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segunda-feira, 8 de abril de 2019

As dúvidas do BC sobre a recuperação da atividade

Estímulo monetário se transmite à economia da forma esperada

O Banco Central investiga as causas do baixo crescimento da economia. O diagnóstico final não é para agora - dependerá do exame de dados que serão divulgados ao longo do tempo. Quando ficar pronto, terá um peso importante na definição da direção da taxa básica de juros, hoje fixada em 6,5% ao ano. Para fins de entendimento, é útil dividir os estudos do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em dois grupos. Um deles procura verificar se os choques que atingiram a economia no ano passado levaram a uma desaceleração temporária da atividade. O outro tema é observar se os estímulos monetários injetados pelo BC entre 2016 e 2018 estão se transmitindo à economia pelos canais esperados.

A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, de 1,1%, ficou abaixo do 1,3% previsto pelo Banco Central. A autoridade monetária rebaixou a sua projeção de expansão do PIB para 2019, de 2,4% para 2%. Além disso, reconheceu em documentos oficiais que "indicadores recentes de atividade econômica apontam ritmo aquém do esperado". A avaliação do BC, porém, é que, apesar de tudo, a economia segue se recuperando num ritmo gradual. As projeções do BC e dos analistas econômicos do mercado para a expansão do PIB de 2019 foram reduzidas basicamente para se adequar ao fato de que, no ano de 2018, a economia terminou em um nível mais baixo - o que se chama tecnicamente de efeito carregamento. O Banco Central e o mercado, segundo essa linha de raciocínio, teriam mantido suas previsões para a expansão da economia trimestre a trimestre. Um dado ilustrativo é que, ao mesmo tempo em que reduziu de 2,5% para 2% as projeções de crescimento para 2019, o mercado financeiro elevou de 2,5% para 2,75% a projeção de expansão para 2020.

Apesar de ter ratificado que a economia segue se expandindo num ritmo gradual, o Copom indicou que está aberto a mudar de opinião. Por isso vai se dedicar, durante um período que extrapola o curto prazo, a fazer estudos e observar as novas informações. Uma tese do BC que deverá ser testada é se, de fato, o crescimento abaixo do esperado em fins de 2018 e começo de 2019 é reflexo de choques e incertezas que atingiram a economia brasileira no ano passado. A lista de fatores é imensa: o estresse no mercado provocado pela processo de alta de juros nos Estados Unidos; a greve dos caminhoneiros; a crise que afetou a Argentina; as incertezas das eleições presidenciais; e a desaceleração da economia mundial.

Ao longo do tempo, o BC tem se empenhado em estimar, quantitativamente, os efeitos de alguns desses eventos na economia. Há um ano, o Copom divulgou um estudo no seu Relatório de Inflação tentando destrinchar como episódios de incerteza econômica afetam a inflação. O modelo econômico apresentado explora dois canais: a alta do dólar leva a uma pressão inflacionária quase imediata; mas num prazo mais longo ocorre um pequeno efeito desinflacionário, refletindo os impactos das incertezas sobre a atividade.

Gráficos apresentados nesse estudo mostram uma relação inversa entre dois indicadores, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) e o Indicador de Incerteza Econômica (IIE-Br). A relação é a esperada e um tanto óbvia - a incerteza leva a maior capacidade ociosa -, mas o estudo ainda assim é relevante para explorar a intensidade e as defasagens com que esses fenômenos ocorrem, dois aspectos importantes para cálculos sobre como a política monetária deve reagir. A indústria foi, do lado da oferta, uma das maiores frustrações no desempenho da economia em 2018. O ano começou bem, com um crescimento de 4,5% no primeiro trimestre, mas o quadro mudou em meados do ano. Um evento importante foi a greve dos caminhoneiros, que levou a uma forte queda na produção em maio, seguida de uma alta em junho. Mas, a partir daí, o desempenho foi frustrante, chegando no ultimo trimestre com uma expansão de 1,8%.

Outro estudo, publicado na edição do Relatório de Inflação divulgado há duas semanas, tenta entender como dois fatores em especial prejudicaram o desempenho da indústria em 2018 - a crise na Argentina e a decisão dos produtores de destinar a cana-de-açúcar à produção de etanol em vez da de açúcar. O BC estima que a queda das exportações para a Argentina teve um impacto de 0,38 ponto percentual sobre a indústria; a destinação da cana para o etanol em vez de açúcar teve um impacto de 0,58 ponto. O BC diz que esse eventos não explicam toda a frustração da indústria, mas têm um peso relevante.

Ao mesmo tempo em que junta indícios de que o baixo crescimento recente pode estar influenciado por choques e incertezas, que tendem a afetar a economia de forma temporária, o Banco Central tem colhido sinais convincentes de que o estímulo monetário tem se transmitido. No Relatório de Inflação, o BC informa que aumentou a sua projeção para a expansão do estoque de crédito em 2019, de 6% para 7,2%. A alta será particularmente mais acentuada no segmento de crédito livre, com um avanço de 12,5%, ante 10,5% estimados em dezembro. Essa é a parte do mercado mais sensível aos estímulos monetários. As famílias passaram por um processo de desalavancagem e suas dívidas são historicamente baixas.

