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segunda-feira, 30 de maio de 2022

Desigualdade de gênero deixa o Itamaraty de saia justa

Com o objetivo de combater a falta de representatividade feminina no Itamaraty, um grupo de diplomatas, criado em 2013, produziu o documentário Exteriores: Mulheres Brasileiras na Diplomacia

Em 2023 vamos celebrar 105 anos desde o dia em que o Ministério das Relações Exteriores (MRE) teve que abrir as portas para a primeira mulher ingressar no Itamaraty, a baiana Maria José de Castro Rebello Mendes, então com 27 anos. Depois de tantos anos, a desigualdade de gênero persiste no Itamaraty, pois a carreira de diplomata é predominantemente masculina.

A valente Maria José enfrentou muitos obstáculos desde que não aceitaram sua inscrição, alegando que mulher não podia participar do concurso. As manchetes dos jornais questionavam se mulheres poderiam ocupar cargos públicos. Seu ingresso na carreira diplomática só foi possível por intercessão do jurista Ruy Barbosa junto ao então ministro das Relações Exteriores, Nilo Peçanha, que, sob pressão, autorizou a inscrição dela com um despacho: "Não sei se as mulheres desempenhariam com proveito a diplomacia, onde tantos atributos de discrição e capacidade são exigidos [...]. Melhor seria, certamente, para seu prestígio, que continuassem à direção do lar, tais são os desenganos da vida pública, mas não há como recusar sua aspiração, desde que fiquem provadas suas aptidões". Maria José foi aprovada em 1º lugar. Diante desse fato inédito, tiveram que adaptar um espaço para banheiro feminino no prédio do MRE.

Em abril de 2022, o quadro de 1.540 diplomatas era formado por 356 mulheres (23%) e 1.184 homens (dados do MRE). O perfil da diplomacia brasileira, segundo especialistas, é o do homem branco, de classe média alta, com acesso à educação e ao apoio de familiares que já fizeram o concurso. Recentemente, o embaixador e ex-ministro Sergio Amaral causou indignação ao afirmar, em entrevista à TV Cultura, que o baixo número de mulheres no Itamaraty ocorre por causa de questões de "qualificação" para um "concurso exigente". Desde a aprovação no concurso do Instituto Rio Branco, as mulheres enfrentam discriminação. Mesmo tendo as mesmas qualificações, elas não têm as mesmas oportunidades oferecidas aos homens. Não há nenhuma diplomata em embaixadas de maior visibilidade para a política externa brasileira, e elas nunca chefiaram postos estratégicos como Paris, Washington, Buenos Aires, Londres, Tóquio ou Pequim. Não há vontade política para que as diplomatas ocupem posições que valorizem seu trabalho e sua capacidade de liderança. [NADA CONTRA AS MULHERES - AO CONTRÁRIO. O concurso é aberto para ambos os sexos - masculino e feminino - as questões são exatamente as mesmas. Instituir uma política de cotas (como pretendem fazer na política = um determinado percentual de mulheres tem que ser eleito ... complicado,  já que o eleitor é quem decide em quem votar... ) é um absurdo, tem é que acabar com as cotas existentes, deixando apenas para deficientes físicos = O MÉRITO TEM QUE PREVALECER. Quanto a mulheres para embaixadas 'estratégicas' é uma prerrogativa de quem indica.]

Outro assunto velado é a questão do assédio. Quando uma reportagem anunciou que não havia assédio no Itamaraty, algumas diplomatas fizeram uma enquete e registraram mais de 100 casos de comportamento sexista dentro da instituição. Servidoras e diplomatas, em um grupo fechado no Facebook, relataram casos de assédio moral e sexual. Em um dos relatos, uma diplomata contou que um ex-chefe que a assediava se vingou transferindo-a para um local que não atendia aos seus interesses profissionais. [o que deve prevalecer é o interesse do serviço e não o do funcionário.]

Com o objetivo de combater a falta de representatividade feminina no Itamaraty, um grupo de diplomatas, criado em 2013, produziu o documentário Exteriores: Mulheres Brasileiras na Diplomacia. Uma das líderes é Irene Vida Gala, 60, ex-embaixadora em Gana e atual subchefe do escritório de representação do Itamaraty (São Paulo). Irene tornou-se a porta-voz das diplomatas que se sentem discriminadas. Ela é exemplo de como uma mulher em cargo de chefia pode fazer a diferença. Quando foi cônsul-geral adjunta em Roma soube de casos de violência doméstica contra brasileiras casadas com italianos, e da perda da guarda dos filhos quando pediam divórcio. Sua atitude foi abrir as portas do consulado, comunicando publicamente que quem precisasse de ajuda encontraria um ombro, advogado e assistência social. E foram muitas as denúncias recebidas.

A predominância masculina é de natureza estrutural e não ocorre apenas na diplomacia. Os homens têm acesso a cargos de poder e a salários maiores do que mulheres com as mesmas qualificações. É preciso somar a luta das diplomatas por igualdade e respeito com a luta das mulheres em outras profissões.

Passou da hora de o Itamaraty se libertar dessa saia justa, dessa posição embaraçosa de ser uma instituição que defende a igualdade na diplomacia e nas relações exteriores, ao mesmo tempo em que discriminam mulheres na própria estrutura. A imagem que o Brasil deve transmitir é a de um país que valoriza a igualdade de gênero e a afirmação dos direitos humanos.

