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domingo, 27 de agosto de 2023

Descrentes do Estado

A grande surpresa de Milei na Argentina revela outros fenômenos

 Javier Milei

Javier Milei (Tomas Cuesta/Getty Images)
 
Os 7 milhões de votos para o candidato ultra libertário na Argentina continua a desafiar os especialistas em decifrar cabeça de eleitor, um enigma até na nossa era de hiperinflação. 
Vamos ter de esperar até 22 de outubro para saber se o fenômeno Milei se consolida ou se foi apenas um daqueles ataques de birra com que eleitores costumam deixar os institutos de pesquisa com a cara no chão. 
Mais do que analisar o perfil médio do eleitor que votou no excêntrico candidato — homem, jovem, descrente de todas as alternativas tradicionais —, é interessante ver os elementos sociais que podem fazer do caso argentino uma categoria e não uma exceção. 
 
As mudanças no estilo de vida são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados, com relações de trabalho tão fluidas quanto as pessoais, sem necessariamente esperar formar família ou mesmo casais fixos. Na Inglaterra, por exemplo, um dos assuntos do momento é o das mulheres com mais de 30 anos que nunca tiveram um namorado firme. Saem com alguém do aplicativo, rola o algo mais e a coisa não evolui. O jeito é fingir que se sente empoderada, assistir ao filme da Barbie e se afundar no vinho rosé com as amigas. 
 
Entre os homens, os casos mais extremos de isolamento produzem os incels, os celibatários involuntários, expressão sofisticada para o fenômeno muito triste de jovens que simplesmente não têm nenhum relacionamento com o sexo oposto. No limite, incels descontrolados são os jovens que cometem chacinas nas escolas onde se sentem excluídos.

“As mudanças são globais: jovens sem ter nem aspirar a ter empregos consolidados”

Ter uma saudável desconfiança em relação ao Estado não é a mesma coisa que rejeitar categoricamente todas as instituições públicas — abrindo-se, aqui, uma exceção para o caso argentino, diante do histórico de erros tectônicos da direita e da esquerda. 
No livro Bowling Alone, ou Jogando Boliche Sozinho, o cientista político Robert Putnam detectou na virada do século, entre os americanos, a perda do que chama capital social: o enfraquecimento da religião e do senso de pertencimento que ela proporcionava, o esgarçamento do casamento e das relações familiares e um sentimento muito presente entre americanos menos privilegiados, o de que as pessoas comuns têm sido traídas pelas elites. 
Atenção, Putnam não é de direita, bem ao contrário, embora as chagas apontadas possam fazer parte do manual do pensamento conservador. Olhando para os EUA com o foco mais aberto, diz ele: “Quando a economia vai bem, as pessoas confiam mais no governo. Quando a economia vai mal, a confiança afunda. Em três quartos de século, todos os índices máximos e mínimos de confiança no governo podem ser explicados por três fatores: a Guerra do Vietnã, Watergate e o desempenho da economia”.
 
“Tenho vendido minha alma / Fazendo hora extra todo dia por uma droga de salário / Para poder sentar aqui e desperdiçar minha vida / Voltar para casa e afogar as mágoas”, canta Oliver Anthony, numa espécie de hino do redneck que virou fenômeno viral. 
O americano-padrão Anthony não é muito diferente do argentino-padrão Milei. Preservadas, obviamente, as especificidades da Argentina, onde até o pensamento libertário gerou uma corrente populista. 
Seus seguidores , em muitas instâncias, estão sozinhos em casa, como versões adultas do personagem de Esqueceram de Mim. Com o celular na mão e muita bronca na alma.

Publicado em VEJA, edição nº 2856  de 25 de agosto de 2023, 

Vilma Gryzinski, Mundialista, Revista VEJA

 

segunda-feira, 1 de maio de 2023

O tratado internacional mais perigoso já proposto - Molly Kingsley

Revista Oeste

Com a proposta, um sistema global de “certificados de saúde” digitais para a verificação da situação vacinal ou dos resultados de exames se tornaria rotineiro


Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

A história humana é uma história de lições esquecidas. Apesar do colapso catastrófico da democracia europeia nos anos 1930, parece que a lenda do século 20 — em que cidadãos, amedrontados por ameaças existenciais, aceitaram rejeitar a verdade e a liberdade em favor da obediência e da propaganda política, enquanto permitiam que líderes despóticos assumissem poderes ainda mais absolutistas — está perigosamente perto de ser esquecida.

Em nenhum lugar isso fica mais evidente do que em relação à aparente displicência com que foram recebidos dois acordos internacionais que estão a caminho da Organização Mundial da Saúde: um novo tratado pandêmico e as emendas ao Regulamento Sanitário Internacional de 2005. Ambos devem ser apresentados ao órgão diretor da OMS, a Assembleia Mundial de Saúde, em maio do ano que vem. Como pesquisadores e juristas preocupados já detalharam, esses acordos ameaçam reformular fundamentalmente a relação entre a OMS, os governos nacionais e os indivíduos.

