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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A KGB do governo Lula (parte 2) - Revista Oeste

Silvio Navarro

 

Flávio Dino coloca a Polícia Federal para investigar o governador Tarcísio de Freitas, divide a própria corporação e dá sinais de fraqueza no cargo

Nesta semana, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que o ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) mandou a Polícia Federal investigar o governador do maior Estado do país, Tarcísio de Freitas. 
Segundo a reportagem, desde junho o governador paulista é o principal alvo de um inquérito sobre um tiroteio ocorrido numa favela durante a campanha eleitoral do ano passado. 
O caso foi apurado e concluído pela Justiça Eleitoral e pela polícia paulista há tempos
O próprio jornal informou que a corporação não achou nenhum motivo para a abertura de um novo inquérito. 
Mas a KGB do governo Lula continua em ação.

Oeste conversou com integrantes do Palácio dos Bandeirantes e da polícia paulista, que buscaram informações sobre o caso. Para eles, não há dúvidas de que se trata de uma tentativa de intimidação, nos mesmos moldes que Dino tem usado para perseguir adversários políticos — e Tarcísio desponta como principal nome da oposição depois da inelegibilidade de Jair Bolsonaro
Além de não haver fato novo para abertura de outra investigação, muito menos o episódio antigo requer o envolvimento da Polícia Federal.

O documento que determinou a abertura do inquérito, assinado pelo delegado Eduardo Hiroshi Yamanaka, da Polícia Federal, é completamente vago.  
O texto pede a apuração de uma eventual violação do Código Eleitoral. 
A eleição acabou há um ano, e o caso já foi julgado — Tarcísio foi absolvido.  
O despacho deixa uma enorme lacuna redigida exatamente assim: apurar “outras violações que, porventura, forem constatadas no curso da investigação”. Não responde, contudo, do que trata a investigação inicial. 
Aos fatos: no dia 17 de outubro do ano passado, um homem de 27 anos, com duas passagens pela polícia, morreu durante uma troca de tiros na Favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. 
Naquele horário, Tarcísio de Freitas cumpria agenda de campanha no Polo Universitário da favela. 
Estava cercado de jornalistas de dezenas de veículos de imprensa. 
A equipe do então candidato e os jornalistas precisaram se esconder e depois foram retirados do local às pressas. 
O Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) investigou e concluiu o caso: um bandido foi morto ao disparar contra a polícia, que reagiu.

Desde então, há uma gritaria enorme de grupos de esquerda — como o Tortura Nunca Mais, que acionou o Ministério Público —, do PT, do Psol, do deputado Guilherme Boulos e de todas as entidades que acusaram a Polícia Militar de atirar contra moradores da favela que passeavam na garupa de motocicletas. Um detalhe: eles estavam armados e em bando.

A resposta do Palácio dos Bandeirantes à notícia foi direta: se o caso já foi julgado pela Justiça Eleitoral, encerrado pela polícia e não há fato novo, qual é a justificativa de Dino para acionar a Polícia Federal agora? “A Justiça Eleitoral realizou julgamento sobre o episódio em Paraisópolis e, após a manifestação do Ministério Público, oitiva de testemunhas e colheita de provas, foi concluído de forma unânime que o episódio tratou-se de uma ocorrência policial, sem qualquer ingerência política ou eleitoral”, disse o governo paulista em nota. “Uma vez que não há fato novo, não haveria outra questão a ser averiguada no inquérito da Polícia Federal mencionado.”
Mesmo sem nenhuma prova, Flávio Dino alimenta a tese de que Tarcísio forjou um atentado para se beneficiar eleitoralmente — ele derrotou o petista Fernando Haddad. A única “prova” do ministro comunista apresentada até hoje é o tuíte abaixo, no qual Tarcísio escreveu: “Fomos atacados por criminosos”.

Em primeiro lugar, estamos todos bem. Durante visita ao 1o Polo Universitário de Paraisópolis, fomos atacados por criminosos. Nossa equipe de segurança foi reforçada rapidamente com atuação brilhante da @PMESP. Um bandido foi baleado. Estamos apurando detalhes sobre a situação.— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) October 17, 2022

Nesse novo inquérito da PF, também aparece uma conversa entre um cinegrafista da Jovem Pan e um ex-assessor da campanha de Tarcísio sobre imagens apagadas no dia do tiroteio. 
A tese é de que a Polícia Militar teria atirado contra moradores para fingir um ataque ou de que um integrante da segurança de Tarcísio teria sido o autor do disparo fatal. 
Na ocasião, um agente da própria Polícia Federal, Danilo Campetti, também participava da segurança do candidato. 
Como estava armado e de folga naquela data, chegou a ser investigado e também foi absolvido no mesmo processo pela Justiça.

Fato é que, ao forçar o envolvimento da Polícia Federal
, o ministro espera encontrar qualquer coisa, como o próprio despacho do delegado deixa claro, para reabrir o caso nas cortes superiores em Brasília, onde tem aliados. 
Houve um desentendimento na própria Polícia Federal em São Paulo e com a Polícia Civil. 
A Corregedoria da PF afirmou que o episódio aconteceu quando ele era candidato, ou seja, a competência é exclusiva da Justiça Eleitoral, conforme jurisprudência do próprio Supremo Tribunal Federal (STF). 
Outra ala da PF, ligada a Flávio Dino, quer tirar o caso da seara eleitoral.

Na capital federal, Dino conseguiu trocar todos os comandos das delegacias e superintendências estaduais, principalmente das divisões de inteligência. Na quarta-feira, 25, por exemplo, levou o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, para escoltá-lo na audiência na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.

Outro nome de estrita confiança é o chefe da Polícia Rodoviária Federal, Antônio Fernando Oliveira, que tem foto nas redes sociais usando quepe e fumando charuto, em alusão ao ditador cubano Fidel Castro. Dino também tem fotos similares nas redes durante blocos carnavalescos.

No ministério, quem dá as cartas é o seu trio de amigos: o número dois da pasta, Ricardo Capelli, militante da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do PCdoB; o ex-deputado petista Wadih Damous (secretário dos Direitos do Consumidor); e o ex-advogado da Odebrecht na Lava Jato, Augusto de Arruda Botelho (secretário Nacional de Justiça). Outro braço aliado é Rafael Velasco, secretário de Políticas Penais, um entusiasta do desencarceramento em massa no Brasil, com quem Dino trabalhava no Maranhão.Antônio Fernando Oliveira, chefe da Polícia Rodoviária Federal | Foto: Reprodução/Facebook
 
 
O ministro da Justiça, Flávio Dino [ao centro], posa ao lado de foliões, no Carnaval de São Luís (MA, 18/2/2023) | Foto: Reprodução/Instagram
 
Desgaste
Depois de dez meses de intensa exposição
, Flávio Dino foi à Câmara nesta semana enfrentando o primeiro desgaste real na cadeira. 
O principal motivo é a falta de um programa para a área da segurança pública, que registra cenas caóticas na Bahia e no Rio de Janeiro. 
Os dois Estados são calcanhares para o comunista: a Bahia é governada pelo PT há 16 anos, e qualquer crítica dele à gestão estadual termina em confusão com o partido do presidente. No caso do Rio, ele até agora não conseguiu explicar a visita à Favela da Maré, reduto do tráfico de drogas, quase sem escolta.
“Não sei por que há esse preconceito abjeto com um bairro do Rio de Janeiro. Os críticos deveriam assumir que não gostam de pobres, não gostam de povo”, afirmou o ministro nesta quarta-feira, em sessão marcada por confusão e intenso bate-boca.

