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domingo, 6 de janeiro de 2019

O rosto da direita que chega ao poder


Direita no poder: a luta pela agenda liberal será dura, as ideias de alguns ministros são constrangedoras, militares têm sido o poder moderador dentro do governo

Nossa democracia estava capenga, afirmou o ministro da Economia, ao dizer que só a centro-esquerda havia governado o Brasil. Mas que direita é essa que chegou agora? Nos muitos discursos e certas decisões da última semana, o novo rosto do poder começou a ser esboçado. A economia perseguirá a agenda liberal, o que será uma guerra, na qual o front mais ingrato será o interno. Em outras áreas, como direitos humanos, educação e relações exteriores, os ministros mostraram um desconcertante alheamento da realidade. Os militares nomeados parecem ser a força moderadora dentro do próprio governo. A agricultura recebeu poderes indevidos e que levarão a conflitos de interesse.
A democracia pressupõe alternância de grupos e ideias no poder. Até agora, houve o governo de direita de Fernando Collor, de curta duração e final infeliz. Depois o pêndulo oscilou entre o centro, tucano, e a esquerda, petista. Houve uma administração tampão do MDB, que se pode definir como centro-direita. E agora chega ao poder um governo assumidamente de direita.  No Brasil, os conceitos políticos são bem imprecisos. A esquerda fez coisas como aumentar as transferências para o capital, ainda que tenha também ampliado os programas sociais. Vamos entender nos próximos anos o que realmente significa uma administração de direita no Brasil. Destes pouquíssimos dias extrai-se pouca informação. O presidente, Jair Bolsonaro, garantiu que cumprirá promessas de campanha, como a de liberar a posse de armas.

O ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, surpreendeu favoravelmente anunciando que a Eletrobras será privatizada, o que levou a uma alta de 20% nas ações em um único pregão. Houve também momentos constrangedores. As ideias da ministra Damares sobre divisão de cores por gênero são principalmente infantis, as do ministro Ernesto Araújo, confusas. [os que torcem contra a Damares, tiveram o desprazer de constatar que Luciano Huck, o Global, tem exatamente as mesmas ideias da ministra quanto as cores para uso de meninos e meninas - aqui;

os a favor do quanto pior, melhor, e que queriam e continuam querendo depor o Araújo também constataram que as ideias do ministro Araújo mereceram o apoio do Grupo de Lima.]

No Ministério da Justiça, o que se tentará é, a partir da experiência da Lava-Jato, reforçar o arcabouço legal contra a corrupção. Na posse, o ministro Sérgio Moro explicou que “um juiz de Curitiba pode pouco”. Um erro de interpretação dos fatos. Foi um juiz em Curitiba, no caso, ele mesmo, que permitiu, com suas decisões, que a Operação Lava-Jato alcançasse a dimensão que tem tido na vida nacional. Moro assumiu com projeto pronto para o combate à corrupção, mas não parece ter propostas para todos os outros assuntos que agora estão sob seu comando.
Na economia, o ministro Paulo Guedes tem ideias consolidadas. Ele é um homem de ideias, um pensador. A vida real dentro de um gabinete ministerial pode ser mais árdua do que ele imaginava. O que fazer diante de um presidente que anuncia de forma confusa e contraditória pedaços da “primeira e maior” das reformas econômicas? E quando o presidente anuncia que subirá o IOF e o secretário da Receita precisa desmentir? Confusos esses primeiros dias na área econômica.
A hora do espanto foi a do discurso barroco do ministro das Relações Exteriores. Depois de citações em grego e latim, ele desculpou-se: “Não conheço tantas línguas antigas assim. Não conheço hitita nem sânscrito”. O problema do chanceler é respeitar a linguagem diplomática, que requer mais cuidados do que ele demonstra ter ao falar de outros países. Ele os escolhe pelo governo que está agora no poder. Elogiou a “nova Itália, a Polônia, a Hungria”. Demonstra encantamento com Donald Trump. Como qualquer aluno do Instituto Rio Branco sabe, os governos são temporários, por isso as relações são entre os países. Ele propõe que o Itamaraty lute contra a “teofobia”, sem esclarecer o que essa cruzada contra problema inexistente tem a ver com os interesses do Brasil.
Na reorganização da administração, o governo acabou com o Ministério do Trabalho, enfraqueceu a Funai e tirou poderes do Ministério do Meio Ambiente. Tudo isso está dentro do ideário da direita. A redução do número de ministérios é bem-vinda. O problema é entregar o poder de demarcar as terras indígenas ao Ministério da Agricultura e transferir o Serviço Florestal Brasileiro do Meio Ambiente para a Agricultura. Isso certamente dará muito conflito. Foram apenas as primeiras pinceladas no novo rosto do poder. Seria bom que as confusões e os delírios desses primeiros dias dessem lugar ao entendimento da verdadeira natureza dos problemas nacionais.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Bolsonaro: 'O povo em sua grande maioria quer hierarquia, respeito, ordem e progresso'

