartou tabelamento. Ponto com o mercado e com o Ministério da Economia. E lembrou que o Brasil não tem armamento nuclear e não pode assumir um lado, ficando sujeito a retaliações. Ponto com os militares e com a diplomacia responsável. A nota do Itamaraty, porém, é toda em cima do combate ao terrorismo e embica para a condenação ao Irã e o apoio aos EUA, deixando em aberto qual será a posição brasileira se, ou melhor, quando o Irã retaliar. Nesse momento, Trump cobrará posição e ação. O que o Brasil responderá? [NEUTRALIDADE; na Guerra das Malvinas, o Brasil assumiu uma postura correta e corajosa e manteve sua neutralidade naquele conflito, adotando as medidas adequadas que devem ser padrão no comportamento de uma nação neutra - inclusive negando trânsito sobre espaço aéreo brasileiro à aviões das nações beligerantes.
A Suíça se manteve neutra,  encravada entre países em conflito, durante a Segunda Guerra Mundial, e ao fim do conflito estava MAIOR do que ao início.
Talvez seja até conveniente que a competência para emitir manifestações  sobre a situação no Oriente Médio seja afastada, ainda que temporariamente, do Itamaraty.]
A nota não condena a ação americana e o assassinato do general Suleimani, mas sim, além do “terrorismo”, os ataques à embaixada dos EUA em Bagdá. E diz que o Brasil está pronto para participar de “esforços” para evitar uma escalada. Participar como? Como mediador neutro ou a favor de um lado? Ouçam-se os generais e estrategistas militares e eles responderão: “não é coisa nossa”. Ouçam-se embaixadores e especialistas em política externa e eles farão coro: “não temos nada a ver com isso”. E, juntos, concordam com a primeira avaliação de Bolsonaro: o Brasil não tem tamanho para entrar nessa guerra. Melhor seguir o exemplo da França: pedir cautela e fim da escalada. Ponto.

Além da questão geopolítica e dos riscos para o planeta, a crise envolve questões internas. Trump convive com o impeachment e a reeleição neste ano. O Irã sofre rejeição em parte do Iraque e do Líbano. Logo, arrumar “inimigos externos” é conveniente a ambos, assim como Hugo Chávez recorria ao “demônio” EUA a toda hora para unir a Venezuela. Objetivamente, o Brasil pode muito pouco num conflito ou numa guerra assim e tem de se preocupar com a ameaça imediata: o preço do petróleo. Isso, sim, tem reflexos diretos no País. Inclusive, na política interna.
 
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo
 
 
 
 
 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Entenda em oito pontos os recados de Bolsonaro no discurso da ONU -- O Globo, Claudia Antunes, editora de Mundo

Presidente reiterou posições conhecidas sobre Amazônia, direitos humanos, ideologia e relações internacionais

 O presidente Jair Bolsonaro abriu nesta terça-feira os debates gerais na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, sob pressão para tentar reverter a imagem negativa de seu governo no exterior. O discurso era cercado de expectativas, após o presidente brasileiro protagonizar polêmicas com outros líderes mundiais e a má repercussão dos incêndios na Amazônia. Veja quais foram os principais recados enviados por Bolsonaro em seu discurso. 
 
Ideológicos são os outros
Ao mesmo tempo em que atacava “sistemas ideológicos de pensamento” que, segundo ele, não “buscavam a verdade”, mas o "poder absoluto", Bolsonaro fez um discurso de alta carga ideológica, na qual atribuiu todos os males do Brasil e do mundo ao socialismo e à esquerda, sem fazer distinção entre a social-democracia e as ditaduras de partido único comunista. Já na abertura  — como já havia feito em seu discurso de posse e em outros pronunciamentos, incluindo na Casa Branca em março deste ano —, ele disse que assumiu um país “à beira do socialismo”. Como suposta evidência disso, citou os médicos cubanos que trabalhavam no programa Mais Médicos.

