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segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O filme proibido - Gazeta do Povo

Luciano Trigo
 
Está cada vez mais complicado escrever tendo que medir as palavras, coisa que nunca pensei que fosse precisar fazer como jornalista vivendo em uma democracia. Mas vamos lá.
 
Faca usada no atentado contra Bolsonaro em 2018, em Juiz de Fora| Foto: Reprodução

Salvo engano, esta é a primeira vez desde o fim da ditadura militar que um filme é censurado pela Justiça. O documentário “Quem mandou matar Jair Bolsonaro?”, da Brasil Paralelo, teve sua exibição proibida pelo TSE até o dia 31 de outubro, dia seguinte ao segundo turno da eleição para presidente.

Além disso, o canal da produtora no Youtube foi desmonetizado. Segundo foi noticiado, a proibição atendeu a um pedido do PT – Partido dos Trabalhadores.

Mais detalhes no vídeo abaixo, postado pela Brasil Paralelo na forma de um comunicado aos seus assinantes:

A justificativa da sentença que determinou a censura foi a seguinte: evitar que “tema reiteradamente explorado pelo candidato Jair Bolsonaro em sua campanha receba exponencial alcance, sob a roupagem de documentário que foi objeto de estratégia publicitária custeada com substanciais recursos da pessoa jurídica Brasil Paralelo”. O tema, no caso, é o atentado a faca sofrido por Bolsonaro, na cidade de Juiz de Fora, em 2018.

                                             COMUNICADO
 

Eu nem acho que a facada seja um tema reiteradamente explorado pela campanha do presidente. Mas, ainda que fosse, por que diabos a Justiça Eleitoral deveria agir para evitar que um tema explorado na campanha de um candidato recebesse exponencial alcance? 
Pelo fato de ser objeto de estratégia publicitária? 
Pela presunção antecipada de que o documentário contém fake news? Não seria recomendável assistir antes de proibir?

E que relevância tem o fato de o documentário ter sido custeado com substanciais recursos da pessoa jurídica Brasil Paralelo para embasar uma decisão tão grave e, repito, inédita desde a redemocratização do país?

Que legislação proíbe que se produza um documentário com substanciais recursos (privados, diga-se de passagem)? E que legislação se sobrepõe à liberdade de expressão garantida pela Constituição, impondo censura prévia a um filme que ninguém viu?

O estranho voto da ministra
Por tudo isso, parece que estamos diante de uma interferência que, primeiro, fere a liberdade de expressão; segundo, prejudica um candidato e beneficia outro; terceiro, sinaliza para o cidadão comum parcialidade por parte do órgão que deveria ser o fiador da neutralidade do processo eleitoral.

“Ah, mas o documentário é baseado em uma teoria da conspiração que contraria a investigação da Polícia Federal”, argumenta quem defende a censura. Não importa. Ainda que o documentário afirmasse que quem mandou matar Bolsonaro foi o Papa Francisco ou a Beyoncé, seria justificável censurá-lo previamente? 
 O problema é que sequer saberemos qual é a tese do filme até depois de fechadas as urnas – pelo simples fato de que ele está proibido.

Ninguém sabe, porque ninguém viu. Proibir depois de ver já seria algo controverso, no mínimo: o que dizer de proibir sem ver?

Curiosamente, outro documentário sobre o mesmo tema, "Bolsonaro e Adélio – Uma fakeada no coração do Brasil", sugere que a facada no então candidato Bolsonaro foi uma armação
Isso não é divulgar fake news?  
Mas esse documentário circula livremente em plataformas de streaming, sem que a Justiça Eleitoral demonstre qualquer incômodo ou preocupação.
 
Veja bem, leitor, é justo e certo que o documentário que afirma ter sido a facada uma farsa circule livremente, mesmo que a tese que ele defende soe absurda e também contrarie, aliás, a investigação da Polícia Federal.  
O que não parece certo nem justo é a liberdade de expressão só valer para um lado, muito menos o órgão responsável pela lisura do processo eleitoral passar a imagem de parcialidade.

Ou bem o documentário viola alguma lei, e a proibição neste caso deve ser permanente, ou ele não viola lei alguma – e não pode ser proibido em  momento algum

Pois bem, em seu voto ratificando a proibição do documentário, a ministra Carmen Lúcia declarou o seguinte: O caso é extremamente grave. Não se pode permitir a volta de censura sob qualquer argumento no Brasil. Esse é um caso específico. Estamos na iminência de ter o segundo turno das eleições. A proposta é a inibição até o dia 31 de outubro, dia subsequente ao segundo turno, para que não haja o comprometimento da lisura, higidez e segurança do processo eleitoral e dos direitos dos eleitores”.

Mas de que forma a livre circulação de um documentário comprometeria a lisura, higidez e segurança do processo eleitoral? Não fica claro no voto da ministra. 
Se ainda é permitido ter opinião, a mim parece que o que pode comprometer a lisura da eleição é proibir a exibição de um documentário até que se realize o segundo turno.
 
E, se não se pode permitir a volta da censura sob qualquer argumento no Brasil, por que a ministra votou a favor da proibição? 
Não parece uma contradição? 
Qual é o nexo lógico entre as palavras ("Não se pode permitir a volta da censura") e o voto (a favor da censura)? Sintoma de uma época em que as narrativas perderam totalmente a conexão com a realidade...
 
E por que o fato de a “inibição” ter prazo de validade determinado pelo calendário eleitoral tornaria a censura menos censura? 
Ora, ou bem o documentário viola alguma lei, e a proibição neste caso deve ser permanente, ou ele não viola lei alguma – e portanto não deve ser proibido em  momento algum.
Por que algo seria ilegal até 31 de outubro e passaria a ser legal a partir desta data? 

