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domingo, 7 de janeiro de 2024

Não vale a pena perder tempo com o suposto plano para enforcar Alexandre de Moraes - Gazeta do Povo

J. R. Guzzo - VOZES

Desde os seus primeiros instantes, um ano atrás, os tumultos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 têm sido um assombro.  
quebra-quebra nos palácios dos Três Poderes, que acabou assim que a polícia chegou e do qual ninguém saiu machucado, foi imediatamente apresentado como uma tentativa de “golpe de Estado”. 
A presidente do Supremo Tribunal Federal, num certo momento, chegou a dizer que a democracia brasileira tinha sofrido ali o seu Pearl Harbour – o ataque aéreo do Japão contra a ilha americana do Havaí, que deixou 2.400 mortos e fez os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial.
 
O “golpe”, oficialmente certificado como golpe pelo STF, o complexo Lula-PT e a maior parte da imprensa, é um clássico em matéria de crime impossível: não poderia materialmente ter sido cometido pelos acusados. É a velha fábula do sujeito que dá três tiros na cabeça de um cadáver.  
Ele não pode ser julgado por homicídio, pois é impossível matar uma pessoa que já está morta
A partir daí, passou a valer tudo – a começar pela abolição dos direitos civis dos réus.
 
    O ministro, na entrevista, disse que houve uma “tentativa de planejamento”. 
 O que poderia ser, mais exatamente, uma “tentativa de planejamento”? 
 
O caso acaba de ganhar um intenso “plus a mais” na véspera de completar seu primeiro aniversário. 
O ministro Alexandre de Moraes, segundo ele próprio afirmou numa entrevista ao jornal O Globo, seria enforcado pelos supostos golpistas na Praça dos Três Poderes, ou assassinado na estrada de Brasília a Goiânia. É a acusação mais grave de todas as que já foram feitas desde o começo dessa história.
 
Seria, na verdade, o pior ato de violência contra um homem público brasileiro desde a facada que quase matou o ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 – com a diferença, felizmente, que o enforcamento do ministro, ao contrário da facada, não aconteceu. 
É mais um assombro. Como um crime dessas proporções ficou em sigilo até hoje? 
Por quebrarem umas vidraças e tirarem do lugar as cadeiras dos ministros no STF, as pessoas estão sendo condenadas a até 17 anos de cadeia. Um possível homicídio, então, estaria clamando a vingança dos céus. 
Em todo caso, não poderia ser reduzido a uma declaração em jornal.

    O fato é que está sendo feito um esforço concentrado para dar novas vidas à ficção de que houve uma tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro.

Infelizmente para o conhecimento do público, a melhor oportunidade para se esclarecer isso tudo era a própria entrevista – mas não ocorreu a ninguém perguntar nada ao ministro Moraes. 
Quem planejou o enforcamento, ou o assassinato na beira da estrada? “Eles”? “Eles”, só, não basta
Quem iria cometer os crimes? 
O ministro, segundo sua denúncia, seria levado para uma prisão em Goiânia, ou morto no caminho para lá. Qual prisão? 
Um quartel do Exército? 
Uma delegacia de polícia? 
Cárcere privado? 
Há alguma prova para as acusações feitas? 
Por que Alexandre de Moraes só falou disso agora, quase um ano depois dos fatos? 
É alguma coisa que as investigações só descobriram nestes últimos dias?
 
O ministro, na entrevista, disse que houve uma “tentativa de planejamento”. O que poderia ser, mais exatamente, uma “tentativa de planejamento”? Algum dos “golpistas” tentou planejar os crimes, mas não conseguiu? 
A única pista para a ausência de perguntas e respostas é uma afirmação do próprio Moraes: “Tenho muito processo para perder tempo com isso. E nada disso aconteceu, então está tudo bem”.

O fato é que está sendo feito um esforço concentrado para dar novas vidas à ficção de que houve uma tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro. 

Fica mais patente, a cada dia, que os processos criminais contra os participantes do quebra-quebra – e mesmo contra quem estava a quilômetros de distância, protestando diante do QG do Exército em Brasília – são o maior monumento ao absurdo que a Justiça brasileira jamais construiu ao longo de sua história.

Os réus tinham tanta possibilidade concreta de dar um golpe naquele dia quanto a de invadir o planeta Marte; é por isso, entre outras razões, que começa a crescer no Congresso a ideia de uma anistia.  
É essencial, então, impor a imagem de que são os criminosos mais hediondos do Brasil – embora o linchamento do ministro Moraes em praça pública, segundo ele mesmo diz, seja algo com que não vale a pena perder tempo. É mais um espanto.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 15 de abril de 2023

A história do escorpião petista - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Muita gente preferiu fingir que o PT não era o PT, que Lula não era Lula, só para se livrar de Bolsonaro. A narrativa de ameaça golpista e fascista seduziu alienados desatentos 

Fábula do escorpião e o sapo | Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Fábula do escorpião e o sapo | Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 
 
 O que é pior: Lula e seu PT ou o sistema podre e carcomido que comanda o país desde sempre? 
Os radicais de esquerda ou os fisiológicos que só querem explorar nossos recursos? 
Os revolucionários corruptos ou os carrapatos que enxergam o Brasil como um imenso hospedeiro? Responder esta questão não é trivial.  

Afinal, estamos acostumados com o tal sistema podre, e, por puro pragmatismo e interesse próprio, os “donos do poder” querem manter a galinha dos ovos de ouro viva. Já os radicais petistas podem, com seu projeto ideológico, afundar de vez a nação, como acontece com a vizinha Argentina, elogiada pelo presidente. 

O PT aparece com sua carranca feia, sem muito esforço para ocultar sua essência radical, sua simpatia por ditaduras comunistas, seu intuito controlador que clama por censura.  
Já o sistema “tucano” surge como democrata, moderado, legalista, tudo isso só na aparência. O que é pior? O trombadinha sujo ou o traficante limpinho que entra em nossa casa como alguém civilizado? 
Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, em Brasília 
(17/3/2023) | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será facilmente sua presa”, alertara Schopenhauer. A serpente disfarçada pode oferecer mais perigo do que o monstro visível. Este nos desperta imediata reação, enquanto aquele vai nos enganando até o bote fatal. É a velha história do sapo escaldado cuja água foi aquecendo aos poucos. 