Presidente discursou nesta quarta (2) na cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Defesa.  

General Fernando Azevedo e Silva recebeu o cargo do antecessor no Clube do Exército.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (2), ao discursar na cerimônia de transmissão de cargo do "Ministério da Defesa", que a situação a qual o país chegou, atualmente, é "uma prova inconteste de que o povo, em sua grande maioria, quer hierarquia, respeito, ordem e progresso". 

Capitão da reserva, Bolsonaro fez questão de participar da solenidade realizada no Clube do Exército na qual o general Fernando Azevedo e Silva que já foi chefe do Estado-Maior – recebeu simbolicamente o comando do Ministério da Defesa do general Joaquim Silva e Luna. Para prestigiar a cerimônia da área militar, ele não compareceu à transmissão de cargo do Ministério da Economia, que ocorreu praticamente no mesmo horário. Pela manhã, Bolsonaro participou da solenidade de passagem dos cargos dos quatro ministros que têm gabinetes no Palácio do Planalto. 
Foto: Marcos Corrêa - Presidência da República

Ao longo dos oito minutos de discurso, o novo presidente, egresso da caserna, relembrou o episódio da criação do Ministério da Defesa em 1999 durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) –, ressaltando que ele foi um dos três deputados que votou contra a proposta na Câmara por acreditar que se tratava de uma iniciativa meramente política.
"O tempo passou, as nossas Forças Armadas sofreram um brutal desgaste com a classe política, mas não junto ao povo brasileiro, que continuou acreditando em nós. [...] Hoje em dia, a situação a que o Brasil chegou é uma prova inconteste de que o povo, em sua grande maioria, quer hierarquia, quer respeito, quer ordem e quer progresso", disse Bolsonaro à plateia formada majoritariamente de militares. 

"Todo aquele nosso trabalho, ao longo de quatro anos buscando viabilizar a possibilidade de uma eleição, eu cumpri escolhendo ministros técnicos para as suas respectivas áreas, e a Defesa não poderia fugir à regra", complementou. Na visão do novo chefe do Executivo, as Forças Armadas foram "um tanto quanto esquecidas" ao longo das últimas décadas porque "são um obstáculo para aqueles que querem usurpar do poder". 

Em outro trecho do discurso, o novo presidente da República disse que uma das provas da importância que ele dá para as Forças Armadas é o fato de ele ter escolhido para vice em sua chapa presidencial um general da reserva do Exército, referindo-se ao ex-comandante militar do sul Hamilton Mourão. Neste momento, Bolsonaro bateu continência e brincou com o vice-presidente, dizendo que, agora, a continência tem que ser simultânea, apesar de Mourão ser general.
"A continência tem que ser simultânea porque eu digo para ele [Mourão] que não sou mais capitão, nem ele é general, nós somos soldados do Brasil”, brincou. 

