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sábado, 4 de novembro de 2017

As “fake news” nas eleições

O fenômeno não é novo. Muito menos exclusivo do Brasil. Ao contrário. As chamadas “fake news”, ou notícias falsas, que inundaram as mídias digitais já polarizaram as eleições tanto aqui como nos EUA

O fenômeno não é novo. Muito menos exclusivo do Brasil. Ao contrário. As chamadas “fake news”, ou notícias falsas, que inundaram as mídias digitais já polarizaram as eleições tanto aqui como nos EUA, onde Donald Trump surfou a onda e saiu vencedor movido a uma bateria de desinformações que favoreceram a sua candidatura.  Os assessores de Trump espalharam na rede, por exemplo, que o Papa Francisco apoiava o republicano para a presidência e os fiéis conservadores do partido, que ainda acalentavam alguma desconfiança em relação ao empresário fanfarrão, viram naquela “benção” um selo de garantia para definir o voto.

O Vaticano levou uma semana até desmentir a “notícia” que corria solta e aí o impacto da “fake news” já havia surtido o efeito desejado. No Brasil, a Fundação Getúlio Vargas acaba de concluir um levantamento no qual aponta que os robôs – também conhecidos como contas automatizadas, que ficam clicando e massificando certas postagens para criar no meio da sociedade uma falsa sensação de apoio majoritário a uma determinada ideia ou pessoa – foram responsáveis por 10% do engajamento no debate de conteúdo político nas redes em 2014.

Levando-se em conta que as eleições naquele ano foram decididas por uma estreitíssima margem de votos a favor da petista Dilma Rousseff, é possível ter a exata dimensão do papel importante que essa ferramenta desempenhou na escolha. Para 2018, em plena era da pós-verdade, é de se imaginar que os recursos com o objetivo de engabelar massas de eleitores por meios digitais terão ainda maior destaque. Muitos chegam a apontar que as “fake news” vão polarizar a disputa. A tal ponto que a corte eleitoral do TSE já discute estratégias para evitar a proliferação dessas notícias falsas durante o período de campanha. O assunto também despertou o interesse do Exército, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal. A ideia é criar uma força tarefa que funcione policiando a atuação dos robôs na internet.

O ministro do STF, Alexandre Moraes, também defendeu dias atrás a aprovação imediata de uma regulamentação da propaganda eleitoral na internet como alternativa de freio à proliferação dos boatos. O impacto negativo de mentiras disseminadas especialmente nas redes não é pequeno. Estudo da Universidade de São Paulo (USP) apontou que mais de 12 milhões de pessoas – número equivalente a 6% da população brasileira – difundem as tais notícias falsas dentro do ambiente digital. Considerando que cada uma delas possui, em média, ao menos 200 conexões, o universo de impactados abrange praticamente todo o leque de eleitores. Nesse contexto, as chamadas “mídias ninjas”, de forte ativismo e engajamento, voltadas para a chamada informação combatente e partidária, exercem influência capital. Alguns candidatos, mais familiarizados e antenados com o poder da ferramenta, já a usam de várias formas e em diversos meios.

O ex-presidente Lula e o seu partido PT dedicam boa parte de sua força-tarefa para esse trabalho na rede e difundem informações ou fatos “adaptados” às conveniências mesmo em programas de TV, palanques ou entrevistas. Lula é decerto um fenômeno da era da pós-verdade. Alegou recentemente que vai combater a criação dos chamados “campeões nacionais”, grupos empresariais que ganharam gordos subsídios federais para crescer, como foram os casos da JBS, Odebrecht e EBX. Deixa de informar que foi justamente ele, Lula, quem bolou e executou a tal política de benefícios diferenciados. Do mesmo modo o petista, numa tentativa de se descolar dos erros de sua pupila Dilma, passou a criticar medidas adotadas por ela que antes contavam também com o seu aval.

Nos meios digitais, essas mensagens subliminares se espalham como pólvora, fazendo crer que o Lula candidato não guarda qualquer ligação com o Lula das práticas equivocadas. A dissimulação faz parte do jogo. Não foi de outra maneira que surgiu o conceito do “Lulinha paz e amor” para vencer a disputa de 2002 ou da “Dilma mãe do PAC”, que falava em luz barata enquanto quebrava o País.

Em vários casos, a mensagem cenográfica dos candidatos – que na TV, nos outdoors e nos discursos são “maquiados” com promessas que não cumprem e ideias nas quais na verdade não acreditam – ganhou agora um elemento a mais: as versões virtuais de mentiras e desinformações que eles espalham na rede, seja com o objetivo de turbinar suas candidaturas ou de enxovalhar a reputação de adversários, numa manobra que confunde o público, engana internautas e desvirtua os fatos de maneira criminosa. É essa a onda que precisa ser combatida.

Fonte:  Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três - Revista Isto É



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