“Uma cobra mal morrida tem de aparecer de novo para que a matemos definitivamente”, diz o ditado. O deputado Marcel van Hattem usou essa ideia para argumentar que é preciso enterrar de vez o petismo. “Ao não aproveitar a chance que lhe foi dada de uma nova Presidência da República para unificar o país e lavar a própria biografia diante de toda a nação, Lula está passando sua vez no tabuleiro político ao outro lado do corredor novamente”, escreveu o parlamentar.

O escorpião pica o sapo mesmo sabendo de sua estupidez suicida, pois não consegue negar sua natureza. “A julgar pelos cem dias passados, nem milhões de brasileiros insatisfeitos parecem abalar a convicção de Lula em trilhar o caminho do retrocesso, do ódio e do rancor”, aponta Marcel. Quem esperava um Mandela está assustado ao se deparar com Lula mesmo, cada vez mais raivoso. 

Os “tucanos de mercado” que fizeram o L estão com medo. Tudo piora bem rápido no país. Muita gente preferiu fingir que o PT não era o PT, que Lula não era Lula, só para se livrar de Bolsonaro. 
A narrativa de ameaça golpista e fascista seduziu alienados desatentos. Plantaram vento e agora colhem tempestade. Alimentaram o corvo que pretende arrancar seus olhos. 
 
Mas o sistema reage, e tem muita força. Os “pragmáticos” não vão simplesmente observar passivos a morte da galinha dos ovos de ouro. Não vão ficar de braços cruzados olhando o hospedeiro agonizar até a morte. 
Os parasitas dependem de sua sobrevivência, e esta está ameaçada pelo radicalismo petista uma vez mais. 
No passado, Dilma foi jogada para escanteio. A história não se repete, mas rima. 

Pensem numa Tabata Amaral da vida. Fala mansa, pose de moderada, capaz de enganar muito mais gente do que uma comunista como a Manuela D’Ávila. Mas isso faz dela alguém menos perigosa, por acaso?

Marcel van Hattem conclui com alguma esperança seu artigo, lembrando com os Provérbios que “a soberba precede a ruína”. Amém, diz o deputado liberal. E faço coro, com uma ressalva: a derrota pode ser do escorpião, mas a vitória pode não necessariamente ser do Brasil. Afinal, o sistema sabe o que faz e tem interesses distintos e distantes daqueles do povo brasileiro. 

Quando Eduardo Cunha liderou o impeachment de Dilma, virou o “malvado favorito” de muita gente boa. Mas Renan Calheiros, Sarney e companhia não representam o brasileiro trabalhador e honesto. A Globo, a Fiesp, os banqueiros “petistas”, os empreiteiros corruptos, essa turma toda que concentra enorme poder político não tem sua pauta alinhada àquela da nação, em que pese poderem divergir do petismo. Tiveram de fazer o L por falta de opção, e podem se livrar do escorpião petista se necessário, mas isso não garante nossa liberdade. 

Não vamos esquecer que foi em governos estaduais tucanos que vimos o maior grau de autoritarismo durante a pandemia, com até gôndolas de supermercado fechadas aleatoriamente. Não vamos ignorar que são os ministros supremos ligados aos tucanos que comandam os inquéritos ilegais e arbitrários para perseguir a direita. Os comunistas assustam, com razão, mas os globalistas também deveriam assustar, e muito. Talvez até mais, por serem mais moderados na aparência. 

Pensem numa Tabata Amaral da vida. Fala mansa, pose de moderada, capaz de enganar muito mais gente do que uma comunista como a Manuela D’Ávila. Mas isso faz dela alguém menos perigosa, por acaso?  
Suas concessões ao mercado e suas críticas pontuais às tiranias comunistas podem iludir os desatentos, mas Tabata fez o L, admira a história do PT e vai para China com Lula toda contente. 
Já deu sinais de autoritarismo várias vezes, conseguiu a demissão de um humorista, e, se tivesse mais poder, certamente partiria para a censura ampla aos direitistas. Tudo em nome da democracia, claro.  

O “fascismo do bem” tende a ser mais temerário do que o comunismo escancarado, pois os ungidos não demonstram qualquer crise de consciência durante o processo de eliminar adversários, já que se enxergam como libertadores iluminados. Partindo da premissa de que todos de direita são “extremistas” e “golpistas”, essa turma com perfil tucano avança rumo ao totalitarismo. 

O teatro das tesouras consiste na falsa disputa entre petistas e tucanos, entre esquerda radical e esquerda “fofa”. 
Compreender que o tucanato que fez o L pode até considerar Lula descartável, mas que representa ameaça tão nefasta quanto o petismo é crucial para o futuro do Brasil. 
 Não foi a turma petista, afinal, que numa canetada censurou minhas redes sociais, congelou minhas contas bancárias e cancelou meu passaporte, tudo isso sem qualquer indício de crime cometido.  
Tabata Amaral Cassação Nikolas
Tabata Amaral | Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Leia também “A esquerda latinizou a América”

Rodrigo Constantino,  colunista - Revista Oeste

 

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Mentiras alimentam a fome no Brasil - Revista Oeste

Joice Maffezzolli

De onde surgiram os 33 milhões de famintos que os aliados de Lula usam como moeda política e a CNBB vai resgatar na Campanha da Fraternidade

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock  
 

“Nós, com meio por cento do PIB, acabamos com a fome entre 2003 e 2010. Acabou. Ninguém mais ouvia falar. Você não via criança no sinal de trânsito. Não tinha mais.” É uma frase como essa, dita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na manhã da quarta-feira 15, no coração da Avenida Faria Lima, em São Paulo, que separa o verdadeiro drama da fome de quem faz política com o prato vazio no Brasil.

Na contramão da velha mídia politicamente correta, a reportagem de Oeste escolheu o caminho mais difícil para tratar do tema: quais são os dados reais sobre a fome no país? Quem financia essas pesquisas? Onde estão os 33 milhões de famintos?  
E, principalmente, por que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) embarcou no sensível discurso sem filtro?  
O tema bíblico da Campanha da Fraternidade é: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

A primeira resposta possível está numa pesquisa encomendada no ano passado ao Instituto Vox Populi e à Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Chama-se “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (Vigisan)”. A Penssan é formada por profissionais de esquerda ligados a instituições públicas de ensino e pesquisa e foi criada com apoio financeiro de entidades nacionais e estrangeiras. Entre ela, a Fundação Friedrich Ebert (Alemanha), Fundação Ford (Estados Unidos) e Oxfam e ActionAid (Inglaterra). Em outubro de 2021, Lula e Martin Schulz, presidente da Friedrich Ebert, encontraram-se em Berlim. Em agosto de 2018, o empresário já havia visitado Lula na prisão em Curitiba.