O BC não divulga projeções sobre o crescimento das concessões de crédito, cuja velocidade de crescimento tem oscilado mês a mês. Mas, na apresentação do Relatório de Inflação, o diretor de política econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, destacou a tendência de aumento das concessões dessazonalizadas desde o começo de 2017. Outro fator de sustentação do PIB que tem sido citado pelo Banco Central é o aumento da massa salarial real. Embora o crescimento do nível de emprego tenha sido mais baixo, houve uma contribuição importante dos baixos níveis de inflação.

O BC, porém, pode estar enganado no seu diagnóstico sobre a atividade. Nessa hipótese, os sinais são de que cortará mais os juros, se os demais condicionantes da política monetária permitirem: expectativas de inflação, balanço de riscos (incluindo a reforma da Previdência e o ambiente externo) e projeções de inflação.
 
Alex Ribeiro - Valor Econômico
 

terça-feira, 19 de março de 2019

Devagar, quase parando

“Gande fiador da reforma da Previdência, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobra mais engajamento de Bolsonaro na sua aprovação”


A nova dor de cabeça do Palácio do Planalto é a desaceleração da economia, que já preocupa a equipe econômica e o mercado financeiro, devido à queda de arrecadação e aos indicadores negativos. Todo mundo está de olho na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), que começa hoje e pode reduzir a taxa de juros para conter a desaceleração. O fraco desempenho da economia brasileira atrapalha até a comitiva do presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos junto aos investidores, que avaliam nossas taxas de crescimento e aguardam a aprovação da reforma da Previdência para tomar decisões relevantes sobre o Brasil.

Com a inflação sob controle e a Bovespa ultrapassando a marca histórica os 100 mil pontos, a expansão do PIB neste ano é estimada em 2%. O desemprego, porém, foi de 12% nos três meses até janeiro, ou seja, em torno de 12,7 milhões de pessoas. No quarto trimestre do ano passado, 3,1 milhões de pessoas estavam havia dois anos ou mais procurando emprego, o equivalente a mais de um quarto do total. O alarme, porém, foi dado pela equipe econômica porque a atividade econômica em janeiro recuou 0,41%.

É óbvio que o governo Bolsonaro não tem a menor culpa nesse cartório, mas precisa reverter a situação. Para o mercado, tudo dependerá da aprovação da reforma da Previdência. Se a reforma for aprovada, as perspectivas da economia para o segundo semestre poderão melhorar. Se nada for feito, o horizonte é de recessão. Em janeiro, a produção industrial caiu 0,8% em relação a dezembro, o volume de serviços também recuou, 0,3%.

Congresso
Por enquanto, o grande fiador da reforma da Previdência é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que cobra mais engajamento do próprio presidente da República nas articulações e um maior compromisso da base governista com a sua aprovação: “Não temos 320 deputados que foram eleitos com a agenda da reforma da Previdência. Temos de mostrar aos 320 a importância da reforma. Nós, que defendemos a urgência e a decisiva reforma da Previdência, precisamos mostrar a 250, 280 deputados que não foram eleitos com essa agenda, que, para que o Brasil volte a investir, a gente precisa da reforma da Previdência”, disse ontem.


No sábado, Maia foi anfitrião de uma reunião de Bolsonaro com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, na qual se articulou uma espécie de pacto entre os poderes para aprovar a reforma. Mas, isso depende da capacidade de articulação política do governo. O compromisso de Maia é aprovar a reforma no primeiro semestre, porém a profundidade das mudanças dependerá das negociações. Uma peça-chave para construção de um acordo robusto é o ministro da Economia, Paulo Guedes, que pretende obter uma economia de R$ 1 trilhão no decorrer de 10 anos.

Para Maia, algumas discussões protagonizadas pelo governo atrapalham mais do que ajudam, como as mudanças de regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a colocação em pauta da desvinculação das receitas orçamentárias. Segundo o presidente da Câmara, se o BPC não tiver nenhum impacto fiscal relevante, o ideal é que não se trate a questão. Maia também receia que a discussão sobre a desvinculação possa criar problemas com as bancadas da saúde e da educação.
 
O presidente da Câmara também defendeu que os militares colaborem com a reforma: “Os militares sabem fazer conta. Ou eles ajudam, como têm ajudado a fazer a reforma também das Forças Armadas, ou eles vão ficar também sem receber salário”. A exclusão das Forças Armadas do projeto de reforma criou problemas na Câmara, porque os políticos condicionam a discussão à inclusão dos militares, que têm um regime diferenciado. O governo pretende mandar a proposta ainda nesta semana. A ideia básica é aumentar o tempo de serviço. [a reforma é necessária; e se valer da necessidade para fazer  o que os deputados estão fazendo tem um nome: chantagem.]


 Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB 



quinta-feira, 14 de março de 2019

Incertezas seguram a economia

Coluna publicada em O Globo - Economia 14 de março de 2019

A inflação acelerou mais do que se esperava em fevereiro, mas os culpados do mês foram rapidamente identificados. O feijão, por exemplo, com alta de mais de 50%, conforme a medida do IPCA, índice do IBGE. Mas não só. Alimentos em geral tiveram alta forte. Também a energia elétrica, mais matrículas e mensalidades escolares, neste caso eventos exclusivos de fevereiro.
E daí?