Juliana Brizola - Correio Braziliense


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Biden, dá uma 'baidada' e aproxima mais China e Rússia contra os EUA - Macron recebe de Putin um sanduíche de vento - Blog Mundialista

Frustração: Macron descobre os perigos de tentar fazer acordo com Putin

Em busca de uma vitória diplomática que revertesse em ganhos eleitorais, o presidente francês sai de Moscou com sanduíche de vento na mão

Geopolítica não tem nada a ver com moralidade e tudo a ver com o uso efetivo do poder”. Assim o historiador e colunista Dominic Green definiu a palavra que está sendo ressuscitada diante dos lances dramáticos que tanto a China quanto a Rússia estão fazendo no tabuleiro mundial.

Com um cacife muitas e muitas vezes menor, a Rússia tem o destaque do momento porque parece ter ido além de suas capacidades ao colocar 130 mil soldados cercando a Ucrânia por três lados. Como sair dessa sem passar carão e sem nenhuma vantagem obtida para seu objetivo primordial, redesenhar o status quo vigente desde o fim da União Soviética?

A resposta está em em interlocutores como Emmanuel Macron. Extremamente bem preparado e inteligente, Macron avaliou que se daria bem se aparecesse como o líder político que desativou a bomba armada por Vladimir Putin na Ucrânia. Já que Putin não quer invadir a Ucrânia, mas garantir que os americanos, via Otan, fiquem longe de suas fronteiras, por que não oferecer uma porta de saída a ele, foi o raciocínio por trás da missão diplomática que levou Macron a uma reunião de emergência no Kremlin, “num salão frio como a Sibéria”, na definição de um político oposicionista, com cada um numa cabeceira de uma mesa que acomodaria metade de uma corte czarista?

Macron saiu da mesa gigantesca achando que tinha conseguido a concordância de Putin para “não empreender novas iniciativas militares” – diplomatês para não desencadear a temida invasão.  “Essencialmente, é falso”, qualificou o gélido porta-voz de Putin, Dmitri Peskov. “Moscou e Paris não puderam selar nenhum pacto. É, simplesmente, impossível”.

A faca foi revirada sem piedade. “A França ocupa a presidência da União Europeia. A França é membro da Otan, onde Paris não tem a liderança. Neste bloco, a liderança é de outro país. Que acordos podemos discutir?”.

Tapinha adicional: mal acabou o encontro do qual Macron saiu dizendo que a Rússia tinha se comprometido a congelar a situação atual e foram anunciadas novas manobras perto da fronteira com a Ucrânia.

Qual a jogada de Putin?

Nas interpretações mais pessimistas, ele está conseguindo tudo o que queria. “Os Estados Unidos foram expostos como um protetor não confiável, incapaz de defender uma posição avançada demais como a na Ucrânia, na porta de entrada da Rússia”, escreveu Dominic Green. “A Otan está dividida e enfraquecida, uma sombra da projeção imperial”.

Pode haver exagero nessa análise, mas é verdade que França e, principalmente, Alemanha fazem uma espécie de reação passiva-agressiva aos Estados Unidos na questão da Ucrânia. O novo primeiro-ministro alemão, Olaf Sholz, foi a Washington para manifestar apoio aos Estados Unidos, mas se recusou a repetir as palavras de Joe Biden. O presidente americano garantiu que o gasoduto Nord Stream 2 entrará nas sanções contra a Rússia se a Ucrânia for invadida.

A dependência alemã do gás russo é o tipo de fragilidade geoestratégica que Putin sabe explorar muito bem. Como mestres na arte da propaganda, os russos também identificam a tática americana de propalar em tom estridente todos os possíveis e até as impossíveis –  desenvolvimentos que significariam uma intervenção russa.

Um deles: uma operação de “bandeira falsa” que simularia um ataque contra ucranianos de origem russa, justificando a intervenção armada.

A armação é notavelmente parecida com um episódio infame da Alemanha nazista. Para justificar a invasão da Polônia, homens das SS simularam um ataque polonês à rádio da cidade fronteiriça de Gleiwitz. Prisioneiros do campo de trabalhos forçados de Dachau foram vestidos com fardas polonesas, mortos e mutilados (curiosidade histórica: quem forneceu os uniformes foi Oscar Schindler, colaborador da inteligência militar e depois salvador de 1 200 judeus que trabalhavam em sua fábrica). Serviram para “provar” a falsa agressão da Polônia.

A operação Gleiwitz foi no dia 30 de agosto de 1939. Em 1º de setembro, foi desfechada a invasão da Polônia – e começou a II Guerra Mundial. Os russos emulariam um episódio tão conhecido, com suas tétricas consequências?  Não é provável – mas também não é impossível. Operações assim têm por objetivo convencer a opinião pública interna, que não constitui um problema grave para Putin. A máquina de propaganda já convenceu a maioria dos

A máquina de propaganda já convenceu a maioria dos russos que a Otan é o agente agressor.  Com um Putin irredutível, Macron partiu para o lado mais fraco e foi a Kiev pressionar o mais azarado dirigente mundial, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski. As propostas de Macron implicariam, em última instância, em tirar da constituição ucraniana a cláusula que estabelece como objetivo nacional entrar para a Otan e passar a desfrutar da proteção garantida a todos os seus membros.  “Temos uma visão comum com o presidente Macron sobre as ameaças e os desafios à segurança da Ucrânia, a toda a Europa e ao mundo, de forma geral”, esquivou-se diplomaticamente o ex-comediante.