Uma das referências do projeto da Penssan se chama José Graziano. Ele foi nomeado em 2003 para ser ministro de um programa que nunca existiu: o Fome Zero é uma fábula, uma embalagem tão ruim que até o PT o largou pelo caminho
Como o programa deu errado, Lula o indicou para um cargo decorativo na FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

José Graziano da Silva | Foto: Divulgação

Publicado em 2022, o Vigisan foi usado como base para que a CNBB afirmasse em seus relatórios que “o Brasil é considerado o celeiro do mundo, mas carrega uma grande contradição”. Qual contradição? Nessa resposta começa o problema: “A fome é real e atinge hoje cerca de 33 milhões de brasileiros”. De onde surgiu esse número?

Para afirmar que o Brasil tem 33 milhões de famintos, a Penssan comparou dois inquéritos encomendados a ela mesma. O primeiro levantamento foi realizado em dezembro de 2020, no primeiro ano da pandemia, em 2.180 domicílios localizados nas cinco regiões do país. O resultado dizia que 9% da população — 19 milhões de brasileiros — estava em situação de vulnerabilidade alimentar. Ou seja, alarmante, muita gente.

A segunda sondagem foi pior, porque teve uma abrangência maior: durante seis meses — de novembro de 2021 a abril de 2022 —, os pesquisadores visitaram 12.745 domicílios
A conclusão foi que 15% dos brasileiros estavam passando fome. 
Foi essa pesquisa que deu origem aos 33 milhões de famintos no Brasil.

Margem de erro
Assim como a fala de Haddad sobre os meninos no semáforo, os 33 milhões de famintos geraram muito ruído em ano eleitoral. De novo: por que a Igreja Católica embarcou? O vereador Rodinei Candeia, da cidade gaúcha de Passo Fundo, afirma que, na romaria de São Miguel, a mais tradicional do interior do Rio Grande do Sul, um bispo e seis sacerdotes citaram a pesquisa para atacar o então presidente Jair Bolsonaro, em plena campanha eleitoral.

“Logo na apresentação, há uma declaração de apoio ao governo do PT, fixando a data que as políticas públicas eram válidas, até 2016, e a partir daí entra num rumo de insegurança”, afirmou. “Foi um ato político, muito bem pensado e organizado, para atacar o governo federal e fortalecer o discurso de Lula e da esquerda”

A pesquisa, realizada em plena pandemia de covid-19, era baseada em oito perguntas. O corte temporal é explícito. Todas as questões dizem respeito exclusivamente ao sentimento de cada entrevistado nos últimos três meses:

Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que os alimentos acabassem antes de poder comprar ou receber mais comida?

Nos últimos três meses, os alimentos acabaram antes que os moradores tivessem dinheiro para comprar mais comida?

Nos últimos três meses, os moradores ficaram sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e variada?

Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio comeram apenas alguns poucos tipos de alimentos que ainda tinham porque o dinheiro acabou?

Nos últimos três meses, algum morador deixou de fazer alguma refeição porque não havia dinheiro para comprar comida?

Nos últimos três meses, algum morador comeu menos do que achou que devia porque não havia dinheiro para comprar comida?

Nos últimos três meses, alguma vez sentiu fome, mas não comeu porque não tinha dinheiro para comprar comida?

Nos últimos três meses, algum morador fez apenas uma refeição ao dia ou ficou um dia inteiro sem comer porque não havia dinheiro para comprar comida?

A representatividade nacional da amostragem de domicílios e municípios deixa muitas dúvidas, dada a falta de informações e de dados no documento publicado. A pedido de Oeste, o cientista de dados Leonardo Dias analisou a amostragem. De acordo com o especialista, houve uma sucessão de erros.

Em primeiro lugar, foi usada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, sendo que já está disponível a PNAD 2021, que tem uma proporção de amostra de salário bem diferente”, afirmou Dias. “Na edição mais recente, 38% da população ganhava até dois salários mínimos; 40%, de dois a cinco; e 22%, acima de cinco salários”, diz.

A Vigisan trabalhou com 6% acima de cinco salários, o que é totalmente fora da realidade. Ou seja, focou a amostra e os pesquisados numa população muito mais pobre do que a média brasileira em 2021


Prato meio cheio
Os dados indicam a possibilidade de uma amostragem superestimada nas Regiões Norte e Nordeste, onde a situação da insegurança alimentar é mais grave, e subestimada nas Regiões Sul e Sudeste, onde o problema é menor.Não houve um recorte estatístico adequado para chegar a esse resultado”, afirma Dias. “De certa forma, o que aconteceu é muito similar ao que foi feito por algumas pesquisas eleitorais, embora ainda pior”, diz. “É de esperar esse tipo de pergunta, ainda mais sendo uma pesquisa com um forte viés ideológico.”
 
Não há dúvidas de que a fome existe no Brasil. Mas afirmar que 33 milhões de brasileiros passam fome seria algo como a população do Peru ou da Austrália.  
Nesta semana, Oeste visitou uma comunidade da periferia de Osasco, na Grande São Paulo, o Conjunto Habitacional Vitória, antiga Favela “Pinga Pus”, local que até os anos de 1990 era considerado um dos mais perigosos da cidade. Somados o conjunto e a favela vizinha, chamada Fazendinha, 6 mil moradores vivem ali. Muitos passam dificuldade, mas fome, não. “Conheço pessoas que têm necessidades, mas não passam fome”, conta a líder comunitária Lourdes Maria Pereira Mello. “Pode não ter uma carne, não ter mistura todos os dias, mas tem arroz e feijão. Fome ninguém passa.”
Lourdes Mello é liderança do Conjunto Vitória há 25 anos - 
 Foto: Arquivo pessoal

Jucélia do Amor Divino Andrade mora na favela com os dois filhos há 12 anos. Desempregada e tratando de um câncer, ela recebeu neste mês R$ 400 do Auxílio Brasil. Até o mês passado, o valor era de R$ 600. Jucélia usa o dinheiro para pagar as contas de água, luz e gás. Os alimentos vêm de doações, uma cesta básica da igreja e outra da prefeitura.