Daí que nada. Todos os demais itens mostram uma inflação mais do que comportada, rodando há vários meses abaixo da meta do Banco Central. Para este ano, a meta é de 4,25%. Em fevereiro, o IPCA acumulado em 12 meses bateu 3,89%, sendo um pouquinho menor (3,85%) a previsão do mercado para o ano todo.
Tudo muito bem, portanto?
Mais ou menos. O problema é que assim como a inflação, o Produto Interno Bruto (PIB) também está encolhendo. Cresceu apenas 1,1% no ano passado, e as previsões para 2019 vêm caindo há semanas, estando agora em 2,28% – muito baixo.
Acrescente-se ao cenário a taxa de desemprego (12%) e se verifica que a inflação baixinha em si, um dado positivoreflete também a fraqueza geral da economia. É por isso que muitos analistas acreditam que o Comitê de Política Monetária do BC, o Copom, deverá voltar a reduzir a taxa básica de juros, fixada em 6,5% desde março do ano passado. É um recorde de baixa e de baixa prolongada no regime de metas de inflação.

Faz sentido. Quanto menor a taxa de juros, maior o incentivo para que consumidores e investidores tomem empréstimos e gastem em alguma coisa. Mais PIB, portanto.  Ocorre que a economia brasileira tem muitos outros problemas que desestimulam e/ou adiam investimento e consumo com dinheiro emprestado. Em outras palavras, o pessoal não anda muito animado para tomar compromissos a longo prazo, sequer a médio.  Poderia dizer que a dúvida principal está na situação das contas públicas – ou seja, se haverá ou não a reforma da previdência, já que sem a contenção do déficit previdenciário o governo federal e os estaduais quebram em poucos meses.

É por aí, mas vai além. Há um mal-estar crescente em relação à capacidade das instituições (incluindo o governo executivo, Congresso e Judiciário) em arbitrar e desfazer os impasses que bloqueiam a atividade econômica.  Nem chega, ainda, a ser algo formulado. Mas uma sensação de que pode não dar certo. Fatos em si pequenos, incidentes que passariam despercebidos vão se acumulando e deixando uma má impressão.
O governo Bolsonaro, que assumiu sob expectativa de que faria deslanchar as reformas, a cada dia oferece uma confusão em torno de assuntos que nada têm a ver com as boas propostas (os pacotes Guedes e Moro, por exemplo). As demissões e contra-demissões no Ministério da Educação, por causa rixas entre facções, levantam a dúvida mais que razoável: é esse pessoal que vai reformar o ensino?

O Congresso parece passar o seguinte recado: pode-se votar a reforma da previdência, desde que se restabeleça algum “toma lá dá cá”.  O Supremo Tribunal Federal parece não perceber o tamanho da crise financeira do Estado. Há pouco, por exemplo, decidiu que o governo de Minas não precisa pagar o que deve ao governo federal, nem fazer um programa de ajuste fiscal. (A posição do ministro Paulo Guedes, correta, é condicionar a ajuda federal ao ajuste estadual).

Ok, trata-se de um caso aqui outro ali, mas a sucessão de pequenos incidentes vai criando um baita problema. Por outro lado, não desapareceram as esperanças de alguma boa reforma. Ontem, por exemplo, a Bolsa bateu recorde de alta. Ligou o modo “agora vai”, acreditando que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, vai sustentar a tramitação da reforma da previdência. Mas outro dia mesmo, o pessoal estava apreensivo com as ressalvas do próprio Maia à capacidade de articulação do governo.  Nesse vai e vem, comprar ações, num dia bom, é fácil. Pode-se vender amanhã. Mas iniciar um novo negócio, comprar em várias prestações, é outra coisa.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Preservar o BC que deu certo

Manter a vitoriosa política seguida no BC, sob a liderança de Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três diretores aprovados no Senado

Manter a vitoriosa política seguida no Banco Central (BC) por quase três anos, sob a liderança do presidente Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três novos diretores aprovados ontem pelo Senado. Transparência, cautela, serenidade e perseverança formaram a base da política monetária nesse período, disse o economista Roberto Campos Neto, indicado para a presidência da instituição. Será preciso, acrescentou, preservar esses valores e, se for possível, aprimorar a política. Ao citar aqueles valores, ele repetiu, com acréscimo da palavra transparência, o lema contido na ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), a última conduzida sob a chefia de Goldfajn. 

Igualmente significativa foi a referência, no começo da exposição, à dupla missão legalmente atribuída ao BC: assegurar o poder de compra da moeda, conduzindo a inflação à meta oficial, e garantir a solidez e a eficiência do sistema financeiro. A referência a essa dupla função, definida em lei, está longe de ser mera redundância. É a reafirmação de uma política sensata e bem-sucedida, com a rejeição implícita da inovação defendida, há muitos anos, por políticos autointitulados desenvolvimentistas.

Segundo esses políticos, o mandato do BC brasileiro deveria ser igual ao do americano Federal Reserve (Fed) e incluir entre os objetivos a preservação do emprego. Os defensores dessa proposta geralmente esquecem um detalhe: as decisões do Fed sempre têm como referência uma taxa de inflação moderada e compatível com a melhora sustentável da condição do emprego.Também tem sido essa a orientação da política monetária no Brasil, embora seus objetivos sejam formalmente mais limitados. A redução da taxa básica de juros de 14,25% para 6,50% expressa com clareza uma tentativa de criar, com a necessária prudência, condições favoráveis à expansão dos negócios e do emprego. 