Sem chegar a usar a expressão “marxismo cultural”  — uma das favoritas dos seguidores do guru da direita Olavo de Carvalho, entre eles o chanceler Ernesto Araújo, seu filho Eduardo Bolsonaro e o assessor internacional do Planalto Filipe Martins, que o ajudaram a redigir o discurso  —, o presidente disse que a “ideologia se instalou” na cultura, na educação e na mídia, [tentando, sem êxito, até agora, apesar de algumas supremas e infundadas intervenções do STF.] dominando meios de comunicação, universidade e escolas, destruindo a família, a “inocência das crianças” e a fé em Deus. Atacou o “politicamente correto” e definiu a identidade sexual como puramente “biológica”

Por fim, criticou o que direita chama de “globalismo”, termo pejorativo para as instituições e tratados globais, afirmando que os nacionalismos e as soberanias não podem ser “apagadas” em nome de um “interesse global abstrato”. Pouco antes do discurso de Bolsonaro, ao abrir os debates da Assembleia Geral, o secretário-geral da ONU, António Guterres, que foi primeiro-ministro de Portugal pelo Partido Socialista, havia destacado que as crises internacionais devem ser resolvidas multilateralmente, mas sem interferências indevidas nas questões internas das nações.

Defesa da ditadura
De modo não explícito, ao mesmo tempo em que atacava a ditadura do Partido Comunista em Cuba e o regime venezuelano de Nicolás Maduro, Bolsonaro reiterou a defesa das ditaduras militares instaladas no Brasil e na maioria dos países da América Latina nos anos 1960. Disse que na época houve uma “guerra” contra supostos agentes cubanos na qual "civis e militares brasileiros" foram mortos, ignorando que o governo deposto em 1964 havia sido eleito e enfrentava tensões políticas internas decorrentes de demandas populares pela ampliação da democracia e por mais direitos sociais.
Por fim, não deixou de mencionar o Foro de São Paulo, uma obsessão de círculos da direita que costumam superestimar sua influência, e que é formado por mais de cem partidos políticos de várias correntes da esquerda e centro-esquerda.

Sem reconhecer aumento das queimadas
Ao falar da Amazônia, Bolsonaro não reconheceu o aumento das queimadas registrado  pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), atribuindo essas ocorrências ao “clima seco e aos ventos” desta época do ano, “que favorecem queimadas espontâneas e criminosas”. Disse que os índios também promovem queimadas, e que o Brasil é alvo de “ataques sensacionalistas” de “grande parte da mídia internacional”. "É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade", afirmou.

Sobre os povos indígenas, reiterou que não haverá mais demarcações de terras em seu governo. Citou as reservas ianomâmi e Raposa Terra do Sol, dizendo que a cobiça pelos depósitos de minerais nesses locais motiva as críticas ao seu governo, que, no entanto, já manifestou a intenção de abrir essas áreas à exploração. Bolsonaro também voltou a atacar organizações não governamentais que, segundo ele, "teimam em tratar nossos índios como verdadeiros homens das cavernas". 

Sem estender a mão a europeus Ao falar da Amazônia, Bolsonaro manteve o tom de confronto com líderes europeus como o francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel, que fizeram críticas ao desmatamento da Amazônia e a sua política ambiental. Sem mencioná-los pelo nome, disse que “um ou outro país embarcou nas mentiras da mídia” e se comportou “com espírito colonialista”. Disse que a França e a Alemanha exploram “mais de 50%” de suas terras para a agricultura, enquanto o Brasil preserva a maior parte do seu território. 

O presidente atacou, por duas vezes, o cacique Raoni, que esteve com Macron e o criticou em fóruns internacionais.  Bolsonaro, cujas políticas levaram ao bloqueio do Fundo Amazônia, mantido pela Noruega e a Alemanha, também disse “qualquer iniciativa de ajuda ou apoio” para a preservação da floresta deve “ser tratada em pleno respeito à soberania brasileira”. Na reunião do G7 na França, ao ser questionado sobre propostas de internacionalização da gestão da Amazônia, Macron disse que o debate existia e poderia ser travado no futuro, mas não estava posto no momento.

