“Perdoa-me por Me Traíres” é o título de uma peça do dramaturgo Nelson
Rodrigues, escrita em 1957, mas que poderia servir perfeitamente de
epíteto para a situação do presidente do PEN-Patriota, Adilson Barroso, e
do presidente interino do Livres, Paulo Gontijo. Mesmo que em
diferentes níveis, os dois viram seus projetos políticos serem
atropelados pelo casamento consumado (expressão usada pelos próprios
envolvidos) entre o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o PSL, de Luciano Bivar (PE).
Barroso é o presidente do PEN-Patriota, que até a semana
passada ainda era a legenda escolhida pelo hoje segundo colocado nas
pesquisas de intenção de votos, Jair Bolsonaro, para concorrer à
Presidência da República. Já o publicitário Gontijo foi alçado à
presidência interina do Livres depois que o movimento foi expelido do
PSL, onde militavam havia dois anos, por não concordarem com a chegada
dele, o Bolsonaro.
Barroso, claramente, não pretende fechar as portas para
Bolsonaro. Por isso, quando fala em traição, faz questão de ressaltar
que a traição foi da equipe do deputado. “O Bolsonaro foi enganado por
um grupo mal-intencionado que está ao redor dele. Esse grupo não quer
elegê-lo presidente. O que eles querem é tomar um partido. Fui traído
pelo grupo dele”, disse.
Ainda assim, Barroso sinalizou com a possibilidade de
receber Bolsonaro de volta – caso o casamento com o PSL não seja assim
tão feliz. “Aqui ainda tem vaga para ele. Mas com a condição de ter o
controle político do partido. Aqui, eu digo, ele pode ter a legenda –
isso se nenhuma denúncia pegar nele.” Ou seja, Barroso não acreditou que o casamento do deputado
com o PSL possa vingar. “Já tem muito arranhão lá no PSL. Eles (o grupo
do Bolsonaro) vão pedir tudo e vai dar briga. Aqui no Patriota nós temos
uma unidade grande. Aqui, quando eu falo ‘a’ é ‘a’. Aqui, quando eu
falo ‘você será candidato’, todos acompanham. No PSL metade é contra o
Bolsonaro, metade é a favor. No Patriota não tem essa questão de
maioria, aqui tem unanimidade.”
Barroso prevê que a candidatura Bolsonaro pode cair no colo
de outra legenda. “Não sou profeta, sou técnico. E acho que é o que
provavelmente vai acontecer”, afirmou.
Gosto amargo
Já Gontijo, dos Livres, admitiu que no cálculo de Bivar,
presidente do PSL, teve um quê de pragmatismo eleitoral, mas que “chegou
com gosto de traição”. “Foi um trabalho desenvolvido ao longo de dois
anos, tínhamos o controle de 12 Estados, da fundação e da comunicação.
Todas essas coisas são marcos de um trabalho bem-feito. Quando tudo isso
muda em questão de dias não dá para dizer que não fica um gosto
amargo.”
Apesar do amargor, Gontijo é otimista. Ele viu as redes
sociais do Livres crescer em uma semana o que crescia em seis e tem
recebido a solidariedade de partidos como Novo, Rede e PPS. “Ainda não
definimos se os candidatos do Livres vão sair por um partido ou
espalhados por vários.” A assessoria do deputado Bolsonaro foi procurada, mas não se
manifestou. Bivar, do PSL, foi procurado, mas também não respondeu à
reportagem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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