O caso do governador de Alagoas

A titulo de comparação: há pouco menos de duas semanas, a ministra do STJ – Superior Tribunal de Justiça Laurita Vaz determinou o afastamento do cargo do governador de Alagoas, Paulo Dantas, do MDB, que concorre à reeleição.

Aliado do senador Renan Calheiros e do candidato do PT à presidência, Dantas foi afastado em razão de um inquérito que apura um esquema de desvio de R$ 54 milhoes na Assembleia Legislativa do estado. A decisão da juíza, embasada em provas robustas, foi ratificada pelo plenário do STJ.

A ministra Laurita foi acusada por aliados do candidato do PT à presidência de ter agido com motivação política. Ela deveria, argumentaram, ter esperado passar a eleição antes de determinar o afastamento do governador. O argumento até pode fazer algum sentido na percepção do eleitor petista, mas a resposta da ministra é exemplar e cristalina: Se eu tivesse me curvado a essa expectativa de retardo, se tivesse, como se diz por aí, 'sentado em cima dos autos' em razão das eleições, aí sim estaria agindo com viés político porque estaria esperando fato estranho aos autos de um inquérito em regular andamento para adotar medidas cautelares necessárias e urgentes para conclusão das investigações e ainda, mais ainda, para estancar a sangria desatada do dinheiro dos cofres públicos do Estado de Alagoas".

Duas visões da Justiça
De certa forma, o encaminhamento dos dois casos – a censura ao documentário e o afastamento do governador de Alagoas – traduz duas visões paralelas da Justiça.

Na primeira visão, a Justiça deve agir de forma preventiva, proibindo a circulação de um filme em função da avaliação de que ele poderia conter fake news e beneficiar a campanha de um candidato. 
Mas como, rigorosamente, tudo em uma campanha é feito para beneficiar um candidato em detrimento do outro - inclusive pesquisas com 15% de margem de erro, que seguramente influenciaram muitos votos no primeiro turno - essa lógica cai por terra: ou então se abre um precedente para se proibir literalmente qualquer coisa.

Na segunda visão, o comportamento da Justiça não pode ser afetado por elementos estranhos a ela, como a contingência do calendário eleitoral. Inquéritos não devem ser adiados em função do risco de beneficiar um candidato e prejudicar outro - justamente porque esse adiamento, por si só, também beneficiaria um candidato e prejudicaria outro.

E, na prática, a lógica da decisão do TSE ao proibir o filme foi:“Para que esse documentário, que pode conter fake news, não beneficie um candidato, vou proibir sua exibição".

O problema é que, ao proibir, o orgão beneficia o outro candidato. 
É este o papel da justiça Eleitoral? 
Tomar uma medida drástica em função de uma hipótese?

Na segunda visão da Justiça, soa ainda mais absurda a censura com prazo de validade, porque se explicita a conexão entre a censura e a eleição.

Se um filme pode circular depois do dia 31 de outubro, por que não poderia circular antes? Se ele não pode circular antes do dia 31, por que poderá circular depois?

O problema está no conteúdo do documentário ou na possibilidade de influenciar votos? 
Mas desde quando é proibido um documentário, ou mesmo uma peça de campanha, explorar temas polêmicos em busca de votos? 
Ou a facada não existiu e tudo não passa de uma alucinação coletiva que deve ser apagada da memória?
Qual das duas visões da Justiça irá prevalecer?
 A que julga que a liberdade de expressão deve ser condicionada ao calendário eleitoral? 
A que determina que uma mesma obra artística pode ser proibida antes da eleição e liberada depois? 
A que aparenta abrir mão do papel de fiadora da isenção para assumir um lado no processo eleitoral? 
Ou a que age da mesma maneira, com efetiva neutralidade, independentemente do lado beneficiado e do calendário?

Um fantasma ronda a democracia brasileira: o fantasma da censura

É assustador que muitas pessoas achem isso normal ou minimizem a gravidade do episódio do documentário da Brasil Paralelo– ou, pior ainda, que justifiquem a censura como uma forma de defender a democracia.

Luciano Trigo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

DISCURSO DE “ÓDIO” E DISCURSO “DE AMOR”... - Adriano Marreiros

“(..) o amor é uma faca de dois legumes, a luz anal de um vagalume, que ilumina o meu sofrer”.  Tocava Mamonas no carro que saudades – e  me  lembrei dos dias atuais... É incrível o que eles são capazes de fazer por “amor”, contra o “ódio”. Estamos cercados desses pirilampos iluminados, quase uma dúzia dos grandes e vários pirilampinhos que os seguem. E como eles iluminam: quem já passou uma noite no mato sabe o quanto um vagalume deixa tudo claro,visível... É como diz a velha canção de corrida do TFM: “se você pensa que é  malandro, o vagalume é muito mais, ele acende a traseira, coisa que você não faz...”

Eu, como não sou malandro, não acendo a traseira e sequer tenho luz própria, acabo tomando decisões “erradas”, defendendo coisas “erradas”, fazendo discursos de “ódio”. Já que não sou “progressista”, defendo coisas “regressistas”, ultrapassadas, como liberdade de expressão, de ir e vir, vida do bebê na barriga da mãe e outras liberdades. Coisas como família, pátrio poder e religião
Coisas como valores, cláusulas pétreas e divisão de poderes.
 
Imagina que eu defendo o absurdo de que “não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia combinação legal!”  
Que eu defendo que não se pode passar por cima da Lei e da Constituição.  
Pior ainda: eu acredito que existe sim um Direito Natural e dele decorre que “Consideramos estas verdades como autoevidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes são vida, liberdade e busca da felicidade”.  E o mais terrível: acredito que a Liberdade é mais importante que a própria vida, pois sem aquela, esta não só não tem sentido, como ficaria a critério dos ditadores de plantão. 
 