Jucélia Andrade tem comida suficiente para ela e os dois filhos - 
 Foto: Arquivo Pessoal

“Nunca fiquei um dia sem refeição”, diz. “Alguém sempre ajuda, e eu corro atrás. Troco a carne pelo ovo, uma salsicha, uma amiga compra umas misturas para mim, e assim vou levando, mas, graças a Deus, fome nunca passei e não conheço ninguém que esteja nessa situação.”

Lourdes é um exemplo de que o sentido da vida é continuar. Natural de Nova Londrina, no Paraná, ela perdeu os pais aos 4 anos e foi doada. Passou apuros até os 19 anos, fugiu e foi morar na rua. Engravidou e foi abandonada pelo pai da criança. Quando encontrou a chance de trabalhar, agarrou com toda força.

Lourdes agarrou as oportunidades e venceu na vida - 
Foto: Arquivo Pessoal

Ao passar pelo Hospital das Damas, em Osasco, nos anos 1990, viu uma placa anunciando uma vaga para faxineira e entrou. A vaga já estava preenchida. Havia outra, para secretária de enfermagem. O médico que a entrevistou pediu que ela datilografasse uma carta. Embora não soubesse ler nem escrever, Lourdes topou o desafio, até que começou a chorar. Comovido, o médico lhe deu um emprego. “Me ensinaram a escrever, a ler, alugaram uma casa para mim, acolheram meu filho. Passei a ter um pouco de conhecimento e descobri que a vida não era só tristeza. Você precisa dar o primeiro passo”, diz. “Ali, eu me transformei na pessoa corajosa que sou hoje: a Dona Lourdes do Conjunto Vitória.”

Indústria da fome
No começo do ano, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) usou um número ainda mais esdrúxulo, também extraído do relatório da Penssan: disse que 120 milhões de pessoas — ou seja, mais da metade da população — passam fome no Brasil. É algo como a população do Japão.
Marina segue a cartilha Vigisan: 125 milhões vivem com “insegurança alimentar”. 
Mas o que isso significa, afinal? 
 Na prática, são pessoas que não se alimentam como deveriam? 
Ou convivem com a incerteza quanto ao acesso à comida no futuro?
 
Como isso faz sentido num país cuja agropecuária alimenta o mundo? Em carnes, por exemplo, o segmento nacional ofertou 20 milhões de toneladas para o mercado interno em 2021, somando proteínas de origem bovina, suína e de frangos.  
São quase 100 quilos por ano para cada habitante, conforme os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 
De arroz e feijão, mistura favorita do brasileiro, a safra de 2021 soma praticamente 15 milhões de toneladas, o que equivale a quase 200 gramas de grãos crus por habitante por dia. 
 Batata e mandioca, por exemplo, aproximadamente 300 gramas por dia. E trigo, mais 100 gramas diários.

O material da CNBB sobre a Campanha da Fraternidade é explícito: a culpa pela fome no país é da grande propriedade rural. “Uma das mais importantes causas da fome no Brasil faz referência à concentração de terras, ocasionando uma distribuição excludente e causadora de desigualdades socioeconômicas de modo que é fundamental uma justa redistribuição da terra”, afirma.

Segundo Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), rebate o argumento ao lembrar que, graças à força da agropecuária nacional, o país conseguiu passar pela pandemia e enfrentar as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia sem que faltasse nenhum tipo de alimento na mesa do brasileiro. “O setor mostrou a importância que tem no país não só do ponto de vista econômico, de gerar riqueza por meio de valores de exportação e a geração de empregos, mas principalmente em garantir o abastecimento da população brasileira.”

No ano passado, a CNA entregou um documento aos candidatos à Presidência da República e ao Congresso, com um capítulo exclusivo sobre segurança alimentar. “Não podemos comemorar que há mais gente entrando nas bolsas da vida, porque aí estamos dando um atestado de que a política econômica do país não está sendo satisfatória. Ela tem que receber o auxílio, mas também tem que ter uma reinserção no mercado de trabalho e conseguir se sustentar de forma independente.”

É aí que a conta não fecha. Em abril de 2014, durante uma entrevista coletiva para blogueiros progressistas, o vencedor das eleições, agora presidente Lula, confessou que, quando era oposição, costumava citar números aleatórios que não condiziam com a realidade. “Era bonito a gente viajar o mundo e falar que no Brasil tem 30 milhões de crianças de rua… No Brasil, a gente nem sabia”, afirma. “Não esqueço nunca: estava debatendo eu, o Roberto Marinho e o Jaime Lerner, em Paris. Não sei de que entidade era, mas eu estava dizendo que no Brasil tem 25 milhões de crianças de rua. Quando eu terminei de falar, o Jaime Lerner falou para mim: ‘Oh, Lula, não pode ter 25 milhões de crianças de rua, porque senão a gente não conseguiria andar na rua, Lula, é muita gente’.”

Joice Maffezzolli, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

A verdade e a mentira - Alexandre Garcia

Vozes

Nada mudou em 100 anos

Na homilia de domingo, no Mosteiro de São Bento de Brasília, o bispo de Formosa (GO), dom Adair Guimarães, relembrou uma antiga fábula judaica sobre a Verdade e a Mentira, que se banhavam num poço
A mentira, aproveitando-se de uma distração da Verdade, saiu do poço, vestiu-se com as roupas da Verdade e saiu pelo mundo. 
Vestida de Verdade, a Mentira foi bem recebida por todos. 
Saída sem roupas do poço, a Verdade percebe que as pessoas fogem dela, pois ninguém quer saber da Verdade nua e crua.  
No mesmo domingo, encontrei na primeira página do Correio da Manhã de 9 de março de 1919 um discurso de Ruy Barbosa, em que um amigo advogado pinçou um trecho dedicado às verdades e mentiras.

