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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O recado do Exército e da polícia que fez os bandidos devolverem as metralhadoras furtadas - O Estado de S. Paulo

Marcelo Godoy

Policiais e militares mandaram o aviso: comunidades dominadas por traficantes do CV e do PCC seriam asfixiadas enquanto armas não aparecessem; duas brigadas estão de sobreaviso

A tática é uma velha conhecida nos meios policiais: o bandido entregar o que a polícia deseja para tentar evitar uma reação que atrapalhe em demasia os negócios das organizações criminosas. 
Foi assim que Erickson David da Silva – acusado de matar o policial da Rota Patrick Bastos Reis – se entregou à polícia. 
A facção criminosa queria evitar o que veio depois: a Operação Escudo, que deixou um rastro de 28 mortes no Guarujá, em 30 dias de ações na Baixada Santista.
 
Logo que o furto das 13 metralhadoras Browning .50 e oito MAG, de calibre 7,62 mm, no Arsenal de Guerra, em Barueri, na Grande São Paulo, se tornou público, policiais civis do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), de São Paulo, começaram a usar seus contatos para tentar localizar quem estava por trás do crime.  
Também mandaram um recado a bandidos do Primeiro Comando da Capital (PCC): as armas tinham de aparecer. Enquanto isso não ocorresse, não iriam sossegar.

Um agente do Deic soube que o armamento estava enterrado na região oeste da Grande São Paulo. Um homem que já havia sido preso por roubo a banco estava em contato com os bandidos responsáveis pela guarda das metralhadoras. As investigações do Departamento, comandadas pelo delegado Fabio Pinheiro Lopes, mostravam que os criminosos estavam negociando a venda do armamento ao PCC.

Lopes manteve durante toda a semana contatos com o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste (CMSE). 
A Polícia Civil carioca obteve ainda um vídeo no qual quatro metralhadoras .50 e outras quatro MAG eram oferecidas a traficantes de drogas, cada uma por R$ 180 mil.
 O chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste (CMSE), general Maurício Vieira Gama (dir.) e o delegado Marcelo Prado, do 1º DP de Carapicuíba (3º da esq. para a dir.) ao lado de parte das metralhadoras recuperadas em São Roque
O chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste (CMSE), general Maurício Vieira Gama (dir.) e o delegado Marcelo Prado, do 1º DP de Carapicuíba (3º da esq. para a dir.) ao lado de parte das metralhadoras recuperadas em São Roque Foto: Comando Militar do Sudeste
Foi quando militares e policiais fizeram chegar à cúpula do Comando Vermelho (CV) que a Força Terrestre não ia descansar enquanto o armamento não fosse recuperado.  
Na gíria policial, os bandidos teriam de “vomitar” as metralhadoras. 
Isso significava que o Exército estava disposto a cercar comunidades, como fizera em março de 2006 quando, após 12 dias de atuação em 16 favelas cariocas, as tropas recuperaram os dez fuzis e a pistola roubados do Estabelecimento Central de Transportes do Exército.
 
Na época, o general Hélio Macedo, então chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, traçou a tática da Operação Asfixia. Os militares não se limitaram a patrulhar e a ocupar os morros.  
Controlaram as vias de acesso, verificando documentação e revistando carros. 
Com isso, os consumidores de drogas não puderam chegar a seus fornecedores. 
Calculou-se que a ação fez o faturamento dos traficantes cair 70%.

A ameaça de uma nova asfixia fez com que na quinta-feira o CV abandonasse em um carro quatro metralhadoras .50 e quatro calibre 7,62 mm, na Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, onde foram recuperadas pela Polícia Civil. Em São Paulo, enquanto o Exército apurava responsabilidades administrativas e criminais de seu pessoal no caso, o mesmo recado foi dado aos bandidos: “Devolvam as armas”.

Foi depois que o aviso chegou aos criminosos que os policiais do 1.º Distrito Policial de Carapicuíba foram informados de que os bandidos estavam transportando o armamento para uma área rural de São Roque, e que elas seriam guardadas ao lado do poço profundo Mombaça, da Sabesp. Para lá os investigadores da delegacia se dirigiram e encontraram nove metralhadoras, depois de pescá-las em um lamaçal. Ali estavam cinco Browning .50 e quatro MAGs. Dois bandidos fugiram.