Emmanuel Macron não é bobo e sabe bem com quem está lidando. Sabe também que tem uma eleição a ganhar em abril e qualquer coisa que pareça com uma acomodação na Ucrânia poderá ser usada a seu favor. Muitas das exigências da Rússia para desarmar a bomba ucraniana são tão absurdas que foram feitas justamente para cair numa eventual mesa de negociação. Se Macron conseguiu nada ou muito pouco com sua arriscada viagem é porque Putin quer, pelo menos por enquanto, manter a pressão. E ver até onde os aliados europeus dos Estados Unidos não entram em pânico.

Blog Mundialista - Vilma  Gryzinski - VEJA


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

O desprezo do STF com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e com a Constituição - Sérgio Alves de Oliveira

O aparelhamento “progressista” da Organização das Nações Unidas-ONU,contrariando  a “sua” própria “Declaração Universal dos Direitos Humanos”,  que delineia os direitos humanos básicos, aprovada pelos Estados-membros,  através da Resolução Nº 217 A III, em 10 de dezembro de 1948, no Palais de Chaillot, em Paris,fica a cada vez mais evidenciado.

Consoante disposto no artigo 18 da DUDH,”Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento,consciência e religião...”.

Reforçando esse conteúdo,prossegue o artigo seguinte (19): “todo ser humano tem direito  à liberdade de opinião e expressão ;esse direito inclui a liberdade de,sem interferência,ter opiniões e de procurar receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, e independentemente de fronteiras”.

Mas, infelizmente, a ONU não “(e)voluiu”. A ONU, na verdade ,“(in)voluiu”.”Deu para trás”,melhor dizendo.

Tendo virado uma (des)organização de fazer inveja ao serviço público brasileiro, com mais “repartições” que trabalhadores propriamente ditos, dando início ao seu “aparelhamento” esquerdista, progressista, que contaminou toda a sua rede  de órgãos vinculados, como a própria Organização Mundial de Saúde-OMS, dentre uma infinidade de outros órgãos, em 2006 a ONU criou o “Conselho de Direitos Humanos”, composto por 47 países, com o objetivo de debater os abusos e violações dos direitos humanos em todo o mundo (parece  que menos no Brasil),expor violações e cobrar mudanças.

Apesar de mais “resumida” que as disposições sobre liberdade de pensamento e direitos humanos da “Declaração” da ONU, também a Constituição  brasileira de 1988 estabeleceu, no artigo 5º, IV, que ”É livre a manifestação do pensamento,sendo vedado o anonimato”.

Mas esse inciso IV do art.5º da CF seria perfeitamente “dispensável”,pela sua “redundância. Ocorre que pelo parágrafo 3ª desse mesmo artigo 5º da CF,”. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada Casa legislativa do Congresso Nacional ...serão equivalentes à Emenda Constitucional”.

Ora, a livre expressão do pensamento, garantida na DUDH da ONU é, portanto,”direito humano”. E a dita “Declaração” foi aprovada, homologada e ratificada pelo Brasil. Portanto é como se fosse um artigo próprio inserido na própria Constituição.”É” Constituição.

Mas no Brasil da atualidade as disposições sobre liberdade de expressão do pensamento, como legítimo  direito humano consagrado tanto na Declaração dos Direitos Humanos, quanto na Constituição, estão sendo totalmente desprezadas por alguns “tiranetes” togados do Supremo Tribunal Federal, com “apoio”, por omissão, do Colegiado de Ministros, que mesmo agindo monocraticamente, mandam prender, sem qualquer  julgamento, agindo como tribunal de “exceção”, qualquer pessoa que dê alguma declaração que lhe desagrade. São os casos do jornalista Allan dos Santos, do Deputado Federal Daniel Silveira,e do Presidente do PTB,Roberto Jefferson,dentre inúmeros outros.

Como esse Tribunal ainda tem a cara de pau de dizer-se “guardião” da Constituição, desde o momento em que é o primeiro a atropelá-la?

E  qual a explicação das “vistas grossas” do Conselho de Direitos Humanos da ONU frente a esses atropelos grotescos  dos direitos humanos no Brasil? 
Seria “identidade ideológica progressista”?

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

SOBRE VACINAS. DATA VÊNIA, SOU LIVRE PARA DECIDIR - Valterlucio Bessa Campelo

Observando a movimentação recente em torno da vacinação de crianças e a exigência do passaporte sanitário, inclusive com audiência pública realizada pelo MS - Ministério da Saúde, na OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde nesta terça-feira 04/01, além de manifestações de rua em todo o Brasil, resolvi dedicar esta primeira coluna de 2022 a um tema subjacente a tudo isso - a liberdade.

Pediria ao leitor que observasse a si mesmo e a sociedade comparando com 2019. Do que efetivamente sente falta? Sim, meu caro, embora trate-se de algo maior e de origem anterior, os dois últimos anos foram de aguda perda de liberdade. A peste deu pretexto a que, com nosso consentimento, diga-se, parte importante do nosso livre arbítrio fosse amputado e colocado à disposição do Estado. De tal modo, que seria quase um desvario dizer que vivemos ainda em uma sociedade livre.