Ruy Barbosa afirma que há mentira em toda a parte, nos programas, nos projetos, nas reformas, nas convicções, nas soluções. “Mentira nos homens, nos atos e nas cousas. Mentira no rosto, na voz, na postura, no gesto, na palavra, na escrita. Mentira nos partidos, nas coligações, nos blocos.” E segue, discursando que há mentira nas instituições, nas eleições, nas apurações, nas mensagens, nos relatórios, nos inquéritos... “mentira nos desmentidos. Uma impregnação tal das consciências pela mentira, que se acaba por não discernir a mentira da verdade, que os contaminados acabam por mentir a si mesmos, e os indenes (íntegros), ao cabo, muitas vezes não sabem se estão ou não mentindo”.

Não é que Ruy Barbosa esteja atual, seja um especial de profeta; é que, desse discurso de 1919 até hoje, nós continuamos convivendo com esse tipo de cultura, como cúmplices, já que só nós, eleitores, somos capazes de mudar essa situação, pelo voto e pela cobrança de nossos mandatários. Passaram-se 104 anos desde esse desabafo de nosso mais ilustre jurista – relemos o que o jornal da época publicou e descobrimos, assustados, que poderia estar no jornal de hoje. 
E que, mais de um século depois, poucos, como Ruy, se escandalizam com as mentiras. Parece que a maioria prefere fingir que as aceita. Depois, acabam convivendo com a mentira e são reféns dela.

A Mentira vestida de Verdade declama todos os dias narrativas com o mesmo cerne e as repete tanto que nossos cérebros acabam repetindo a mentira como verdade. Não exigimos que a travestida Mentira demonstre o que nos impõe; apenas aceitamos sem perceber que estão nos treinando para não discutir. A rebeldia da desconfiança é desestimulada pela ameaça de punição, de censura. A dúvida, a rebeldia, nos desnuda perante os outros, que se afastam como se afastaram da Verdade. E, quando começarmos a mentir para nós mesmos, é porque a Mentira venceu. E a Verdade talvez esteja afogada no fundo do poço.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia,
colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Idiocracia: o tsunami vermelho que assola a América - Sérgio Alves de Oliveira

Pode existir um país onde os idiotas predominam?

O propósito em vista é fazer uma superficial avaliação do resultado da eleição presidencial no Chile, realizada no domingo,20 de dezembro de 2021,  na qual venceu o maconheiro e ex-líder estudantil Gabriel Boris,da esquerda radical,inserindo essa eleição num contexto maior que parece estar “contaminando” a América.

Apesar da grande abstenção dos eleitores chilenos que ainda conseguem “pensar”, os “vencedores” da eleição, que votaram nesse “sujeito”, provavelmente nunca ouviram falar da fábula ”As râs que queriam um novo rei” (Esopo-Fábula 16) .

Resumida:
“As rãs viviam em plena paz num charco e começaram a achar monótono. Pediram a Júpiter que lhes desse um rei para dizer-lhes o que fazer e não fazer. Júpiter jogou-lhes um pedaço de pau na água, dizendo-lhes ser o rei que pediram . De início tomaram um enorme susto. Mas a seguir viram que aquela “coisa” nem se mexia. Subiam em cima e nada acontecia. Reclamaram novamente, e Júpiter jogou no seu meio uma serpente voraz que passou a devorá-las uma a uma. Moral da história: satisfaz-te com a tua situação,mesmo que seja má,porque uma mudança pode piorar as coisas.”

Viralizou na internet (YouTube) o título “Dez passos para construir um país idiota”,q
ue seriam:
(1) Acabar com a educação de qualidade; (2) Oportunidade para poucos; (3) Criar uma mídia inútil: (4) Garantir que o sistema de saúde seja horrível: (5)Cobrar altos impostos: (6)Garantir a impunidade: (7) Tudo tem que não funcionar ; (8) Promover o desemprego;(9) Jamais investir em tecnologia; e (10) Empregar “mágicos” no governo.

Nelson Rodrigues teceu algumas críticas procedentes à chamada democracia em prática no mundo,garantindo que “a maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas,que são a maioria da humanidade” e que “os idiotas vão tomar conta do mundo,não pela capacidade,mas pela quantidade,eles são muitos”.

Fazendo um breve “passeio” pelo conceito de democracia através da história, Aristóteles concebeu-a entre as formas PURAS de governo,que seria o governo do povo pelo povo,ao lado da monarquia (governo de um só),e da aristocracia (governo dos melhores). Mas a democracia poderia descambar na sua forma degenerada, desde o momento em que assumisse as feições da DEMAGOGIA,tanto quanto o mesmo aconteceria com a monarquia e a aristocracia,cujas formas deturpadas seriam,respectivamente,a a tirania e a oligarquia.

Quase dois séculos após a classificação das formas de governo de Aristóteles,o geógrafo e historiador grego, Políbio,manteve a classificação de Aristóteles,porém substituiu a “demagogia” do filósofo grego pelo que ele chamou de OCLOCRACIA,que apesar de conservar a demagogia como vício da democracia,ampliava esses vícios que contaminariam a democracia de tal maneira que atingiria os seus dois polos,por um lado a massa ignara ,que “escolhia”,que ”elegia”os seus representantes,por outro a pior escória da sociedade que era levada a fazer e viver da política.

Mas o mundo deu muitas voltas depois das concepções de Aristóteles e Políbio sobre as formas de governo,sobre a democracia,a demagogia e oclocracia.

Hoje com certeza a IDIOCRACIA poderia perfeitamente ser definida como a nova modalidade deturpada da democracia,em substituição à demagogia e à oclocracia.

O que seria então a IDIOCRACIA? Evidentemente seria a forma e o regime de governo dos idiotas.

Mas em tudo isso há uma “coincidência” difícil de explicar. E essa “coincidência” está exatamente na correlação entre a idiocracia política e os governos de esquerda,socialistas,que andaram prosperando pelo mundo,e que já aniquilaram todas as nações por onde passaram,e paradoxalmente prosseguem conquistando novos “trouxas” pelo mundo afora,tendo conquistado quase toda a Europa, penetrando agora com muita na força na América.

Parece que não bastou o fracasso comunista no Leste europeu,na Ásia,e em todos os outros lugares do mundo,chegando ao ponto da dissolução da URSS,após a “Perestroika”,de Mikhail Gorbachev, em 1991. O comunismo fracassou e não deixou nenhuma esperança que um dia pudesse dar certo em qualquer parte do mundo,pelo menos no que diz respeito ao desenvolvimento das plenas potencialidades dos povos por onde passou.Tudo isso sem falar nas 100 milhões de pessoas que assassinou nas suas “andanças”.