Falta agora encontrar quatro metralhadoras de calibre .50. “Os interessados na compra desse armamento são ligados à facção criminosa (PCC)”, afirmou o delegado Julio Guebert, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro). Para ele, essas armas viraram uma “batata quente” nas mãos dos bandidos. “Nós vamos até o fim. Vamos identificar os envolvidos na compra e na venda dessas armas e trabalhar para recuperar as armas que faltam.”

Não só. O CMSE pôs de sobreaviso todo o efetivo da 11ª Brigada de Infantaria Mecanizada e da 12ª Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel). Ou seja, quem estiver em casa deve se manter em condições de se apresentar ao quartel a qualquer momento.  
Entre as unidades que podem cumprir buscas e apreensões no âmbito do Inquérito Policial Militar (IPM) do caso, estão o 4.º Batalhão de Infantaria Mecanizada (4.º BI Mec) e o 8.º Batalhão de Polícia do Exército.
O general Maurício passara a madrugada de sábado e a tarde organizando as ações para recuperar as armas. 
O Exército se sente ultrajado diante do maior furto de armas em um quartel desde que o capitão Carlos Lamarca deixou o 4.º Regimento de Infantaria com 63 fuzis, três submetralhadoras e uma pistola, em 13 de fevereiro de 1969. [lembrando que o traidor Lamarca, andou dando uma de guerrilheiro esquerdista, praticou atrocidades - todas no estilo esquerdista de combater = covardes e cruéis = mas terminou abatido a tiros no interior da Bahia.]
É difícil para oficiais acreditarem que a retirada das 21 metralhadoras tenha sido possível. 
Uma reserva de armas não é um depósito de virabrequins.

“O Exército não vai parar enquanto as armas não forem todas recuperadas”, afirmou o general à coluna. Eis mais um recado para os bandidos que ainda mantém 4 metralhadoras. O general afirmou que vai estabelecer as responsabilidades, tanto as do público interno quanto as de pessoas de fora da Força que tenham se envolvido no furto e venda das armas.

Foi assim no Rio em 2006. E também foi assim em Caçapava, em 2009, quando sete fuzis foram roubados do 6.º Batalhão de Infantaria Leve (6.º BIL). 
O general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, hoje comandante do Exército, conhece a área. 
Ele comandou a 11ª Brigada e o CMSE. 
Já quinta-feira, Tomás determinou o afastamento do tenente-coronel Rivelino Barata Batista de Sousa. Engenheiro militar, ele foi recriminado por deixar que acontecesse tamanha falta de segurança no arsenal. E foi só o começo.

As primeiras prisões decretadas pela Justiça Militar em razão do delito devem sair ainda nesta semana. Além disso, 20 oficiais e praças podem ser punidos disciplinarmente. Eles tiveram de apresentar suas defesas e estão sujeitos a prisão de até 30 dias.”Esses militares não cometeram crime, mas foram negligentes”, disse o general. 

Ele disse ter certeza de que, sem o interesse de bandidos de fora do quartel, os militares envolvidos no crime não teriam furtado as metralhadoras.