As faltas sucessivas a audiências públicas e o sumiço das imagens do Ministério da Justiça no dia 8 de janeiro — imagens que foram requisitadas pela CPMI — deixaram parlamentares de várias bancadas engasgados

Ele só foi à audiência na quarta-feira porque havia faltado — de novo — a uma convocação no dia anterior. Enviou um ofício ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), alegando ​​“falta de capacidade e de isenção” dos integrantes da Comissão de Segurança Pública. No documento, afirmou que havia “elevado risco de agressões físicas e morais, inclusive com ameaças de uso de arma de fogo”. A oposição questionou se ele achava que poderia levar um tiro durante a sessão, mas ele não respondeu.

A péssima relação com o Congresso é exatamente o outro ponto de desgaste à frente do ministério. 
O maranhense foi eleito senador no ano passado, mas não assumiu o mandato. 
Não mantém contato com as grandes frentes temáticas — nem com a da agropecuária nem com a cristã (composta de evangélicos e católicos), além da rejeição da bancada da bala. Juntas, essas três bancadas detêm mais da metade do Congresso.

As faltas sucessivas a audiências públicas e o sumiço das imagens do Ministério da Justiça no dia 8 de janeiro — imagens que foram requisitadas pela CPMI — deixaram parlamentares de várias bancadas engasgados. É unânime a avaliação de que, se sua aposta pela vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF) naufragar ou se ele perder o ministério, terá vida dura no Legislativo.
 
Sobre a pasta, nesta semana o presidente Lula admitiu pela primeira vez que deverá desmembrá-la. Provavelmente, Dino ficará somente com a Justiça. O PT quer assumir a área da segurança pública para justamente tirar o protagonismo político do ministro e aplacar crises no Nordeste, como na Bahia e no Rio Grande do Norte, Estados que foram tomados pelo crime organizado. “Esse debate tem décadas”, afirmou Dino. “O Ministério da Justiça tem 201 anos. Nesses 201 anos, em 200 anos ele foi integrado, e em um ano houve essa separação. Minha posição técnica é bastante conhecida. O presidente Lula não tocou nesse assunto. Na minha ótica, não é prioridade no momento.”

Quem acompanhou a agenda do ministro no Congresso pôde notar claramente a falta de apoio dos parlamentares. Já não é recebido com a mesma festa. Os tapinhas nas costas sumiram. Não dá um passo sem a escolta pesada de policiais. Dino ainda é o chefe da KGB do governo Lula. Mas parece estar a cada dia mais solitário.
 
 
 

Por que os governos são os culpados pela inflação – e deveriam responder criminalmente por isso - Ricardo M. Rojas

 Autor agentino explica por que a definição de inflação como "aumento dos preços" contém um erro que custou caro às sociedades modernas.
Autor agentino explica por que a definição de inflação como “aumento dos preços” contém um erro que custou caro às sociedades modernas| Foto: Unsplash

No último século, a inflação tem sido tema de intensa discussão em vários países do mundo. Políticos, analistas e jornalistas falam de inflação veementemente, porém sempre referindo-se a alguma taxa média de aumento de determinados preços.

Essa forma de inflação é equivocada por vários motivos:

1. Porque, tecnicamente, a inflação não é o aumento dos preços. O aumento dos preços é uma consequência direta da inflação.  Inclusive, tecnicamente pode haver inflação até mesmo sem que os preços subam.

2. Porque os preços sobem e descem circunstancialmente por muitos motivos não relacionados à inflação. Em suma, todos os preços – incluindo o do dinheiro – estão em constante movimento de acordo com múltiplos fatores que influenciam a oferta e a demanda.

3. Porque a escolha de um punhado de produtos, por mais  importantes e genéricos que sejam, normalmente é arbitrária e gera diferentes resultados dependendo dos produtos selecionados. Essa forma de "medir a inflação" não resulta da ignorância, mas geralmente é a maneira pela qual os governos tendem a distrair as pessoas com suas estatísticas e manipular os resultados.

Ainda assim, e apesar disso, em todo o mundo fala-se de inflação nesse sentido, e são feitos cálculos, projeções e previsões, sob o auspício dos políticos, que estão prontos para ajudar a espalhar a confusão a fim de afastarem-se da própria responsabilidade em um fato do qual eles são os únicos culpados.

A verdade é que a inflação é o aumento da quantidade de dinheiro – o que "infla" é o dinheiro, não os preços –, e o único que pode produzir esse efeito nos atuais regimes de moeda fiduciária, criado e imposto monopolisticamente pela legislação, é o próprio governo.

Em tempos de padrões monetários vinculados a determinados bens de uso comum, a quantidade de dinheiro era regulada por mecanismos de mercado sem interferência do Estado. A partir da escolha de certos metais preciosos, surgiu a oportunidade para intervenção estatal por meio da cunhagem de moedas, cujo monopólio os monarcas justificavam com a necessidade de garantir a quantidade e a qualidade do metal de cada unidade monetária.

Mas, como veremos adiante, isso acabou sendo apenas uma desculpa para degradar a qualidade das moedas com o objetivo de aumentar sua quantidade e financiar suas próprias despesas. A inflação, como fenômeno político generalizado, tem sua origem nessas manobras dos governantes sobre as moedas que cunhavam.

Há mais de um século, em uma época em que o padrão-ouro cambaleava devido à intervenção de Estados que suspendiam a conversibilidade da moeda para usar o ouro nas despesas de guerra, Ludwig von Mises, alertou o seguinte:

Em um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção, nenhuma regulação governamental pode alterar os termos de troca, exceto se modificar os fatores que os determinam.

Reis e repúblicas recusaram-se repetidamente a reconhecer esse fato. O edito do imperador romano Diocleciano de pretiss rerum venalium ["sobre os preços dos allimentos", publicado no ano 301 e que buscava a reestruturação do sistema de cunhagem de moedas, além de determinar um congelamento de salários e preços de vários tipos de bens, especialmente alimentos], as regulações de preços na Idade Média e os preços máximos na Revolução Francesa são os exemplos mais conhecidos do fracasso da interferência  autoritária no mercado. Em um Estado que deixa a produção e a distribuição para as empresas privadas, tais medidas não podem outra coisa a não ser falhar.

O conceito de moeda como uma criação do Direito e do Estado é claramente insustentável. Nenhum fenômeno do mercado o justifica. Atribuir ao Estado o poder de ditar as leis de intercâmbio é ignorar os princípios fundamentais das sociedades que utilizam dinheiro.

O abandono dos padrões monetários baseados em bens físicos – principalmente o padrão-ouro –, e sua substituição por cédulas impressas que o Estado emite de forma monopolista, obriga as pessoas a utilizá-las pelo curso legal e forçado [uso regulamentado por lei e obrigatório, respectivamente, da moeda estabelecida por lei em determinado país], colocou o dinheiro em risco. A generalização de situações de alta inflação que se viu muitas vezes em boa parte do mundo no século XX e até agora, no século XXI, deve-se aos excessos causados por esse monopólio estatal de emissão desses papéis chamados "dinheiro" e a falta de controle efetivo sobre quem pode produzi-los.

Como apontou Friedrich Hayek, os governos nunca utilizaram seu poder para fornecer uma moeda aceitável e evitaram cometer grandes abusos apenas durante a manutenção do padrão-ouro. Uma vez libertos das restrições impostas pela quantidade restrita de metal, eles cometiam todo tipo de descalabro pelo manuseio discricionário do dinheiro de papel.