Governos anteriores
Bolsonaro usou parte do discurso para relembrar atos de governos anteriores em favor do Exército. Ele contou relembrou uma sessão solene do Senado em que saudou o então presidente José Sarney por sempre arranjar no final do ano "uma maneira para conseguir recursos extras para contemplar as Forças Armadas".
Dirigindo-se ao ex-presidente da República Fernando Collor, um dos convidados presentes à cerimônia, Bolsonaro disse que atual senador de Alagoas foi o responsável pela criação da classificação de atividade militar

Ele destacou ainda que, na gestão de Itamar Franco os militares obtiveram isonomia salarial. 

Ao mencionar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual chefe do Executivo ressaltou que teve diferenças com o tucano. "Tivemos alguns problemas, em especial comigo, mas seguimos nossa jornada”, admitiu Bolsonaro, arrancando risadas dos convidados.  O novo ministro da Defesa afirmou ao discursar na cerimônia de transmissão de cargo que as ações das Forças Armadas no governo Bolsonaro serão pautadas pela Constituição.
"As ações das Forças Armadas serão pautadas pela Constituição Federal de 1988 e as leis infraconstitucionais. Como organismos de Estado, as Forças devem atuar nas coisas de soldado e cooperar com o poder civil onde forem demandadas, respeitadas as suas capacidades e competências. Internamente, no Ministério da Defesa, o foco será orientado para integração sistêmica das Forças na doutrina estratégico-operacional militar, nos planejamentos, nos projetos, nos equipamentos e nos treinamentos conjuntos", declarou o novo titular da Defesa. 

Fernando Azevedo e Silva é o 12º ministro a assumir a pasta desde sua criação, em 1999. Ele é general de Exército desde 2014.
Prestigiaram a cerimônia de transmissão de cargo da Defesa, entre outros, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro José Otávio de Noronha, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e os novos ministros Ricardo Sales (Meio Ambiente), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).



segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Almanaque Bolsonaro

Um guia para entender o país que vem por aí, a partir da posse, em 1º de janeiro






Todo início de governo é um mar de novidades, com a revelação de novos nomes, novos gostos, novos estilos e, quase sempre, velhos hábitos. Na recente história da democracia brasileira houve a República de Alagoas, de Fernando Collor. Depois do impeachment de 1992, o Brasil apressou-se para conhecer a República mineira do pão de queijo de Itamar Franco. Com Fernando Henrique Cardoso e Lula, o país primeiramente entrou no bairro paulistano de Higienópolis para depois flanar pelas ruas de São Bernardo do Campo, e em cada região teve de aprender a reconhecer gestos inéditos.

Veio Dilma, deu-se um outro impeachment, veio Michel Temer e a velocidade das mudanças impôs uma corrida para intuir o que se veria pela frente. É o que viveremos a partir da próxima terça-feira, com a posse de Jair Bolsonaro. VEJA preparou um almanaque para começar a entender o cotidiano do presidente eleito e seu círculo. É o modo mais eficaz e divertido de navegar no ineditismo — e sobretudo o mais rápido. Em 1890, Machado de Assis publicou um conto, Como Se Inventaram os Almanaques, um texto de apresentação e defesa daquele tipo de publicação divertida e rica importada da Europa. Escreveu Machado, louvando a agilidade dos livretos de variedades: “O Tempo inventou o almanaque”.

OS PENSADORES

Três autores celebrados pelo chanceler Ernesto Araújo, o homem das relações exteriores
OSWALD SPENGLER (1880-1936) do século XX”. De um dos textos de Evola: “A mulher tradicional, a mulher absoluta, ao dar-se, ao não viver para si, ao querer ser toda para outro ser com simplicidade e pureza, realizava-­se, pertencia a si mesma, tinha um heroísmo todo seu — e, no fundo, tornava-se superior ao homem comum. A mulher moderna, ao querer ser por si mesma, destruiu-se”.