Eles transformariam em legislação internacional uma abordagem vertical supranacional à saúde pública em que a OMS, atuando em alguns casos por meio do discernimento de um único indivíduo, seu diretor-geral, teria poderes de impor diretrizes amplas e legalmente obrigatórias a Estados membros e seus cidadãos, que vão desde a imposição de contribuições financeiras de governos até o requerimento de produção e distribuição internacional de vacinas e outros produtos de saúdepassando pela exigência de cessão de direitos de propriedade intelectual, pela suplantação de processos de aprovação de segurança nacionais para vacinas, terapias genéticas, equipamentos e diagnósticos médicos e pela determinação de quarentenas nacionais, regionais e globais que impeçam os cidadãos de viajarem e imponham exames e tratamentos médicos. OMS teria poderes de impor diretrizes amplas e legalmente obrigatórias a Estados membros e seus cidadãos | Foto: Shutterstock

Um sistema global de “certificados de saúde” digitais para a verificação da situação vacinal ou dos resultados de exames se tornaria rotineiro, e uma rede de biomonitoramento cujo propósito seria identificar vírus e variantes de interesse e monitorar a adesão nacional a diretrizes políticas da OMS nesses casos — seria incorporada e expandida.

Para que qualquer um desses amplos poderes seja invocado, não seria necessário haver uma emergência sanitária “real”, em que as pessoas estejam sofrendo danos consideráveis, na verdade, bastaria que o diretor-geral, agindo por seus próprios critérios, identificasse o simples “potencial” dessa emergência.

É difícil superestimar o impacto dessas propostas na soberania dos Estados membros, nos direitos humanos, nos princípios básicos da ética na medicina e no bem-estar das crianças
Em suas versões atuais, essas propostas negariam a autonomia do governo e a soberania do Reino Unido em priorizar políticas sociais e sanitárias e, por meio dos impactos indiretos das quarentenas e dos lockdowns forçados, e porque cada Estado membro seria obrigado a comprometer um mínimo impressionante de 5% de seu Orçamento nacional para a saúde e uma porcentagem ainda não especificada de seu PIB para a prevenção e a resposta à pandemia da OMS, além dos aspectos críticos de política econômica.

O uso de máscaras, o lockdown, a aceitação de novas vacinas. Todas essas medidas foram incorporadas às propostas como diretivas potencialmente obrigatórias, a serem impostas a Estados membros e, em consequência, aos cidadãos individuais

Os novos poderes propostos representariam um conflito não apenas
à Declaração Universal de Direitos Humanos, mas também à Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU. 
Eles representariam um divisor de águas na nossa compreensão de um pilar dos direitos humanos: uma emenda ao Regulamento Sanitário Internacional apaga o trecho que atualmente diz que “a implementação deste Regulamento será feita com pleno respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais das pessoas” para substituí-lo por “implementação deste Regulamento será feita com base nos princípios de igualdade, inclusão, coerência…”.

As disposições exigem
(ênfase minha) em particular que a OMS desenvolva orientações reguladoras ágeis para a “rápida (ou seja, relaxada) aprovação de uma vasta gama de produtos de saúde, incluindo vacinas, terapias genéticas, equipamentos médicos e diagnósticos ameaçam, aos olhos dos juristas, “padrões muito reivindicados de legislação médica, cujo objetivo é garantir a segurança e a eficácia de artigos médicos” e deveria ser motivo de preocupação especial para os pais.

De fato, nada nesses documentos obrigaria a OMS a diferenciar suas orientações obrigatórias pelo seu impacto em crianças, permitindo assim que medidas indiscriminadas, incluindo testagem em massa, isolamento, restrições a viagens e vacinação possibilitando que produtos experimentais e em fase de investigação tenham sua aprovação acelerada —, sejam impostas a populações pediátricas saudáveis, com base em uma emergência real ou “potencial” declarada unilateralmente pela diretoria. Os novos poderes propostos representariam um conflito também à Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU | Foto: Shutterstock

Como se isso não fosse suficientemente problemático, o que agrava as coisas é que, como escreve Thomas Fazi, “a OMS está em grande parte sob o controle do capital privado e de outros interesses escusos”. Como, e outros explicam, a estrutura de financiamento em evolução da organização e em particular a influência de corporações com foco em soluções em resposta a pandemias (vacinas, predominantemente) afasta a OMS de seu éthos original de promover uma abordagem democrática e holística à saúde pública e aproxima a organização de abordagens corporativas baseadas em commodities que “geram lucro para seus financiadores privados e corporativos” (David Bell). Mais de 80% do orçamento da OMS hoje vem de fundos “especificados” na forma de contribuições voluntárias tipicamente destinadas para doenças e projetos específicos na forma especificada pelo financiador. 

Aulas de História
“A história não se repete, mas ensina”, afirma o prólogo do livro Sobre a Tirania: Vinte Lições do Século XX para o Presente, de Timothy Snyder. Se ao menos nos dedicássemos a ensinar, haveria lições para aprender sobre o tanto que já avançamos no caminho da tirania do autoritarismo pandêmico e como, se os planos da OMS avançarem, a pandemia da covid-19 pode revelar que foi apenas o começo.

“Não obedeça de antemão”, alerta a Lição 1, e de fato hoje pareceria que a obediência voluntária foi dada de forma tão descuidada pelos cidadãos do mundo em 2020-22 — o uso de máscaras, o lockdown, a aceitação de novas vacinas. Todas essas medidas, e outras, foram incorporadas às propostas como diretivas potencialmente obrigatórias, a serem impostas a Estados membros e, em consequência, aos cidadãos individuais.

“Defenda as instituições”, aconselha a Lição 2, uma vez que “as instituições não se protegem sozinhas”; trata-se de um lembrete preocupante à luz da autodesignação da OMS nessas propostas, como “a autoridade coordenadora e orientadora para as reações internacionais de saúde pública”: uma designação que colocaria expressamente a organização acima dos Ministérios Nacionais da Saúde e dos Parlamentos eleitos e soberanos.