A ampliação oficial do mandato, é fácil prever, abriria espaço à cobrança política de maior tolerância à inflação. É preciso, disse Campos Neto, resistir à falácia “do estímulo inflacionário”. Como comprova a experiência, acrescentou, “o controle da inflação é condição necessária para o crescimento de longo prazo”. Indicado para a diretoria de Política Monetária, o economista Bruno Serra Fernandes também defendeu, basicamente, o prosseguimento da orientação seguida a partir de 2016. Isso inclui a continuação da política de juros e a manutenção do câmbio flutuante como primeira linha de defesa contra choques externos. A ideia de continuidade também caracterizou a apresentação do indicado para a Diretoria de Organização do Sistema Financeiro, João Manoel Pinho de Mello. 

Mas continuidade inclui também o prosseguimento das inovações trazidas pelo programa BC+, criado na gestão do presidente Ilan Goldfajn. Essa política estimulou, nos últimos anos, o avanço das fintechs e a criação de um sistema de pagamentos mais eficiente. O incentivo a mudanças tecnológicas levará a maior eficiência na prestação de serviços e menor custo. Mais segurança e mais competição darão espaço, disse Pinho Neto, a juros menores para o tomador do crédito.  Os três indicados deram ênfase à pauta de mudanças iniciada pelo programa BC+. A eficiência e a confiabilidade das políticas serão reforçadas, concordaram, se consagrada em lei a autonomia do BC. 

As exposições de Bruno Serra Fernandes e João Manoel Pinho de Mello foram quase estritamente técnicas. A de Roberto Campos Neto incluiu uma profissão de fé liberal e desestatizante e referências elogiosas à orientação econômica do novo governo. Ele chegou a declarar-se “perfeitamente alinhado” a essa orientação, voltada para a “ampliação de espaços para a atividade privada em vários aspectos de nosso cotidiano”. Mas esse alinhamento, espera-se, jamais deverá atrapalhar o cumprimento das funções próprias do BC – como um aperto monetário, se as finanças públicas ou fatores externos prenunciarem pressões inflacionárias. Fazer o necessário garantiu o sucesso do BC nos últimos anos. Manter esse padrão já será um grande feito dos novos diretores.

Editorial - O Estado de S. Paulo


 

 

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Inflação não deverá atrapalhar

Confiança de consumidores, investidores e empresários é uma bênção para um governo iniciante e com obrigação de cumprir agenda complexa de ajustes e reformas

O novo governo começou num cenário de inflação bem comportada, um dos melhores legados da administração anterior e de um Banco Central (BC) conduzido com prudência e realismo. Em janeiro, os bens e serviços comprados pela maioria das famílias encareceram 0,32%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência principal para a política econômica. Os aumentos foram maiores que os de dezembro, quando ficaram em 0,15%, mas a alta acumulada em 12 meses bateu em 3,78%. Foi um resultado bem razoável depois de um ano de muita incerteza política, de forte oscilação do dólar e de graves problemas criados no fim do primeiro semestre pela crise do transporte rodoviário. Sempre há reclamações pela alta deste ou daquele produto, mas os consumidores, segundo várias pesquisas, mantêm boas expectativas em relação a 2019. 

Confiança de consumidores, investidores e empresários é uma bênção para um governo iniciante e, mais que isso, com obrigação de cumprir uma agenda complexa e trabalhosa de ajustes e reformas. Se essa confiança se mantiver, a nova administração poderá concentrar-se nas tarefas mais urgentes e mais complicadas, sem ter de se preocupar com desarranjos nos preços e nos orçamentos já apertados da maior parte dos brasileiros. Expectativas favoráveis quanto à inflação também permitirão ao BC manter em 6,50% por vários meses a taxa básica de juros, a Selic. Essa taxa foi confirmada pela sétima vez na última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, na reunião periódica encerrada na última quarta-feira. 

O ritmo anual de alta do IPCA continua bem abaixo da meta oficial, fixada para 2019 em 4,25%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. O resultado final de 2018 foi 3,75%, número bem inferior ao objetivo de 4,50% ainda em vigor no ano passado. Para este ano o mercado projeta para o IPCA uma elevação de 3,94%, segundo a pesquisa semanal Focus divulgada na última segunda-feira pelo BC. Expectativas bem ancoradas, como se diz no jargão dos especialistas, contribuem para a moderação da alta de preços. 

A validação dessas expectativas dependerá principalmente, a julgar pelos dados hoje conhecidos, do empenho do governo na execução de sua pauta. Pode haver algum risco significativo no cenário externo, por causa da prolongada tensão comercial entre as maiores economias e das incertezas do Brexit, a cisão entre Reino Unido e União Europeia. Mas a maioria dos sinais sugere pressões inflacionárias moderadas nos próximos meses.  Os preços no atacado recuaram em janeiro 0,19%, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Em novembro e dezembro, as variações já haviam sido negativas. No acumulado em 12 meses houve uma alta considerável, 7,98%, mas essa taxa foi a menor em oito meses.