Por meio desse mecanismo, se produz uma agressão generalizada ao direito de propriedade. O Estado monopoliza a gestão monetária, emite moeda de curso forçado que as pessoas devem obrigatoriamente usar nas suas transações e, ao mesmo tempo, vai reduzindo seu valor ao aumentar sua quantidade. Na prática, esse processo equivale a roubar de cada pessoa uma quantia de dinheiro que ela carrega no bolso, sem que ela perceba.

O problema torna-se complexo porque a relação existente entre preço e moeda é tão próxima que, às vezes, é difícil diferenciá-los e a inflação tende a ser interpretada como o aumento dos preços, e não como o aumento da quantidade de dinheiro. No entanto, apontar claramente essa diferença é algo extremamente necessário para identificarmos quem é o verdadeiro culpado pela inflação; pois considerar o aumento de preços como inflação não é um erro inocente, mas um meio de desviar a atenção das pessoas, tirando o foco dos próprios governantes e depositando-o nos comerciantes, banqueiros e conspiradores.

Não há queixa mais difundida do que a que tem por objeto o "alto custo de vida". Nenhuma geração deixou de expressar seu descontentamento com os "tempos caros" em que viveram. Mas o fato de que "tudo" se torna mais caro ao longo do tempo simplesmente corresponde à queda objetiva do valor de troca da moeda. [Ludwig von Mises, em 'Theorie des Geldes und der Umlaufsmittel' (1912)]

Essa conversa fiada que os políticos usam para esconder a causa da inflação teve bastante sucesso no mundo todo e se intensificou pela propensão das pessoas em colocar seus direitos nas mãos do governo e esperar que seja ele quem resolva todos os problemas. Nesse aspecto dizia Hans Sennholtz (1922-2007), em 1978, sobre os efeitos da inflação nos Estados Unidos:

Nossa era é de inflação. Durante nossa vida, todas as moedas sofreram depreciações importantes. Em termos do dólar do consumidor de 1933, hoje fazemos compras com dólares que valem apenas vinte centavos; em termos da construção civil, tão vital para os negócios, compramos materiais e mão de obra com dólares que valem apenas seis ou até cinco centavos. Embora, talvez, as autoridades não tenham tido a intenção explícita de inflar a moeda, seus sintomas e consequências são igualmente graves e reais. A inflação corrói a poupança das pessoas e sua confiança nos próprios recursos à medida que, gradualmente, corrói suas economias.

Ao beneficiar os devedores às custas dos credores, cria um fluxo maciço de receitas e perdas injustas. Consome o capital produtivo e destrói a classe média que investe em instrumentos monetários. Produz os chamados ciclos econômicos, os movimentos comerciais de euforia e crise que prejudicam milhões de pessoas. Convida o governo a fazer uso do controle de preços e salários e outras políticas restritivas que impedem a liberdade e as atividades individuais. Em suma, a inflação produz catástrofes econômicas e desordens sociais e, em geral, corrói a fibra moral e social da sociedade livre.

Não há dúvida de que todo verdadeiro norte-americano deseja sinceramente deter a inflação e salvar o dólar. Mas a dificuldade provém da adesão do público àquelas políticas que são diretamente inflacionárias ou que exigem a emissão de moeda. A forma como as pessoas condenam publicamente as consequências dessas políticas é incongruente. É semelhante à confissão pública de pecados que se faz nas igrejas aos domingos de manhã. O padre recita a confissão, a congregação o acompanha em voz alta e depois seus membros retornam para suas casas para continuar pecando.

O presidente denuncia a inflação na segunda-feira e, na terça-feira, aprova outra lei concedendo bilhões de dólares. Políticos que na quarta-feira fazem muito barulho na luta contra a inflação, na quinta-feira propõem mais leis dispendiosas para estímulos econômicos artificiais e redistribuição de riqueza. Na sexta-feira, os comentaristas de notícias também entram na guerra contra a inflação, mas, no sábado, com muita coragem, se manifestam a favor de outro programa perdulário de melhoria econômica artificial. E o ritual se repete na semana seguinte.

O governo que, repetidas vezes, declarou guerra à inflação é o mesmo que a iniciou, forma ativa, causou-a e continua levando-a adiante com cada vez mais força. Os mesmos políticos que às vezes discursam como se fossem militantes na luta contra a inflação brigam entre si para gastar cada dólar do déficit fiscal

Por essa razão, as “soluções” estatais para a inflação frequentemente consistem em estabelecer controles de preços, cujos resultados sempre foram um fracasso. No final da Segunda Guerra Mundial, Ludwig von Mises (1881-1973) afirmou:

O verdadeiro perigo não está no que já aconteceu, mas nas falsas doutrinas oriundas desses fatos. A superstição de que o governo pode prevenir as consequências inevitáveis da inflação por meio do controle dos preços é o principal perigo. Isso ocorre porque essa doutrina desvia a atenção do público do foco do problema.

Enquanto as autoridades travam uma luta inútil contra o fenômeno que acompanha a inflação, poucos são os que atacam a origem do mal, ou seja, os métodos que o governo utiliza para solucionar o excesso de gastos. Enquanto a burocracia ocupa as primeiras páginas dos jornais com suas extensas atividades, as estatísticas referentes ao aumento da circulação monetária do país são relegadas a um espaço secundário nas páginas de economia dos jornais.

É o que pretendo mostrar na primeira parte do meu livro 'Inflação como Delito'. Para isso, abordo questões como o que é o dinheiro, o que são os preços, o que é inflação, quais são suas causas e como poderia ser evitada. Isso nos permite concluir que, na verdade, o governo é o único produtor de inflação e que, ao fazê-lo, gera um mecanismo de coerção que confisca os bens das pessoas, mina a confiança do público na moeda e incorpora um crescente abuso de poder.

Mais adiante examinano esse processo de alteração monetária e expropriação de bens à luz do direito penal. Minha conclusão é que a ação intencional de aumentar a quantidade de dinheiro por parte de determinados funcionários públicos – geralmente com o objetivo de cobrir o déficit de seus orçamentos – viola alguns direitos legais protegidos pela legislação penal.

Disso decorre que tal ação dolosa deveria ser incluída como crime nos códigos penais. Mas, para garantir o princípio da legalidade que rege a matéria penal, a própria legislação deveria esclarecer quais são os limites objetivos e específicos para a emissão de moeda, cuja transgressão tornaria criminosa a conduta dos agentes que a ordenam.

Por fim, como corolário da minha explicação, proponho um tipo penal específico incluído em um capítulo sobre falsificação e adulteração de moeda, onde julgo apropriado situar tal crime. Também apresento uma proposta de modificação da legislação orgânica do banco central ou da autoridade monetária de cada país, no que tange ao seu poder de ordenar a emissão de moeda e seus limites, e que deve ser complementada pela garantia da livre circulação das moedas, de forma que a concorrência atue como um controle efetivo para detectar a tempo qualquer alteração nas limitações na quantidade de dinheiro em circulação.

A fim de eliminar a principal causa da emissão monetária, que é cobrir os gastos excessivos do governo, também proponho que, por meio de alteração legislativa, o banco central seja impedido de conceder financiamento ao governo ou adquirir títulos públicos, seja com suas reservas ou com dinheiro emitido para tal efeito.

Os sujeitos ativos desse tipo penal serão os funcionários dos bancos centrais e do poder executivo em questão, envolvidos na decisão de emitir e colocar dinheiro em circulação de forma espúria.

Deste modo, a intenção do livro é alertar sobre a necessidade de impor maiores limites e responsabilidades ao poder estatal que se tornou praticamente incontrolável. Nunca como atualmente o Estado imiscuiu-se tão profundamente em uma questão que nunca deveria ter sido expropriada das pessoas. O dinheiro surgiu espontaneamente como um bem cuja aceitabilidade generalizada o tornou um meio de troca. Não foi uma criação de uma autoridade ou governo. No entanto, com o tempo, sua dependência da autoridade política não parou de crescer.