A Lição 3, “Cuidado com o Estado de partido único”, nos faz lembrar que “os partidos que reconstruíram os Estados e suprimiram os rivais não foram onipotentes desde o começo”. A OMS não finge ser um partido político, mas tampouco vai precisar fazer isso depois de se ordenar a controladora global exclusiva não apenas de identificação de pandemias e pandemias em potencial, mas também da elaboração e da execução das respostas, enquanto garante para si mesma uma vasta rede de monitoramento de saúde e uma força de trabalho global — parcialmente financiada pelos impostos das nações sobre as quais a OMS vai se impor — proporcional ao seu novo status supremo.

“Lembre-se da ética profissional” Lição 5 — teria sido um conselho sensato em 2020, mas, por mais que lamentemos o abandono da ética médica da nossa perspectiva em 2023 (“se os médicos tivessem obedecido à regra que proíbe cirurgias sem consentimento”, lamenta Snyder em relação à tirania do século 20), as propostas da OMS garantiriam que esses desvios dos pilares fundamentais da ética na medicina — consentimento informado, desconsideração pela dignidade humana, pela autonomia sobre o próprio corpo e até pela liberdade em relação a experimentos — podem se tornar a norma aceita, em vez de uma exceção deplorável.

Atenção, alerta Snyder, com “o desastre repentino que exige o fim dos mecanismo de controle… esteja atento às noções fatais de emergência e exceção”. Divulgadas como um passo necessário para a conquista da coordenação e da cooperação de saúde pública global, as propostas da OMS criariam uma administração e uma infraestrutura de monitoramento permanente e global, cuja razão de ser será buscar e reprimir emergências sanitárias.

O financiamento dessa rede virá de interesses privados e corporativos e deve se beneficiar financeiramente das possíveis reações baseadas em vacinação; assim, as oportunidades de exploração privada de crises de saúde pública serão enormes. E, ao ampliar e antecipar as circunstâncias em que esses poderes podem ser acionados — deixa de ser preciso haver uma emergência de saúde pública “real”, basta uma emergência “potencial” —, podemos esperar que a ameaça de um Estado de emergência excepcional se torne uma característica semipermanente da vida moderna.

“Acredite na verdade”, afirma a Lição Dez — uma vez que “abandonar os fatos é abandonar a liberdade” , é adequada à nossa era orwelliana de “duplipensar”, os slogans ganham status de religião e a ideologia se faz passar por integridade: “Seguro, esperto e gentil” (dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, 2020). O que George Orwell diria, podemos nos perguntar, da Unidade de Combate à Desinformação do Reino Unido e do Ministério da Verdade dos Estados Unidos, ou das propostas que não apenas permitem, mas exigem que a OMS desenvolva capacidade institucional para impedir a disseminação de desinformação e fake news – e ungida como a única fonte de informação de verdade sobre a pandemia?  
George Orwell | Foto: Wikimedia Commons

O que Hannah Arendt diria das intrusões de 2020-22 do Estado na vida privada dos indivíduos e das famílias e dos consequentes períodos de isolamento e — em decorrência da adoção do isolamento forçado e da segregação como ferramentas de saúde pública respeitáveis — da elevação dessa destruição da vida privada a uma norma aceita mundialmente? “Assuma responsabilidade para com o mundo”, afirma Snyder na Lição 4. Poderia haver um símbolo mais potente das manifestações de lealdade visíveis da sociedade ao novo normal do que os rostos cobertos por máscaras de 2020-21?

“O preço da vigilância é a eterna liberdade” é uma citação não menos verdadeira por ser erroneamente atribuída a Jefferson, mas depois da vida em meio aos escombros do autoritarismo fracassado da covid-19 por três anos. Talvez estejamos próximos demais para compreender quanto já nos afastamos da democracia liberal.

Mesmo que alguém concordasse sinceramente com o enfoque da OMS nos preparativos para pandemias e com as respostas intervencionistas geradas por ele, atribuir poderes tão amplos a uma organização supranacional (quanto mais a um indivíduo dentro dela) seria assombroso. Isso, como a reação à pandemia ilustrou de forma tão brutal, a versão otimizada para o lucro do “bem maior” almejado pela OMS tende a entrar em conflito com a saúde e o bem-estar das crianças, nos pede para aderir a um erro grotesco contra nossas crianças e jovens.

A lição mais importante de Snyder talvez seja “Destaque-se. No momento em que você dá o exemplo, quebra-se o encanto exercido pelo statu quo”. O Reino Unido foi suficientemente investido de soberania nacional para se retirar do Reino Unido um exemplo de democracia em comparação com a OMS não eleita; sem dúvida seria impensável navegar por propostas que fariam o Reino Unido a abrir mão de sua soberania sobre políticas públicas fundamentais de saúde, sociais e econômicas para a OMS.

Molly Kingsley é cofundadora da UsForThem, uma iniciativa de pais formada em maio de 2020 contra o fechamento das escolas. Desde então, o grupo teve a adesão de milhares de pais, avós e profissionais em todo o Reino Unido e outros locais, defendendo a ideia de que as crianças sejam priorizadas na reação a pandemias e em outras situações

Leia também “O espetáculo sinistro das ditaduras”
 

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Governo Lula quer brasileiros sem água nem esgoto, dependendo de carro-pipa - Gazeta do Povo

Vozes - J.R. Guzzo

 Marco Legal do Saneamento estabelecia meta de ter 99% da população atendida com rede de água e 90% com esgoto até 2033.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

“Rico não gosta de construir esgoto”, disse Lula durante a sua campanha eleitoral, junto com a promessa do Bolsa-Picanha, a convicção de que policial não é “ser humano” e outras coisas desse nível. De todas as mentiras que disse desde que saiu da cadeia, por um decreto do STF que até hoje não o absolveu de nenhum dos crimes a que foi condenado, essa é com certeza uma das mais desonestas.