Preferência por Trump
O presidente americano, desde o início escolhido como aliado preferencial pelo governo Bolsonaro — e que também atacou o “globalismo” em seu discurso na ONU feito logo em seguida ao do brasileiro —, foi citado nominalmente no discurso, deferência também reservada ao argentino Mauricio Macri, que corre o risco de ser derrotado na eleição de 27 de outubro. Segundo o presidente, Donald Trump evitou que o G7, o grupo das sete maiores economias capitalistas, aprovasse sanções ao Brasil pelas queimadas na Amazônia. Na verdade, não houve proposta de sanções ao Brasil na última cúpula do grupo, na França, no final de agosto.

Defesa do livre comércio
Embora a economia brasileira demore a se recuperar da recessão iniciada em 2015, Bolsonaro traçou um quadro otimista dos efeitos da política econômica do seu governo, afirmando que a “economia está reagindo” ao “romper os vícios e as amarras  de quase duas décadas de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada”. Destacou seu compromisso com a "liberdade econômica", dizendo que "o livre mercado, as concessões e as privatizações" já se fazem presentes no Brasil hoje, embora governos anteriores também tenham privatizado e concedido ao setor privado a exploração de recursos naturais e serviços públicos, como rodovias, aeroportos e fornecimento de eletricidade.

O presidente fez uma defesa da abertura da economia, congratulando-se pelos acordos firmados "em apenas oito meses" entre o Mercosul e a União Europeia e entre o bloco sul-americano e a Área Europeia de Livre Comércio, embora esses tratados já viessem sendo negociados nos governos anteriores. A ratificação desses acordos de livre comércio, no entanto, pode ser dificultada se o governo brasileiro mantiver a tensão no relacionamento com dirigentes europeus. 

Direitos humanos e a polícia
Bolsonaro disse que tem “compromisso intransigente” com os direitos humanos, mas que esse compromisso “caminha junto com o combate à corrupção e à criminalidade”. Quatro dias depois da morte da menina Ágatha, de oito anos, atingida por um tiro disparado pela polícia no Complexo do Alemão, no Rio, o presidente destacou a morte de policiais militares decorrente da violência criminosa, mas não a de civis. No início de setembro, o brasileiro atacou a comissária de Direitos Humanos da ONU, a chilena Michelle Bachelet, depois que ela apontou, em entrevista, o aumento dos homicídios cometidos pelas polícias dos estados do Rio e de São Paulo. [quando a polícia se torna mais eficiente é natural que mate mais = polícia nas rua é mais bandido presou e/ou na vala.]

Ao falar do combate ao crime, o presidente destacou a extradição do italiano Cesare Battisti, ex-militante de um grupo armado de extrema esquerda, e de três opositores paraguaios que tiveram seu status de refugiados no Brasil revogado, chamando-os indistintamente de "terroristas". Não mencionou que o país tem uma longa tradição de asilo, que beneficiou pessoas de diferentes ideologias, incluindo o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner.

Nesse item, Bolsonaro voltou a citar presidentes anteriores do Brasil que desfrutavam de maior prestígio internacional do que o dele. Mencionou a "segurança e a coragem" de Sergio Moro por ter julgado e punido ex-presidentes, que segundo ele eram aplaudidos na ONU sem nunca terem atendido "os reais interesses do Brasil" nem contribuído "para a estabilidade mundial".
 