Por que chegamos a este ponto? Basicamente porque sob ataque ou ameaça, somos naturalmente inclinados a trocar fatias de liberdade por alguma segurança e conforto. Eles sabem disso. À medida que cresce a ameaça, cresce também a nossa disposição a ceder. Ao ponto de entregarmos tudo e, voluntariamente, oferecermos nossa liberdade. O jovem Étienne de La Boétie tratou brilhantemente desse tema em seu livro publicado 1563, chamando-o de servidão voluntária. Algo que muito tempo depois, em 1930, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, constatou: “a maioria das pessoas não quer realmente liberdade, porque liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade”.

No século passado, aconteceu profusamente durante a segunda guerra mundial, quando sob invasão nazista, em vários países, europeus se dividiram em colaboradores e colaboracionistas. Os primeiros demonstraram uma espécie de acovardamento simples, de consentimento envergonhado desde que seu habitual modo de vida fosse minimamente preservado. Intelectuais e artistas serviram à opressão, fazendo  movimentar a indústria cultural. No livro “Paris – a festa continuou”, (2012), Alan Riding deixa isso claro.

Os segundos, encontraram na colaboração ostensiva uma chance de promoção de suas fraquezas morais às custas da própria nacionalidade e passaram a exercer, como se dominadores  fossem, toda ordem de crueldade, perseguição, roubo, assassinato, estupro e deportações de judeus e opositores. Na França, por exemplo, existiram casos em que nacionais chegaram a postos do oficialato das SS e membros graduados da Gestapo. Muitos franceses, especialmente policiais e burocratas, atuaram como agentes do governo nazista que esfolou o país após a rendição covarde do General Petáin.

Em certa medida, é como vejo os dias de hoje. Diante do pavor disseminado a partir da peste chinesa, no Brasil, assim como nos outros países (nisto não há grande diferença), foram gerados colaboradores e colaboracionistas. Aqueles que normalizam a realidade cruel e agem porque não se importam com a perda de liberdade, desde que se sintam seguros e com baixas taxas de responsabilidade, e aqueles que servem incisivamente porque lucram e se promovem, seja financeira ou politicamente. Trocam de bom grado a própria liberdade por um punhado de poder ou dinheiro que lhes possibilitem os que realmente os possuem. 

Algo necessário e que se impôs neste processo foi a anulação ou minimização da oportunidade ao dissenso
Disso cuidou a velha mídia através de um turbilhão incessante de notícias terríveis e da emblematização pejorativa dos contrários. 
Adjetivos do tipo “negacionista”, “terraplanista” e outros são títulos com que propositalmente encerram a discussão. 
Como uma estrela amarela pregada no peito de um judeu na Polônia em 1940, o termo fecha as portas ao debate. 
Ouvi recentemente de um deles: “não discuto com eleitor de Bolsonaro, é tudo negacionista”.  
Pensei imediatamente que se estivéssemos na França em 1942 ele não hesitaria em fuzilar-me. 
Como alterar pelo argumento lógico uma mente que se tranca?  
Como entrar naquela mente com uma verdade objetiva se foram eliminadas as condições do diálogo? Cria-se assim, uma sociedade mouca, cega, escrava e desumana, capaz de tudo.

Ocorre que liberdade não é uma mera abstração filosófica, um luxo do qual as pessoas se utilizam ocasionalmente. Ela diz respeito à ação e ao pensamento. É a forma como você decide sobre a sua vida, com quem se relaciona, o que faz, o que lê, aonde vai, o que possui. Liberdade são suas escolhas. Em última instância é o que você pensa, é o que você é. Entregaremos isso também em troca de uma suposta segurança provida pelos que criaram a insegurança?

Do meu canto longínquo, olho o mundo e vejo em todos os lugares fantasmas dos cães de Pavlov (1849-1936), babando a cada estímulo que recebem, este determinado de fora pra dentro por interesses globalistas de controle, aliás, amplamente confessados no Forum Econômico Mundial, nos livros de Klaus Schwab seu presidente e já experimentados na China. Jornalistas, articulistas, partidos políticos, juízes, artistas, médicos, universidades, associações etc., aceitaram vergonhosamente o papel de colaboracionistas de um sistema que viola frontalmente as nossas liberdades. Como se houvessem passado por uma lobotomia repetem à exaustão uma carga de mensagens cuja profundidade não se deram o trabalho de examinar.

Há, contudo, os que não se rendem. Independentemente do tamanho do engodo, é apenas um engodo e, como bem lembrou Étienne de La Boétie, basta não entregar o que eles querem e cai a tirania. 
As inúmeras audiências públicas havidas em estados, no distrito federal e em muitos municípios, demonstram que assim como colaboradores e colaboracionistas, nesta guerra há a resistência. [em algum momento uma ordem será dada e ninguém irá cumpri-la = será a queda deles.]