Sei que o ideal seria devolver esse poder aos indivíduos e permitir que o dinheiro surja espontaneamente no mercado, em tantas formas diferentes quanto a vontade das pessoas que fazem trocas se quiserem. Mas, enquanto permanecer como produto da atividade estatal, será necessário, ao menos, impor limites mais claros a esse poder.

É interessante notar que, embora a teoria econômica tenha se desenvolvido a partir de decisões individuais tomadas por pessoas com base em seus próprios valores e motivações, e sejam admitidas as vantagens do processo de mercado para definição de preços e crescimento geral da economia, também houve quase o mesmo consenso para eliminar o processo de mercado na definição de um preço fundamental, o preço do dinheiro, o preço daquilo que é utilizado para expressar os preços. A interferência estatal na moeda impediu o desenvolvimento teórico em torno de como funcionariam sistemas com liberdade monetária, com bancos atuando livremente, emitindo suas próprias cédulas e se responsabilizando por suas decisões frente ao impiedoso escrutínio dos consumidores de dinheiro.

O princípio de que a livre concorrência entre os diferentes produtores de bens e serviços serve aos interesses dos consumidores e que o monopólio se opõe a eles tem orientado a corrente dominante no pensamento econômico desde o tempo de Adam Smith. A maior parte das iniciativas empresariais realizadas foi influenciada por esse princípio, com a única exceção da cunhagem de moedas metálicas inicialmente e, depois, a emissão de bilhetes de bancos. Apenas uma minoria de teóricos opôs-se aos governos que permitiram a criação de bancos que detinham o monopólio ou quase monopólio da emissão de papel-moeda nos séculos XVII, XVIII e XIX. Um grupo menor ainda criticou os governos quando, mais tarde, eles idealizaram a criação de bancos centrais de emissão à frente dos sistemas bancários – uma ideia supostamente bem pensada para monopolizar a oferta de moeda e reservas bancárias –, uma solução que passou a ser considerada indispensável para uma política monetária nacional.

Como consequência, a teoria das implicações da oferta de moeda bancária interna (dinheiro em espécie e depósitos à vista em contas correntes) descentralizada por meio de múltiplos emissores concorrentes foi amplamente ignorada. De fato, a existência de um banco central que monopoliza a emissão de notas e reservas monetárias para os demais bancos comerciais de um país foi, durante muitos anos, considerada uma realidade tão evidente que não houve qualquer esforço para analisar sistemas alternativos, nem que fosse apenas para mostrar que, se implementados, fracassariam. [George A. Selgin, em 'The Theory of Free Banking: Money Supply Under Competitive Note Issue' (1988)]

Acredito que essa solução de mercado deve ser explorada e implementada no futuro. O surgimento de criptomoedas privadas pode forçar a substituição do atual paradigma monetário e bancário. Mas, até lá, os poderes do Estado sobre a criação e uso do dinheiro deverão ser submetidos ao maior número possível de controles e restrições.

Quem sabe a pressão da ameaça de penas de prisão sobre os políticos irresponsáveis que inflam a quantidade de dinheiro para custear seus excessos contribua para que decidam finalmente libertar um mercado que nunca deveria ter sido cativo.

Para encerrar , talvez seja bom recordar a reflexão de Friedrich Hayek:

Grande parte da política contemporânea baseia-se na presunção de que os governos têm o poder de criar e fazer com que as pessoas aceitem qualquer quantidade de dinheiro adicional. Por essa razão, os governantes defendem ferozmente seus direitos tradicionais, mas, justamente por isso, é importante privá-los disso.

Ao estudar a história do dinheiro, não podemos deixar de nos perguntar por que as pessoas suportaram por mais de 2 mil anos um poder monopolista exercido pelo Estado para explorar e enganar as pessoas. A única explicação é que o mito (a necessidade da prerrogativa do Estado) se enraizou tão firmemente que nem mesmo os estudiosos do tema pensaram em questioná-lo (incluindo, por muito tempo, o autor desta obra). Contudo, uma vez questionada a validade da doutrina estabelecida, rapidamente sua base frágil torna-se evidente.

Por isso, pelo menos enquanto o monopólio estatal sobre a criação de moeda não for abandonado, seus poderes devem ser limitados não só em termos de emissão – considerando o que exceder esses limites como um crime –, mas também assegurando um mercado tão aberto quanto possível para a moeda e para os bancos, bem como restrições que impeçam a autoridade monetária de financiar o governo sob qualquer forma.

Alguns dirão que já existem restrições e que funcionam razoavelmente bem em alguns países, ainda que exista um monopólio estatal na matéria. Contudo, a verdade é que essas limitações não têm sido eficazes nos países com fraca institucionalidade e legalidade. Daí a proposta de intensificá-las e reforçá-las por meio de legislação penal, uma vez que a ação criminosa de emitir moeda sem justificativa e de colocá-la em circulação com grave prejuízo para a sociedade não é diferente de outras ações criminosas que podem ser cometidas por funcionários públicos e que há séculos merecem punição no âmbito penal.

 

O pior de todos os mundos é o monopólio estatal de pedaços de papel impostos legalmente para uso próprio e pagamento de dívidas, emitidos e postos a circular pelo governo sem quaisquer controles ou limites efetivos. Entendo que, enquanto esses pedaços de papel chamados de "dinheiro"continuarem a existir, a legislação deve reforçar os limites do poder de emissão de moeda.

O texto publicado pela Gazeta do Povo integra o livro ‘Inflação como Delito', que acaba de ser lançado no Brasil pela LVM Editora.

Ricardo M. Rojas é advogado, doutor em História Econômica e juiz em Buenos Aires. Atualmente dirige o Departamento de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade Francisco Marroquín. 

 

 


Humor - Frases da Semana - Omar Godoy

Ideias - Gazeta do Povo

Flávio Dino: “Lula é um homem honrado, honesto, Ficha Limpa, orgulho do Brasil”.

Flávio Dino: “Lula é um homem honrado, honesto, Ficha Limpa, orgulho do Brasil” = reforçando para o chefe que quer mesmo aquela vaguinha no STF.   Foto: Modificado de EFE/ Andre Borges

"A Argentina é uma coisa indecifrável. Como se explica que o ministro da Economia, com uma inflação como tem o país, tente chegar à presidência?" – José Mujica, ex-presidente (de esquerda) do Uruguai. Até o Pepe estranhou o resultado do primeiro turno na Argentina.

"Não coloco salsicha na boca há três anos" – Joice Hasselmann, ex-deputada federal e atual coach de emagrecimento, explicando como perdeu 24 quilos.

"Em relação aos entregadores, não tem acordo" – Luiz Marinho, ministro do Trabalho, sobre o projeto de lei que busca regulamentar as relações entre empresas, motoristas e entregadores de aplicativos. Traduzindo: "O governo vai insistir até conseguir abocanhar uma parte do dinheiro de vocês".

"Reivindica-se o complemento nutricional das refeições, em especial do café da manhã, com o oferecimento de mais opções, como ovos mexidos e geleia" – Alunos "grevistas" do curso de Direito da USP, em um manifesto sobre as dificuldades que enfrentam na vida acadêmica. Vai um caviarzinho aí também?

"Só fizemos isso em prol da humanidade mesmo" – Daniela Mercury, cantora, sobre ter assumido publicamente, há dez anos, seu casamento com a jornalista Malu Verçosa. Valeu, Dani! Assinado: a humanidade.[lembrando que o último sucesso da cantora humanidade é da década de 90.]