E tudo isso é uma ingratidão com aqueles que só desejam o bem maior
Uma ingratidão com esses vagalumes que, mais que o trem vindo, são a luz no fim do túnel que ilumina o meu sofrer. 
Ingratidão é ódio, discurso de “ódio” é errado, é crime até sem lei que o defina,  e hoje recebi um castigo mais específico, mais pessoal, por ter bradado por liberdades, valores, família e outros males que devem ser extirpados da Sociedade para o bem maior, para que chegue aquele dia em que estaremos todos irmanados e repetindo os mesmos mantras, concordemos ou não, numa harmonia inefável como a intensa luz dos pirilampos que são nossos autodenominados guias seculares, hierofantes de uma nova era doismiletríntica e globalista...

Fui castigado com a rouquidão, com a afonia, com uma faringite “braba” que foi capaz de me calar, de impedir que ouçam minha voz, que me impede de falar! – Será que foram eles? Já possuem esses poderes? –  Não, nem precisam disso... Pensando bem, acho que não faria muita diferença: o combate deles ao discurso de “ódio” e às “fake” news  já tem feito o mesmo há mais de dois anos... e com mais eficiência: faringite só dura uns dias...

“como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano”

 

Chico e Gil

Quando se

 Importavam...

Publicado originalmente no excelente portal Tribuna Diária e enviado ao site pelo autor.


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Reforma agrária finalmente anda, mas agricultores denunciam que o MST é contra

 Cristina Graeml

Reforma agrária e MST

Dias atrás li aqui na Gazeta do Povo reportagem que denunciava um intrigante paradoxo: governo federal acelera concessão de títulos a produtores rurais; MST é contrário. 
Como pode o Movimento dos Sem Terra ser contrário à reforma agrária? O ocorrido é tão revelador que resolvi trazer o assunto para cá para explorar um pouco mais tamanha contradição.

Às vezes por pressa ou mesmo desinteresse não damos a devida importância para o que lemos ou ouvimos, mas este é o tipo de tema que não pode ficar à margem do noticiário ou de nossa atenção. Se não for pela gravidade da revelação, é preciso valorizar o assunto ao menos pelo lado bom. Regularização de terras para pequenos agricultores significa a superação de um problema histórico, a melhora na vida de milhares de famílias que vivem no campo, trabalhando em áreas que pertenciam à União e que antes eram ociosas. E ajudando a encher a mesa dos brasileiros que vivem nas cidades.

O assunto pode até parecer pouco interessante, mas nesses tempos em que tanto se fala de reformas fundamentais para destravar o Brasil (como a administrativa e a tributária) saber que a agrária, tão antiga, discutida por décadas e sempre deixada no fim da fila das prioridades está finalmente andando é um excelente indicador.

Não bastasse isso, ainda tem a denúncia da oposição que o MST vem fazendo à transferência dos títulos para os produtores rurais. Ir contra o que está na essência da luta do movimento, diz muito. 
O MST é mesmo social, preocupado com o homem do campo? 
Ou apenas um braço radical de partidos de esquerda, que vive longe do ambiente rural, mais preocupado em se fazer presente em atos e até coadunar com o vandalismo nas cidades?

A parte boa da notícia
A notícia publicada na Gazeta do Povo na última segunda-feira (4) revela que só nos primeiros nove meses de 2021 o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), autarquia do governo federal, entregou quase 92 mil títulos de propriedade a produtores rurais que viviam em assentamentos.

O número de regularizações de terra de janeiro a setembro deste ano já é cinco vezes maior do que no ano de 2016, o último antes da aprovação de uma lei que facilitou a regularização de terras sob domínio da União. De lá pra cá, o Incra vem conseguindo entregar mais e mais títulos de propriedade e pretende, até o fim do ano, transformar outras 40 mil famílias assentadas em proprietárias rurais.

Para um agricultor, acostumado a trabalhar duro, mas que vivia a insegurança de sequer saber se poderia deixar aquela terra para filhos e netos, ter o título de propriedade significa não só a tranquilidade de saber que pode investir no terreno sem correr o risco de perder tudo no futuro. É também a garantia de que poderá deixar uma herança para as novas gerações.

É um estímulo e tanto também para evitar o êxodo rural, a mudança dos jovens para as grandes cidades, o que sempre é um problema para o desenvolvimento da agricultura familiar, que tanto contribui para compor o carro chefe da economia brasileira.  Sendo donas da terra, as famílias tendem a mandar os filhos para se formar numa universidade, mas normalmente para recebê-los de volta como engenheiros agrônomos, veterinários ou formados em outra profissão ligada à terra para manter a propriedade produtiva. É bom para todos, inclusive para o país.

MST contra a reforma agrária
Agora vem o lado ruim da notícia, mas não menos importante. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) surgiu para pressionar governos passados a fazer avançar a prometida reforma agrária. Depois passou a ser usado como um braço de partidos políticos de esquerda, apoiando governos que, curiosamente, não priorizaram a entrega de títulos de propriedade.
 
O nome do movimento engana. Os incautos ficam na ilusão de que é uma militância a favor dos agricultores mais simples e desassistidos. 
Difícil manter esse discurso quando o MST se posiciona abertamente contra a regularização de terras que o Incra está fazendo. Segue trecho da reportagem publicada pelo jornalista Gabriel Sestrem, na editoria Vida e Cidadania. "À Gazeta do Povo, Alexandre Conceição, membro da direção nacional do MST disse que... o Titula Brasil [programa em que o governo federal distribui títulos de propriedade de terras através do Incra] cria novos entraves para a democratização do acesso à terra, priorizando a titulação e a entrega das terras públicas e incentivando a grilagem.”