Ou seja, elas tinham defeitos tão complexos que não compensava financeiramente consertá-las. 
De fato, só os casos graves são encaminhados aos arsenais de guerra do Exército – armas com defeitos menores são consertadas nos batalhões de logísticas. 
Isso dificultou a venda das metralhadoras para as facções criminosas, pois seria necessário gastar mais dinheiro – e também expertise – para consertá-las.[apesar de ser uma tática antiga e 'asfixia' é conhecida e empregada em diversas unidades das FF AA do brasil e até policiais.
Foi usada inclusive no exterior e seu uso pela Franca resultou no filme A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo .
É comum e eficiente que quando os bandidos se atrevem a roubar armas e outros equipamentos militares das FF AA estas ergam pontos de verificação em vias de acesso a favelas, bocas de fumo e param todos os carros, e também pedestres, que se dirijam àqueles locais e procedam longas e minuciosas buscas, inviabilizando  o comércio de drogas e outros ilícitos.
É mais demorado, não é tão espalhafatoso quanto invadir favelas, mas é bem mais eficiente e seguro até mesmo para os moradores da região. As FF AA tem efetivo e tempo para manter uma operação estilo asfixia, por meses - dificil é o tráfico e demais criminosos aguentarem. Considerando que os locais de verificação são escolhidos pela forças militares ou policiais, os bandidos perdem o fator surpresa e torna-se praticamente impossível que inocente sejam mortos.Óbvio que todo o COMANDO deve ficar com as forças policiais e/ou militares e, vez ou outra, o uso da força e de métodos enérgicos de interrogatório serão necessários.
Talvez nada disso fosse um verdadeiro problema para o PCC, um grupo que nasceu em 1993, no anexo da Casa de Custódia de Taubaté. Eram seis presos ao todo
Aos poucos, ele se espalhou pelo sistema prisional e, depois, pelas ruas de São Paulo. O Estado negou sua existência durante anos. 
Quando despertou para o problema, era tarde: os seis homens se haviam transformado em milhares
Hoje, só com o tráfico internacional de drogas, a facção fatura mais de R$ 1 bilhão por ano, dinheiro que mantém o seu poder, corrompe agentes públicos e compra armas. 
Até mesmo do Exército.
 
Marcelo Godoy, jornalista - Estadão

Exército pede prisão preventiva de suspeitos de furto de metralhadoras e pune 17 disciplinarmente - O Estado de S. Paulo

Comando Militar do Sudeste aponta envolvimento de sete integrantes do quartel de Barueri, na Grande São Paulo, além de dois civisQuartel das Forças Armadas em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, onde militares foram acautelados após furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra

Quartel das Forças Armadas em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, onde militares foram acautelados após furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra Foto: Felipe Rau/Estadão

O Comando Militar do Sudeste (CMSE) pediu à Justiça Militar a decretação da prisão preventiva dos militares acusados de participação no furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra, em Barueri, na Grande São Paulo. A Justiça pode decidir ainda nesta quinta-feira, 26, se decreta ou não as prisões diante da gravidade do caso. O número de acusados não foi divulgado, mas o CMSE suspeitava do envolvimento de sete militares no crime e de dois civis.

Além disso, 17 militares foram punidos disciplinarmente – a maioria oficiais – na apuração administrativa aberta pelo comando por falha de conduta ou erro de procedimentos nos processos de fiscalização e controle do armamento. Outros cinco militares podem receber sanções. Neste caso, a punição mais severa aplicada foi de 20 dias de prisão disciplinar – as punições administrativas podiam ir de advertência à prisão por 30 dias. Todos estão cumprindo a punição no Arsenal de Guerra.

A Justiça Militar de São Paulodecretou as quebras dos sigilos telefônicos, telemáticos e bancários de sete militares suspeitos. O CMSE acredita que os dados dos sigilos vão permitir identificar os criminosos e acusá-los formalmente.

No contexto da apuração criminal, os possíveis crimes cometidos, conforme o Código Penal Militar, são: furto; peculato; receptação; e desaparecimento, consunção ou extravio. A qualificação dos crimes compete ao Ministério Público Militar.

8 metralhadoras foram encontradas pela Polícia Civil do Rio (foto à esquerda); e 9 armas acabaram achadas pela polícia de Carapicuíba, Grande São Paulo. Todas as 17 foram furtadas do quartel do Exército em Barueri, região metropolitana — Foto: Leslie Leitão/TV Globo e Polícia Civil/Divulgação

8 metralhadoras foram encontradas pela Polícia Civil do Rio (foto à esquerda); e 9 armas acabaram achadas pela polícia de Carapicuíba, Grande São Paulo. Todas as 17 foram furtadas do quartel do Exército em Barueri, região metropolitana — Foto: Leslie Leitão/TV Globo e Polícia Civil/Divulgação

 O furto das metralhadoras aconteceu provavelmente entre os dias 5 e 8 de setembro e só foi percebido no dia 10 de outubro. Os ladrões se apossaram de 13 Browning calibre .50 e oito MAGs de calibre 7,62 mm. 