De junho a dezembro, a alta dos preços no atacado foi sempre superior a 8% em 12 meses. Os números dos últimos três meses, assim como a taxa anual, apontam uma clara acomodação. Quanto ao preço do dólar, importante fator de pressão, recuou há algum tempo e tem oscilado bem mais suavemente do que na maior parte do ano passado. O IPCA mede a variação dos preços pagos pelas famílias com renda mensal de um a 40 salários mínimos. Além desse, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) produz também um indicador, o INPC, baseado nas despesas das famílias com ganho de um a cinco salários mínimos

Também nesse caso houve aceleração, com a taxa mensal passando de 0,14% para 0,36%. Mas o ritmo anual ficou em 3,57%, abaixo do encontrado para o IPCA. A condição dessas famílias é obviamente muito mais desconfortável, em especial quando a elevação do índice, como em janeiro, é puxada pelos preços da comida. Mas todos os grupos – em proporções diferentes – ganham com preços mais comportados. Para os pobres, no entanto, nenhuma solução será suficiente sem melhores condições de emprego e de empregabilidade. Programas para isso também dependerão de finanças públicas saudáveis e, portanto, de ajustes e reformas.

Opinião - O Estado de S. Paulo
 

 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O que não pode cair na reforma


O projeto que vazou sobre a reforma da Previdência não é a versão que será encaminhada ao Congresso porque ainda passará pelo filtro do presidente Jair Bolsonaro. Ainda assim, o economista Fábio Giambiagi se debruçou sobre o texto porque de alguma forma ele servirá de parâmetro para a versão final da PEC.

Segundo ele, há duas medidas com forte impacto fiscal e que precisam sobreviver às negociações. A primeira é a criação dos fundos estaduais de previdência, que vão desafogar as finanças dos estados. A segunda é o sistema de pontos, que soma a idade ao tempo de contribuição, para se conseguir a aposentadoria integral. “Esse projeto é mais duro do que a reforma do Temer e isso é importante porque é preciso recuperar o tempo perdido. Também reúne ideias da própria PEC 287, do projeto Tafner/Armínio e tem a previdência fásica do ministro Lorenzoni. Essa união de propostas pode facilitar a busca de um consenso”, explicou.

A reforma original de Temer buscava economizar cerca de R$ 800 bilhões em 10 anos. Guedes falou em R$ 1 trilhão no mesmo período, mas há versões mais leves. Quem compreende a gravidade da crise torce para que o ministro da Economia consiga exercer a sua influência sobre o presidente.
‘Tem que pegar todo mundo’
A bancada do Partido Novo se reuniu ontem com o secretário de Previdência, Rogério Marinho, para esclarecer pontos da reforma e acertar a estratégia de comunicação da proposta. O Novo é o partido que tem maior afinidade com a agenda liberal do ministro Paulo Guedes e deve dar os oito votos de sua bancada para a aprovação da PEC. Segundo o deputado Paulo Ganime (Novo-RJ), o partido vai defender que o texto contemple todas as categorias, incluindo políticos e militares, mas não deve se opor caso a proposta vá diretamente a plenário. “A discussão pode ser feita com a sociedade e no próprio plenário. Se for para o país ganhar tempo nessa burocracia da Câmara, não vejo problema em pular as comissões”, afirmou.

Aposta unânime
Os investidores dão como certa a manutenção dos juros em 6,5% na reunião do Copom que termina hoje. Nada menos que 99,6% dos contratos no mercado futuro projetam que a Selic ficará estável. O curioso é que o restante, que é apenas residual, foi para o negativo pela primeira vez desde que o BC posicionou os juros em 6,5%, em março. “Os investidores estão aguardando o comunicado que sai após a decisão. Dependendo da mensagem, essa probabilidade de corte nos juros pode crescer”, conta Pablo Spyer, da Mirae, que fez o levantamento.

Guerra fiscal a jato
Já é possível ouvir o rufar dos tambores de uma nova guerra fiscal. O governo do Rio também estuda cortar o imposto sobre o querosene de aviação para 7%. Ontem, São Paulo reduziu seu ICMS sobre o combustível para 12%. Para a economista Ana Carla Abrão, no fim, todos perderão. “A concorrência vai gerar um movimento de redução de alíquotas Brasil afora. O país perde com essa disputa entre os estados. O que o governo federal pode fazer é promover uma reforma tributária, mas ela nunca sai do papel também por conta dos conflitos federativos”, disse a economista.

Drible no Regime
No caso do Rio, ainda há outra complicação. O estado está no Regime de Recuperação Fiscal (RRF). A princípio, isso impede a concessão de incentivos tributários adicionais, diz Ana Paula Abrão. Para driblar a restrição, o governo estadual teria que convencer a comissão de acompanhamento do programa de que vai perder arrecadação com a migração de voos para São Paulo. “Em tese, não poderia. Mas é possível argumentar que, se não der, pode ser ainda pior. O grande problema é que a guerra fiscal funciona como um torcedor na arquibancada. O primeiro que se levanta enxerga o jogo melhor. Depois, todos vão ficando de pé, desconfortáveis e vendo com a mesma dificuldade do início”, explica a economista.

Gargalo elétrico
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico se reúne hoje para analisar o baixo nível de água dos reservatórios. O ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima Leite, terá que decidir se aciona as térmicas para poupar água ou se espera o fim do período chuvoso. Entra ano e sai ano, o setor elétrico continua sendo um gargalo ao crescimento.