E MAIS:
Bolsonaro na ONU: ‘Repercussão ruim entre adversários é sinal que discurso foi muito bom’, diz Augusto Heleno
 
Aceno aos militares
Bolsonaro fez um aceno específico aos militares ao falar da participação do Brasil em missões de paz das Nações Unidas no Haiti, no Líbano e na República Democrática do Congo. Não mencionou que todos os postos de destaque obtidos pelo Brasil nessas missões foram negociados em governos anteriores ao seu, e que sua intenção de classificar o Hezbollah como "terrorista" pode pôr em risco o papel do Brasil no país do Oriente Médio, onde o movimento xiita participa do governo.

O presidente disse que os contingentes brasileiros “são reconhecidos pela qualidade do seu trabalho e pelo respeito à população” e que o país continuará contribuindo para as missões de paz, mencionando a experiência brasileira no treinamento e na capacitação de tropas. Integrantes do seu governo, como Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, lideraram forças de paz da ONU. Heleno também participou da redação do discurso de Bolsonaro na ONU. 

O Globo

terça-feira, 7 de maio de 2019

Narcoterrorismo chega à fronteira do Brasil


Ameaças na fronteira

Forças Armadas brasileiras tentam reforçar a vigilância

 O Exército de Libertação Nacional da Colômbia, a maior organização narcoterrorista em atividade na América do Sul, consolidou o domínio de cidades, áreas de mineração e de agricultura na região sul da Venezuela, num raio de 500 km da fronteira com o Brasil, em zonas próximas dos postos do Exército em Cucui (AM) e Urimatã (RR). Forças Armadas brasileiras tentam reforçar a vigilância numa região de 2,1 mil km, floresta densa e inúmeros rios.

O narcoterrorismo de origem colombiana se expande rapidamente pelo território da Venezuela em meio ao colapso institucional do país. Serviços de informação de Colômbia, Brasil e Estados Unidos têm confirmação de acampamentos de tropas e emissoras clandestinas de rádio (FMs 97.7; 95.5; 90.1; 105.5, e 97.4) em pelo menos dez dos 23 estados venezuelanos.

O governo Nicolás Maduro adotou o ELN e outros grupos narcoterroristas colombianos (dissidentes das Farc, Rastrojos e Águilas Negras, entre outros) como “forças auxiliares” de defesa nacional. Com auxílio do ex-vice-presidente Tareck El Aissami, abrigou em Bolívar um núcleo armado do Hezbollah, do Líbano. Na prática, perdeu o controle de partes do território.

O ELN passou a atuar até na distribuição de cestas básicas de alimentos do governo, em caixas de papelão com adesivos da narcoguerrilha ao lado de imagens de Maduro e do falecido Hugo Chávez. Esse programa de comida subsidiada, conhecido como Clap, foi classificado na semana passada pelos EUA como uma operação de lavagem de ativos, coordenada pelo colombiano Álex Saab Morán. Ele foi flagrado numa recente operação de contrabando de sete toneladas de ouro da Venezuela, interceptadas num porto de Uganda, na África. Segundo os EUA, a lavagem era realizada com apoio do Hezbollah na Turquia, no Panamá e em Hong Kong.

Desde janeiro, quando matou 21 pessoas num ataque com carrobomba em Bogotá, o ELN avança na região de Puerto Ayacucho, capital do Amazonas venezuelano, a 500 quilômetros da base militar do Brasil em Cucui (AM). Do lado brasileiro, sobram tensão e medo. [Bolsonaro deve considerar a integridade territorial brasileira mais importante e o risco é maior na área próxima a base militar de Puerto Ayacucho;
assim o ideal é a construção de mais uma base e, simultaneamente, a ampliação da de Cacuí, esquecendo, por enquanto, a Venezuela - por agora, fechar a fronteira com aquele país é mais que suficiente.]