As investigações do Exército e das Polícias Civis do Rio e de São Paulo levaram à recuperação de nove Browning e das oito MAGs – oito das metralhadoras haviam sido oferecidas ao Comando Vermelho e foram encontradas no Rio e outras nove estavam sendo negociadas com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e foram localizadas em São Roque, em São Paulo.

Desde a ausência constatada durante inspeção, o Comando Militar do Sudeste chegou a manter quase 500 militares aquartelados para identificar dados relevantes para ajudar a desvendar os fatos envolvidos no sumiço do armamento. Além disso, comando do Exército trocou do diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista. Para o posto foi nomeado o coronel Mário Victor Vargas Júnior.

Como mostrou o Estadão, de acordo com o general Maurício Gama, as armas furtadas estavam danificadas, sem condições de uso para o Exército e passariam pelo processo de “desfazimento”. As metralhadoras têm alto poder de fogo: a .50 pode disparar 550 munições por minuto e provocar a queda de helicópteros.

A apreensão das primeiras oito metralhadoras ocorreu na entrada da Gardênia Azul, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, na quinta-feira, 19. Elas estavam a caminho do Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa da capital fluminense.

Em São Paulo, a Polícia Civil encontrou 9 metralhadoras furtadas na Estrada Municipal Emil Scaff, em São Roque, município paulista a cerca de 35 km de Barueri. As armas estavam em uma área de lamaçal.
 
Blog Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo
 
 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Supremo “ministério da segurança” agora dita regras para polícia subir o morro - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

Julgamento

 O Supremo Tribunal Federal agiu mais uma vez como Poder Executivo, mais exatamente como Ministério da Segurança Pública, ao estabelecer uma série de regras para operações policiais em favelas do Rio de Janeiro. Os ministros decidiram sobre uma ação movida pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em julgamento nesta quinta-feira (3). A polícia do Rio Janeiro já estava proibida pelo STF de subir o morro, por causa da pandemia.

Supremo
Operação policiais em comunidades do Rio de janeiro precisam seguir algumas regras estabelecidas pelo STF. -  Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Pois agora, os ministros decidiram dar ao governo do Rio um prazo de 90 dias para adotar as tais medidas a fim de que a polícia mate menos nessas operações. Vocês notaram a inversão de valores? 
Porque o povo é que deveria exigir do governo que tomasse medidas para que os bandidos, assaltantes e traficantes matassem menos. Mas não, as regras valem para a polícia.
 
A polícia não vai poder fazer diligências à noite para não perturbar o sono dos bandidos e o uso da força policial deve obedecer a proporcionalidade. 
 Mas já está desproporcional, porque o tráfico usa armamentos pesados, como granadas e metralhadoras ponto 50, com meia polegada de calibre e alto poder de fogo, maior que as armas usadas pelos policiais. Ou seja, o Supremo deveria era pedir que os bandidos obedeçam a proporcionalidade no uso da força.

Depois dessa a gente tem que convidar os ministros do Supremo para irem morar no Rio de Janeiro.

Militares seguem sem resposta

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) convidou as Forças Armadas em dezembro para participar do conselho que vai monitorar a eficácia das urnas eletrônicas e a segurança da apuração nas eleições de outubro. Os militares então pediram informações sobre procedimentos técnicos, transparência, segurança das urnas, entre outros, só que se passaram quase dois meses já e não houve nenhuma resposta. [o silêncio do TSE deixa a impressão que o convite aos militares foi uma forma de comprometer as FF AA, levando-as a se comprometerem com a tão defendida inviolabilidade das urnas eletrônicas; entendemos que  o convite deve ser dirigido, com força de requerimento, ao presidente da República, comandante supremo das Forças Armadas.]


Esse tipo de informação é importante para as Forças Armadas porque elas se preparam também para o enfrentamento de guerras cibernéticas. Aliás, eu conheço a sala de controle responsável por esse tipo de operação, já estive lá. Inclusive, tive que deixar o meu celular do lado de fora. As três forças trabalham juntas nisso porque isso é guerra moderna. Só que os militares não tiveram resposta até agora.