Esse dirigente do MST disse mais: “Somos defensores de que o título de terras deve ser coletivo e não privado”, afirmando que o governo federal “quer acabar com a reforma agrária no Brasil”. Como assim, acabar? O governo está distribuindo títulos de propriedade, ou seja, fazendo a reforma agrária. Que discurso mais sem pé nem cabeça é esse?

Agricultores beneficiados pela reforma agrária denunciam MST
Pequenos produtores rurais ouvidos pela reportagem disseram que lideranças do MST não têm interesse na concessão dos títulos aos assentados. O produtor rural David Barbosa chegou a afirmar que, apesar de os agricultores quererem o título de propriedade, no assentamento onde ele vive os integrantes do MST tentaram convencer todo mundo que não é positivo ter o título. Muitos se deixam convencer.

David conta que as pessoas ficavam em dúvida e que era comum ele andar no assentamento e ouvir agricultores dizendo que não queriam mais o título de propriedade da terra, o que não faz nenhum sentido. A intenção do MST é clara: manipular essas famílias, que tão logo viram donas da terra não dependem mais dos movimentos sociais, deixam de ser reféns desses grupos.

“O MST usava os assentados como meio de dominação política. Era um cabresto que tinha ali sobre as pessoas, sobre cada assentado. Então o título foi justamente a faca que cortou esse cabresto. Tivemos muitos embates com a militância do movimento por isso. Não conseguíamos desenvolver as atividades no campo, entendíamos que era preciso dar um passo à frente e o título iria ajudar no processo de produção e na venda das terras. Mas nós encontrávamos essa barreira: eles nunca se movimentavam para que isso acontecesse”.

David Barbosa, agricultor

Em outra entrevista Elivaldo da Silva Costa, presidente da Associação dos Pequenos Produtores do Assentamento Rosa do Prado, no município de Prado (BA) contou que o MST tinha benefícios ao manter o controle dos assentamentos e por isso não tinha interesse na regularização das terras e na concessão dos documentos de propriedade.

Elivaldo também revelou que os agricultores precisavam trabalhar um dia por semana nas roças dos líderes do movimento, eram proibidos de votar em candidatos que as lideranças não aprovassem e eram coagidos a participar de passeatas e manifestações políticas convocadas pelos líderes.

E denunciou, ainda, que as terras do assentamento onde ele trabalhava eram sublocadas para fazendeiros e que o dinheiro não retornava em benefícios para os assentados. Isso se chama exploração de mão de obra e de mentes.

“A gente não tinha direito sobre nossa propriedade, eles é que mandavam nos nossos lotes, nas nossas vidas, em tudo. Quando o MST começou a ocupar e viu que o negócio era lucrativo, decidiram retardar esse objetivo, que era organizar a documentação e chegar ao projeto de assentamento.”

Elivaldo da Silva Costa, presidente da Associação dos Pequenos Produtores do Assentamento Rosa do Prado, em Prado (BA)

“Ter os títulos das suas terras era uma vontade popular dos assentados nas áreas de reforma agrária. Mesmo assim, vimos famílias morrerem sofrendo, sem essa documentação, sem ter o que era seu por direito”.

A Gazeta do Povo tentou contato com a direção do MST na Bahia para comentarem a respeito dos fatos apontados na matéria, mas não teve retorno. A reportagem completa pode ser lida aqui.

Gabriel Setrem, o repórter que levantou essa denúncia, tem recebido outras de assentados de várias partes do Brasil, que vem sendo até ameaçados por insistirem em lutar por títulos de propriedade. Em breve teremos mais notícias sobre o MST que não quer reforma agrária.

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 Cristina Graeml, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

SP: Família reage a assalto e mata dois ladrões que invadiram casa

 

Uma família de Campinas (SP) reagiu a um assalto e matou os dois ladrões que haviam invadido a casa no sábado (20). De acordo com o boletim de ocorrência do caso, os dois suspeitos estavam em uma moto e entraram no imóvel quando um dos moradores chegou de carro. As informações são do G1.
[para que mais manchetes como a do título sejam veiculadas, o Brasil precisa da flexibilização do porte e posse de armas - necessidade que o presidente da República está atento e só não será alcançada se os inimigos do  Brasil lograrem êxito no combate  absurdo buscando que só os bandidos tenham armas;
A família utilizou a arma de um dos bandidos e,felizmente,  teve êxito.Correu grande risco, o ideal é que as pessoas de BEM possam reagir com suas próprias armas.]
 
A dupla estava com uma faca e um revólver e rendeu o motorista, os sogros e um cunhado dele que estavam dentro da residência. Durante o assalto, as vítimas reagiram e houve uma briga com os criminosos. Os ladrões chegaram a ferir alguns familiares com a faca, mas um deles conseguiu pegar a arma branca e atingiu o ladrão com duas facadas no peito. Em seguida, o outro homem também foi ferido com uma facada no peito. O criminoso chegou a fugir da casa, mas caiu morto a alguns metros da residência.
 
Uma das vítimas acionou a Polícia Militar, que foi até a casa. Os moradores foram atendidos no hospital Beneficência Portuguesa. A perícia esteve no local, apreendeu a faca utilizada no crime e constatou as mortes por facadas.
De acordo com o delegado plantonista do 2ª Delegacia Seccional de Campinas, o caso foi registrado como homicídio simples, tentativa de roubo e excludente de ilicitude por legítima defesa. Ninguém foi preso. [Os bandidos morreram; dependesse da vontade da turma dos direitos dos manos, as vítimas que reagiram e abateram os facínoras, seriam presas, processadas e condenadas.]os bandidos o o êxito seria total

Revista IstoÉ
 
 

sábado, 17 de outubro de 2020

Polícia francesa prende suspeitos por morte de professor que mostrou caricatura de Maomé

Polícia da França prende 9 suspeitos por morte de professor que mostrou caricatura de Maomé

Entre a noite de sexta-feira (16) e a madrugada deste sábado (17), a polícia francesa prendeu mais quatro suspeitos de estarem envolvidos na morte de um professor que exibiu caricaturas de Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão em Conflans-Sainte-Honorine, cidade próxima a Paris. Ao todo, o número de detidos pelo crime subiu para nove.

