Aposentadoria rural e o Benefício de prestação continuada concedido a idosos de baixa renda também pode ficar de fora da reforma
Depois de
ouvir do Congresso que a saída para aprovar a reforma da Previdência é deixar
na proposta medidas que acabam com privilégios e preservam os trabalhadores de
baixa renda, o governo negociou nesta quinta-feira com os parlamentares uma
nova concessão: permitir o acúmulo de benefícios (pensões e aposentadorias)
acima de dois salários mínimos. Esse valor poderia variar de três a cinco
salários mínimos. Na proposta original, a reforma proibia o acúmulo, o que
impactava diretamente os grupos de menor renda. Por isso, na comissão especial
da Câmara, o texto foi alterado para permitir essa sobreposição num limite de
até dois salários. Com a nova mudança, os parlamentares ganham mais argumentos
para defender a reforma em suas bases às vésperas do ano eleitoral.
O governo
também já concorda em retirar da reforma a aposentadoria rural e o BPC
(Benefício de Prestação Continuada) concedido a idosos da baixa renda. Também
cedeu no tempo mínimo de contribuição, que será mantido nos atuais 15 anos (e
não mais 25 anos). Além disso, para enfraquecer o discurso de entidades que
alegam não haver déficit na Previdência, já ficou acertada a retirada da DRU
(Desvinculação de Receitas da União) — mecanismo que dá ao governo liberdade
para manejar livremente 30% dos recursos — da Cofins, receita que é destinada à
seguridade social. Essa manobra, no entanto, é essencialmente política, pois
mesmo com a DRU em vigor, o governo hoje acaba tendo que devolver recursos à
seguridade diante do tamanho do déficit da Previdência, acumulado em R$ 142
bilhões até setembro. Em 2016, a Seguridade Social — que, além da Previdência,
reúne Saúde e Assistência Social — registrou déficit de R$ 258,6 bilhões.
— Outra decisão que está tomada é a exclusão da DRU do orçamento da Seguridade Social. O governo em 2015 tirou R$ 30 bilhões via DRU e depois devolveu R$ 150 bilhões (para a Seguridade). Ou seja, devolveu o déficit do sistema, que era de R$ 120 bilhões, mais R$ 30 bilhões que tinha tirado. Para quê tirar e botar de novo? É mais fácil o governo não tirar a DRU e botar apenas os R$ 120 bilhões, que são o déficit da Previdência. Até para evitar essas conversas maledicentes de quem quer tumultuar o debate e insiste em dizer que não existe déficit da Previdência — explicou ontem o relator da reforma, deputado Arthur Maia (PPS-BA), depois de um café da manhã com o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e parlamentares.
R$ 520
BILHÕES COM REFORMA
Meirelles disse que a reforma mais
enxuta precisa preservar um ganho fiscal substancialmente superior a 50% da
proposta original. O projeto inicial trazia medidas que dariam uma
redução de gastos de R$ 800 bilhões em dez anos. Mas, depois de a reforma
passar por modificações em comissão especial, essa economia já caiu para R$ 600
bilhões (75% do original). Agora, de acordo com o ministro, o número precisa
ficar acima de R$ 400 bilhões. De acordo com interlocutores, a equipe econômica
pretende negociar até o fim para assegurar R$ 520 bilhões.
Após
lançar, nesta quinta-feira, o programa “Agora, é avançar”, que promete
investimentos de R$ 130 bilhões para a retomada de obras paradas, o presidente
Michel Temer afirmou que está animado com a aprovação da reforma da
Previdência:
— Eu acho
que há (possibilidade de votar), desde que se explique direitinho o que é a
verdadeira reforma da Previdência e a importância dela, até porque o único
objetivo dessa reforma é combater privilégios e preservar os mais pobres e
vulneráveis.
Segundo
interlocutores do governo, caso a reforma mantenha como espinha dorsal uma
idade mínima, com regra de transição, tempo de contribuição em 15 anos, pensão
por morte limitada a 50% mais 10% por dependente, e acúmulo de benefícios
limitado a dois salários mínimos ou um pouco mais, ela já seria suficiente para
assegurar os mais de 50% apontados por Meirelles.
— A cada
mudança, nós temos que olhar qual é a redução do benefício. O projeto final
aprovado, sancionado, tem que ser substancialmente acima de 50% dos benefícios
originais. Caso contrário, outras coisas terão que ser feitas — disse o
ministro, ao participar do 1º Seminário Internacional de Dívida Pública.
Meirelles
disse ainda que a reforma da Previdência é “uma necessidade matemática” e não
“questão de opinião política ou desejo”. Ele informou que o governo está
apresentando aos parlamentares cálculos sobre o impacto que cada mudança terá
sobre as contas públicas. Segundo ele, o governo espera chegar a um acordo após
o feriado de 15 de novembro, na semana que vem. — As
pessoas me perguntam qual é a proposta (para a Previdência) agora. Eu digo que
o Congresso é soberano. No entanto, estamos dialogando e fornecendo cálculos.
Não é uma questão de opinião política ou desejo. É uma necessidade matemática,
fiscal. Ela precisa ter um impacto importante para equilibrar as contas no
futuro — disse Meirelles.
O
ministro lembrou que as mudanças no regime de aposentadorias no país são
essenciais para assegurar a regra do teto de gastos, pelo qual as despesas só
podem crescer com base na inflação do ano anterior. Isso porque os gastos com
aposentadorias respondem por 50% do Orçamento da União e tendem a continuar
subindo nos próximos anos, ocupando o espaço de outras despesas como as com
saúde, educação e investimentos. Segundo
ele, se a regra do teto fosse eliminada, isso traria consequências negativas
para a confiança na economia brasileira:— Sem o
teto, despesas e dívida pública aumentam e haverá perda da confiança e volta da
inflação.
‘Nenhum
partido tem maioria para votar’
Rodrigo
Maia reafirmou que não pode se comprometer em votar a reforma da Previdência
até 15 de dezembro, antes do recesso. Maia disse que “não adianta” fixar uma
data sem antes articular a base aliada do governo Temer. Ele considerou
positivo o encontro da manhã desta quinta-feira e voltou a dizer que hoje o
ambiente é “difícil” para se votar uma reforma, devido à resistência dos
parlamentares ao tema.
— Não
tenho como dizer se a Câmara terá condições de votar até 15 de dezembro. Minha
vontade é que se vote os dois turnos, mas não vou prometer aquilo que não posso
entregar. E não vou pautar a reforma da Previdência de qualquer forma, porque
uma derrota vai ser uma sinalização muito ruim. Todos os partidos estão dando
trabalho, nenhum partido pode dizer aqui que está votando majoritariamente na
Previdência. Nenhum partido hoje tem maioria para votar.
O Globo
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