E a propósito dessa história, ouço falarem por aí que o Bolsonaro contou como foi que os hackers entraram nos computadores da Justiça Eleitoral em 2018 e ele não podia ter feito isso. 
Ah, não podia? 
Querem me explicar, eu como eleitor, por que eu não posso saber se o meu voto será contado com segurança ou não? 
Eu não posso saber das fragilidades do sistema eleitoral? [vale destacar que os hackers continuam invadindo sistemas de informática com elevado grau de segurança - o que mostra que TODOS os sistemas podem ser invadidos.
Exceto o do TSE. Aliás, o Brasil é o único país do planeta Terra em que colocar em dúvida a segurança do sistema de urnas eletrônicas pode até dar cadeia.  Ainda que seja apenas uma dúvida, fundamentada nas várias invasões que ocorrem por todo o mundo.]

Eu tenho que saber, sou eleitor e tenho esse direito. Todo eleitor tem o direito de saber se o seu voto será tratado com segurança ou não. Tem que haver transparência – aliás, é o que diz a Constituição. A administração pública é caracterizada entre outras coisas pela publicidade, ou seja, as coisas têm que ser tornadas públicas.

Partidos devem R$ 84 milhões aos cofres públicos; PT é disparado o maior devedor

Não ao passaporte da vacina
A Câmara de Vereadores de Garopaba (SC) está votando um projeto de lei que não só proíbe o passaporte da vacina como multa quem exigir o comprovante. Proíbe em todo o município. A medida foi tomada agora em preocupação com o início das aulas. A Constituição diz que todos devem ser tratados igualmente, sem diferença alguma, no acesso ao ensino. É o que a primeira alínea do artigo 206 diz. Está lá para quem quiser conferir.

Agora, na contramão, em Gurupi (TO), estão exigindo o passaporte. Meu Deus, mas a Constituição garante liberdade de locomoção, acesso ao trabalho, acesso às escolas.. 
Qual é o argumento a favor disso? Por favor, digam. 
Tem algum argumento que é sustentado pela razão e pelos fatos?

Sabotaram o Pacheco?
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), postou no Twitter um frase de todo o discurso feito na reabertura dos trabalhos no Congresso que diz o seguinte: "É inconcebível que pessoas passem fome no Brasil".

Eu não sei como ele não achou outra frase melhor, menos lugar comum. Acho que não foi ele. Foi algum sabotador que está colocando esse tipo de frase para deixá-lo passar por um momento risível.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

domingo, 18 de outubro de 2020

Um excesso indecente - Folha de S. Paulo

Janio de Freitas 

Ministro considerou justificada a liberação de André do Rap, que requereu habeas corpus baseado em excesso de prisão

Embate oferece controvérsia, mas STF marchou de mãos dadas contra Marco Aurélio

A indiferença da classe privilegiada pelo que se passa abaixo dela recebeu do próprio Supremo Tribunal Federal, instância quase divina da “Justiça”, mais uma autenticação. É o destino histórico, deliberado por quem pode, para a imensa maioria dos brasileiros. Com intenção fora das exigências vigentes, o Congresso alterou o tal pacote anticrime com uma medida para reduzir o número indecente de mais de 250 mil detentos em prisão nominalmente provisória, mas de fato sem prazo. Uma população abandonada, inúmeros sem culpa constatada, resultado da falta de meios para pagar advogados eficientes. Em vigor desde o final de dezembro último, a nova medida determina o reexame da prisão a cada 90 dias, para verificação da necessidade de mantê-la ou não. É claro que os reexames não são comuns.

O ministro Marco Aurélio considerou justificada liberação de um detento provisório, que requereu habeas corpus baseado em excesso de prisão, mais do que os 90 dias legais e sem o reexame que a avaliasse. Recém-empossado na presidência do STF, Luiz Fux atribuiu-se o inexistente poder de invalidar a decisão do colega. E o fez com o forte argumento de ser o detento um chefe de milícia que, solto, ameaçaria a sociedade.