É desonesta porque joga em cima dos “ricos”, que não têm nada a ver com isso, a culpa por uma tragédia pela qual os únicos culpados são justamente ele próprio, Lula, e as forças do atraso das quais ele é o maior ídolo neste país – a cada eleição, há 40 anos, elas jogam todos os seus imensos recursos para que continue a mandar no Brasil, junto com o PT e o resto do seu Sistema. É uma culpa direta, exclusiva e indiscutível.[os brasileiros que vão continuar dependendo do carro-pipa,também gostam do esgoto a céu aberto, as pessoas nessas condições querem é o bolsa-família, e outras benesses. Além de gostar da miséria, por isso são presas fáceis para os lulas da vida, a imensa maioria deles possuem uma aversão crônica ao trabalho e ao estudo.]

    No mundo das realidades, a anulação efetiva da lei do saneamento é uma garantia de que não vai haver esgoto nenhum.

O presidente acaba de provar isso mais uma vez: destruiu, com a sua assinatura num pedaço de papel, a nova lei do saneamento que o Congresso Nacional tinha aprovado. 
 Em vigor desde 2020, a lei começava, enfim, a permitir que o Brasil eliminasse um dos seus escândalos mais ofensivos – a falta de esgotos e água encanada. Não há discussão possível diante dos números. Nada menos que 100 milhões de brasileiros vivem até hoje, em pleno 2023 da Era Cristã, sem rede de esgotos; outros 35 milhões não têm sequer água potável em suas casas.

O novo marco do saneamento, aprovado após anos a fio de discussão, permite que as empresas privadas entrem no setor e construam o que o “Estado”, que até há pouco tinha o monopólio sobre essa atividade, comprovadamente não construiu durante mais de um século. Os efeitos revolucionários da nova lei foram imediatos. 

Em pouco mais de dois anos, só dois anos, as empresas privadas investiram 80 bilhões de reais na construção de novas redes, em 240 cidades. Lula, em sua canetada, acabou com isso: para todos os efeitos práticos, está expulsando a iniciativa privada da área e mantendo tudo na situação de calamidade que havia até agora, na qual só as empresas estatais podem operar elas, os seus empregos de marajá e os negócios que permitem para os políticos que as controlam.

    Sem a miséria Lula não respira; vai fazer tudo, sempre, para que continue a existir no Brasil o seu estoque particular de miseráveis.

A decisão não é apenas mais uma prova cabal da incompetência sistemática do Sistema Lula-PT em tudo aquilo em que põe a mão – é um ato deliberado de fraude e de apoio intransigente ao retrocesso. Naturalmente, veio cercado da hipocrisia sem limites que marca todas as ações do governo Lula. 

 Não proíbe que as empresas privadas atuem no saneamento básico, mas permite que as estatais que hoje são proprietárias exclusivas de quase todo o setor continuem exatamente como estão, sem a obrigação de submeter-se à licitação pública e sem qualquer tipo de compromisso real com a população.

É escalar a sociedade para o papel de palhaço:
na prática, com essas condições, qual empresa privada vai colocar dinheiro na atividade? Não faz nexo – não se uma estatal qualquer pode acabar na hora com o seu negócio. 
No mundo das realidades, a anulação efetiva da lei do saneamento é uma garantia de que não vai haver esgoto nenhum, e o que houver vai ser roubado.
 
Constatações desse tipo deixam a esquerda espumando de ira neurastênica. Mas o que se vai fazer?  
São as estatais que têm de construir as redes de saneamento, pois ninguém mais esteve autorizado a fazer isso nos últimos 100 anos. Durante este tempo todo, é óbvio que não fizeram o que tinham de fazer – se tivessem feito, por que metade da população deste país continua sem esgotos? 
A culpa é unicamente das estatais, e de quem manda nelas e as trata como propriedade particular, para todos os efeitos concretos – a elite escravocrata que apoia Lula e o PT com tanta paixão, e que trabalha sistematicamente para ambos a cada eleição. De quem seria, se não fosse delas?

O que o governo atual quer é uma coisa só, e muito simples: quer que os brasileiros continuem sem água e esgoto, para continuarem na dependência do carro-pipa, das esmolas e da tirania dos que governam o Brasil do atraso
É daí que vêm os votos essenciais para a sobrevivência de Lula. 
Sem a miséria ele não respira; vai fazer tudo, sempre, para que continue a existir no Brasil o seu estoque particular de miseráveis.


J.R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo -VOZES

 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Educação pública é assaltada por quadrilhas de corruptos - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

É uma tragédia; o Brasil está produzindo analfabetos, quando necessita desesperadamente fazer o exato contrário - dar à população ensino de melhor qualidade

 A educação pública no Brasil vive possivelmente os piores momentos que já teve em muitos anos; está entre as mais infames do mundo e, além disso, como se vê agora, é assaltada por quadrilhas de corruptos. A polícia investiga a exigência e o pagamento de propinas, numa operação de tráfico de influência na distribuição de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para as escolas municipais. O ex-ministro Milton Ribeiro foi preso, por suspeitas de envolvimento no esquema. Treze mandados judiciais de busca e apreensão estão sendo cumpridos, em quatro Estados. Pastores evangélicos são denunciados por sua participação no roubo. É um fundo de poço – se fosse possível saber se este poço tem fundo.