Coluna da Miriam Leitão - O Globo - Alvaro Gribel 


segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Bolsonaro: tudo para um bom início



Apenas alguma barbeiragem política grave na base de apoio do governo pode levar a um cenário diferente

O governo do presidente eleito Bolsonaro tem todas as condições iniciais para dar certo. Este é o meu sentimento quando escrevo a última coluna do ano. Em primeiro lugar, porque inicia seu governo em um ponto do ciclo econômico de curto prazo extremamente favorável. A terrível recessão provocada pela incompetência do governo de Dilma Rousseff provocou uma correção brutal dos principais mercados no Brasil, criando as condições necessárias para uma recuperação cíclica bastante sólida.
O presidente Michel Temer, com uma política econômica correta, mostrou o potencial desta nova fase de crescimento, mas perdeu a oportunidade de consolidá-lo por questões fora do ambiente econômico. Com isto, o nível de atividade, nos últimos dois anos, permitiu a manutenção das condições favoráveis de oferta e demanda em setores importantes do tecido econômico. Por exemplo, o hiato do produto permitiu que o Banco Central administrasse um dos mais exitosos processos de desinflação da história econômica recente. O relatório da reunião do Copom de dezembro mostra a extensão deste processo de desinflação dos últimos anos ao projetar para 2019 e 2020 uma taxa de aumento dos preços abaixo do centro da meta do BC e, acenar inclusive, com uma possível redução adicional dos juros Selic em 2019. Com isto, teremos mantido, por três anos seguidos, o controle da inflação, sem a utilização de mecanismos espúrios de controle de preços e outros artificialismos. O novo presidente vai assumir seu cargo sem nenhuma distorção maior no sistema de preços de mercado ou dos controlados administrativamente.
Por outro lado, a nova previsão da safra agrícola de 2018/2019, divulgada pelo IBGE na última semana, reforça este cenário benigno da inflação pela manutenção, por um prazo seguido de três anos, de uma oferta abundante de alimentos nos mercados internos. Não vai ser por problemas de oferta que poderemos ter alguma surpresa desagradável neste segmento importante de preços e que representa cerca de 40% do IPCA.

Outro efeito importante da produção agrícola prevista para 2019 é a manutenção de um saldo comercial superior a US$ 60 bilhões em nossa balança de pagamentos. Sem a ocorrência de uma verdadeira catástrofe nos mercados externos de capitais, a taxa de câmbio no Brasil deve ficar no intervalo de R$ 3,50 a R$ 3,80. Cabe aqui ressaltar que, no cenário econômico e político que espero, a entrada de capitais externos deve pelo menos manter os níveis atuais de US$ 65 bilhões anuais, fortalecendo o real.
Além da possibilidade de um crescimento econômico sólido em seu primeiro ano na Presidência, outro fator extremamente positivo para o novo governo é o apoio da população, como mostram pesquisas recentes divulgadas. Com mais de dois terços dos brasileiros confiando no novo presidente fica mais fácil a relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Esta combinação - crescimento econômico e apoio da população - é suficiente para que a equipe do presidente possa, pelo menos inicialmente, encaminhar a questão da reforma da previdência. Isto deve ser suficiente para acalmar os mais agitados com a questão fiscal e da dívida pública.
Com isto, creio, estará criada a condição suficiente para a economia crescer algo como 3% ao ano na parte final do ano próximo. À medida que este cenário se consolide entre a mídia e os principais analistas econômicos, a tarefa do governo, em relação à agenda de reformas que se fazem necessárias para um crescimento econômico sustentado, ficará facilitada pela manutenção de um otimismo perdido há muito tempo na sociedade brasileira. Apenas alguma barbeiragem política grave na base de apoio do governo pode levar a um cenário diferente deste nos próximos meses. A falta de experiência - política e administrativa - do PSL, partido de Bolsonaro, é um risco que só pode ser afastado pelo acompanhamento dos fatos nos próximos meses. A montagem do novo ministério, primeiro teste efetivo do potencial de governabilidade do governo eleito, terminou com poucos e negligenciáveis percalços. O próximo desafio será a gestão do processo de alternância de poder no Senado e Camara de Deputados, agora em janeiro.
Uma última peça para a montagem de meu cenário para 2019 fica por conta da economia internacional e, apontada hoje pelos mercados, como maior fator de risco para a economia brasileira. O estabanado governo do presidente Trump é hoje responsável por um cenário de confronto nas relações internacionais e pelo risco real de recessão na maior economia do mundo. O agravamento do confronto comercial com a China, parte de um conflito maior entre a economia mundial dominante e a China que em poucos anos tomará esta posição, pode acelerar os riscos de recessão econômica já contratada pelos erros cometidos no front fiscal pelo presidente americano. A combinação destas duas forças desestabilizadoras pode criar uma situação internacional muito difícil.
Mas o Brasil, dada a situação de nosso ciclo econômico, certamente vai sofrer menos as consequências deste cenário em 2019. Particularmente não visualizo riscos maiores para nós vindo do front externo e que inviabilize o cenário local projetado acima.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Bom cenário na inflação