"Milícia bolsonarista promove terrorismo no Rio de Janeiro" Partido dos Trabalhadores, em seu site oficial, noticiando a ação coordenada de criminosos que resultou no incêndio de 35 ônibus e um trem no último dia 23. Cidades tomadas por ondas de violência e o PT agindo como a namorada que coloca a culpa no ex.

"Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia" – Rita Serrano, recém-demitida da presidência da Caixa Econômica pelo presidente Lula (e substituída por um homem).

    "Lula é um homem honrado, honesto, Ficha Limpa, orgulho do Brasil, um dos maiores estadistas da História do Mundo"
    Flávio Dino, ministro da Justiça, em uma audiência na Câmara, reforçando para o chefe que quer mesmo aquela vaguinha no STF.  

“A partir dessas frases dos citados parlamentares, membros da Comissão autora da convocação, é verossímil pensar que eles andam armados, o que se configura uma grave ameaça à minha integridade física, se eu comparecesse à audiência” – Flávio Dino, justificando, pela segunda vez seguida, seu não comparecimento a uma audiência na Câmara dos Deputados.

"Ministro, o senhor não corre risco de vida nenhum, só se tiver um piripaque, cair duro e enfartado. 
Risco o senhor correu quando foi a um morro no Rio de Janeiro. Aliás, o senhor poderia nos explicar qual é a sua técnica, uma técnica inovadora, porque ninguém consegue entender como um ministro consegue subir naquele morro em que traficantes de drogas fazem moradores seus reféns. 
Apenas o senhor conseguiu subir lá" – Delegado Palumbo, deputado federal (MDB-SP), em resposta a Dino.

"Intolerância, covardia e execução do povo palestino. O Estado de Israel é uma vergonha para a humanidade, quem mata criança não merece respeito, não merece ser um Estado" – Gleide Andrade, secretária de Planejamento e Finanças do PT, em uma série de tuítes posteriormente apagados. Esta senhora acaba de ser nomeada, pelo presidente Lula, para o conselho de Itaipu, com um salário mensal de R$ 37 mil (mais benefícios). Parlamentares da oposição emitiram protocolos solicitando o afastamento de Gleide, mas, até a publicação desta seção, ela ainda estava no cargo.

"O Hamas tem que ser responsabilizado pelo que fez, mas nós já vivemos situações no mundo em que o IRA era considerado terrorista e hoje faz parte do governo do Reino Unido. 
Já vivemos situações em que o Nelson Mandela ficou 27 anos na cadeia acusado de terrorismo e se tornou uma das maiores lideranças, um dos maiores estadistas do século XX" – Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação, no programa Roda Viva, da TV Cultura. Como bem rebateu, ao vivo, o jornalista Guilherme Waltenberg, "Mas Mandela nunca matou bebês e crianças".


"Dura é a maneira como o Hamas está usando as pessoas como escudos humanos. Duro é fazer algumas centenas de reféns e deixar famílias ansiosas, esperando preocupadas para descobrir onde estão seus entes queridos. Duro é aparecer em um festival de música e massacrar um bando de jovens apenas tentando aproveitar uma tarde. Eu poderia continuar e continuar" – John Kirby, porta-voz da Casa Branca, em resposta à jornalista Raquel Krähenbühl, correspondente da TV Globo nos EUA, que pediu para ele comentar as críticas "duras" recebidas pelo governo norte-americano desde o início do conflito no Oriente Médio.

CANTINHO DO (OUTRO) PRESIDENTE
"Ainda temos problemas dramáticos de uma desigualdade abissal que nos envergonha. 
Seis pessoas no Brasil têm a riqueza de metade da população. 
Tem alguma coisa errada nesse modelo que nós precisamos enfrentar" – Luiz Roberto Barroso, presidente do STF, durante um evento promovido pela OAB em São Paulo. Além de fazer conta errada, o ministro não se envergonha de fazer parte do sistema judicial mais caro do planeta (que consome, segundo especialistas, 1,3% do PIB por ano).

"Precisamos conquistar corações e mentes e mostrar que o Supremo não é o problema" Luiz Roberto Barroso, no mesmo evento, referindo-se à relação ruim da Corte com os políticos da oposição ao presidente Lula. Nem parece o mesmo homem que há pouco tempo bradou, a plenos pulmões: "Nós derrotamos o bolsonarismo!".

LEIA TAMBÉM: Anuário da IgrejaProporção de católicos cai no mundo, mas cresce na África e Ásia onde há mais perseguições


"A internet abriu avenidas para a desinformação" – Barroso, ainda ele, defendendo o "controle mínimo sobre o que chega ao espaço público". Na minha terra, o nome disso é "censura".

Ideias - Gazeta do Povo  


Os filhotes de Mussolini - Percival Puggina


   

        Na Universidade Federal do Amazonas, marmanjos e marmanjas tentaram expulsar a gritos e empurrões um palestrante judeu que precisou ser escoltado por PMs.

Em Brasília, a Caixa Cultural (da Caixa Econômica Federal) custeou e patrocinou a exibição de “O grito”, mostra de imagens onde a bandeira do Brasil é usada para agressivas e grosseiras mensagens politicamente afinadas com o atual governo da União.

O Ministério da Igualdade Racial gastou metade da verba de uso livre, que é de R$12,5 milhões, em viagens e diárias de assessores e dirigentes com destinos dentro e fora do país.

O governo, seu partido e seus militantes se recusam a qualificar o Hamas como organização terrorista. Responsabilizam Israel pelo indescritível ataque sofrido no momento em que negociava sua convivência pacífica com o Egito.

Em Goiás, professora de uma escola particular postou em rede social foto sua usando camiseta com a frase do artista Flávio Oititica – “Seja marginal, seja herói”.

Em todo o país, para o jornalismo militante (e qual não é, nos mais destacados veículos?), entrechoques entre policiais e bandidos só dão causa a críticas dirigidas aos primeiros e a análises sociológicas sobre a dura vida dos segundos. É raro, raríssimo, encontrar, aqui ou ali, um reconhecimento do valor, dos riscos cotidianos e das agruras inerentes à atividade policial. 

As Salomés da política, instaladas na pagadoria da publicidade oficial pedem aos Herodes de cada meio de comunicação as cabeças dos Joões Batistas conservadores ou liberais.  
Os Herodes entregam e o jornalismo brasileiro expurgou para as mídias sociais seus melhores profissionais.
 
O que une esses fatos, todos tão recentes, seja entre si, seja a muitos outros semelhantes no passado (e, com certeza, também no futuro)? 
Qual é o problema desse pessoal?!

Todos esses eventos envolvem o ativismo esquerdista e expressam características fascistas. Seus adversários políticos são o destino final de todas as maldições, vivem ao desamparo de direitos fundamentais e são as únicas pessoas no mundo a quem tratam como criminosos e para quem pedem cadeia... Sobre os verdadeiros bandidos, dizem que “no Brasil se prende demais” e que “prender não resolve”. Por isso, defendem o desencarceramento.

São filhotes de Mussolini. Querem a censura e a interdição dos “lugares de fala” de toda divergência
Festejam quando seus adversários são julgados à distância, por crimes que não cometeram e condenados a penas desproporcionais. 
Aplaudem a omissão do presidente do Senado e as manobras do presidente da Câmara. 
A discordância política sobre o agir das instituições é classificada como “discurso de ódio”.