 Tudo o que o Brasil não precisa neste momento é exatamente isso que está acontecendo. Com as escolas fechadas durante dois anos, por conta dos “lockdown” anti-covid, o número de crianças de seis e sete anos de idade que não sabem ler nem escrever aumentou de 1,4 milhão, em 2019, para 2,4 milhões em 2021. É uma tragédia. O Brasil está produzindo analfabetos, quando necessita desesperadamente fazer o exato contrário: dar à população ensino de melhor qualidade, com a transmissão dos conhecimentos hoje indispensáveis para que os jovens possam aspirar à uma vida profissional mais digna e contribuir com o bem-estar da sociedade. O país está imensamente atrasado nesta área - fica, a cada pesquisa internacional sobre situação do ensino, entre os piores do planeta.

Que esperança de progresso real se pode ter, em pleno século XXI, quando o número de analfabetos aumenta? Não se trata, aí, dos casos já perdidos - adultos que não aprenderam o suficiente e agora não tem condições de recuperar o conhecimento perdido. Trata-se, isto sim, de fabricar crianças analfabetas, uma garantia de que nunca estarão qualificadas para a execução dos trabalhos melhor remunerados, menos primitivos e mais promissores profissionalmente. É uma agressão direta à cidadania  - e uma das atitudes mais eficazes que uma sociedade poderia tomar para aumentar a concentração de renda, agravar as dificuldades e produzir pobreza.

 O Brasil já tem as escolas fechadas por conta da covid – dois anos de pura perda, que não pode mais ser “reposta”. Tem professores sem capacidade para ensinar. Tem uma distribuição insana dos recursos públicos destinados à educação, com bilhões de reais desviados para um ensino superior de péssima qualidade, aparelhado por professores, políticos e funcionários, e inútil na transmissão de conhecimentos capazes de ajudar a uma sociedade moderna. Em cima disso tudo, agora, vem a corrupção. É uma situação de xeque-mate. Não há como dar certo.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Censura no bom sentido - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Era preciso organizar esse caos pra vocês aprenderem que a função da mente humana é repetir o que uma mente superior mandou

Como você sabe, a imprensa tradicional, as plataformas de rede social, as agências de checagem e todo o gabinete do amor estão cortando cabeças para o seu bem. Essa gente empática e democrática está purificando a atmosfera intelectual permitindo só a circulação das palavras certas, das ideias certas e das opiniões certas. A última notícia de um esforço de purificação tão resoluto na história da humanidade se deu quase um século atrás na Europa — quando um purificador abnegado colocou o mundo no caminho da 2ª Guerra Mundial.

O grande purificador acabou perdendo a guerra — e aí sobreveio um mundo cheio de contrastes, complexidades, convivência múltipla de ideias, enfim, uma bagunça. Nenhum purificador de verdade tolera viver num ambiente tão volúvel, em que cada um se expressa de um jeito. Não dá. Era preciso organizar esse caos pra vocês pararem de graça e aprenderem de uma vez por todas que a função da mente humana é repetir o que uma mente superior mandou. Que mente superior? Cala a boca que ninguém te perguntou nada.

Chega de controvérsia. Chega de sofrimento. A partir de agora vamos falar e escrever só as coisas certas, para não dar trabalho aos purificadores — que já estão exaustos de tanto banir, ceifar, suprimir, apagar, apagar de novo (essa gente impura é insistente), suspender, advertir, ameaçar, embargar e censurar (no bom sentido). Segue então uma lista de verdades universais que você pode usar sem medo na internet, no trabalho, na escola, na rua, na praia ou preferencialmente em casa, se todos esses outros lugares estiverem proibidos para você.

Chega de polêmica, falsidade e ódio. Vamos ser felizes repetindo só as coisas certas:

  1. As vacinas são ótimas;
  2. As vacinas são seguras e eficazes, graças aos vários anos de estudos que couberam em poucos meses porque o tempo é uma ilusão;
  3. O fato de não haver estudos conclusivos sobre substâncias experimentais não tem o menor problema, porque eu vi na televisão que tá tudo bem, então é porque tá tudo bem;
  4. Ninguém sabe os porcentuais de efeitos adversos das vacinas porque elas estão sendo testadas na população, em massa, e não há controle sobre o universo total de vacinados. Mas isso não tem o menor problema, porque vacina boa é vacina no braço;
  5. A imprensa escreve que “fulano pegou covid depois de imunizado” porque esse é um novo conceito de imunização, segundo o qual o que realmente imuniza não é o que sai da agulha, mas o que sai do teclado;
  6. As autoridades de São Paulo e do Rio estão disputando para ver quem começa primeiro a vacinar adolescentes, porque o risco que a covid representa para os adolescentes é muito menor do que a vontade desses heróis de aparecer na TV anunciando vacina para adolescentes;
  7. Os estudos inconclusos de miocardite em jovens e adolescentes após a vacinação não são problema das autoridades vacineiras, porque o importante, como já explicado, é aparecer na TV dizendo que está vacinando geral e correr pro abraço;
  8. O que vai acontecer no curto, médio e longo prazo com o sistema cardiovascular desses adolescentes é problema deles. Adolescente já é cheio de problema mesmo, então não muda nada;
  9. Você pode ter uma trombose, uma neuropatia ou uma doença autoimune atravessando a rua, então não tem por que não se vacinar com vacinas experimentais;
  10. As vacinas estão livrando a humanidade da pandemia. O fato de que os primeiros seis meses de vacinação coincidiram com um agravamento da pandemia é um detalhe. As pessoas que negam a ciência têm mania de se prender em questões impertinentes e enjoativas porque não têm empatia, nem lugar de fala, nem lugar na fila, nem nunca estiveram no pombal do Zoom com um monte de cabecinhas repetindo o que é certo repetir.