+ Homem grita Allah Akbar e decapita vítima perto de Paris

Entre os presos estão dois pais de alunos do instituto onde o professor trabalhava, três pessoas próximas ao agressor, que foi morto pela polícia, e outros quatro familiares dele, sendo um menor de idade. O assassinato ocorreu três semanas após um ataque a faca na capital francesa perto da antiga sede da revista Charlie Hebdo, que publicou essas charges. A vítima foi decapitada no meio da rua, perto da escola onde ele trabalhava, por volta das 17h locais (12h no horário de Brasília).

De acordo com a polícia francesa, o homem que cometeu o crime era um russo de origem chechena, de 18 anos. Eles tentaram prendê-lo, porém ele estava agressivo e por isso teria sido necessário abrir fogo contra ele, que acabou morto. Segundo a imprensa francesa, a polícia estabeleceu um perímetro de segurança na região e especialistas em desativação de bombas foram acionados, tendo em vista que o suspeito carregava um colete que poderia conter explosivos.

IstoÉ  - Mundo

quarta-feira, 18 de março de 2020

É CHANTAGEM, SIM! - Percival Puggina.


Domingo, 15/03, retornando de Goiânia, uma substituição de voos entre Congonhas e Porto Alegre me reteve no aeroporto de São Paulo. 
De lá, escrevi a mensagem abaixo, lida aos manifestantes do Parcão na capital gaúcha.

Meus queridos! É chantagem, sim. E assim tem sido desde o início.
Engavetamento de propostas. MPs que vencem sem explicação. Projetos do governo virados do avesso
O ano de 2019 se esgotou sem que tenham votado algo tão simples quanto a prisão após a condenação em segunda instância. 
Por quê? 
Por que anunciaram que o blocão tem 300 votos? 
A quem e de quê esses votos ameaçam? Desde o início do governo tem sido uma busca desenfreada por recursos! 
Por que não se contentam com os subsídios e as verbas de gabinete? 
Por que buscam, sempre, dispor de bilhões do nosso dinheiro?

É claro que Bolsonaro entendeu o recado. O recado é o impeachment sendo urdido para alegria da grande imprensa. Esta, em seu afã cotidiano de infernizar a vida do presidente, mudou de ideia. O que antes era toma lá, dá cá, síndrome do Benedito Domingos, coisa feia, virou “autonomia do parlamento”. E quando o governo perde, a derrota recebe o nome de "incapacidade de negociação"
 Quem pode negociar direito com a faca no pescoço?

Há uma arapuca permanente, montada para enganar a população. Chega a ter luzes pulsantes em volta da porta. Em nome da “democracia” dizem que nós - NÓS? - estamos atacando às instituições. Disparate para iludirem, também, a si mesmos! Atacamos procedimentos individuais. 
Desde quando um congressista, ou muitos congressistas, são o Congresso? 
Desde quando os indivíduos eleitos significam o parlamento? 
Da mesma forma, desde quando um cidadão ou muitos cidadãos são O povo? E vale o mesmo para ministros do STF.
É chantagem sim!

A ameaça de não ter projetos aprovados é sinal de alarme para o governo. E há, sempre, um preço a pagar. Sempre um valor imenso, bilionário. Por isso o ambiente todo é de chantagem. Só não vê quem deixa de lado todos os princípios e valores quando pega o avião para Brasília. As exceções já salvaram o Brasil muitas vezes. E salvarão de novo. Há bons deputados e bons senadores, mas desafortunadamente são exceções. 
Estarmos junto das exceções, ao longo da lava-jato, em 2016, em 2018, foi salvação para nosso amado Brasil.

Lembremo-nos! Tenhamos presente. Tem sido chantagem, sim. O problema que tanto nos entristece e desconforta é termos nosso país de volta e sabermos que tantas dificuldades sobrevêm apenas porque o presidente não loteou o Estado, o governo e a administração, nem fez jorrar dinheiro em muitas mãos. Saibam: tudo já estaria resolvido numa sala fechada, se ajustado o preço a pagar por 300 unidades de voto parlamentar!
Se apoiarmos os bons e denunciarmos os maus estaremos apoiando a democracia e ajudando o Brasil. Bolsonaro não será submetido! Deus abençoe o Brasil e os brasileiros.

 Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

domingo, 24 de março de 2019

Fuja do final feliz

O Brasil despencou no ranking de felicidade da ONU. Encontra-se agora 16 posições abaixo da que estava quando Dilma Rousseff ainda era presidente. A felicidade da ONU é para os fortes.

[comentário 1: antes que algum militante petista, capacho da deputada Gleisi Hoffmann - que, para desespero dos petistas que ainda servem para alguma coisa, continua presidente do pt = perda total - atribua ao nosso presidente Bolsonaro a queda do Brasil no índice de felicidade (compensada pela ascensão no índice de infelicidade), informamos que não houve tempo hábil para Bolsonaro influir na apuração do índice publicado.
Aproveite, clique aqui, e conheça os motivos para Dilma continuar feliz.]
 