PEQUENÍSSIMO DICIONÁRIO

A origem de duas expressões que estão em voga
 (Caio Borges/.)
O.K. (“TALQUEI”, EM BOLSONARÊS) interj. Do inglês, expressa aprovação, concordância; a origem etimológica mais aceita é curiosa: seria uma abreviação de orl korrekt, um erro ortográfico de all correct (tudo certo), em voga nos Estados Unidos nos anos 1830; as referências escritas mais antigas datam de seu uso como slogan do Partido Democrata americano nas eleições de 1840. O candidato e futuro presidente Martin van Buren (1782-1862) foi apelidado de Old Kinderhook, numa referência à sua cidade natal, Kinderhook. Não demorou para se formar o OK Clube, tá o.k.?
 (Arte/VEJA)
COLOSTOMIA s.f. “Abertura cirúrgica do abdome ligada à terminação do cólon, com a finalidade de criar um ânus artificial para a eliminação das fezes”, na definição do Dicionário Houaiss; Bolsonaro deve retirar a bolsa de colostomia, colocada depois do atentado em Juiz de Fora, ainda no primeiro mês de seu mandato.
 O  ESTILO MICHELLE
 (Caio Borges/.)
Uma avaliação do vestuário e do jeito de ser da primeira-dama do 38º presidente do Brasil
André Lima, estilista paraense
“A nova alfaiataria pede um estudo de proporções menos careta: tanto o blazer quanto a calça podem ficar mais longe do corpo e menos colados, ...
 
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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

O papelório do Imperador das Cadeias merece a lata de lixo mais próxima

O surto de demência autoritária de Marco Aurélio deve ser neutralizado de imediato pelos juízes de verdade

O prenome de imperador romano, a vaidade tão pesada que deve ser calculada em arrobas, o olhar de quem treina para virar estátua, a arrogância que identifica os que acham que a toga é que deve orgulhar-se de cobrir-lhe o corpo, o prazer sensual com que ouve o som da própria voz entoando expressões ignoradas pela plebe — tudo isso, junto e misturado, subiu de vez à cabeça de Marco Aurélio Mello. E ordenou-lhe que caprichasse na liminar que, se fosse levada a sério pela Justiça brasileira, colocaria em liberdade todos os bandidos que cumprem pena depois de condenados em segunda instância.

Que Nero, que nada: sem uma Roma para incendiar, Marco Aurélio I, o Imperador das Cadeias, resolveu destruir com uma canetada a jurisprudência recentemente reafirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, a segurança jurídica e a esperança no triunfo da lei sobre o crime, e da honradez sobre a falta de vergonha na cara. O ministro coleciona molecagens, sentenças idiotas, chiliques de debutante e odes ao descaramento desde que foi presenteado com uma toga pelo primo Fernando Collor. Até esta assombrosa quarta-feira, contudo, era possível acreditar que mesmo para um marcoauréliomello existem limites.

Não existem, atesta a liminar produzida na véspera do recesso do Judiciário. O latinório ridículo e algumas condicionantes malandras procuram inutilmente camuflar o objetivo do autor: tirar Lula da cadeia. As restrições inócuas não passam de um truque diversionista concebido para ocultar as aberrações decorrentes da torpeza original. Com o ex-presidente condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, recuperariam o direito de ir e vir (e roubar, e matar, e revogar por dias ou semanas a ordem legal) uma imensidão de assassinos, estupradores, latrocidas e, claro, delinquentes de estimação de Marco Aurélio e seus comparsas.

A afronta ao país que presta deve ser barrada de imediato pela reação da banda sadia do STF, do Ministério Público e dos magistrados que ouvem a voz da Justiça, não os sussurros dos que conspiram contra o império da lei. A liminar de Marco Aurélio merece ser atirada à lata de lixo mais próxima por juízes de verdade, que não se curvam bovinamente a determinações intoleráveis.