Os atores desses eventos promovem usos abusivos de eventuais situações de poder. Alguns, como os marmanjos e marmanjas das universidades públicas, por serem majoritários, oprimem a minoria se ela se atreve a divergir. Outros, servem à causa ou querem atiçar a revolução social.

Já passou da hora de propor que a fobia à direita política – causa de discriminações, opressões e origem de violência – seja considerada, também, “crime análogo ao racismo”. Ah, Brasil!

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

domingo, 29 de outubro de 2023

A história se repete: decapitações como forma de terror islâmico - Gazeta do Povo

Thiago Braga

Thiago Braga


Entender a história da guerra é entender a história dos homens.

Decapitações em massa por terroristas islâmicosFoto: ABC News

No início de agosto deste ano, eu escrevi uma coluna aqui na Gazeta da Povo explicando como historicamente a decapitação fazia parte da cultura militar dos muçulmanos, e como essa prática foi usada indiscriminadamente na Península Ibérica a partir do século VIII. Estamos em outubro no meio de mais uma guerra sangrenta no mundo, e aquele artigo volta a ser relevante pelo mesmo terror aplicado há séculos: decapitações.

No sábado, dia 7 de outubro, os terroristas do Hamas, lançaram uma série de ataques contra Israel. 
Quem, com um mínimo de humanidade, não se chocou com o assassinato em massa e intencional que matou mais de 200 civis em uma festa próximo a Gaza? 
Eles foram atirando em banheiros químicos, um a um, sem saber quem estava dentro deles. Crianças e bebês foram assassinados e tiveram seus corpos queimados pelos terroristas; mulheres estupradas; os terroristas publicaram fotos e filmagens das vítimas mortas no próprio Facebook delas, e foi desse jeito bizarro que algumas famílias souberam da morte de seus parentes.
 
Mas os terroristas islâmicos mataram muitas pessoas usando um velho método bem típico deles: decapitação! Esse método repulsivo de matar tem sido muito usado não só nesses ataques do Hamas, mas em especial nas últimas duas décadas as decapitações têm sido usadas para chocar. Você deve se lembrar de várias cenas dos terroristas do Estado Islâmico divulgando filmagens de prisioneiros americanos prestes a serem decapitados em frente à câmera. 
E assim como todos os maiores grupos terroristas islâmicos do mundo, eles justificam seus ataques nos procedentes históricos registrado em crônicas islâmicas. Os terroristas islâmicos estão entre os maiores exemplos de como a história pode se repetir... E da sua forma mais terrível possível.

A decapitação de reféns tem a intenção de transmitir duas mensagens. A primeira é o puro horror, direcionado ao público ocidental. A segunda, dirigida ao mundo islâmico, é aquela através da qual os terroristas pretendem mobilizar as massas muçulmanas

E a professora Maribel Fierro, nesse mesmo estudo que mencionei anteriormente, o “Decapitation of Christians and Muslims in the Medieval Iberian Peninsula: narratives, images, contemporary perceptions” (Decapitação de cristãos e muçulmanos na Península Ibérica medieval: narrativas, imagens e percepções contemporâneas) mostra as justificativas históricas e religiosas dadas por esses mesmos terroristas pra continuarem essas práticas literalmente medievais. 
Na p. 140 ela cita um especialista francês em radicalismo islâmico, o professor Gilles Kepel, e mostra como essa prática de “showbusinessinspira fascinação mórbida em especial em públicos mais jovens
Kepel mostra o maior impacto que decapitações podem ter na vítima e em quem assiste, comparado por exemplo a explosões, que não causam o mesmo tipo de conexão com as vítimas, como acontece com essas decapitações.

E aqui nós chegamos no ponto alto da correlação histórica feita por esses extremistas: a professora Fierro, ainda citando Kepel diz que “ele salientou como é importante para militantes islamistas reprojetar suas práticas políticas para o passado para onde eles consideram ser a verdadeira e original tradição islâmica.” Para eles, a decapitação “é a forma de execução mais islâmica”, particularmente a execução de homens que foram feitos prisioneiros. “Assim, a decapitação de reféns tem a intenção de transmitir duas mensagens. A primeira é o puro horror, direcionado ao público ocidental. A segunda, dirigida ao mundo islâmico, é aquela através da qual os terroristas pretendem mobilizar as massas muçulmanas e, assim, procurar legitimação numa perspectiva religiosa.” Portanto, o fator religioso está sempre presente na mente desses extremistas islâmicos, a política nunca é o único fator, a religião islâmica é um fator determinante nessas ações.

E agora na p. 141 a professora destaca a parte onde os terroristas defendem que a decapitação é a forma “mais islâmica de execução.” E aqui ela cita o terrorista Abu Mus ab al Zarqawi, ex-jihadista famoso do Al-Qaeda no Iraque... ex-jihadista porque ele já morreu, graças a Deus. 
Em maio de 2004, depois de ter decapitado o americano Nicholas Berg ele declarou a legitimidade do assassinato dizendo que “O Profeta (Maomé) ordenou a decapitação de alguns dos prisioneiros de Badr, que tinham suas mãos amarradas. Ele é nosso padrão e um bom exemplo a ser seguido.” 
Na imagem acima a gente pode ver como eles seguem exatamente esse precedente histórico: mãos amarradas para trás, e em seguida decapitação
E aqui no artigo a professora atesta esse precedente histórico relatado desde 822 por cronistas muçulmanos pioneiros, como Al-Waqid na sua crônica Maghazi, embora Saladino fosse contra a ideia de matar um inimigo com suas mãos amarradas.
 

Nas últimas décadas, muitos extremistas islâmicos têm aterrorizado o mundo com suas táticas macabras e literalmente medievais. Eles se consideram soldados de uma "Guerra Santa", e, portanto, os fins extremos sempre justificam os meios mais extremos ainda. E isso é um problema quando ondas e mais ondas de imigrantes muçulmanos chegam no Ocidente: no meio de pessoas de bem, milhares de terroristas estão camuflados... Até que não queiram estar mais; mas nesse caso, já pode ser tarde demais.


Thiago Braga, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


Autoridades erram feio na Segurança e transformam Rio de Janeiro em território ocupado pelo crime - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Governos ficam lamentando, falam em mandar ‘tropas’, mas sabem que tudo o que tem de fazer é simular atividade e ficar esperando o tempo passar

O Congresso Nacional, o supremo sistema judiciário e as classes intelectuais, que querem pensar por todos os brasileiros, transformaram o Brasil num território livre para o crime
Tomaram 30 anos atrás, ou algo assim, uma decisão fundamental: ficar ao lado dos criminosos e contra os cidadãos. 
 Com o apoio da maior parte da mídia, dos “movimentos sociais” e dos advogados criminalistas mais bem pagos, o Poder Legislativo passou a aprovar sistematicamente, nestas três décadas, leis em benefício direto da bandidagem e dos bandidos.

A grande teoria é que o crime, no fundo, é um “problema social”, causado pela pobreza, pela incompetência dos governos e pela “sociedade”. Enquanto não se resolver isso tudo, sustenta o “campo progressista”, a prioridade do poder público não pode ser a repressão aos atos criminosos. Tem de ser a recuperação moral dos bandidos, a oferta de oportunidades para que possam viver honestamente e, acima de tudo, a multiplicação permanente dos seus direitos diante da Justiça.