Pronto. Está feito o bem. Só afirmamos coisas que os purificadores dizem que são certas. E liberamos as patrulhas e guilhotinas para ceifar outros pecadores. Viva a pureza.

Leia também “Crachá de cobaia”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


sábado, 12 de dezembro de 2020

Injeção letal - IstoÉ

EUA realizam execução antes de Trump deixar o poder 

Autoridades americanas preparam a 10ª e última execução do ano, que acontecerá nesta sexta-feira, devido à decisão do presidente Donald Trump de aplicar uma série de penas capitais antes de deixar o cargo.

Alfred Bourgeois, condenado à morte pelo assassinato da filha de 2 anos, receberá a injeção letal no presídio de Terre Haute, Indiana, um dia após a execução, no mesmo local, de outro condenado, Brandon Bernard.

Após um teste de paternidade, o ex-motorista de caminhão, 55, assumiu a guarda temporária de sua filha durante parte do verão local de 2002. Ele abusou da criança e esmagou o crânio da menor contra o para-brisa. Devido ao fato de o crime ter acontecido em uma base militar onde Bourgeois realizava uma entrega, ele foi julgado em um tribunal federal e condenado à morte em 2004.

O governo Trump retomou as execuções federais em julho, apesar de os estados que aplicam a pena de morte as terem atrasado devido à pandemia. Sete execuções ocorreram antes das eleições presidenciais de 3 novembro e o governo republicano anunciou outras seis entre novembro e janeiro, incluindo a de Bourgeois.

Os advogados do preso pediram à Suprema Corte que intervenha, alegando que o mesmo sofre de problemas mentais. Caso aconteça, essa será a 17ª execução em 2020 e a 10ª em nível federal, o maior número em mais de um século.

IstoÉ - Comportamento 

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Bolsonaro tenta de novo desacreditar a Coronavac – Valor Econômico

Opinião

O Congresso, pelos feitos e malfeitos do presidente, pode dar a ele a paz que tanto diz almejar

[desacreditar o que não existe é impossível.] 

Na maior corrida do século para produzir, no mais curto espaço de tempo, uma vacina eficaz e segura contra o novo coronavírus, obstáculos são previsíveis e inevitáveis. Os cientistas aprendem muito com seus erros, o que, tragicamente para os brasileiros, não é o caso do presidente Jair Bolsonaro. Só há motivos para lamentar quando uma das tentativas de derrotar o vírus fracassa ou atrasa. Paranoico, Bolsonaro encontrou um tétrico motivo de júbilo no episódio muito estranho de suspensão dos testes da Coronavac, da chinesa Sinovac, que será produzida pelo Instituto Butantan. O presidente acreditou que seu rival João Doria fora decisivamente atingido pelo evento, que, no final, não era nada daquilo que imaginava.

A precipitação em obter um trunfo político lúgubre apequenou mais uma vez um presidente já diminuído por várias demonstrações desumanas de insensibilidade. Os efeitos nocivos do golpe falho não atingiram só o presidente, o que por si só já seria grave. Com sua patuscada no Facebook, acusando a vacina que será produzida em São Paulo de provocar “morte, invalidez, anomalia” colocou também sob grave suspeita o presidente da Anvisa, o contra-almirante Antônio Barra Torres, um amigo do presidente.

Um dos voluntários no teste da Coronavac foi encontrado morto no dia 29 de outubro e a polícia suspeita fortemente de suicídio. O óbito foi comunicado à Anvisa em 6 de novembro, uma sexta, e a mensagem ficou parada inexplicavelmente - a versão oficial é de problemas técnicos - até o dia 9. Às 15 horas da segunda-feira, a Anvisa solicitou informações de Dimas Covas, diretor do Butantan. O ofício dava o prazo de uma dia para a resposta, que o instituto disse ter enviado em seguida. No início da noite, um mail da direção do órgão regulador convidara os técnicos do Butantan para um encontro, que não ocorreu: 38 minutos após o mail, a Anvisa suspendeu os testes (Folha de S. Paulo, ontem). [suspender os testes diante de qualquer suspeita de um evento adverso grave vitimando um dos voluntários é DEVER do órgão regulador, da mesma forma que comprovada a não relação entre o evento e os testes seja autorizada a continuidade.

O órgão patrocinador, no caso o Butantã, tem a obrigação de comunicar a ocorrência à Anvisa - o que não impede que o órgão regulador adote medidas logo que cientificado, sem condicionar o cumprimento de um dever de ofício a uma ação do fiscalizado. A SAÚDE PUBLICA EM PRIMEIRO LUGAR. ]

Barra Torres, em entrevista no dia seguinte, disse que suspendera os testes sem ouvir previamente o Butantan. Após reunião com Covas na manhã de terça, decidiu manter sua decisão por considerar as respostas insatisfatórias. Sugeriu um parecer ao Comitê Internacional Independente, que pouco antes das 17h concluiu o que já estava estabelecido - a morte não teve qualquer relação com a vacina. Mas na manhã do mesmo dia, o presidente vangloriou-se no Facebook, “mais uma que o Jair Bolsonaro ganha”, com a mesma alegria de alguém que vibra com desventuras do vizinho após ter-lhe rogado terríveis pragas.