O Brasil se tornará bem melhor se for socorrido por uma variação da boa e velha desobediência civil. Tal arma, manejada com altivez e destemor, já sufocou no nascedouro tantos surtos de demência autoritária. É hora de usá-la para expulsar Marco Aurélio do seu trono imaginário.

domingo, 11 de novembro de 2018

O príncipe da magistocracia

Moro cruza fronteiras da ética institucional e compromete a independência e a imagem de imparcialidade do Judiciário

O juiz Sérgio Moro foi alçado, por nossa conta e risco, a um patamar acima do bem e do mal. Suas ações e palavras passaram a ser lidas pelo signo da virtude, sobretudo da coragem, da honestidade e do heroísmo. Manias de sacralização não terminam bem na história democrática, nem à esquerda nem à direita; nem para o sacralizado e muito menos para o sacralizador. A aclamação deixa a visão nublada, interdita a crítica e confere uma licença para agir que escapa aos canais ordinários de prestação de contas. Permitimos que Moro preste contas apenas a sua consciência, não às instituições de controle. E ele soube se valer dessa onda redentora que lhe vestiu o manto da infalibilidade.

O Judiciário e parte da sociedade têm conferido aos atos de Moro um selo de integridade presumida. Questão de caráter, não de legalidade. Quando liberou sigilo de interceptações telefônicas de modo ilegal; quando ordenou condução coercitiva espetaculosa de modo ilegal; quando se insubordinou a decisão de desembargador e, num domingo de férias, telefonou para a Polícia Federal, articulou com o presidente do tribunal e emitiu despacho à distância; ou quando liberou delação premiada de nenhum valor probatório, mas de grande octanagem política dias antes da eleição, atos com tempo bem calculado, engolimos suas explicações professorais de bolso. [quando orForam variações da explicação ao STF, a quem pediu “respeitosas escusas”: “Não teve por objetivo gerar fato político-partidário, polêmicas ou conflitos”.

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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Os dois Brasis

Direita solidamente no Sul e Centro-Oeste, esquerda definitivamente no Nordeste


Ao empurrar a eleição para dois candidatos que representam os extremos, a polarização do processo político também divide claramente o Brasil, com a esquerda cada vez mais consolidada no Nordeste (27% do total do eleitorado) e a direita impondo-se no Sul (15%), com reflexo direto na eleição para a Presidência e para os governos estaduais.
Jair Bolsonaro (PSL) disparou em todas as regiões e chega a 37% no Sul e a 36% no Centro-Oeste, dois arraigados redutos da direita. Ratinho Júnior (PSD) no Paraná, Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás e Mauro Carlesse (PHS) em Tocantins têm forte chances de vitória para seus governos já no primeiro turno.

No Nordeste, a situação se inverte. Fernando Haddad (PT) já lidera e, apesar da crise de Dilma Rousseff, que afetou diretamente os Estados, cinco dos governadores têm grandes chances de se reeleger no primeiro turno. Três são do PT: Rui Costa (BA), Camilo Santana (CE) e Wellington Dias (PI). O quarto é Flávio Dino (MA), do PCdoB. E o campeão é Renan Filho (AL), do MDB, com apoio do PT e de Lula.

Vão-se criando assim dois Brasis. Um se alinha com o discurso da bala, da segurança, da antipolítica, do antipetismo e do conservadorismo de costumes. O outro é grato às benesses sociais, suscetível às promessas populistas, desconhece a importância do equilíbrio fiscal, acha natural o aparelhamento do Estado e releva a pregação contra a corrupção.