Ônibus incendiado no Rio após morte de miliciano; regiões inteiras da cidade não fazem mais parte do território nacional Foto: Pedro Kirilos/Estadão - 23/10/23
Deu espetacularmente certo para os criminosos – e errado para o cidadão. Na última explosão de banditismo no Rio de Janeiro, os marajás do crime organizado queimaram ônibus, fecharam ruas e mostraram quem manda nas suas áreas de ação. 
O trabalhador ficou sem transporte. É o “novo normal” do Rio. 
Regiões inteiras da cidade não fazem mais parte do território nacional; é como se tivessem sido ocupadas por uma tropa estrangeira, que não reconhece a existência da República Federativa do Brasil, nem do “Estado”. 
Nos episódios mais recentes de violência, inclusive, as quadrilhas capricharam em esfregar na cara dos governos que no país controlado por elas existe a pena de morte – e que estão dispostas a continuar aplicando suas sentenças. 
As autoridades ficam lamentando; falam em mandar “tropas”, mandar “verbas”, mandar o Batman. Sabem que tudo o que tem de fazer no momento é simular atividade e ficar esperando o tempo passar. Daqui a pouco as pessoas esquecem – e o Rio de Janeiro voltará às suas condições normais de temperatura e pressão.

Os brasileiros que cumprem a lei sabem, há muito tempo, que o Estado deixou de assegurar o seu direito constitucional à vida.  

Sabem, também, que os peixes graúdos do aparelho público que controlam as suas vidas, além dos milionários, vivem num país onde não há crimes, nem qualquer ameaça para a sua segurança pessoal – rodam em carros blindados, têm esquadrões armados em sua volta e não precisam chegar a menos de 50 metros de distância da população. Sua única preocupação é condenar a até 17 anos de cadeia os acusados de um quebra-quebra que consideram “golpistas”.

 

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

 


Golpe desvia pagamentos via Pix em compras online feitas por computadores; veja dicas se proteger - O Estado de S. Paulo

Nomeado de GoPix, novo malware é instalado em desktops e notebooks quando o usuário acessa sites falsos, que normalmente contêm erros de digitação no nome

Mais um golpe que desvia pagamentos feitos pelos Pix, agora em pagamentos feitos por computadores, foi identificado pela Equipe de Investigação e Análise da Kaspersky, empresa de segurança digital. A fraude, com versão similar em celulares, redireciona os valores para criminosos e o vírus infecta equipamentos de consumidores e empresas.

Segundo a Kaspersky, a técnica não é nova, mas é a primeira vez que é usada para esquemas fraudulentos de pagamentos envolvendo o Pix. Identificada em dezembro de 2022, a fraude já foi bloqueada mais de 10 mil vezes.

O esquema anterior, também denunciado pela empresa de segurança, visava transações instantâneas realizadas pelo celular. Já o novo malware, nomeado de GoPix, infecta desktops e notebooks e usa uma técnica diferente para redirecionar pagamentos online.

Compras online

Segundo Fabio Assolini, diretor da Kaspersky para a América Latina, o novo golpe afeta também empresas públicas e privadas. “Verificamos que ele não atua em transferência entre indivíduos, mas apenas em pagamentos de compras online”. diz.

Nessa modalidade, o lojista gera uma cobrança via Pix para o pagamento. O mais comum é o cliente copiar e colar o código e é nesse momento que é feita a troca da chave para redirecionar o dinheiro para os golpistas.

A disseminação do GoPix ocorre por meio de anúncios maliciosos na internet, usando links patrocinados em buscas no Google feitas com erro de ortografia para WhatsApp Web. Por exemplo, se o usuário escreve WatsApp. Também houve fraudes usando o dos Correios, no mesmo esquema de links patrocinados.

“A infecção ocorre em etapas”, afirma Assolini. Após a instalação do GoPix, o malware entra em um estágio de espera aguardando que a vítima realize um pagamento digital via Pix. Segundo ele, desde janeiro, a ameaça já foi bloqueada 10.443 vezes nos produtos da Kaspersky, somente em clientes brasileiros.

Como evitar o golpe

  • Anúncios falsos: priorize resultados de buscas orgânicos e baixe apenas sites oficiais. A infecção ocorre quando o usuário acessa sites falsos
  • Pagamento digital: revise o nome do destinatário do Pix para verificar se é o do vendedor. Muitas vezes são usados nomes de ‘laranja’ para receber o pagamento
  • Segurança: Tenha um bom antivírus instalado, pois o GoPix consegue identificar alguns dos dispositivos e desviar o vírus para uma pasta compactada, por exemplo em formato zip

Economia - O Estado de S. Paulo


O preço da omissão - Percival Puggina

        Faça o teste: pense em um bem não material pelo qual você tenha apreço e verifique se ele não é combatido por esquerdistas e comunistas, ou seja, por gente de mentalidade revolucionária que se diz “progressista”. Depois, pense em algo útil à ascensão social dos mais necessitados e me diga: as mesmas facções políticas que combatem seus valores e seus bens culturais e espirituais, não atacam tudo que proporciona prosperidade material e desenvolvimento social – liberdade, empreendedorismo, combate às drogas e à criminalidade, abertura de horizontes?

Você sempre os verá em salas de aula à moda Paulo Freire, olhos postos no coletivo, na instrução de militantes da classe ou da causa, sejam elas quais forem. Por isso, o Programa Nacional de Educação está convocando para 28 a 30 de janeiro, em Brasília, a conferência “Plano Nacional de Educação 2024-2034: Política de Estado para garantia da Educação como direito humano com justiça social e desenvolvimento socioambiental sustentável”.

Fala sério! “Política de Estado”? “Justiça social”? “Desenvolvimento socioambiental”? E as nossas crianças e jovens? E sua formação? 
E o desenvolvimento proveitoso das potencialidades individuais para o bem deles mesmos, de suas comunidades e do país? 
Perceberam o quanto isso é atirar o futuro aos cães, para colocar todo o aparelho educacional a serviço do palavrório ideológico e dos interesses de um partido político e seus anexos? 
Quanto isso é igual ao que acontece em Cuba!

Platão dizia que a mentira é mãe de todos os vícios, mas deveria abrir espaço para apontar a omissão dos cidadãos como vício da tolerância perante os males proporcionados pelo Estado.

Pensando sobre o tamanho de nossa omissão, dei-me conta, outro dia, de ser ela uma das causas para que tantos congressistas, uma vez eleitos, saltem olimpicamente sobre os compromissos assumidos perante os eleitores e se bandeiem para a porta do Tesouro Nacional. Representantes de eleitores omissos, omissos serão, ora essa!

O Brasil tem 150 milhões de eleitores. 
Mesmo em nossas mais impressionantes manifestações levadas a cabo entre 2019 e 2022, quando cerca de seis milhões de cidadãos saíram às ruas e praças do país, 144 milhões assumiram que aquilo não lhes dizia respeito. 
Para cada patriota de verde e amarelo, outros 96 ficaram em casa assistindo futebol. 
No pleito de 30 de outubro do ano passado, 32 milhões de eleitores se abstiveram, 3,9 milhões anularam o voto e 1,7 milhão votou em branco.

A inércia que observamos no Congresso não é diferente da que vejo na sociedade. Por isso, a tarefa mais urgente das organizações liberais e conservadoras em formação no país deve ser a conscientização sobre as sinistras evidências dos males em curso. E a definição, em cada comunidade, das formas legítimas de ação social, política e cultural.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

O CNJ passou a mão na cabeça do juiz “LUL22” - Gazeta do Povo

Vozes - Deltan Dallagnol



Justiça, política e fé

 O CNJ passou a mão na cabeça do juiz “LUL22”

O CNJ passou a mão na cabeça do juiz “LUL22”
| Foto: Reprodução/Gazeta do Povo


Na última semana, ocorreu o desfecho de um dos momentos mais lamentáveis da história da operação Lava Jato: a gestão do juiz federal Eduardo Appio, também identificado como “LUL22” - login que usava no sistema da Justiça, visível aos servidores, numa alusão à campanha de Lula nas eleições de 2022.