Deve estar aí a explicação para o fato de que Dilma, a feliz testa de ferro do maior assalto da história, continua solta por aí. Só pode ser a proteção invisível do escudo inexpugnável da felicidade. Desde que ela foi deposta, o bom observador notou a escalada da tristeza nacional refletida nos olhos marejados da ONU – especialmente enquanto a entidade soltava, por meio daqueles seus diligentes subcomitês, os alertas internacionais “Lula livre”.  É muito triste mesmo você usar a sua milionária máquina burocrática em favor de um ladrão simpático e absolutamente honesto – para, no final das contas, constatar que ele continua vendo o sol nascer quadrado. O novo relatório da ONU deveria trazer na capa uma epígrafe sintetizando a filosofia da esperança que nunca morre: “A chave da felicidade está logo ali, na mão do carcereiro”.

Faltou a epígrafe, mas o Brasil não tem do que se queixar em relação a essa organização amiga dos amigos, companheira dos companheiros. A ONU fez tudo que estava ao seu alcance para ver os brasileiros felizes – particularmente aquele mesmo ladrão simpático, picareta do coração, que quando ainda não estava em situação de xadrez andou se encontrando por aí com uns ovos voadores muito mal-educados.  Foi quando Dilma, a nossa última musa da felicidade, alertou a ONU com uma sagacidade quase profética: o ônibus do Lula ia passar por uma área perigosa do Paraná e ela estava preocupada com o que poderia acontecer… Vejam o que é a intuição de uma mulher sapiens. Não deu outra: em lugar dos ovos, tiros atingiram um ônibus da caravana petista – não o que levava o ex-presidente, por coincidência – e mesmo ninguém sabendo dizer onde, quando, por que ou como aquilo aconteceu, a ONU avisou ao mundo, praticamente em tempo real, que tentaram matar o Lula.

O atentado mais misterioso da história, sem uma única testemunha, virou manchete no mundo inteiro como uma ameaça à democracia brasileira em ano de eleição presidencial. No centro de tudo, a vítima das vítimas, o pobre milionário mais querido do planeta, o filho do Brasil e enteado da ONU que queria ser candidato para não ser preso. Cada um com seu projeto de felicidade. Durante a eleição, um dos adversários do PT, mais especificamente o candidato que liderava as pesquisas, foi esfaqueado em praça pública. Dessa vez, a testemunha do atentado era todo mundo – dava até para ver a lâmina entrando e saindo da barriga por vários ângulos. Mas a tentativa de assassinato deve ter coincidido com o dia de folga da ONU: ela só foi se manifestar sobre o assunto umas 24 horas depois, dizendo basicamente que aquilo não se faz (poderia pelo menos ter explicado que lugar de faca é na cozinha, mesmo que isso não esteja previsto na Convenção de Genebra).

Estardalhaço em tempo real não é para qualquer um – só com amor de mãe e aviso da Dilma, a musa da felicidade.  Vale dizer, a propósito, que depois do impeachment a ONU virou uma espécie de testemunha ocular da infelicidade brasileira. Reforma trabalhista acabando com a mamata dos sindicatos? Não interessa. Segundo a ONU, um golpe elitista e autoritário nos direitos do trabalhador. Medida de controle fiscal para acabar com a orgia contábil do PT? Nada disso: segundo a ONU, a PEC do Fim do Mundo ia deixar crianças com fome nas escolas da periferia. [comentário 2: a Liga das Nações foi extinta; extinguir a ONU não chega a ser um absurdo -  antes que digam,  esclarecemos que Bolsonaro não tem nada a ver com este comentário;


qual a valia atual da ONU?
decisões de importância não são adotadas, já que são passiveis do veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Alguns exemplos:
- quando são propostas sanções para acabar com a guerra civil na Síria, a Rússia veta; 

- sanções mais severas contra a Coreia do Norte (agora que o 'romance'  Trump x ditador  Kim Jong-un foi para o espaço) não adianta, já que a China veta;

- aplicar sanções contra  Israel para que pare de assassinar civis palestinos, desarmados na Faixa de Gaza, não adiantam propor, visto que os Estados Unidos vetam;

- ação da ONU para intervir na Venezuela também não funciona, a Rússia Veta.

Dos exemplos, existem dezenas de outros, se percebe que com ONU ou sem ONU as coisas continuam tal como dantes no quartel de Abrantes.
 
Como não amar uma entidade dessas, tão dedicada a cuidar incondicionalmente da felicidade dos seus pilantras de estimação? O que mais pode desejar um povo do que ser roubado por gente com boas conexões em Nova York, onde não se perde a ternura jamais?  O que terminou de azedar a situação do Brasil no ranking foi a retirada do apoio ao ditador gente boa da Venezuela (cujo massacre a ONU nunca viu mais gordo) e a turnê fracassada de um exilado profissional do PSOL – estrela cadente da agência internacional de felicidade.

Se os brasileiros fizerem a reforma da Previdência e tirarem suas contas do buraco, provavelmente serão diagnosticados no ranking da ONU com depressão profunda. O jeito é continuar fugindo do final feliz.


Guilherme Fiúza - Gazeta do Povo


sábado, 16 de março de 2019

Professor armado com besta invade Secretaria de Educação do DF e é preso

Governador em exercício afastou o profissional, que chegou até o andar onde despacha o secretário Rafael Parente, com quem tentou se encontrar

Um professor entrou armado com uma besta na sede da Secretaria de Educação do Distrito Federal na manhã desta sexta-feira, 15, mas foi preso por policiais e nenhum incidente foi registrado. A informação foi confirmada pela assessoria do órgão. O governador em exercício, Paco Britto (Avante), determinou o afastamento imediato do professor.

De acordo com a secretaria, além da besta, equipamento que lança flechas e foi uma das armas usadas no ataque à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), nesta semana, o homem portava uma faca.  O professor chegou a subir até a assessoria do gabinete do secretário de Educação, Rafael Parente, que fica no 12º andar do prédio da secretaria localizado no Setor Bancário Norte, região central de Brasília. No entanto, funcionários perceberam o cabo da besta para fora da mochila que carregava e logo chamaram a Polícia Militar.