Refiro-me, por exemplo, a médicos da estirpe da Dra. Maria Emilia Gadelha, Dr. Roberto Zeballos,  Dr. José Augusto Nasser, Dra. Roberta Lacerda e muitos outros contados aos milhares, que abdicando da frondosa árvore do politicamente correto, vão ao sol, expõem à luz seu entendimento e suas experiências. Sabem que enquanto a mão direita estende a agulha, a mão esquerda maneja um bisturi nos amputando a liberdade e instalando o controle social. Escudados em comitês, os colaboracionistas, muitas vezes associados e comissionados das big pharmas, se defendem desqualificando seus opositores, acusando-os de adotarem teorias conspiratórias.

A propósito, embora (por motivos óbvios) a mídia não propague, o sistema oficial americano VAERS, comunica que apenas nos EUA foram relatados mais de 1,5 milhões de efeitos adversos após a vacinação, com 14.817 eventos morte. São dados investigados e provados. Não, não são, nem serão. Não foram devidamente investigados. Por lá também o governo está de braços dados com as big pharmas. Mas deveriam ser suficientes para autorizar que cada cidadão faça a própria escolha ao invés de ser submetido e submeter suas crianças à vacinação forçada que, de modo cínico, aparece disfarçada de mero constrangimento documental.

Considero, pessoalmente, que ela pode ser adotada, propagada e recomendada massivamente, se for o caso, porém, em hipótese alguma, sob nenhum argumento, pode ser imposta direta ou indiretamente, pois nestes termos sempre constituirá flagrante ataque à liberdade do indivíduo nos termos da nossa lei maior e tantas outras. Este é o ponto.

 Valterlucio Bessa Campelo escreve ensaios, crônicas e contos eventualmente em seu BLOG e é colaborador do site Conservadores e Liberais.

 

 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Quem é a única brasileira entre os dez melhores estudantes do mundo

Ana Júlia Monteiro está entre os finalistas do Global Student Prize 2021, prêmio que é considerado ser o “Nobel da Educação”

Ana Júlia Monteiro, a única brasileira entre os dez finalistas do prêmio Global Student Prize 2021/Arquivo Pessoal

A estudante Ana Júlia Monteiro, de 18 anos, é a única brasileira entre os dez finalistas do Chegg.org Global Student Prize 2021, um novo prêmio de US $100.000 a ser concedido a um aluno que teve um impacto na aprendizagem, na vida de seus colegas e na sociedade. Ana Júlia foi selecionada entre mais de 3.500 indicações e candidaturas de 94 países e, no dia 10 de novembro, sairá o resultado final do grande prêmio na sede da UNESCO em Paris, na França. 

Segundo ela, estar entre os dez finalistas é um sonho sendo realizado, pois desta forma ela poderá trazer visibilidade para o país e o estado que mora. “Fiquei extremamente feliz quando soube do resultado. Com esta seleção, eu posso mostrar para o mundo que é possível chegar longe investindo na educação e, principalmente, conseguir desenvolver projetos para as cidades”, conta.

Ana Júlia é de Maceió, Alagoas, está no terceiro ano do Ensino Médio e estuda na Escola Industrial de Educação Básica do SESI Abelardo Lopes. O desejo de ajudar a cidade sempre foi um anseio para a jovem. Ela começou a se interessar por robótica aos 12 anos e já participou de mais de 20 campeonatos.

Aos 13 anos, ela foi co-fundadora da primeira equipe de competição de robótica da FIRST LEGO League da escola, que representou a região e a cultura no cenário nacional e internacional. Após dois anos, a equipe foi a grande campeã do 1º lugar na etapa regional e avançou para a etapa nacional. Vestidos de cangaceiros em um ato de protesto contra a xenofobia, eles foram premiados como o 10º melhor time geral do Brasil e o 1º lugar em Processo de Pesquisa.

O ato de Ana Júlia chamou atenção e serviu como um incentivo para outras escolas e alunos da cidade, que começaram a buscar aulas e a fundar clubes de robótica. Com o tamanho da demanda, a alagoana criou um guia de programação de 100 páginas para quem procurava participar das competições, com todas as explicações das inovações que ela havia criado.

Ana Júlia e sua equipe desenvolveram dois projetos que ganharam destaque. Um deles foi o “Ecosururu”, uma telha sustentável que os estudantes fizeram com as cascas do sururu, um molusco bastante comum na região. Eles transformaram a casca em pó e misturaram com o cimento, o que tornou as telhas mais resistentes e, de quebra, ajudavam a retirar lixo da lagoa. O outro projeto foi o “Aerador sustentável”, criado em 2016, um mecanismo feito para aumentar a produção leiteira em áreas de subsistência, oxigenando a água do gado com energia eólica. 

Ana Júlia quer deixar um legado que se orgulhe mas, para isso, pretende estudar fora e trazer perspectivas diferentes do mundo todo para o Brasil. “Para mudar a realidade que vivemos, é necessário termos uma visão global. Não adianta nada viver aqui e não ter concepções diversificadas Por isso quero estudar nos Estados Unidos, mas quero voltar para o Brasil e fazer a mudança. Sou muito patriota, tenho muito orgulho do meu país", ressalta a alagoana.