Mas infelizmente a “idiocracia” está fazendo vistas grossas para esse nefasto passado do comunismo,conquistando novos adeptos ”babacas a todo “santo” dia. Tudo isso, “incrivelmente”, em nome da “democracia” (???).

Rogue-se a Deus que as eleições presidenciais brasileiras marcadas para outubro de 2022 não enquadrem os brasileiros,por sua maioria,como mais um povo idiota,idiotizado,a exemplo de tantos outros que já sucumbiram à nefasta ideologia de esquerda,predatória da liberdade e do desenvolvimento dos povos. 

Os Estados Unidos, o México, Cuba, Argentina, Bolívia, Guiné Bissau, Peru, Suriname e Venezuela, dentre outros,já “sucumbiram”, prostrando-se de joelhos perante a esquerda. Será que Joe Biden será “bondoso” e esquerdista o bastante para justificar esse perfil ,distribuindo a riqueza que os americanos construíram com muito trabalho e suor durante a sua história com os povos mais pobres do mundo?

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo


terça-feira, 16 de março de 2021

A farsa do “Estado de direito” - J.R Guzzo

O ministro Fachin, muito simplesmente, agiu como um militante político empenhado em servir a Lula e ao PT

O Brasil vive, cada vez mais, uma farsa tamanho gigante. Finge que tem “instituições”, que precisam sempre ser preservadas como a coisa mais preciosa que existe no sistema solar. Finge que tem um “Estado de direito”, que é uma “democracia” e que há leis, a começar pela Constituição Cidadã, que são respeitadas e valem por igual para todos. Finge, mais do que tudo, que essas coisas existem porque aqui funciona um Supremo Tribunal Federal, como acontece em países bem-sucedidos — com juízes imparciais, focados unicamente no cumprimento do que está escrito na Constituição e incapazes de decidir alguma coisa em benefício das próprias ideias, interesses, amigos ou amigos dos amigos.

Nada disso tem realmente alguma coisa a ver com a realidade. Nestes dias, mais do que em qualquer outra ocasião recente, o Estado de direito no Brasil assumiu tudo o que precisa para tornar-se uma ficção absoluta. O ministro Edson Fachin, numa sentença inédita na história do STF, decidiu que todos os processos que envolvem o ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, incluindo aquele em que ele já foi condenado em terceira e última instância, não valem mais nada. No dia seguinte, o ministro Gilmar Mendes, num voto formal, disse que a Operação Lava Jato — o único momento, desde o ano 1500, em que a população brasileira acreditou na existência de Justiça em seu país — é “o maior escândalo judicial da nossa História”.

A decisão de Fachin é positivamente inexplicável, assim como a declaração de Gilmar, mas nem um nem o outro estão interessados em explicar nada, e nunca estiveram
A última de suas preocupações é fazer nexo, ou dar aos cidadãos algum tipo de satisfação sobre a lógica das decisões que tomamou respeitar os fatos e a ideia, comum para a quase totalidade das pessoas, de que a Justiça existe para separar o certo do errado.  
A noção fundamental do que é “Direito”, para ambos, se concentra numa só palavra: “garantismo”. Justificam tudo o que fazem dizendo que o seu objetivo é garantir que a lei seja cumprida em todos os seus detalhes. Na prática, o que fazem é garantir o atendimento dos próprios desejos. Isso, para não perder tempo com conversa complicada, é garantir a desordem. Como pode haver ordem desse jeito?
O ministro Fachin, no extraordinário decreto em que anulou de uma só vez quatro ações penais diferentes, não diz uma palavra sobre a culpa de Lula — provada em três instâncias, perante nove juízes diferentes, no caso da primeira condenação, numa bateria de processos em que há réus confessos, delações premiadas e devolução de dinheiro roubado. 
Diz apenas que Lula não deveria ter sido processado em Curitiba, e sim em Brasília. E daí? 
Que diferença faz se alguém é julgado em Curitiba, Brasília ou São Domingos do Cariri? 
É incompreensível para o cidadão pagador de impostos, ou para qualquer ser racional, que um juiz de direito, em vez de estabelecer se o réu cometeu ou não os crimes de que é acusado, fique fixado em discutir em qual vara penal deve correr o seu processo — mas não tente entender, porque para o ministro Fachin isso é uma questão de vida ou morte, e quem resolve é ele.

Na verdade, essa história de ficar regulando onde o sujeito deve ser julgado é um dos truques processuais mais ordinários que há no livro de regras; qualquer advogado de porta de cadeia, quando não tem mais que dizer em favor do réu, pode alegar que ele não está sendo julgado no “foro” certo. Tudo bem: que seja. 

Mas, no caso de Fachin e de Lula, que raio de grande assunto constitucional é esse, para ser decidido no Supremo? Como assim, num processo que simplesmente não tinha mais para onde ir, após seu julgamento em todas as instâncias possíveis — e no qual, ainda por cima, o ministro que julga o caso joga no lixo cinco anos de decisões da Justiça? Nenhum dos oito magistrados que julgaram a correção da primeira sentença achou nada de estranho com ela, ao longo destes anos todos. Não se achou nada porque nunca houve nada de errado com as condenações de Lula — nem quanto à sua culpa nem quanto a qualquer outra questão.