Num acordo estranho e inédito com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o juiz Appio renunciou à 13ª Vara Federal de Curitiba e aceitou ser removido para uma outra área da Justiça Federal. Mais ainda: admitiu ter cometido condutas impróprias na condução dos processos da Lava Jato.

O juiz “LUL22” se removeu para a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava Jato, no começo de 2023. Deu início à sua gestão com uma série de entrevistas inapropriadas para vários jornais, em que se dedicava a atacar e criticar a Lava Jato e seus agentes, como Moro e eu, repetindo a ladainha de que a operação cometeu abusos e excessos.

Ironicamente, criticava a Lava Jato por “midiatismo”, enquanto dava várias entrevistas. No número de entrevistas, superou até mesmo os procuradores da força-tarefa e o próprio juiz Moro no primeiro ano inteiro da operação. Ficou claro que Appio usava holofotes para criticar a operação, como, aliás, já havia feito antes de assumir a Vara.

Não demorou muito para cair a máscara do juiz “LUL22”. 
Logo se descobriu que ele utilizava como login na Justiça Federal do Paraná o termo “LUL22”. 
Appio desconversou no início, só para depois desmentir a si mesmo e confessar em uma entrevista que usou mesmo “LUL22” como login.

Com o login de dar orgulho à companheirada petista, Appio violou em tese a Lei Orgânica da Magistratura, que impede juízes de exercerem atividade político-partidária e promoverem propaganda política, já que servidores da Vara liam a mensagem eleitoral implícita toda vez que batiam os olhos no seu login, que aparecia ao lado de “eventos” (fases ou documentos) que ele assinava nos processos eletrônicos.

    Appio desconversou no início, só para depois desmentir a si mesmo e confessar em uma entrevista que usou mesmo “LUL22” como login

Descobriu-se, ainda, que o juiz havia doado para a própria campanha de Lula, segundo registros do próprio TSE, e para outra candidata do PT ao cargo de deputada estadual pelo Paraná. Ele negou as doações e, como deputado, pedi a instauração de investigação da Polícia Federal para apurar o fato.

Na sequência, surgiram novas descobertas muito preocupantes no histórico do juiz LUL22. Entre as descobertas: soube-se que seu pai, político, constava nas planilhas da Odebrecht, sob o codinome “Abelha”. Será que alguém que teve o pai implicado nas investigações teria imparcialidade para julgar o caso?

Além disso, identificou-se algo pior: o próprio juiz vendeu um apartamento a um condenado da Lava Jato, o político petista André Vargas, em uma operação de lavagem de dinheiro que foi objeto de denúncia do Ministério Público. O próprio juiz “LUL22” teria sofrido punições disciplinares pela declaração da venda do apartamento por valor diferente do valor real.

Na Câmara dos Deputados, eu e dezenas de outros deputados da oposição apresentamos reclamação disciplinar contra o juiz “LUL22”. Outros políticos fizeram a mesma coisa e o Ministério Público Federal em Curitiba entrou com mais de 30 pedidos de suspeição contra Appio.

Durante algum tempo, Appio conseguiu dar sequência à sua atuação contra a Lava Jato, fazendo críticas públicas. Mais ainda: emitiu uma série de decisões muito questionáveis que foram revertidas pelo Tribunal. Tudo ajudava o governo Lula a reescrever a história e executar sua vingança contra os juízes e procuradores da operação.

    Será que alguém que teve o pai implicado nas investigações teria imparcialidade para julgar o caso?


Mas então veio a bomba: o juiz foi acusado de alegadamente fazer uma ligação ameaçadora ao filho do desembargador Marcelo Malucelli, responsável por revisar as decisões do próprio juiz “LUL22” no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). A ligação foi gravada pela vítima.

Diante das evidências fortíssimas de irregularidades, inclusive da gravação em vídeo em cujo exame a Polícia Federal atestou a alta probabilidade de a voz ameaçadora ser de fato a de Appio, o juiz acabou afastado de suas funções e teve sua suspeição declarada pelo TRF4. 
Depois disso, Toffoli surpreendentemente - ou talvez não tanto, dado o histórico de sua ligação com o petismo e de decisões contra a Lava Jato - anulou a suspeição de Appio, mas manteve seu afastamento.

Agora, soubemos que o juiz “LUL22” fez um “acordo” com o CNJ para encerrar o processo disciplinar contra ele, em que admitiu condutas impróprias, mas sem especificar quais condutas. Tanto o “acordo” quanto a “confissão” meia-boca do juiz são bastante estranhas e sem precedentes no âmbito do Direito Administrativo Sancionador.

No processo disciplinar, não há partes e nem interesses divergentes a serem conciliados para que sejam propostos “acordos”: existe apenas a investigação de condutas ilícitas e a punição, de caráter repressor e disciplinar, a quem cometeu a irregularidade. É a primeira vez que ouço falar de acordo disciplinar.

Nunca se ouviu falar, ainda, de alguém que confessasse condutas impróprias sem dizer, de maneira específica, quais condutas seriam essas - pressuposto lógico até para se verificar se a conduta foi de fato imprópria ou não e o grau da impropriedade. Mais ainda, a sociedade tem o direito de saber quando um juiz federal admite condutas impróprias e quais condutas seriam essas, por três razões.

Primeiro,
por uma questão de transparência, que foi alegada pelo ministro Salomão, que preside o CNJ, ao divulgar relatório preliminar de inspeção sobre a Lava Jato, em que aventava “possíveis irregularidades”, algo igualmente inédito. Inédito porque a sindicância é sigilosa e porque não havia prova de nada, meras suspeitas infundadas.

Coincidentemente, a inédita divulgação do relatório parcial aconteceu logo antes de Lula, que declarou querer se vingar da Lava Jato, estar apto a escolher o novo ministro do STF, cargo para o qual Salomão é um dos principais candidatos.

Segundo, porque o juiz será transferido para uma outra Vara, onde pode se comportar de maneira imprópria novamente, colocando em risco os direitos das pessoas que buscarem o Judiciário. Terceiro, porque a conduta imprópria, a depender do que for exatamente, pode prejudicar direitos de investigados e réus, ou então da sociedade e das vítimas, que têm o direito de saber o objeto da confissão.

O mesmo CNJ, que passou a mão na cabeça de Appio, está investigando os juízes que atuaram na Lava Jato, na inspeção acima mencionada. Uma das críticas que o relatório parcial divulgado dirigiu contra a Lava Jato foi a de que, vejam só, a operação devolveu para a Petrobras os bilhões roubados, como se houvesse algo de errado em devolver à vítima o que foi roubado dela.

Para o ministro, a operação deveria ter aguardado o trânsito em julgado dos processos. Contudo, omitiu o fato de que o STF e os outros juízes, em outras operações, adotaram o mesmo procedimento. De todo modo, se o ministro Salomão divulgou o relatório por transparência, como afirmou, deveria fazer o mesmo agora, por coerência, para que a sociedade saiba exatamente quais foram as irregularidades e condutas impróprias do juiz Appio.

O tratamento deveria ser coerente. Deveria. A não ser que o CNJ pretenda efetivamente dar um tratamento diferente para o juiz cuja atuação se alinhou com o desejo de vingança de Lula. Um bom teste para isso será observar o tratamento que o mesmo órgão dará aos juízes da Lava Jato, que nem de perto fizeram nada tão grave quanto o juiz “LUL22”.


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Deltan Dallagnol, coluna na Gazeta do Povo - VOZES