A nova cartada do grão-tucano revela o esgotamento
de seu partido, de sua prática
Quando
Fernando Henrique Cardoso se referiu à candidatura de Luciano Huck à
Presidência da República, louvou “suas boas intenções” e disse que “para o Brasil seria
bom, mas não sei o que ele vai fazer”. FHC sabe o que gostaria que ele
fizesse, mas não sabe o que Huck fará, nem antes nem depois de uma eventual
candidatura. Sabe apenas que tem “boas intenções”.
Faz tempo
que FHC flerta com o “novo”. Em 1989, para um pedaço do tucanato, o “novo”
era o ator Lima Duarte, de 59 anos, para ser o
candidato a vice na chapa de Mário Covas à Presidência da República. O “novo”
chamou-se Fernando Collor e foi eleito. Em 2012 pensou-se pela
primeira vez em Huck, recrutando-o para uma candidatura ao Senado em
2016.
Estranho “novo”
esse, vem sempre da telinha. Isso num partido que perdeu quatro eleições
presidenciais e tem em Geraldo Alckmin seu provável candidato. Assim, o PSDB
terá oferecido ao eleitorado dois repetecos, com José Serra e Alckmin, mais um “novo”
com Aécio Neves. FHC buscou o “novo” na telinha por diversos
motivos, mas acima de todos está o desejo de ganhar a eleição. Se ele conhece
virtudes além das “boas intenções” de Huck, não as revelou. Nem ele nem o “novo”,
que, em um ano de breves enunciados, repetiu platitudes capazes de humilhar
campeões do óbvio como Michel Temer e Geraldo Alckmin.
Em 1960,
aos 29 anos, Fernando Henrique Cardoso fez-se notar na academia paulista coordenando
uma palestra do escritor francês Jean-Paul Sartre. Passou-se mais de meio
século, ele governou o país por oito anos e recuperou a credibilidade econômica
do Brasil. Fez isso com jovens audaciosos como Pedro Malan e Gustavo Franco
mas, por artes de Asmodeu, o PSDB nada produziu além de Geraldo Alckmin e
Aécio Neves, um “novo” que descarrilhou. (Vai aqui uma hipótese:
Malan e Franco nunca se moveram nos trilhos por onde andou Aécio.)
Não
se pode responsabilizar FHC pela ruína do PSDB, mas ele foi parte dela. Quando saiu do PMDB,
acompanhando Mário Covas e Franco Montoro para livrar-se das práticas que o
haviam contaminado, buscava algo novo e foi bem-sucedido. O tucanato
envelheceu, em vários sentidos. Indo buscar o “novo” na telinha,
FHC e os articuladores da candidatura de Huck atestam o fracasso de suas
práticas políticas. Huck é um profissional bem-sucedido no seu ofício, nada
mais que isso. Num sistema em crise, a política francesa produziu Emmanuel
Macron, um quadro saído da militância do Partido Socialista e do banco
Rothschild. (Macron é seis anos mais novo que Huck.)
Huck é um
bom candidato para quem tem medo de perder eleição, e só. De Sartre a Huck, FHC percorreu
sua curva. Em 1960, a plateia tinha faixas que diziam “Cuba sim, ianques
não”. Naquele ano, uma parte do andar de cima nacional, cansada de
perder eleições, embarcou na candidatura de um político telúrico e bom de
votos. Chamava-se Jânio Quadros. (É imprópria qualquer
comparação de Huck com Jânio, um doido, larápio e dado ao copo.) A ideia
central era ganhar a eleição.
Os
poderes da telinha produziram dois fenômenos políticos. Primeiro, o italiano
Silvio Berlusconi, pela propriedade do meio de comunicação. O segundo,
Donald Trump, em parte celebrizado pelo seu programa “The Apprentice”.
Elio
Gaspari é jornalista - O Globo
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