Um embate, portanto, que oferece controvérsia para muito tempo, entre defensores de que a lei é igual para todos, e aplicá-la é a função do juiz; de outra parte, os que sobrepõem à lei, ao decidir, presumidas decorrências de sua aplicação —ou, não raras vezes, suas inclinações pessoais. Controvérsia, mas não para o plenário do STF, que logo marchava de mãos dadas contra Marco Aurélio Mello, como sempre. E o fez com originalidade: abraçou a opinião aplicada por Luiz Fux, mas não que a aplicasse.

Para Luiz Fux, que lembra o Fernando Henrique das exógenas e endógenas para dizer externas e internas, o tribunal nada decidiu sobre o prazo de 90 dias: tratou do “prazo nonagesimal”. Que, conforme a resolução adotada, “não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juiz competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos”.

Em que prazo? A rigor, deveria fazê-lo antes do dia “nonagesimal”, pois já no dia seguinte a prisão entra em excesso de prazo. Na lei, o prazo é tanto para o detento como para o juiz do caso. O Supremo cuidou, no entanto, de dar-lhes sentidos opostos. O do preso é fechado e dependente. O do juiz é livre, à vontade, a menos que haja intervenção do advogado nunca presente para a imensa maioria dos detidos provisórios sem meios de tê-lo.

Novo fogo 
emboscada policial que matou 12 de uma “narcomilícia” apreendeu, entre as armas que carregavam, três metralhadoras. É uma novidade. Um passo a mais.

Metralhadoras eram consideradas menos convenientes pela dificuldade de dirigir tiros mais precisos, nos confrontos. Sua utilidade estaria em ataques do tipo militar, os chamados assaltos. Se é isso que sua chegada prenuncia, não se sabe. Mas que trazem novidade, e para pior, é certo.

Nostalgias 
As restrições às armas de brinquedo, o fim dos quintais e os síndicos extinguiram, ou quase, os empolgantes enfrentamentos de mocinho e bandido. Agora as críticas se voltam para os sobreviventes enfrentamentos de azuis e vermelhos, os mocinhos e bandidos dos falsos tiroteios do pessoal do Exército. Mas saíram todos contentes: os combates vencidos pelos azuis na Amazônia correram muito bem, como nos velhos tempos.

Jânio de Freitas, jornalista - Folha de S. Paulo


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A arma pressente o homicida para o qual foi criada

Armas existem para matar.  

O metal de que é feita, a empunhadura, a mira, o peso, o equilíbrio, tudo é planejado para permitir que o usuário atinja com ela um único objetivo a morte. O argentino Jorge Luis Borges é autor d“O Punhal”, miniconto de 21 linhas incluído na “Nova Antologia Pessoal”  que parece ter sido escrito sob encomenda para comentar o decreto que facilitou a posse de armas no país.
“Os que o vêem (o punhal) têm de brincar um pouco com ele; percebe-se que há muito o buscavam; a mão se apressa em apertar o punho que a espera; a lâmina obediente e poderosa folga com precisão na bainha”.

Desde sempre as armas exercem enorme fascínio sobre as pessoas. Meninos se divertem com facas, espadas, revólveres, rifles e metralhadoras de brinquedo. Adultos acreditam que as armas os tornam poderosos e invencíveis. Matar é ato instintivo de sobrevivência. Está no DNA do homem desde o primeiro neanderthal. Por isso os que olham uma arma não se contentam em vê-la: querem tocá-la, empunhá-la. Se possível, experimentá-la.

Armas querem “derramar brusco sangue”
“O punhal outra coisa quer. É mais que uma estrutura feita de metais; os homens o pensaram e o formaram para um fim muito preciso; é, de algum modo, eterno, o punhal que na noite passada matou um homem em Tacuarembó, e os punhais que mataram César. Quer matar, quer derramar brusco sangue”.

Armas buscam, desejam e existem para a morte.
Querem “derramar brusco sangue”. Não são inofensivas. São letais porque para matar existem.
“Numa gaveta da secretária, entre borradores e cartas, interminavelmente sonha o punhal seu singelo sonho de tigre, e a mão se anima quando o dirige porque o metal se anima, o metal que em cada contato pressente o homicida para quem os homens o criaram”.