No Sudeste, com 43% do eleitorado e as três maiores economias do País São Paulo, Rio e Minas –, Bolsonaro já atinge 30%. Com a decisão do governador Paulo Hartung de não disputar a reeleição, Renato Casagrande (PSB) pode se eleger em primeiro turno no Espírito Santo, um exemplo de gestão, mas no resto tem de tudo, inclusive surpresas.
Bolsonaro engole os vestígios de esquerda no Rio, onde Eduardo Paes (DEM) lidera para o governo, e também a hegemonia do PSDB em São Paulo, onde João Doria empata com Paulo Skaf (MDB) e Geraldo Alckmin não deslancha para a Presidência.

Outra surpresa é a divisão em Minas. O tucano Antonio Anastasia tem posição confortável para voltar ao governo e a petista Dilma está à frente para o Senado, dois anos depois do impeachment e de manter os direitos políticos graças, por exemplo, a Renan Calheiros, regiamente recompensado hoje na eleição do filho para o governo e da sua própria para o Senado em Alagoas.

Aliás, o MDB do presidente Michel Temer está bem na foto eleitoral, apesar de o partido ser um dos mais atingidos pelas prisões da Lava Jato e de Temer ser imbatível em impopularidade. Além de Renan Filho, candidato a campeão de votos no País, também Helder Barbalho pode se eleger em primeiro turno no Pará. Vem a ser filho de Jader Barbalho, outro ex-presidente do Senado bem enrolado na Justiça.

Tem-se, portanto, a direita solidamente no Sul e no Centro-Oeste e a esquerda definitivamente no populoso Nordeste, com o Norte mantendo hegemonias familiares e o Sudeste numa barafunda. A única coisa inquestionável é que Jair Bolsonaro, apesar de tudo, e de todos os riscos, lidera com folga em quatro das cinco regiões do País e nos Estados mais populosos. Isso tem cheiro de Fernando Collor em 1989, mas o PT também tem suas armas (eleitorais, frise-se).

Resta saber que tipo de movimento, ou de reação, começa a se desenhar com o manifesto de alerta de Fernando Henrique Cardoso, endossado por intelectuais tucanos. O Brasil está dividido entre a direita bolsonariana e a esquerda petista. O que isso projeta para o futuro? E vai ficar por isso mesmo? Ainda teremos muitos solavancos durante as eleições, mas principalmente depois. Apertem os cintos!

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo


 


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Tem cheiro (ou mau cheiro) de Bolsonaro no ar

Bolsonaro leva a eleição ainda no primeiro turno e já está liberado para plagiar Zagallo, no 'vão ter que me engolir' e não será apenas por um mandato 

A 49 dias do primeiro turno da próxima eleição presidencial, a pergunta de não sei quantos bilhões de dólares não é mais sobre os candidatos que disputarão o segundo turno – mas sobre qual será o candidato que no segundo turno enfrentará Jair Bolsonaro (PSL).  Desvalorizou-se, pois, o valor da resposta à pergunta original. Salvo um acidente de campanha, que por acidente é difícil de prever e não se pode descartar, Bolsonaro chegará ao segundo turno em 28 de outubro empurrado pelos eleitores já assumidos dele, e pelos enrustidos. [muitos da mídia estão a comer moscas confiando em uma suposta rejeição das mulheres ao Bolsonaro;
não existe rejeição digna de monta o que existe é que a maioria das mulheres prefere deixar seu voto para o momento da 'solidão' da urna - com tal conduta se livram do patrulhamento imbecil e poderão marcar BOLSONARO para um Brasil feliz e milhões de brasileiros felizes.]

Não se despreze esses. Há, sim, um grande número deles que por vergonha ou timidez prefere não revelar que votará no capitão – seja para não ter que oferecer muitas explicações aos cobradores, seja por temer ser mal avaliado nas rodas dos pretensos bem pensantes.  Em 1989 foi assim com parte dos eleitores que empurraram Fernando Collor rampa acima do Palácio do Planalto. Em São Paulo, o deputado Paulo Maluf sempre contou com a ajuda dos eleitores envergonhados de confessar que votariam nele. Contaria outra vez se não estivesse preso.


