O ex-deputado Roberto Jefferson simboliza o anacronismo da elite do país
O
ex-deputado Roberto Jefferson, que teve seu clã resgatado (nas suas palavras)
com a nomeação da filha, Cristiane Brasil, para o Ministério do Trabalho,
simboliza o anacronismo incrustado na elite iluminada e reformista do país. Das
reformas do “collorato”, cuja tropa de choque ele comandou com 70 quilos a
mais, ao reformismo de Michel Temer, Roberto Jefferson é a face parlamentar de
um bloco político que vai do Congresso à Avenida Paulista. Numa ponta, a da
avenida, ele é cosmopolita e tem currículo de grifes. Noutra, a do plenário de
Brasília, tem prontuários. [em que pese parecer um absurdo a nomeação da filha de Roberto Jefferson para o Ministério do Trabalho, temos que considerar como uma honraria prestada a um herói nacional: foi Roberto Jefferson quem denunciou o MENSALÃO - PT, o que começou o desmonte da farsa Lula, do maldito lulopetismo, e do projeto diabólico de perenização no poder da corja petista e deu ânimo para o PETROLÃO - PT e garantiu para Lula algumas dezenas de anos em condenação.]
O doutor
Jefferson foi condenado a sete anos de cana por corrupção. Passou três anos
preso, ganhou o benefício do regime aberto e, em 2016, foi indultado. Sua filha
Cristiane estava na equipe da modernidade do Rio de Janeiro, ao tempo do
prefeito Eduardo Paes, com títulos típicos da época: secretária Extraordinária
da Terceira Idade e secretária Especial do Envelhecimento Saudável e Qualidade
de Vida. A ida da
senhora para o ministério destinou-se a garantir a fidelidade dos 26 votos do
bloco partidário liderado pelo PTB, presidido por seu pai, na votação da
reforma da Previdência.
Há uma
disfunção entre a natureza ideológica das reformas de Temer e a essência
fisiológica de sua base parlamentar. À primeira vista, alguém está enganando
alguém, mas cada lado acha que está enganando o outro e ambos acreditam que
estão enganando todo mundo. Não há
novidade nisso. Antonio Palocci, o queridinho da banca no primeiro governo de
Lula, está na cadeia, mas é falta de educação falar nisso. O “Italiano” da
Odebrecht não sabia, mas encarnava o paradoxo de Roberto Campos. Liberal
brilhante, em 1982 ele se elegeu senador por Mato Grosso, um estado com
razoável população indígena. No mesmo ano, o Rio de Janeiro, onde só há índios
no bloco Cacique de Ramos, elegeu o xavante Mário Juruna para a Câmara Federal.
A eleição de Campos entrou para a crônica do caixa dois das eleições nacionais.
De
Barão.do.Rio.Branco@edu para Temer@gov
Senhor
presidente,
Quando
vosmicê estava em campanha para depor Dilma Rousseff, anunciou que faria um
ministério de notáveis. Não o fez, mas disse que formou uma equipe de jovens.
Estou aqui com o Visconde do Uruguai e vimos que o senhor fez um ministério de
notáveis rebentos. Sua última escolha foi a senhora Cristiane Brasil, filha de
Roberto Jefferson. Ela se junta a Fernando Coelho Filho (Minas e Energia),
Sarney Filho (Meio Ambiente) e Helder Barbalho (Integração Nacional). Na sua
equipe estiveram Geddel Vieira Lima e Henrique Alves, filhos do doutor Anfrísio
e do governador Aluízio.
Eu e o
Uruguai não podemos reclamar disso. Sou filho do Visconde do Rio Branco e ele é
pai do Paulino José de Souza, o irredutível adversário da Lei do Ventre Livre.
ACM Neto descende de Antonio Carlos Magalhães, que sucedeu no governo da Bahia
a Luís Viana Filho, cujo pai governou o estado ao tempo da Guerra de Canudos. O
avô de Nelson Jobim governou o Rio Grande do Sul. Ele presidiu o Supremo
Tribunal e foi ministro da Justiça.
O que
intriga no seu Ministério é a taxa de encarceramento. Quatro detentos ou filhos
de ex-detentos num só Ministério é coisa nunca vista em nossa História, nem na
das outras. Estão na cadeia Henrique Alves e Geddel. Estiveram presos o senador
Jader, pai de Helder Barbalho, e Jefferson, pai de Cristiane. Nenhum deles foi
para a cadeia por crime de opinião.
O Brasil
teve uma gloriosa galeria de presos, do Padre Vieira a Tomás Antônio Gonzaga e
José Bonifácio de Andrada. Nenhum deles tocou em dinheiro alheio. Do seu
criado,
José
Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco.
FH e
Alckmin
Uma banda
do tucanato eriçou-se porque Fernando Henrique Cardoso disse que, na hipótese
de aparecer um candidato a presidente com capacidade de unir o centro, o PSDB
deve apoiá-lo, mesmo que não pertença ao partido: “Vai fazer o quê?”
Esse
enunciado do óbvio foi entendido como uma joelhada na candidatura do governador
Geraldo Alckmin, e FH soltou uma nota explicando-se, sem desmentir-se.FH duvida
que a candidatura de Alckmin voe. Apesar de existirem diversos tipos de doidos,
nunca se soube de alguém que entrasse em avião sabendo que ele ia cair.
Xô,
Clinton
O
jornalista Michael Wolff revelou no seu livro “Fire and Fury” que Donald Trump
dava por certa a sua derrota na eleição de 2016.
O
Trumpistão que se instalou na Casa Branca deriva, em parte, dessa perplexidade.
Não foi Trump quem ganhou, foi Hillary Clinton, com sua postura majestática,
quem perdeu. Se Deus tiver pena do Partido Democrata, dará um jeito de livrá-lo
do casal Clinton na campanha deste ano.
Provocação
O
prefeito tucano de Porto Alegre, doutor Nelson Marchezan Jr., teve a primeira
péssima ideia do ano. Pediu ao presidente Michel Temer que coloque tropas do
Exército nas ruas de sua cidade no dia 24, quando o TRF-4 julgará Lula.
Marchezan
diz que fez isso “para proteger o cidadão e o patrimônio público”. Acredita
quem quiser. O Rio Grande é protegido por uma Brigada com 18 mil militares. O nível
de inteligência dessa iniciativa pode ser comparado ao dos “generais do povo”,
que puseram tanques para enfeitar as cercanias do comício da Central no dia 13
de março de 1964.
Porto
Alegre
Há no PT
uma articulação para transformar o ato de apoio a Lula num espetáculo de ordem.
Para isso, haverá um esquema de pacificação, de olho em provocadores. O
comissariado escaldou-se com o que aconteceu em Brasília em abril. Dentro da
manifestação petista havia um grupo escolhido para invadir o Congresso. Antes
que ele se mexesse, mascarados, saídos sabe-se lá de onde, começaram a quebrar
prédios da Esplanada dos Ministérios.
O
quebra-quebra levou o governo a botar uma tropa do Exército na rua, dizendo que
atendia a um pedido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o que era falso.
Elio Gaspari, jornalista - O Globo
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