A existência de uma arma “pressente o homicida”
A facilitação da posse – e futuramente do porte – de armas segue a mesma lógica. A simples existência de uma arma “pressente o homicida” para a qual ela foi fabricada. Exatamente por isso a cada chacina de um desses lunáticos que invadem escolas e saem atirando e matando todo mundo, o governo norte-americano é pressionado a dificultar sua liberal legislação sobre a posse e porte de armas. Já outras instituições de lá como o Clube do Rifle  usam o argumento de Bolsonaro, segundo o qual “os cidadãos precisam de armas para se defender”. No duro, facilitar ao cidadão a posse é uma safadeza do governo. Como se dissesse ao cidadão: “agora que nós te demos a chance de ter tua arma, te vira! Não precisamos mais nos preocupar com isso, agora é problema teu”.

Sensação de segurança é uma coisa. Garantia é outra
Posse e porte de armas dão apenas uma sensação de segurança, nunca sua garantia. Na ampla maioria das vezes o dono da arma não sabe como usá-la numa emergência. Mesmo o treinamento oferecido nos clubes de tiro não garante essa aptidão. No máximo, melhora a pontaria. Deste ponto de vista os marginais estão mais preparados, pela prática diária no uso de armas. E se o argumento do direito de se defender for levado às últimas consequências então vamos liberar às crianças o direito de dirigir carros, em respeito ao preceito constitucional que garante a TODOS o direito de ir e vir. Ora, se para tirar uma carteira de motorista é exigido um curso e uma série de provas e testes teóricos e práticos, porque com armas deve ser diferente? A menos que se acredite que manejar uma arma seja o mesmo que ligar um liquidificador, como diz aquele ministro com nome de chuveiro.

A ocasião faz o ladrão. E também o assassino e o suicida
 [A Human Righs Watch está colhendo assinaturas para apresentação de projeto de lei de iniciativa popular, proibindo em todo o território nacional a construção de viadutos e pontes - e os existentes serão destruídos.

Todos os edificios deverão ter grades de proteção a partir do primeiro andar e com isso haverá substancial redução no número de suicídios.]
Segundo o último relatório do Human Righs WatchO Brasil bateu recorde de mortes violentas em 2017, com 63.880 casos”. Mesmo que seja doloroso admitir, nós moramos num país homicida. E daqui pra frente, com mais armas nas ruas e nas casas, será que se pode esperar uma redução? O raciocínio é muito simples: mais armas, mais mortes. Em parte alguma do mundo essa afirmação foi algum vez desmentida. [FALÁCIA: LEIA E COMPROVE
Segundo dados do site GunPolicy.Org  estima-se que existam entre 2 milhões e 3 milhões de armas de fogo em mãos civis na Suíça, cuja população é de pouco mais de 8 milhões de pessoas. 
Proporcionalmente, esse país é um dos cinco mais armados do mundo. 
Pois bem, em 2015 a Suíça registrou apenas 18 homicídios por arma de fogo.  

No caso do Paraguai, país vizinho, os números são igualmente importantes. 
O país tem quase 7 milhões de pessoas e mais de 1 milhão de armas de fogo em mãos civis. Em 2014 o Paraguai registrou 318 mortes por armas de fogo. 

Proporcionalmente, há mais armas de fogo em mãos civis no Paraguai do que no Brasil, porém há muito mais mortes por armas de fogo no Brasil do que no Paraguai.]

“Às vezes dá-me pena. Tanta dureza, tanta fé, tanta impassível ou inocente soberba, e os anos passam, inúteis”.
Assim termina o miniconto de Borges. Uma lamentação irônica, pois, se o punhal está esquecido por aí e não cumpre sua finalidade - que é matar – torna-se um objeto inútil. Tal como a frustração de alguns militares pela falta das guerras para as quais foram treinados. A liberação da posse e uso de armas, é óbvio, só pode implicar em crescimento da taxa de homicídios, suicídios, latrocínios e feminicídios, e não na sua redução. Seres humanos são tentados a usar armas pela curiosidade e atração natural que elas exercem. Tal como a ocasião faz o ladrão, a disponibilidade de armas faz o assassino e o suicida.