Pode-se reforçar a aposta de juros mantidos em 6,50%

Com novas boas notícias no front da inflação, pode-se reforçar a aposta de juros mantidos em 6,50% até o fim de 2018 e provavelmente nos primeiros meses do próximo ano. Se os fatos confirmarem as expectativas quanto aos preços e ao crédito, o ambiente nos mercados será favorável ao novo governo. O presidente Jair Bolsonaro e sua equipe econômica poderão concentrar-se nas medidas de ajuste das contas públicas, as mais urgentes na pauta da nova administração. A próxima decisão sobre juros deve ser anunciada na próxima quarta-feira pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), depois da última reunião prevista para o ano. A primeira de 2019 está marcada para os dias 5 e 6 de fevereiro.
  Economistas do setor financeiro e das principais consultorias baixaram recentemente suas previsões de juros básicos para o próximo ano. Há cerca de um mês a mediana das projeções indicava 8% para o final de 2019. Há duas semanas essa mediana foi baixada para 7,75%, numa reação aos dados mais favoráveis sobre a evolução dos preços. Nas mesmas quatro semanas a expectativa de inflação em 2018 caiu de 4,40% para 3,89%. Nesse período a projeção para 2019 passou de 4,22% para 4,11%.  Os últimos dados da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) contribuem para as expectativas de preços bem comportados até o fim de dezembro. Em novembro houve deflação. O indicador caiu 0,21% em relação ao mês anterior. Em outubro havia subido 0,45%. A taxa de novembro foi a menor para o mês desde 1994, ano de implantação do Plano Real – um recorde de bom comportamento, portanto, em 24 anos.

Com esse recuo, a alta em 2018 ficou em 3,59%. Em 12 meses a variação acumulada atingiu 4,05%, continuando abaixo da meta de 4,50% ainda em vigor em 2018. A meta será reduzida para 4,25% no próximo ano, 4% em 2020 e 3,75% em 2021. As projeções continuam favoráveis: 4,11% em 2019, 4% no ano seguinte e 3,78% em 2021. Se as expectativas estiverem corretas, a inflação continuará na trajetória fixada pelo governo, enquanto o crescimento da economia ganhará algum impulso.   O IPCA é apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vinculado ao Ministério do Planejamento. A deflação em novembro foi registrada também pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio de seu Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), formado por três componentes: um índice de preços por atacado, com peso de 60%; um de preços ao consumidor, com participação de 30%; e um de custos da construção, com 10% de contribuição para o conjunto.

Em novembro, o IGP-DI caiu 1,14% em relação ao nível de outubro. Os preços por atacado diminuíram 1,70%. Os preços ao consumidor baixaram 0,17%. Só os custos da construção tiveram variação positiva, com alta de 0,13%.  Os indicadores do IBGE e da FGV são diferentes quanto à cobertura e a detalhes de método, mas tendem a variar no mesmo sentido em períodos de um ano. Neste momento, a trajetória de convergência é clara. Além disso, a moderação dos preços por atacado é especialmente promissora, porque aponta pressões leves sobre o varejo nos próximos meses.  A inflação contida é em boa parte explicável pelo alto desemprego e pela demanda ainda moderada na ponta do varejo. Mas é também atribuível à política bem desenhada e bem conduzida pelo Copom, formado por diretores do BC. O sucesso da política monetária no controle da inflação é mais um argumento a favor da autonomia do BC, assunto ainda na dependência de deliberações no Congresso Nacional.
 
O novo governo dará um bom passo para a modernização institucional do País se incluir entre suas prioridades a aprovação dessa autonomia. Acertará, também, se trabalhar contra detalhes fantasiosos nessa legislação. O Brasil estará bem servido com um BC com as atribuições atuais – defender o poder de compra da moeda e garantir um sistema financeiro sólido e eficiente. Não atrapalhar a autoridade monetária será uma boa ajuda.

Editorial - O Estado de S. Paulo 


 

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Apostas a favor do novo governo

Um maior dinamismo dependerá de ganhos de produtividade, um desafio adicional à competência da futura equipe econômica

As apostas a favor do novo governo continuam aumentando. Se os apostadores estiverem certos, o futuro presidente começará seu mandato com inflação e juros mais baixos que aqueles previstos até há poucos dias. Será uma bênção poder enfrentar o primeiro grande obstáculo, o desarranjo das contas públicas, sem ter de se preocupar com maiores pressões inflacionárias e com maiores encargos financeiros. A gestão das finanças federais também será facilitada, em 2019, se os investidores estrangeiros continuarem confiantes como nos últimos dois meses. A melhora do humor nos mercados foi perceptível desde a campanha eleitoral, quando ficou mais clara a desvantagem do PT e de seus aliados. Na semana passada, as novas expectativas foram expressadas mais nitidamente em projeções captadas no mercado pela pesquisa Focus, do Banco Central.

A redução dos juros previstos para 2019 foi enfim expressada em números na pesquisa fechada em 23 de novembro e divulgada nesta segunda. A mediana das projeções para a taxa básica de juros, a Selic, passou de 8% para 7,75% ao ano. A estimativa de 8% havia sido sustentada pelos economistas por 44 semanas, isto é, por cerca de 11 meses.  Diante da inflação moderada, economistas vieram consolidando há algum tempo a expectativa de uma política monetária suave ainda por alguns meses. O BC manteve em outubro, pela quinta vez, a taxa básica de 6,50%, menos de metade daquela em vigor há pouco mais de dois anos, de 14,25%. Além disso, a autoridade monetária acaba de afrouxar as normas do depósito compulsório dos bancos, abrindo espaço para a liberação de R$ 2,7 bilhões neste fim de ano.