VEJA - Brasil


 

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Constituição proíbe que CPI convoque o presidente da República - Gazeta do Povo

VOZES - Alexandre Garcia

Assisti imagens da operação da Polícia Federal, a pedido do Ministério Público Federal, que tinha como alvo garimpeiros ilegais na reserva indígena Munduruku, no Pará. O vídeo mostra helicópteros da PF lançando bombas de efeito moral e manifestantes feridos por balas de borracha. O povoado da cidade próxima se revoltou contra os policiais que lá estavam. Alguns indígenas supostamente aliciados pelos garimpeiros estavam entre os manifestantes que tentaram parar a operação. Isso me deixa confuso.

Alguns povos indígenas, com o apoio da Funai, estão buscando sua libertação financeira através da agricultura e da pecuária. É tudo muito moderno e com preocupação com o meio ambiente. Esse agro indígena exporta e planta com produtividade e variedade de alimentos — da soja ao café. Essa é uma questão que tem que ser resolvida porque é muito bom que eles se libertem dessa tutela de alguns espertalhões que querem mantê-los em uma redoma para mostrar em Paris o índio todo paramentado. 
 
O objetivo não é que eles percam os costumes e a língua e sim ganhar autonomia e liberdade para poder comprar o que quiserem — televisão, parabólica ou automóveis. [a inclusão  nas compras de hábito de adquirir ferramentas para trabalhar, seria ótima.]    

overnadores convocados na CPI
Os senadores da CPI da Covid decidiram convocar governadores para depor. Entre eles, Ibaneis Rocha (DF), Wilson Lima (AM), Waldez Góes (AP), Helder Barbalho (PA), Marcos Rocha (RO), Antônio Denarium (RR), Carlos Moisés (SC), Mauro Carlesse (TO) e Wellington Dias (PI). A convocação do governador do Piauí é boa dada a questão do Consórcio do Nordeste que comprou respiradores e eles não chegaram. No entanto, faltou convocar Carlos Gabas, que é o secretário executivo do grupo.

Foi bom terem convocado o governador amazonense Wilson Lima porque também chamaram Paulo Barauna, da White Martins, empresa que fornece oxigênio para Manaus e outras grandes cidades do país. E também foi aprovada a reconvocação do ex-ministro Eduardo Pazuello. Eu fico pensando que os senadores estão chamando ele de novo porque não conseguiram descobrir nada da primeira vez e não sabem o que fazer. Isso virou o vale a pena ver de novo, mas realmente essa reprise é válida. Como eu sempre digo, os membros da CPI estão revelando mais que os depoentes.

Randolfe desconhece a Constituição
 senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) tentou colocar em pauta a convocação do presidente Jair Bolsonaro para depor na CPI. Mas o artigo 50 da Constituição permite apenas a convocação de autoridades submetidas ao presidente da República e não ele. Acho que o parlamentar estava tentando desviar um pouco a atenção dos governadores ao chamar Bolsonaro para depor.

Outra coisa: o regimento interno do Senado proíbe que comissões parlamentares de inquéritos investigem assuntos relacionados aos estados. Mas esse não é um assunto de estado e sim de verba federal, por isso o Tribunal de Contas da União vai até o município analisar os gastos com verba da União.  O senador Marcos Rogério (DEM-RO) propôs a convocação do pastor Silas Malafaia, mas o pedido foi recusado pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), com a justificativa que muitos o guem e acreditam nele. Será que ele indefere qualquer pessoa que tenha muitos seguidores?
[esses parlamentares da CPI Covidão são tão sem noção, que adotam posturas cômicas, ridículas e inúteis. 
Querem colocar Bolsonaro no tronco por não ter adquirido as vacinas da Pfizer. Fingem esquecer que no inicio das tratativas com a Pfizer além de contrato draconiano, com violações até a soberania nacional brasileira, o imunizante da Pfizer exigia refrigeração de -75º C, complicador que não podia ser ignorado - só agora, praticamente um ano após, é que a necessidade de frio polar foi atenuada.
Além do que naquela época era  a vacina daquela farmacêutica ainda estava sendo desenvolvida. Não esqueçamos que até nos dias atuais, a Pfizer continua com dificuldades para cumprir prazos de entrega. 
Hoje, no 'circo parlamentar de inquérito', Dimas Covas, cabo eleitoral do Doria e também diretor do Butantan,declarou que Bolsonaro não aceitou em junho do ano passado adquirir 40.000.000  de doses da Coronavac - "esqueceu" que nos dias atuais o Butantan tem atrasado entregas contratadas do imunizante - do que adiantaria ter adquirido aqueles milhões de doses extras, se não consegue entregar nem as contratadas agora?]

O objetivo era ter como depoente quem aconselha o presidente da República. O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, confirmou essa tese e reforçou que chamar ele seria bom.
 