Vamos brincar de duelo?
Quanto ao argumento de que o povo condenou o Estatuto do Desarmamento no referendo de 2005, vale lembrar que toda vez que ocorre um crime hediondo o povo exige a instituição da pena de morte, desejo expresso em pesquisas de opinião.  Nem por isso ela chegou a ser implantada. Mas, no ritmo em que as coisas andam, não demora e avançaremos (ou retrocederemos?) até lá. Enquanto isso, que tal brincar de duelo e ver quem saca primeiro? Só que agora com armas de verdade, balas de verdade, e mortes de verdade.

Congresso em Foco

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Polícia apreende 4 metralhadoras fabricadas com impressão 3D

Armas foram encontradas durante operação contra comércio de drogas na Austrália

A polícia de Queensland, na Austrália, prendeu cinco pessoas durante uma operação contra o comércio ilegal de drogas no subúrbio de Nerang, em Gold Coast. Mas o que chamou a atenção dos agentes foi a descoberta de quatro submetralhadoras que haviam sido produzidas no local, com auxílio de computadores e impressoras 3D.


 Metralhadoras ainda passarão por exame de balística - DIVULGAÇÃO/POLÍCIA DE QUEENSLAND

A operação foi realizada na última sexta-feira, em dois endereços, mas divulgada apenas nesta semana. Em entrevista à rede local ABC, o detetive Jon Wacker afirmou que foi a primeira vez que metralhadoras produzidas em Queensland foram descobertas. Além das armas, os policiais encontraram peças, carregadores, silenciadores e todo o equipamento para a fabricação.  — Essas armas ainda passarão por análise balística — disse Wacker, destacando que elas eram semelhantes com a submetralhadora israelense Uzi. — A metralhadora Uzi pode disparar entre 500 e 600 tiros por minuto, então é muito preocupante pensar que essas armas estão sendo fabricadas aqui em Queensland.

A Operação Oscar Quantum apreendeu os armamentos num endereço em Lawrence Drive. Num outro local, em Hilldon Court, os policiais localizaram um grande laboratório clandestino capaz de produzir quantidades em escala comercial de metanfetamina. — Parte do motivo de termos realizado as incursões na sexta-feira foi porque a polícia queria interromper a distribuição de drogas antes das festas de formatura — disse Wacker.


Fonte: O Globo

 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Armas que não protegem



Para cada tentativa de defesa armada bem-sucedida contra ataque armado, 32 outras acabaram com a morte da vítima que reage
O massacre em Orlando trouxe ao debate público o uso de armas para autodefesa. O Partido Republicano logo lançou mão do slogan da National Rifle Association: “Armas não matam. Quem mata são as pessoas.” Esse é um sofisma fácil de desmontar, pois a realidade mostra que, por si só, armas não matam, nem pessoas matam. Quem mata são pessoas armadas, obviamente.

Em seguida, o candidato da NRA, Donald Trump, afirmou que “pessoas armadas na boate poderiam ter diminuído um pouco a tragédia”. Ao contrário, não teria havido tantos mortos se civis não pudessem comprar fuzis AR-15 ou se houvesse controle na entrada da boate. [detalhe: a partir do momento em que um indivíduo decide realizar uma matança indiscriminada, seja qual for a sua motivação, o fato de armas serem vendidas no comércio ou não, deixa de ter influência.

A proibição de venda de armas não impede que o indivíduo adquira a arma ou armas por outros meios.] Alega-se que quem quer matar, se não tiver arma de fogo, recorrerá a faca ou outro instrumento. É uma comparação descabida. Tentativas de homicídio com arma de fogo têm 75% de chances de sucesso, enquanto tentativas com arma branca, de apenas 36%. Por isso, atentados em escolas no Japão e China redundaram em vários feridos, e raríssimos mortos, uma vez que lá civis não têm acesso a armas de fogo.

Na boate de Orlando havia um segurança armado, que pouco pôde fazer frente ao terrorista armado de fuzil, além de pistola 9mm. Nos EUA, nos últimos cinco anos, foram vendidos para civis 1,5 milhão de fuzis de guerra AR-15 (versão para civis), que são armas semiautomáticas, quase metralhadoras.