A expectativa de manutenção dos 6,5% em dezembro, na última reunião prevista em 2018 para o Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, já se havia formado há várias semanas. A novidade, agora, é a redução explícita da taxa básica esperada para o fim do próximo ano. Para os dois anos seguintes a mediana das projeções continuou em 8%.
O corte na taxa Selic estimada para 2019 acompanhou a evolução da alta de preços prevista para o período. Em quatro semanas caiu de 4,22% para 4% a variação estimada para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses números, como os demais, correspondem às medianas das projeções. No caso das instituições com cálculos atualizados nos cinco dias úteis anteriores à pesquisa, a queda em quatro semanas foi de 4,20% para 4,12%. Para 2020 as projeções foram mantidas em 4%. Para 2021, as estimativas bateram em 3,90%.

Nos próximos três anos, durante três quartos do novo período presidencial, a inflação continuará, portanto, compatível com as metas fixadas pelas autoridades, se as projeções estiverem corretas.  Estimativas para um período tão longo são arriscadas, mas os números da pesquisa Focus mostram, pelo menos, um cenário de pressões toleráveis. Manter a inflação em ritmo suportável dependerá do sucesso nos ajustes e reformas indispensáveis à recuperação das contas públicas. As expectativas do mercado valem por um voto de confiança na execução dessa política.

Confiança semelhante vem sendo exibida por estrangeiros compradores de títulos do Tesouro. Em outubro, investidores de fora do Brasil aumentaram sua participação na dívida mobiliária federal. Embora as condições de crédito tenham piorado para grande parte dos emergentes, o fluxo de dinheiro para o Brasil ficou mais favorável. A saída de recursos de não residentes vinha diminuindo nos últimos meses e tornou-se positiva em outubro, com ingresso líquido de cerca de R$ 9,9 bilhões. Em novembro o cenário continuou favorável, segundo o coordenador-geral de operações da Dívida Pública, Luís Felipe Vital.
Apesar das boas apostas em relação a preços, juros e finanças públicas, o mercado continua projetando crescimento econômico de apenas 2,50% ao ano entre 2019 e 2021. Ajustes serão indispensáveis, mas um maior dinamismo dependerá de ganhos de produtividade, um desafio adicional à competência do novo governo.

Editorial - O Estado de S. Paulo
 

sábado, 9 de junho de 2018

O dólar de hoje não é o mesmo que o de 2002



A semelhança com a crise na campanha que elegeu Lula é só no calendário, porque o lado externo da economia está agora muito mais bem guarnecido

Alta forte do dólar em ano de eleições não é inédita no Brasil, mas, nem por isso, todos estes momentos de nervosismo no mercado financeiro, na proximidade das urnas, são iguais. O fato de o dólar ter se aproximado dos R$ 4 só nominalmente igual a 2002, porque, para se equiparar àquele ano, em termos reais, o câmbio teria de bater nos R$ 7 —, enquanto o Banco Central operava com firmeza para reduzir a volatilidade, justificou a iniciativa rara de um presidente da autoridade monetária, no caso Ilan Goldfajn, convocar entrevista coletiva para ser claro: “não há qualquer preconceito de usar qualquer instrumento” para conter um movimento mais forte de alta. Assim foi feito e, ontem, o dólar fechou o pregão cotado a R$ 3,709, numa queda de 5,5%, a maior em aproximadamente dez anos.

Como quem faz a ameaça tem à disposição reservas de US$ 380 bilhões, entende-se que ele pode ir mesmo além de oferecer contratos de swaps, de venda futura de dólar. Pelo fato de o Brasil acumular reservas externas equivalentes a 20% do PIB, de cinco a oito pontos percentuais de PIB além do considerado suficiente pelo próprio FMI, o país tem mesmo munição para enfrentar quem pretenda especular contra o real. [pensar que foi a irresponsabilidade do enganador-geral da República, Rodrigo Enganot, que neutralizou,  como fonte de crescimento economico,  este enorme volume de reservas, e a impunidade daquele enganador causa revolta.] 
Esta é uma diferença fundamental em relação a 2002, quando o crescimento da candidatura de Lula, com todo seu passado de radicalismo, agitou os mercados, a ponto de forçá-lo a editar a Carta ao Povo Brasileiro, na tentativa, não de todo bem-sucedida, de conter a fuga de divisas com a promessa de respeitar os contratos. Lula venceu, assumiu e praticou no primeiro mandato uma gestão responsável. O dólar voltou a seu leito.

Agora, também incertezas eleitorais servem de combustível para enfatizar a tendência, que é mundial, de elevação do dólar. Mas há o enorme volume de reservas e praticamente inexiste déficit externo nas contas correntes (aquém de 1% do PIB, contra os mais de 4% nas crises cambiais do passado), rombo devidamente coberto pela entrada de investimentos diretos.

Neste sentido, é uma experiência nova para quem viveu todas as crises externas nacionais, da década de 70 até agora. Não é preciso bater à porta do FMI, como faz agora a Argentina, atrás de US$ 50 bilhões; nem subir juros às pressas, para atrair dinheiro de fora.  Claro que elevação do dólar encarece importações e, por isso, tem algum repique na inflação. Mas como ela está na faixa dos 3% anuais, abaixo da meta de 4,5%, o BC tem tempo para avaliar o que fazer com os juros básicos de 6,5%, na próxima reunião do Copom, daqui a mais de uma semana.  Os candidatos a presidente precisam entender que o mais forte motivo das oscilações é a conjunção de uma economia em grave e crescente déficit fiscal com alguns pretendentes ao Planalto que não se definem sobre o problema ou acenam com velhas e equivocadas ideias.

 Editorial - O Globo