Há mais a averiguar do que a morte do voluntário dos testes da Coronavac. [será que alguém imagina que o "suicídio" foi facilitado para interromper os testes? As aspas em suicídio é que tal nefasta ocorrência necessita ser comprovada pelo IML e outras perícias.] Antes, a importação de vacinas pelo governo paulista parecia prestes a atrasar por falta de aval da Anvisa. O presidente já espinafrara o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por firmar acordo para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, e jurara que a vacinação não seria obrigatória. Pazuello, Barra Torres e Bolsonaro foram infectados pela covid-19.

A atitude precipitada [sic] de Barra Torres interrompendo os testes serviu à exploração política por Bolsonaro. Barra Torres exibiu condutas incompatíveis com o cargo que assumira (então interinamente), de presidente de uma agência reguladora de vigilância sanitária. Em março, quando o então ministro Luiz Mandetta tomava providências contra a covid-19, apesar do presidente, Barra Torres foi com Bolsonaro a uma manifestação, que certamente não foi a favor da democracia, sem máscara.  É um convicto aliado do presidente e ficou a seu lado contra Mandetta, demitido. Ontem, a Anvisa liberou os testes.[as máscaras se tornaram obrigatórias no DF em 30 de abril, data estabelecida em decreto do governador do DF = decisão suprema em abril* estabeleceu que todas as medidas de combate ao coronavírus seriam adotadas por governadores e prefeitos.

A propósito: quem é Mandetta? é aquele que foi ministro da Saúde, graduado em ortopedia, tentou ser escritor e o número de exemplares vendidos do que esperava ser um best-seller o tornou, precocemente, um ex-escritor?]

Bolsonaro seguiu roteiro igual ao de outras vezes em que sua família aparece em apuros, desviando atenções com declarações bombásticas e provocativas. Dias antes, o Ministério Publico denunciou o senador Flavio Bolsonaro como chefe de “organização criminosa” no escândalo das “rachadinhas”. 162 mil mortes depois da omissão imperdoável do presidente na coordenação [sic]* do combate à covid-19, Bolsonaro disse que a morte é inelutável e que o Brasil “tem de deixar de ser um país de maricas”.

O presidente afirmou que não tem “tesão” pelo cargo, depois do opróbrio de comemorar falsa derrota de um político que quer seu lugar. “Minha vida aqui é uma desgraça, é problema o tempo todo. Não tenho paz para nada”, disse. A conduta de seu herói, Donald Trump, na pandemia, ajudou a sepultar sua ambição de um segundo mandato. Aqui pode ocorrer o mesmo. Ou então o Congresso, pelos feitos e malfeitos do presidente, pode dar a ele a paz que tanto diz almejar. [o Congresso ter coragem, disposição para tratar do impedimento de um presidente com ampla popularidade?]

Opinião - Valor Econômico

 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

O Supremo Tribunal Federal e o consequencialismo jurídico - O Estado de S.Paulo - Ives Gandra da Silva Martins


Tem-se discutido ultimamente com mais intensidade quais seriam os limites da atuação da Suprema Corte no Estado Democrático de Direito brasileiro, ou seja, se seria um superpoder com o direito de impor suas decisões mesmo além dos limites definidos pela Lei Maior, ou se seria um Poder como os demais, submetidos às atribuições outorgadas pela Carta da República.

Corrente doutrinária do Direito Constitucional que ganhou força nas universidades, nas instituições de classe e no Poder Judiciário tem hospedado vertente de pensamento segundo a qual o século 19, com a introdução do parlamentarismo inglês de 1689 em muitos países europeus e no Segundo Império brasileiro, foi o século do Poder Legislativo; o século 20 foi o século do Poder Executivo; e o século 21 será o do Poder Judiciário, à luz do denominado princípio consequencialista.


Por consequencialismo entende-se a adaptação das decisões às suas consequências na realidade para as quais são destinadas, com flexibilização do entendimento teleológico das normas, na busca de uma justiça transcendente. O neoconstitucionalismo trilha linha semelhante, ao admitir uma relativização do texto a ser examinado pelo Judiciário com considerável margem para a busca da justiça dentro desse quadro alargado da hermenêutica.

Tanto o consequencialismo quanto o neoconstitucionalismo provocam uma politização do Judiciário que, não poucas vezes, invade competências próprias de outros Poderes, com a judicialização da política, levando as correntes minoritárias a buscar no Judiciário forma de suprir sua incapacidade de fazer prevalecer suas opiniões ou ideologias. Quanto mais o Judiciário age politicamente, tanto mais os políticos buscam o Judiciário para utilizá-lo como instrumento contra suas derrotas no Legislativo ou no Executivo.

Pessoalmente, entendo que a Constituição de 1988 não albergou nenhuma dessas formas de ação do Poder Judiciário, como de resto em artigos e livros tenho procurado demonstrar, embora reconhecendo que com limitado êxito.Um exame mais detido do texto constitucional demonstra que a Lei Superior brasileira tem claros e escuros, princípios constitucionais relevantes, normas e regras sem densidade constitucional, excessiva generalização, adiposidade desnecessária e um longo rol de disposições que se pretendia fossem de aplicação imediata, embora de difícil implantação.