O que a decisão do ministro Fachin tem a ver com qualquer dos 250 artigos da Constituição Federal do Brasil?  
Os advogados de Lula alegaram que seu cliente estava sendo prejudicado em seus direitos constitucionais. 
Mas, nesse caso, os 200 milhões de cidadãos brasileiros podem ir até o Supremo, por qualquer coisa que lhes dê na telha, se acharem que seus direitos não estão sendo respeitados; por essa maneira de ver a Justiça, até uma ação de despejo pode acabar no STF. [o STF já foi acionado para decidir se banheiro público pode ser unissex? 
em português claro: o STF foi chamado a julgar se o cidadão que tem todos os 'instrumentos' do macho, do homem, mas se sente mulher, pode adentrar em um banheiro no qual se encontrem senhoras, incluindo meninas,expor à vista de todos e todas, seu instrumento viril e urinar.
Nos parece que o assunto foi adiado, tendo em conta que agora o mesmo cidadão que se sente mulher em um momento pode, movido por razões outras, se sentir macho. Situação que complica exigindo um pedido de vista.]
O fato, quando o palavrório fica de lado, é que não existe nesse caso questão constitucional nenhuma; só existiu a vontade de dizer que Lula não fez nada de mais, que recupera os seus direitos políticos e que merece um pedido público de desculpas. Na vida real, e pelo que fica comprovado na experiência do dia a dia, o STF não cumpre praticamente nunca, ou nunca quando realmente interessa, a sua única obrigação real — justamente, decidir se a Constituição brasileira está ou não está sendo cumprida.  
Os onze ministros fazem de tudo. Soltam corruptos e traficantes de droga; soltariam Al Capone se ele estivesse vivo. 
Proíbem a polícia de voar sobre as favelas do Rio de Janeiro. 
Prendem deputados e jornalistas por crime de opinião. 
Censuram a imprensa. 
Mandam o governo distribuir vacinas que estão na China e na Índia
O que não fazem é cuidar do respeito à Constituição — fazem tudo, menos isso. 
Ou, mais exatamente, fazem o contr

exordial acusatória

ário; são, hoje, os maiores agressores da lei que há no Brasil. Ninguém promove a insegurança jurídica tanto quanto eles.

Esqueçam a “exordial acusatória” e outras bobagens

A notícia foi recebida com festa na maioria da mídia, no submundo da política, em que pelo menos um terço dos congressistas responde a processo penal, e nos partidos de esquerda, que desde 2014 não ganham uma eleição — e que têm em Lula sua única e eterna esperança de salvação. Houve o esforço geral, francamente cômico, de debater motivos “técnicos” para a decisão de Fachin. Ele falou em “exordial acusatória”, e outros despropósitos incompreensíveis em português; é o suficiente, no Brasil, para acharem que o sujeito está sendo um jurista de grande profundidade. 

É a velha história: se ninguém entende nada do que o doutor está falando, então ele tem de ser mesmo um homem muito sério. 
Também circulou a misteriosa teoria de que Fachin, ao anular os processos de corrupção contra Lula, estava, na verdade, querendo combater a corrupção. Hein? Como assim?  
É que, agindo como agiu, o ministro quis ajudar a Lava Jato; de novo, o melhor é não perder o seu tempo tentando entender essa fábula. 
Nada disso, é claro, escondeu o que realmente houve: o que Fachin quis, e fez, foi riscar do cartório a ficha suja de Lula e dar a ele o direito de se candidatar nas eleições presidenciais de 2022.

Trata-se de uma dessas coisas que todos os interessados conhecem muito bem — mas de que nenhum deles fala, porque não lhes interessa falar. O ministro Fachin, muito simplesmente, agiu como um militante político empenhado em servir a Lula e ao PT, como se comprova por seus atos, suas palavras e sua conduta. Ele foi advogado do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, agrupamento ilegal e responsável, durante anos a fio, por centenas de crimes graves contra a pessoa e contra a propriedade. Em 2010, durante a campanha eleitoral, pediu publicamente votos para Dilma Rousseff que depois, como presidente, lhe deu a sua cadeira no STF.  

Não foi, como quer a lenda oficial que ele faz circular até hoje, um ato impensado da juventude: Fachin tinha 52 anos de idade na época, e nunca deu motivos para achar que hoje, aos 63, se tornou um outro homem. Ao contrário: sete meses atrás, em agosto do ano passado, disse em entrevista que a candidatura de Lula na eleição presidencial de 2018, ocasião em que ele estava preso num xadrez da Polícia Federal em Curitiba, teria “feito bem à democracia”. Acrescentou que o Brasil de hoje vive em “recessão democrática”.

Se a candidatura de Lula teria sido uma coisa boa em 2018, não há razão para Fachin achar que seria uma coisa ruim em 2022. Seu voto para suprimir a ficha suja de Lula, além disso, foi precedido pela divulgação de uma “pesquisa de opinião”, feita por instituto de sondagens do qual ninguém tinha ouvido falar até hoje, dizendo que Lula tem “o maior potencial de votos” para 2022. Não se sabe o que poderia ser isso. O termo não existe nos métodos dos institutos mais conhecidos, como Ibope e Datafolha; mas dá para saber perfeitamente que é a favor de Lula. O ex-presidente, por sua vez, disse pouco antes que estava “à disposição” para a próxima eleição; até convidou Fernando Haddad, a quem dizia apoiar, para ser candidato a vice. Dirigentes petistas, enfim, festejaram em público a sua volta à política às vésperas da decisão de Fachin.

A verdade mais elementar é que não existia até agora nenhum candidato sério para disputar a eleição de 2022 com o presidente Jair Bolsonaro. As candidaturas inventadas até o momento, num arco que vai de governadores de Estado a apresentadores de programa de auditório, fracassaram miseravelmente. Foi sepultada junto com elas a miragem de que uma dessas criaturas do noticiário poderia obter a adesão de Lula e do PT, numa “frente democrática de centro-esquerda”, equilibrada, civilizada, limpinha, aprovada pelo ex-presidente Fernando Henrique e capaz de derrotar Bolsonaro. Acreditou-se mais uma vez — imaginem só se uma coisa dessas seria possível — que Lula e o PT iriam, patrioticamente, apoiar alguém que não seja eles mesmos. Nunca aconteceu. Não vai acontecer nunca.

O manifesto de Fachin resolve essa desgraça; onde não havia ninguém, não de verdade, agora passa a haver Lula, o único candidato de carne e osso com possibilidades efetivas, pelo menos na teoria, de evitar a reeleição de Bolsonaro nas próximas eleições. Esqueçam a “exordial acusatória” e outras bobagens. É isso, e apenas isso, que aconteceu — Lula, por sinal, já estava pedindo voto logo no dia seguinte à liquidação dos seus processos. Talvez não mude nada no mundo das realidades, é verdade, porque o problema essencial continua sendo a candidatura de Bolsonaro; é aí que está a complicação verdadeira, e ela permanece do mesmo tamanho.  