Pesquisa de intenção de voto costuma ser um retrato do passado como dizem os que são do ramo. Mas a levarem-se em conta as características especiais destas eleições e à resiliência (êpa, perdão!) de Bolsonaro, elas parecem indicar com certa clareza o que está por vir.  Trata-se de saber se será bem-sucedido o plano traçado por Lula no cárcere de Curitiba de pôr seu substituto no segundo turno. Ou se Geraldo Alckmin (PSDB) surpreenderá seus aliados de fé e os que fingem apoiá-lo com um crescimento rápido na reta final da campanha.

Tirar da fila do Serviço de Proteção ao Crédito os brasileiros endividados não bastará a Ciro Gomes (PDT) para garantir-lhe a chance de enfrentar Bolsonaro. Por fragilidade partidária e pessoal, Marina Silva (REDE) está mais para santa do que para presidente dos desvalidos. Por ora, é só. ['santa'? entre os evangélicos não existe 'santa' ou 'santo' e se existisse os candidatos à Santidade teriam que, no mínimo, escolher entre servir a DEUS ou ao demônio;
no meio evangélico até para ser digno a pessoa tem que ter firmeza de caráter, opiniões e posições firmes, coerentes com a doutrina.
Convenhamos,  uma 'evangélica' que apoia o aborto e a maconha,  desde que um plebiscito aprove as duas aberrações, está sem sombra de dúvidas servindo ao demônio.]

Blog do Noblat - Veja
 
 

sábado, 18 de agosto de 2018

Lula é apenas um presodenciável

Desde o final dos anos 1970, Luiz Inácio Lula da Silva está presente na cena política. 

Como presidente de sindicato liderou três grandes greves. Todas fracassadas. Porém, aparecia como vitorioso, o dirigente autêntico dos metalúrgicos, mesmo derrotado. [pela manhã, no Vila Euclides,  insuflava com discursos inflamados a turma de babacas do 'sindicato dos metalúrgicos'  a fazer e acontecer.
No final da tarde ia para a sede da FIESP encher a cara com uísque escocês - ao lado dos patrões.
Após, antes de ir para casa, ainda alcaguetava os companheiros metalúrgicos para o delegado Romeu Tuma.]
Em 1982, ficou em quarto lugar, na eleição para o governo do estado de São Paulo. Mesmo assim, foi considerado o vencedor moral. Tinha na imprensa e na universidade devotos que o transformaram em símbolo maior do novo Brasil que surgia em pleno processo de redemocratização. Candidatou-se à Assembleia Constituinte. Foi eleito com uma grande votação — o PT fez campanha quase que exclusivamente para ele. Era uma forma de registrar que não aceitava qualquer tipo de concorrência, especialmente no “seu” partido. Teve uma atuação pífia na Constituinte. Notabilizou-se pelas noitadas acompanhado de parlamentares, um deles teve papel central na confecção da nova Constituição. Desiludiu-se do Parlamento. Lá tinha de apresentar qualidades que não possuía. Odiava ler, debater e encontrar saídas para as divergências. Desejava — e não conseguia — ser idolatrado. Desprezava ser “apenas” um constituinte.

Candidato à Presidência da República, surpreendentemente foi ao segundo turno, porém não conseguiu enfrentar as tensões daquele momento. No debate final que antecedeu à eleição, foi derrotado pelo seu oponente, Fernando Collor. Mas logo seus seguidores apresentaram outra versão: Lula estava abalado emocionalmente e foi prejudicado pela edição do debate, no dia seguinte, realizado pela emissora que promoveu o evento — o que é uma falácia.

