Ministro determina que o presidente Jair Bolsonaro deponha pessoalmente na Polícia Federal sobre a denúncia de intervenção política na corporação. Advogados de Sergio Moro, autor das acusações, poderão fazer perguntas ao investigado
Uma decisão do ministro Celso de Mello coloca novamente
o Supremo Tribunal Federal (STF) em choque com o Poder Executivo. O
magistrado determinou, ontem, que o presidente Jair Bolsonaro compareça
pessoalmente à Polícia Federal para depor sobre eventual tentativa de
interferir na corporação. A determinação passou a constar no inquérito
aberto após as declarações do ex-ministro Sergio Moro. No despacho,
Celso de Mello afirma que Bolsonaro “é investigado, e não figura como
testemunha”, por isso, não tem a prerrogativa de depor por escrito. A
decisão foi tomada no dia 18 de agosto, mas o magistrado tirou licença
médica e só a assinou nesta sexta-feira, no retorno ao trabalho. Por
ora, o Planalto prefere avaliar o cenário e evitar ataques contra a
Corte, que agora é presidida por Luiz Fux.
[Não tem muito sentido considerar a possibilidade de choque; o
decano apenas autorizou o depoimento oral e deixou por conta do delegado da PF, que preside o inquérito, decidir dia, hora e local.
Além do que:
- trata-se de uma decisão monocrática da qual cabe recurso ao plenário do STF - com efeito suspensivo;
- nada impede que o presidente do inquérito decida comparecer ao local de trabalho do presidente da República e lá proceda a oitiva (salvo melhor juízo, assim procedendo o delegado não estará desobedecendo ordem judicial, ou favorecendo o presidente). A recomendação de respeito à direta imediatidade não terá efeito em curto prazo.
- a presença, mesmo participação, do ex-juiz, ex-ministro no interrogatório foi autorizada - autorização não significa obrigação de fazer e sim permissão para fazer = nem o ex-juiz, nem o presidente Bolsonaro solicitaram, foi uma decisão 'ultra petita';
- o decano aposenta no próximo dia 1º de novembro - aposentadoria compulsória, inadiável - e, ainda que não houvesse recurso, dificilmente haveria tempo hábil para a oitiva até aquela data.
Além do mais, o presidente Bolsonaro já declarou que não tem nada contra o depoimento presencial e no local que lhe for imposto = está exercendo um direito legítimo, mesmo os que não concordam (estamos entre eles) nada podem fazer - seria ótimo que a situação fosse deslindada ainda este mês para que o processo fosse arquivado, no máximo, até 31 de outubro/2020, antes da aposentadoria tão protelada.
Agora, uma opinião jurídica - que não é nossa área:
- o decano do STF, estendeu sua licença médica até 26 de setembro/2020.]
(...)
Cabe recurso da decisão ao plenário do Supremo, tendo em vista que foi uma decisão monocrática. Bolsonaro, ao contrário de outras situações, adotou o
silêncio em relação ao despacho. Nem ele, nem os ministros que compõem o
seu governo falaram publicamente sobre o assunto. No entanto, o chefe
do Executivo reuniu-se com o advogado-geral da União, José Levi, na
tarde de ontem, horas após saber da decisão enquanto participava da
inauguração de uma obra na Bahia. A avaliação é de que serão criadas estratégias
jurídicas para recorrer e até mesmo mudar a forma de oitiva. Em razão da
recente troca na presidência do STF — Luiz Fux assumiu o comando do
tribunal na última quinta-feira —, interlocutores do presidente
recomendam evitar atritos no momento, algo que poderia deflagrar uma
relação conturbada com o Judiciário.
Em junho, Bolsonaro afirmou que
poderia, sim, prestar depoimento presencial, caso fosse necessário.
Disse não estar preocupado com a medida e que o inquérito acabará sendo
arquivado. “Eu acho que esse inquérito que tá na mão do senhor Celso de
Mello vai ser arquivado. A PF vai me ouvir, estão decidindo se vai ser
presencial ou por escrito, para mim tanto faz. O cara, por escrito, eu
sei que ele tem segurança enorme na resposta porque não vai titubear. Ao
vivo pode titubear, mas eu não estou preocupado com isso. Posso
conversar presencialmente com a Polícia Federal, sem problema nenhum",
apontou, à época.
Esta não é a primeira vez que um presidente da
República precisa depor como investigado. Em 2017, o ex-presidente
Michel Temer foi acusado de envolvimento em um esquema de corrupção
criado para beneficiar a empresa Rodimar, operadora do Porto de Santos.
O então chefe do Executivo editou um decreto que expandia benefícios
concedidos para empresas portuárias. Ele foi acusado de receber propina
da Rodrimar para publicar as novas regras. Na ocasião, o relator do
inquérito era o ministro Luís Roberto Barroso. Ele entendeu, que por se
tratar do chefe do Executivo, o presidente poderia prestar depoimento
por escrito, ou agendar dia, local e horário para ser ouvido.
A defesa de Temer informou que enviaria as respostas
por escrito, e solicitou ao ministro que fixasse um prazo para que isso
acontecesse. No mesmo ano, acusado de envolvimento na Lava-Jato, Temer
foi chamado novamente para depor. Neste caso, o relator, ministro Edson
Fachin, concedeu prazo de 24 horas para que 82 perguntas elaboradas pela
PF fossem respondidas, e assim ocorreu. Na ocasião, assim como no caso
de Jair Bolsonaro, a PGR manifestou-se a favor do depoimento por
escrito. Fachin não viu impedimentos, já que mesmo o Ministério Público
foi a favor.
As acusações de Moro
Interferência na PF
“Houve essa insistência (de mudança do comando da PF). Eu disse que seria uma interferência política e ele disse que seria mesmo.”
“Houve essa insistência (de mudança do comando da PF). Eu disse que seria uma interferência política e ele disse que seria mesmo.”
Relatórios de inteligência
“O presidente me disse, [não significa fez ou mandou fazer - expressão de um mero entendimento do presidente.]mais de uma vez, que ele queria ter uma pessoa de contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência, seja o diretor, seja o superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal.”
“O presidente me disse, [não significa fez ou mandou fazer - expressão de um mero entendimento do presidente.]mais de uma vez, que ele queria ter uma pessoa de contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência, seja o diretor, seja o superintendente, e realmente não é o papel da Polícia Federal.”
A defesa de Bolsonaro
Blindagem
“Nunca pedi a ele (Moro) para que a PF me blindasse onde quer que fosse. (...) Eu nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo. Até porque a inteligência, com ele, perdeu espaço na Justiça”. [ nos parece que a perda de espaço referida, atingiu todos os conceitos de inteligência]
“Nunca pedi a ele (Moro) para que a PF me blindasse onde quer que fosse. (...) Eu nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo. Até porque a inteligência, com ele, perdeu espaço na Justiça”. [ nos parece que a perda de espaço referida, atingiu todos os conceitos de inteligência]
Obstrução
“Não são verdadeiras as insinuações de que eu desejaria saber sobre investigações em andamento”.
“Não são verdadeiras as insinuações de que eu desejaria saber sobre investigações em andamento”.
Troca de comando
“Falava-se de interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o ministro, por que não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Não tenho que pedir autorização a ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo. (...) Sempre dei plena liberdade a meus ministros, sem abrir mão de meu poder de veto e minha autoridade”.
“Falava-se de interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o ministro, por que não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Não tenho que pedir autorização a ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo. (...) Sempre dei plena liberdade a meus ministros, sem abrir mão de meu poder de veto e minha autoridade”.
Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA
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