José Casado, jornalista - O Globo 

 

sexta-feira, 29 de março de 2019

Trump e as Colinas de Golan

Trump contrariou décadas de políticas não só de seus antecessores, como também de seus aliados na ONU e na Otan

Ao reconhecer, em 21 de março, a soberania de Israel sobre as Colinas de Golan, tomadas à Síria na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exercitou mais uma vez seu voluntarismo, mais nocivo precisamente onde suas prerrogativas de chefe de Estado o liberam de alguns freios legislativos e judiciários: as relações internacionais. Localizado entre Israel, Síria e Jordânia, o planalto rochoso de Golan sempre foi palco de disputas por seus recursos hídricos. Era sobretudo uma fortaleza para a Síria. A 60 km da capital síria, Damasco, tornou-se, a partir de sua ocupação, um escudo nas mãos de Israel, que dali expulsou cerca de 150 mil sírios e estabeleceu assentamentos e postos militares. A comunidade internacional, a começar pelos Estados Unidos, sempre negou a legitimidade da ocupação, conseguindo que Israel ao menos considerasse a retirada em troca de concessões sírias.

Assim, Trump contrariou décadas de políticas não só de seus antecessores, como também de seus aliados na ONU e na Otan, além do procedimento consensual em casos de ocupações territoriais: o não reconhecimento acompanhado da negociação diplomática. Desde a 2.ª Guerra Mundial, os próprios Estados Unidos não reconheceram nenhum outro território ocupado. Agora abriram um precedente para que outras potências pisoteiem o direito internacional em ocupações forçadas – como a Rússia na Crimeia ou a China no Mar do Sul da China.

O anúncio – via Twitter, naturalmente – muda pouco a situação no campo. Mas, antes de tudo, aquele que se vangloria de ser um master negotiator” fez um péssimo acordo para seu país, entregando de graça uma alavanca diplomática importante só para prestigiar seu aliado, o premiê israelense, Benyamin Netanyahu, envolto em escândalos em plena corrida eleitoral. Mas é questionável que Israel mesmo saia ganhando.

Segundo Fred Hof, ex-funcionário do Departamento de Estado responsável pelas negociações com a Síria, o anúncio será “bem acolhido pelos inimigos mais amargos de Israel – o Irã e o Hezbollah –, que verão a anexação como uma justificativa adicional para operações terroristas”. O ditador sírio, Bashar al-Assad, por sua vez, tem a oportunidade de posar de vítima, desviando a atenção dos seus crimes de guerra. A reação dos países árabes só não foi pior porque nos últimos anos têm se aproximado de Israel como um aliado contra o Irã. Mas a promessa eleitoral de Trump de conduzir um acordo entre israelenses e palestinos se torna ainda mais irrealista, uma vez que estes últimos, já humilhados pelos cortes de recursos e pela mudança da embaixada norte-americana para Jerusalém, promovidos por Trump, têm mais motivos para temer que o mesmo reconhecimento possa acontecer na Cisjordânia, também ocupada na Guerra dos Seis Dias.

É mais um episódio em que a personalidade instável de Trump desestabiliza as relações internacionais de seu país e do mundo – como a guerra comercial com a China, as ameaças de intervenção militar na Venezuela ou a retirada de acordos internacionais como o tratado nuclear com o Irã ou o acordo climático de Paris. Trump parece transpor a sua cultura empresarial para as relações exteriores, como se estas fossem só negociações competitivas, e as conduz como fazia em seus reality shows, promovendo a imprevisibilidade e a rotatividade dos protagonistas para se manter como estrela do espetáculo.

Com isso, acentua a velha ambivalência dos Estados Unidos em relação à multilateralidade diplomática. Como apontou a revista The Economist, “a vontade singular dos Estados Unidos de liderar fundindo poder e legitimidade serrou a União Soviética e os conduziu à hegemonia”, e a ordem mundial que os norte-americanos engendraram “é o veículo para esta filosofia”, mas “o sr. Trump prefere recair na velha ideia da lei do mais forte”. Com tamanha truculência, é cada vez mais difícil para a comunidade global acreditar num líder do mundo livre que não acredita no mundo livre.

Editorial - O Estado de S. Paulo