Mas o STF fez o que poderia fazer até o momento para derrotar o presidente em 2022, ou quando der — se for preciso fazer mais, é coisa para ver de novo mais adiante. Por enquanto é o que temos. É previsível, obviamente, que os ministros façam outra vez o que Fachin e Gilmar acabam de fazer: talvez venham com algum embargo agravante, ou agravo embargante, ou seja lá o que inventarem, proibindo Bolsonaro de se candidatar de novo, ou de continuar na Presidência, ou de governar o país. Sempre sobra, além e acima de tudo, a possibilidade de fraudar a apuração das eleições; é garantido, para tanto, que o Supremo vai aprovar tudo o que tiver de ser aprovado.

Esse jogo, na verdade, está sendo jogado desde que Dilma foi posta no olho da rua pelo Congresso Nacional, em maio de 2016 — com o “Fora, Temer”, a tramoia do procurador Janot junto a um megaempresário ladrão para derrubar o então presidente e as tentativas de conseguir o impeachment, primeiro do próprio Temer, e depois de Bolsonaro. Continua agora, com a anulação dos processos de Lula. Não há sinais de que possa parar enquanto a esquerda não voltar ao governo.[somos brasileiros e desejamos o melhor para o Brasil e,  para tanto, a esquerda será, quando e se preciso for, parada.]

Leia também a reportagem de capa desta edição, “Farra na republiqueta”

J R Guzzo, jornalista - Revista Oeste

 

terça-feira, 3 de março de 2020

Lula discursa como batedor de carteira da história - Blog do Josias

Libertado da cadeia pelo Supremo Tribunal Federal, Lula tornou-se prisioneiro de uma fábula. Homenageado com o título de cidadão honorário de Paris, pronunciou na capital francesa não um discurso, mas um atentado à historiografia. Condenado por corrupção, Lula apresentou-se como perseguido. Colecionador de ações penais, já amargou duas sentenças de segunda instância, uma delas confirmada no terceiro grau. Mas disse ter sido preso de forma ilegal.

A certa altura, Lula caprichou no cinismo. Levava a tiracolo Dilma Rousseff, que arruinou a economia do país e produziu um empregocídio. Ainda assim, sentiu-se à vontade para encenar o papel de porta-voz dos oprimidos. "É meu dever falar aqui em nome dos que sofrem, em meu país, com o desemprego e a pobreza, com a revogação de direitos históricos dos trabalhadores e a destruição das bases de um projeto de desenvolvimento sustentável..." Pai do mensalão e do petrolão, responsável pela conversão do PT em máquina coletora de propinas, Lula declarou: - "O que está ocorrendo no Brasil é o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático, estimulado pela ganância de uns poucos..."

Lula reiterou o lero-lero segundo o qual Dilma sofreu um "golpe parlamentarl". Que foi seguido da "farsa judicial" que o levou à prisão. Coisa de Sergio Moro, "um juiz que é hoje ministro do presidente que ele ajudou a eleger com minha prisão." Esqueceu que a gestão pedalante de Dilma foi condenada com os votos dos seus pseudoaliados, sob a supervisão de Ricardo Lewandowski, um magistrado companheiro do Supremo. Desconsiderou que a sentença de Moro foi ratificada na segunda e na terceira instância. Lula ignorou, de resto, que o TRF-4 já pendurou no seu pescoço, na fase pós-Moro, uma nova sentença de segunda instância por corrupção.

Sobre a sucessão de 2018, Lula afirmou que Bolsonaro prevaleceu por ter sido "poupado pelas grandes redes de televisão de enfrentar, em debates, o companheiro [Fernando] Haddad." Fora de órbita, acrescentou: "Essa mídia, portanto, é corresponsável pela ascensão de um presidente fascista ao governo do Brasil." Ora, quem pariu Bolsonaro não foi a mídia. Deve-se a gravidez ao próprio Lula, que se autoconverteu em principal cabo eleitoral do capitão. O parto é obra do antipetismo, maior força política de 2018. Quando Roberto Jefferson jogou o mensalão no ventilador, Lula ensinou à plateia que "o PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente".

Ao notar que o melado escorria além do desejável, Lula fugiu da cena do crime, refugiando-se atrás da tese do "eu não sabia". E ficou por isso mesmo. Sobreveio o petrolão, seguido da Lava Jato. Reduzido à condição de um ficha suja inelegível, Lula tem dificuldades de se libertar da própria fábula. No momento, a divindade petista dedica-se à construção de uma nova carreira. Transformou-se num batedor de carteira da história.

Blog do Josias - Josias de Souza, colunista do UOL







quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

PT celebra aniversário sob atmosfera de velório



O PT celebra neste sábado seu aniversário de 39 anos. O principal mote da festa é um chavão já meio desgastado: "Lula livre". Ao impor a Lula uma nova condenação de 12 anos e 11 meses, agora no caso do sítio de Atibaia, a juíza Gabriela Hardt jogou água no chope do PT. Mas a substituta de Sergio Moro também ofereceu ao partido uma nova oportunidade para se libertar da fábula em que Lula o aprisionou. 


O PT vive a ilusão de que comanda uma ofensiva política. Seus ataques ao Judiciário resultaram numa coleção de derrotas nos tribunais. Seus apelos à solidariedade das ruas produziram bocejos. Os aliados da esquerda, com água pelo nariz, se deram conta de que, ao abraçar Lula, agarravam-se a um jacaré, não a um tronco. Buscam novas tábuas de salvação.

No ano passado, às vésperas do julgamento em que o TRF-4 confirmou a sentença de Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, dizia: "Para prender o Lula, vai ter de prender muita gente, mais do que isso, vai ter de matar gente." Com a nova sentença, Lula passa a acumular uma pena de 25 anos de cana dura. E não morreu ninguém, exceto o próprio PT. [com o devido respeito aos mortos, também faleceu Vavá, irmão do presidiário, e que por obra e graça do próprio irmão canalha e agora duplamente condenado,(o presidiário tentou transformar o velório do irmão  em um showmicio) foi transformado em mero figurante do seu próprio velório.]

Sim, Gleisi Hoffmann e seus companheiros ainda não notaram. Mas aquele PT fundado por um líder operário há 39 anos morreu. Foi sapateando em cima das suas cinzas que Jair Bolsonaro elegeu-se presidente em 2018. A festa de aniversário deste sábado revela que o PT vive a fábula do morto que se imagina vivo. É um vivo tão pouco militante que a realidade precisa enviar coroas de flores de vez em quando. A sentença sobre Atibaia é uma pá de cal. E não será a última. Lula ainda é réu em outras cinco ações penais.