IGUALDADE ENTRE CIDADÃOS BRASILEIROS  E CIDADÃOS INDÍGENAS E BRASILEIROS
[é essencial,  inadiável que os indígenas brasileiros sejam considerados e tratados como BRASILEIROS = CIDADÃOS COM DIREITOS E DEVERES IGUAIS aos de milhões de brasileiros.
A postura atual de considerar os indígenas incapazes e cidadãos com direitos e sem deveres só favorece e interessa aos espertalhões.  Vez ou outra com apoio de alguma ONG estrangeira - interessada não no bem estar do silvícola brasileiro e sim nas vantagens materiais que podem tirar deles - vão a uma aldeia indígena,um índio programado para falar em nome dos demais assume a palavra, discorre sobre problemas que afetam seus liderados, fala sobre necessidade de mais terra e dinheiro para os indígenas, uma TV grava e logo surge mais recursos para manter os indígenas na ociosidade - uma TV grava imagens os índios dançando, portando instrumentos musicais = nunca,ou raramente,  é mostrado um indígena trabalhando a terra - seja com um arado, uma enxada, uma foice. 
Defendemos que os indígenas sejam tratados da mesma forma que são os mais de 200.000.000 de brasileiros - com DIREITOS e DEVERES.  Alguém já parou para pensar que se os milhões que são enviados para os índios,  fossem utilizados para pagar auxílio emergencial para MILHÕES DE BRASILEIROS que tentam sobreviver com R$ 250 mensais - quantos MILHÕES DE CIDADÃOS BRASILEIROS  - tão brasileiros quanto os índios e mais necessitados seriam beneficiados?
Além de ajuda financeira, logística ainda tem os milhões de hectares das terras indígenas - havendo caso de 50.000 hectares para 12 índios. 
Por isso é que a afirmação feita pelo  Secretário de Assuntos Fundiários, que o índio é o maior latifundiário do Brasil, não foi contestada e permanece atual. 
INDÍGENAS BRASILEIROS = CIDADÃOS BRASILEIROS -= DIREITOS IGUAIS e DEVERES IGUAIS.
Eventuais ajustes em situações pontuais poderão ser resolvidos com medidas específicas.]  

Operação contra ex-presidente do TCDF
Na quarta-feira (26) de manhã, a PF cumpriu nove mandados de busca e apreensão em Brasília. Entre os endereços, a casa e o escritório da ex-presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal, Anilcéia Machado. Ela já foi duas vezes presidente do TCDF e duas vezes deputada distrital. É aquela coisa, a pessoa não é reeleita e é nomeada para um cargo em órgão público, está cheio de gente que passou pela mesma situação no Tribunal de Contas do DF. Anilcéia foi uma espécie de prefeita na cidade de Sobradinho (DF).

Além dela, houve mais sete alvos na operação Pacare, que significa acalmar, sossegar. Talvez seja amansar com o dinheiro público, porque os dois inquéritos abertos investigam pagamentos ilícitos para uma empresa com dinheiro que deveria ser destinado à saúde pública do DF.  Os envolvidos podem ser acusados de crimes como peculato, corrupção, prevaricação, advocacia administrativa, falsidade ideológica e uso de verba federal em licitações.

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Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 21 de abril de 2021

A quarentena dos desvalidos - Revista Oeste

Augusto Nunes

Os governantes fingem ignorar a existência de um Brasil maior e mais populoso que o conhecido pelos loucos por lockdowns

 Neste 13 de abril, o governador João Doria foi enfim confrontado com a pergunta que não queria ouvir — e nenhum jornalista havia ousado formular nas mais de 200 entrevistas coletivas sobre a pandemia de coronavírus concedidas desde março de 2020: 
o que pretende fazer para ao menos reduzir as aglomerações nos ônibus, trens metropolitanos e vagões do metrô?  
O repórter tinha numa das mãos fotografias que escancaravam o tumor medonho: amontoada em ambientes opressivos e mal ventilados, a multidão de passageiros confirmava que, todos os dias, esquadrilhas de vírus chineses sobrevoam os meios de transporte público para expandir a morte e o medo no maior conglomerado urbano do país.  
O que tinha a dizer sobre isso o líder do combate ao inimigo invisível na frente paulista?
Os doutores que compõem o Centro de Contingência da Covid-19, codinome do Altíssimo Comando da Guerra Sanitária em São Paulo, que tem em Doria o Chefe Supremo, certamente trataram dessa questão. As sumidades ali aglomeradas (com as devidas cautelas aconselhadas pelo distanciamento social, ressalvam) tratam de tudo. Já faz mais de um ano que se juntam quase todos os dias para decidir o que pode e o que não pode, o que ajuda e o que atrapalha, o que é verdade e o que é negacionismo. Como Doria, recitam de meia em meia hora que estão lá para salvar vidas. Conhecem a covid-19 só de vista, mas estão sempre grávidos de certezas
Não é atormentado por dúvidas quem ouve o tempo todo a voz da Ciência e os conselhos da Saúde. 
No fim da semana, o grupo comunica ao governador — que tem a última palavra quais municípios merecem ser alojados, por exemplo, na fase amarela, e quais devem continuar de castigo na fase vermelha, antessala da temida fase emergencial. (Nascida há poucas semanas, a emergencial seria batizada de “fase preta” se alguém não tivesse advertido que poderia parecer coisa de racista.)

 Claro que o conselho de sábios tratou do assunto. Mas a reação de Doria ao ouvir a expressão transporte público lembrou a do avô surpreendido pelo neto que, no meio do jantar da família, resolve contar aos berros um segredo do clã transmitido aos sussurros por sete gerações. Num longo circunlóquio, o governador ressaltou que tal problema não é uma exclusividade paulistana. Outras capitais são assoladas com superlotações do gênero. Tampouco se trata de uma complicação restrita ao Brasil: Londres, Paris, Nova York — mesmo metrópoles mais avançadas ainda não descobriram como adaptar a mobilidade urbana a estes tempos estranhos. Já avisando que a entrevista chegara ao fim, Doria disse que o governo estadual recomendou mais de uma vez o uso de horários alternativos inviáveis e reiterou que os passageiros devem lavar as mãos com álcool em gel, além de proteger o rosto com máscara.