“Dois policiais chegaram rapidamente e o renderam”, diz a secretaria em nota. O caso foi registrado na 5ª Delegacia de Polícia. Pelo Twitter, o secretário Rafael Parente confirmou a ocorrência. “É fato que um homem entrou armado na Sede I agora. Ele já foi preso e não conseguiu agir”, escreveu.

Parente também divulgou na rede social a determinação do governador em exercício, Paco Britto, de afastar o professor. “Secretário, determino o afastamento imediato e abertura de PAD do professor que entrou armado (divulgado na imprensa) na SEDE I”, diz a determinação assinada por Britto.

Veja e CB

 

sábado, 13 de outubro de 2018

A mente de Adélio Bispo, o homem que esfaqueou Bolsonaro e "comunicava-se" com Lula - Mensagens de um atentado




A intolerância por trás da mente doentia do homem que ouvia a voz de Deus, “comunicava-se” com Lula e, por muito pouco, não mudou o rumo da história


DESEJO DE MATAR - Oliveira disse que atacou Bolsonaro, entre outras coisas, por “divergências ideológicas” com o candidato (//Reprodução)
 




No dia 1º de setembro, o garçom Adélio Bispo de Oliveira abriu sua página no Facebook e enviou a seguinte mensagem a Jair Bolsonaro: “Espero que esta sua valentia realmente exista no dia em que você me vê (sic)”. Num português claudicante, Bolsonaro é chamado de “marionete do capitalismo” e de “bonequinha de Washington”. Por fim, o garçom faz uma ameaça: “Vc merece tomar um tia (tiro) nesta cabeça de b… q vc tem”. Cinco dias depois dessa mensagem, Oliveira provou que não estava blefando. Ele foi ao encontro do candidato em Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, e tentou matá-lo com uma facada no abdômen. Preso, disse que praticara o crime em razão de suas divergências ideológicas e religiosas com o candidato do PSL — sobretudo por causa do discurso “racista e antissemita” do deputado.



Cinco meses antes de atacar Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira também enviou mensagens ao ex-presidente Lula. Em uma delas, manifestou seu apoio à candidatura do petista. “Se estão tentando barra (sic) sua candidatura, claro que é pq sabem dos riscos de se perder o poder em uma disputa democrática”, escreveu. O texto foi postado na página do Facebook chamada Lula Oficial. O título da mensagem era: “Adelio Bispo de Oliveira para Lula Presidente 2018”. Em seu comentário, o garçom fez um apelo ao ex-presidente: “O mundo comunista e até parte do mundo capitalista te agradeceria se vc escrevesse sua biografia e colocasse claramente os elos de ligações entre seus inimigos e a maldita maçonaria (sic)”. E alertou o petista para tomar cuidado com uma conspiração: “E verá que não são meramente homens que se declaram (…) seus inimigos, mas um sistema nazista secreto que existe no Brasil já a (sic) muito tempo”. Ao final, desejou sorte ao ex-presidente.



O garçom também enviou três mensagens à presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann. Numa delas, de março deste ano, deu palpites sobre a escolha do candidato petista a presidente: “Caso Lula não venha realmente concorrer, espero vê (sic) vc na disputa, segunda alternativa o Mercante (refere-se a Aloizio Mercadante)”. E “alertou” para o fato de que, assim que as candidaturas fossem anunciadas, haveria uma caçada aos candidatos ordenada pelo juiz Sergio Moro e por “toda a maçonaria”. Oliveira ainda se opôs à possibilidade de uma aliança do PT com o candidato Ciro Gomes, do PDT, hipótese discutida na pré-campanha. Disse que Jaques Wagner estava “equivocado” quando pedia que o PT cedesse, pois, no seu raciocínio, o partido cedeu ao chegar ao poder “e deu no que deu”.

A aparente proximidade com o PT, a ameaça encaminhada a Bolsonaro e o apoio a Lula, que na época do crime ainda era o candidato oficial do PT à Presidência da República, poderiam sugerir uma relação de causa e consequência quando se busca compreender a motivação do atentado. Em vez disso, as mensagens são apenas o retrato doloroso de uma mente perturbada, pois elas nem sequer chegaram aos pretensos destinatários. Durante as investigações, a Polícia Federal quebrou o sigilo telemático do garçom e encontrou suas mensagens endereçadas a Bolsonaro e a Lula. Só que os perfis com os quais Oliveira se comunicava — “Jair Messias Bolsonaro” e “Lula Oficial” — são falsos e, portanto, não pertencem a nenhum dos dois



A polícia concluiu que Oliveira tentou matar Jair Bolsonaro sem a ajuda de outras pessoas. VEJA teve acesso à íntegra do inquérito que investigou a tentativa de assassinato. São 567 páginas de depoimentos, laudos e informações que reconstituem os passos de Oliveira desde o momento em que ele teria tomado a decisão de tirar a vida do candidato do PSL até o instante em que o atacou.

O crime começou a se materializar com uma coincidência. Oliveira estava em Juiz de Fora à procura de emprego quando soube pelos jornais que o deputado faria campanha na cidade. Segundo ele, já havia algum tempo que “vozes” o instruíam sobre o que precisava ser feito. Era a oportunidade perfeita para atender às instruções que ouvia mentalmente. Dois dias antes da visita, o garçom começou a fotografar e filmar lugares por onde provavelmente o presidenciável passaria. Os policiais encontraram em seu celular imagens da Câmara Municipal, da praça central e de um hotel, roteiros previstos na agenda de Bolsonaro. Para cometer o crime, ele escolheu uma faca de cerca de 30 centímetros de um jogo de duas peças que comprara em Florianópolis, Santa Catarina. Sua intenção inicial, como escreveu na mensagem, era matar o candidato com um tiro na cabeça. Chegou até a treinar os disparos, mas, como não havia tempo nem tinha dinheiro para comprar um revólver, optou por uma solução mais simples.