Concorreu e perdeu duas vezes enfrentando Fernando Henrique Cardoso. Como de hábito, as derrotas — as duas no primeiro turno! — foram transformadas em vitórias. Na quarta tentativa, em 2002, apresentou-se com novo figurino. O ídolo tinha descido à terra. Era — momentaneamente — um simples mortal. Venceu. Contou com a ajuda indireta do seu opositor nas duas eleições anteriores que fez corpo mole, desinteressando-se em eleger seu sucessor. Governou despoticamente. Organizou o maior esquema de corrupção da história. Teve como princípio não ter princípio. Cooptou por meio do uso de recursos públicos grande parte da elite política e econômica. Elegeu duas vezes Dilma Rousseff. Graças à Lava Jato acabou na cadeia. Deve por lá permanecer. Hoje é um presodenciável, nada mais.
Graças à Lava Jato, Lula acabou na cadeia. Deve por lá permanecer. Hoje é um presodenciável, nada mais


 

terça-feira, 24 de julho de 2018

À sombra do passado



Refugiados no túnel do tempo, partidos e candidatos dissimulam a incapacidade de entender o eleitorado, que enxerga um confronto entre o Estado e os cidadãos

Três partidos foram ao Supremo Tribunal Federal pedir música na campanha eleitoral. “Não é apenas entretenimento” argumentam PT, PSOL e PSB na ação (ADI 5970) —, “mas um legítimo e importante instrumento para manifestações de teor político”.
Desejam voltar à era dos showmícios, quando candidatos atraíam o público às praças com a magia musical e, nos intervalos, vendiam alegres utopias, logo desmentidas pela realidade. Quem mais abusou do artifício foi Fernando Collor, na campanha em que derrotou Lula 29 anos atrás.

Na essência, esse bloco partidário que se autodenomina de esquerda protocolou no Supremo uma confissão de impotência para renovar seu projeto, lideranças, meios de se comunicar e a própria mensagem.  O refúgio no túnel do tempo ajuda a dissimular a incapacidade de entender as ansiedades do eleitorado, que não vê uma cisão entre “trabalhadores” e “burguesia”, mas enxerga com nitidez um confronto entre Estado e cidadãos, entre a sociedade e seus governantes — como demonstram pesquisas do PT na periferia de São Paulo.

Em Pernambuco tem-se outro exemplo dessa fuga nostálgica. Partidos e candidatos se transformaram em reféns de dois personagens um mito e um encarcerado.  Morto há 13 anos, o ex-governador Miguel Arraes paira sobre a cena estadual em que se tornou mítico, depois de dominá-la por mais de cinco décadas. Dois dos três candidatos ao governo estadual disputam sua memória nessa eleição.  De um lado está Paulo Câmara, governador em busca da reeleição pelo PSB. Burocrata do Tribunal de Contas, foi ungido por Eduardo Campos, neto de Arraes, quando deixou o governo em 2014 para se candidatar à Presidência da República (Campos morreu num acidente aéreo).

Na oposição está Marília, 34 anos, neta de Arraes. Vereadora no Recife, rompeu com os primos do PSB e migrou com o sobrenome para o PT. É candidata ao governo contra a vontade da burocracia petista, que deseja sua renúncia. Motivo: uma aliança com o PSB aumentaria em 51% o tempo de propaganda eleitoral do PT (de 171 para 258 minutos). Paulo e Marília também cultuam Lula, pernambucano do agreste, há mais de cem dias cumprindo pena em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro. Ao ritual juntou-se um terceiro candidato a governador, Armando Monteiro (PTB), cuja origem remonta às usinas de açúcar e ao sistema financeiro.

À sombra do mito e do cárcere criou-se um impasse entre o PSB dos Arraes e o PT de Lula. Derivou na imobilização de quatro partidos (PCdoB, PDT, Pros e Rede). No fim de semana, o PT adiou suas convenções no Amazonas, Amapá, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Tocantins e Rondônia.  Embriagados de nostalgia, eles se abstraem do debate de alternativas reais às agruras do presente compartilhado por 175 milhões de dependentes da combalida rede pública de saúde, e por 13,5 milhões de desempregados que perambulam no inverno das maiores cidades.