O próprio orador desconfiou que discursava sobre o nada, compreendeu que seria difícil debitar mais esse pecado na conta de Jair Bolsonaro e partiu para a ofensiva. “Não posso impedir o deslocamento de trabalhadores de serviços essenciais”, subiu o tom. 
Como vetar o embarque no metrô da enfermeira que salva vidas, do bombeiro que salva vidas, do policial militar que salva vidas? 
 
Quem imagina que desde o início da pandemia apenas esses profissionais usam o transporte não faz ideia do mundo que se espreme em qualquer vagão da Linha Vermelha, nem viu por dentro algum ônibus que leva do centro da cidade a Sapopemba
Nesses mosaicos do Brasil, espremem-se nos horários de pico camelôs, desempregados, assaltantes, domésticas, pedintes de esquina, babás, garçons, pequenos negociantes, gente honesta, vigaristas, vendedores de bugigangas, aposentados e jovens à procura de trabalho, além de incontáveis brasileiros forçados a exercer a profissão na clandestinidade porque a ordem é ficar em casa.
 
Ou na semiclandestinidade exigida pelo farisaísmo: 
os cabelos bem cortados dos homens e os penteados impecáveis das mulheres denunciam a passagem recente de barbeiros e cabeleireiras que mantêm seus salões fechados por determinação dos ilustres fregueses. Para chegar às casas dos clientes loucos por lockdowns, falta a esses trabalhadores de serviços considerados não essenciais dinheiro para chamar um Uber. Usam o transporte público. 
Se ficassem em casa, o elenco que protagoniza as entrevistas coletivas no Palácio dos Bandeirantes estaria parecido com uma tribo de hippies dos anos 70. 
A boa aparência, sublinhada por máscaras customizadas e pelo sorriso de quem vive entre o chuveiro e uma sala com ar condicionado, avisa que o que ali se vê é um bando de hipócritas. Portadores de miopia seletiva, fingem não enxergar os milhões de excluídos da quarentena feita sob medida para integrantes da classe média alta, funcionários públicos indolentes, ricos, advogados de corruptos, corruptos com bons advogados e o restante da elite nativa. Seria excessivo esperar que essa turma se preocupe com aglomerações decorrentes do isolamento dos excluídos.

Previsivelmente, os fechadores compulsivos de bares, restaurantes, templos, museus, cinemas, teatros, shopping centers, prateleiras de supermercados, salões de cabeleireiros, barbearias, escolas, fábricas, lojas e outras vítimas da epidemia de autoritarismo fecharam os olhos à dramática piora da paisagem formada pelas favelas brasileiras, onde sobrevive uma imensidão de gente que ajuda a transformar o transporte público no maior e mais alarmante foco de disseminação do coronavírus do Brasil. 

O palavrório das entrevistas coletivas não incluiu sequer um asterisco sobre os brasileiros amontoados em barracos. Também não foi nem será dedicada uma mísera vírgula à pesquisa feita entre 9 e 11 de fevereiro pelo Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e com a Central Única das Favelas (Cufa).

Foram entrevistados habitantes de 76 favelas espalhadas por todos os Estados brasileiros. As constatações são desoladoras. 
Nas duas semanas anteriores ao levantamento, por exemplo, em ao menos um dia 68% dos moradores não tinham conseguido dinheiro para comprar comida. 
As refeições diárias caíram de 2,4 em agosto de 2020 para 1,9 em fevereiro, e 71% das famílias agora sobrevivem com menos da metade da renda obtida antes da pandemia.
Nove em cada dez favelados receberam alguma doação. Sem esse gesto solidário, oito em cada dez famílias não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza e pagar contas básicas. 
Nas favelas, o número de casos confirmados e óbitos é o dobro do registrado nos bairros nobres, mas apenas 32% procuram seguir as medidas de prevenção. Outros 33% tentam de vez em quando ajustar-se às regras, 30% afirmam que não conseguem segui-las e 5% abdicaram de tentativas. É certo que, do começo de fevereiro para cá, esse cenário se tornou ainda mais cinzento.
A imprensa velha está fora do universo pesquisado. Os moradores não entendem o que dizem comentaristas da Globo, o grego antigo lhes parece menos complicado que o subdialeto falado por ministros do Supremo e o alcance da internet é muito menor que nas regiões habitadas por quem desfruta de três refeições por dia. Mas também nos barracos se manifesta a sabedoria subjacente do povo brasileiro. Os favelados sabem o que fez e faz cada governante e cada instituição no Brasil da pandemia. 
 Acuados pela fome e pela insegurança, usam o transporte público para buscar algum dinheiro em outros pontos da cidade. 
Sabem que as aglomerações nos ônibus, trens urbanos e vagões do metrô são perigosas
Mas os participantes involuntários do isolamento dos desvalidos acham muito mais perigoso esperar num barraco a salvação que não virá.

Leia também a matéria de capa desta edição, “A aglomeração dos invisíveis”

Augusto Nunes, jornalista - Coluna na Revista Oeste