Com tudo esquematizado em sua mente, Oliveira partiu para a execução do plano às 10h08 de 6 de setembro. Naquele momento, deixou a pensão onde estava hospedado, foi até uma lan house no centro da cidade e acessou sua conta no Facebook. Vinte minutos depois, deixou a loja e rumou para o lugar onde Bolsonaro começaria a cumprir sua agenda na cidade. Passava do meio-dia quando Oliveira chegou a um shopping, a 100 metros do hotel onde o candidato do PSL almoçava com empresários locais. O garçom gravou vídeos do hall de entrada, da reunião dos apoiadores do candidato e exibiu até o jornal que, mais tarde, usou para esconder a arma do crime. Para não chamar atenção, ele se juntou a um grupo de manifestantes que protestava em frente ao hotel. Às 15h12, menos de vinte minutos antes do crime, gravou as últimas imagens, que mostram o instante em que tentava se aproximar do presidenciável — Bolsonaro, nesse momento, já estava nos ombros dos apoiadores. O vídeo tem apenas cinco segundos.

A partir daí, para reconstituir o atentado, a Polícia Federal analisou mais de 150 horas de imagens feitas por manifestantes ou gravadas por dezoito câmeras de segurança instaladas em dez pontos do trajeto feito por Bolsonaro no centro de Juiz de Fora. Minutos antes do ataque, o candidato do PSL chegou à Praça Halfeld, acenou para os militantes e se dirigiu à escadaria da Câmara Municipal. A manifestação seguiu adiante, com o candidato sendo carregado pelos militantes. A cada passo, Adélio tentava se aproximar mais de seu alvo, buscando a melhor oportunidade para atacá-lo, já com o jornal numa das mãos escondendo a faca. Para forçar a aproximação, dizia que queria tirar uma foto de Bolsonaro e até gritava frases de apoio ao presidenciável — protegido por um cordão de quase vinte seguranças. Após várias tentativas, Oliveira conseguiu furar o cerco e atingir Bolsonaro com a faca.


Crimes assim naturalmente alimentam teorias de conspiração. Mas afinal por que Oliveira quis matar Bolsonaro? As explicações foram apresentadas em três depoimentos prestados por ele à Polícia Federal. No último deles, gravado em vídeo onze dias depois do crime, Adélio reafirma que praticou o atentado por motivos ideológicos e religiosos e também “respondendo às ameaças que ele (Bolsonaro) tem feito, pelas ideologias que ele acredita, por ameaças de morte a pessoas” (veja o quadro abaixo). A Polícia Federal concluiu a primeira parte da investigação, conduzida pelo delegado Rodrigo Morais Fernandes, e constatou que no dia do ataque Oliveira agiu por conta própria. Acusado de cometer crime contra a segurança nacional, ele poderá ser condenado a até dez anos de prisão. Por precaução, um segundo inquérito foi instaurado, para apurar se houve alguma conspiração, se outras pessoas participaram do atentado ou o influenciaram, incluindo suspeitas sobre o envolvimento de uma organização criminosa. Preocupada com o acirramento da disputa no segundo turno das eleições, a PF também reforçou a segurança dos candidatos, que agora contarão com uma escolta de 35 agentes, e intensificou a vigilância sobre as redes sociais.

(...)


MOTIVO DO ATENTADO
“Por divergências ideológicas e respondendo às ameaças que ele tem feito, pelas ideologias que ele acredita, por ameaças de morte… contra pessoas que têm ideologias diferentes das dele. Dos muitos discursos. Discursos racistas, quando fala de negros, quando fala de quilombolas. Tem muita coisa. Tem discursos antissemitas. A gente já ouviu o discurso dele. Discursos contra o povo árabe, basicamente como se todos fossem terroristas, como se o Brasil não pudesse ter relacionamento com o povo árabe, enquanto temos um árabe governando o país, um libanês (refere-se a Michel Temer).”

O PLANEJAMENTO
“A responsabilidade é inteiramente minha, de mais ninguém. (…) Me veio à cabeça. Quando vi nos jornais que ele estaria (em Juiz de Fora). Dois, três dias antes, eu acho. Nem acreditei. Já estava em cima. Resolvi jogar na loteria, digamos assim. Talvez eu conseguisse, talvez eu não conseguisse (atacar Bolsonaro).”

EM NOME DA RELIGIÃO
“Essa é a segunda razão pela qual eu fiz. Esse bom Deus, esse meu Deus que me ordenou a fazer. O Bolsonaro… Ele é um impostor. É meio cristão, mas não é cristão… Está tentando puxar o público evangélico, recrutar os evangélicos para ser o presidente da República, mas ele é um impostor infiltrado pela maçonaria no meio protestante. Ele não tem nada… Basta fazer uma pergunta para ele em relação à Bíblia.”

A ARMA DO CRIME
“Parte de um jogo que comprei, para uso doméstico. Tentei levá-la comigo (refere-se à faca), escondida no corpo, escondida na roupa. Tava enrolada num papel de jornal.”

NA HORA H
“Um pouco antes, sim (refere-se ao fato de ter ouvido vozes), mas teve um momento que eu quase desisti porque achei que seria impossível a aproximação. Era impossível se aproximar. Quase desisti.”


Colaboraram Laryssa Borges e Hugo Marques
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604


Edição da semana 2604 10/10/2018
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