Dois pontos, todavia, tornaram-se importantes no novo texto da Carta da República: o equilíbrio entre os Poderes, desejado pelo constituinte, e a inserção de uma lista apreciável de garantias e direitos individuais. Esses pontos passaram a balizar o comportamento dos Poderes a partir de 1988. Acontece, todavia, que desde 2003quando, num único mês, três ministros que marcaram história na Suprema Corte se aposentaram: Moreira Alves, Sydney Sanches e Ilmar Galvão – a Suprema Corte perdeu aquela característica de um colegiado com a função maior de ser o guardião da Constituição e a função decorrencial de dar estabilidade às instituições.

Nada obstante a qualidade indiscutível de todos os seus integrantes, o protagonismo individual que assumiram passou a permear muitas decisões, promovendo o avanço da insegurança jurídica, sempre que a competência de atribuições de outros Poderes foi invadida. Com isso, a comunidade jurídica encontra-se permanentemente em suspenso, temerosa de que, em algum momento, tal invasão venha a deflagrar um conflito que resulte no acionamento dos freios e contrafreios expostos no texto supremo.

Acresce que o Ministério Público que não é Poder –, nada obstante o nível e a qualidade de seus membros, tem, muitas vezes, envergado vestes próprias de um Poder, causando, também, instabilidade, visto que o parquet é apenas uma função essencial à administração da justiça, como o é a advocacia. À evidência, manter quadros institucionais em que os representantes dos três Poderes, em vez de agirem com harmonia e independência entre si, invadem competências uns dos outros, deixa desprotegidos os direitos individuais, que deveriam ser assegurados na tríplice função montesquiana de respeito entre os três Poderes. Ficam tais direitos e garantias, repetidas vezes, tisnados, principalmente o direito de defesa, cada vez mais atingido na sofrida República brasileira, que deveria nele ter o alicerce maior da democracia.

É de lembrar que o artigo 1.º da Constituição federal declara que o Brasil é um Estado Democrático de Direito e o 2.º, que os Poderes são harmônicos e independentes. São os dois primeiros artigos que fundamentam os oito títulos, as Disposições Gerais e Transitórias e as 112 emendas constitucionais do processo revisional e ordinário. Uma democracia só é plena se cada Poder, no âmbito de suas atribuições, cumprir sua missão com pleno respeito às competências alheias, colaborando com a sociedade na construção de uma nação poderosa e estável institucionalmente. E, na minha opinião, o consequencialismo jurídico não foi albergado pela nossa Lei Suprema.

 Ives Gandra da Silva Martins, jurista - professor da ECEME e ESG - O Estado de S. Paulo - Espaço Aberto

sexta-feira, 3 de abril de 2020

OS MARGINAIS DA POLÍTICA “SAÍRAM DA TOCA” COM A DECLARAÇÃO DE CARLOS BOLSONARO - Sérgio Alves de Oliveira


Quem imaginava até agora que os políticos que não valiam nada eram da esquerda, centro ,ou direita, dos partidos “a”,”b”,ou “c”, se enganou redondamente.


Todas essas correntes “ideológicas” e “partidárias”, sem exceção, tiveram representantes para censurar severamente a fala do vereador carioca Carlos Bolsonaro,no sentido de que “por vias democráticas,a transformação que o Brasil quer não acontecerá com a velocidade
que almejamos”.

Apesar da polêmica surgida com essa declaração do vereador, o seu grande mérito esteve em conseguir expulsar dos seus esconderijos o que existe de pior na política brasileira, espalhados por todos os partidos ou linhas ideológicas. Acusaram o declarante de tudo, inclusive de ser
contrário à democracia, favorável à ditadura, sem qualquer fundamento.
Mais parece de Carlos Bolsonaro conseguiu fazer uma síntese e atingir de um só golpe todos os que se “escondiam” e sentiam lá nas profundezas das suas consciências serem eles os próprios impostores responsáveis pela democracia degenerada em prática no pais.

É evidente que todos os que estavam com a consciência limpa e não se sentiam responsáveis  pela emocracia corrompida que efetivamente “dá as cartas” na política brasileira, não protestaram,como nem poderiam, porque não se sentiam culpados pelos descaminhos que ela tomou. Mas ao contrário do que muitos estão dando a entender, apesar da denúncia “genérica” que fez, Carlos não chegou a tirar o seu próprio “corpo fora”, ou seja, de eventualmente ser um dos “atores” responsáveis pela democracia malformada a que ele se referiu.

Carlos acertou em cheio. Nem importa se ele se sentiu incluído, ou não, na sua denúncia.  Conseguiu fazer a melhor e mais contundente denúncia política do “século”. Só errou no seu  exagerado otimismo de que no Brasil a democracia verdadeira “um dia” acabaria chegando ,
apesar de demorar muito, se as mesmas práticas atuais que a movem continuarem. Nesse aspecto ouso divergir de Sua Excelência. Nesse ritmo, o Brasil não vai só demorar para atingir a democracia de verdade: a democracia jamais chegará.

E não se deve confundir censura à democracia - que sem dúvida ainda é o melhor modelo  politico [atrapalha, em muito, para dizer o mínimo dos seus males, o combate à Covid-19.] com censura à democracia degenerada ,deturpada, isto é, com a OCLOCRACIA, que é efetivamente o que se pratica no Brasil, e ao que Carlos Bolsonaro certamente teria se
referido, e que beneficia exclusivamente a pior escória da sociedade , atraída a fazer política,  sustentada por um povo politicamente deficiente e sem o perfil compatível às mais sadias práticas democráticas.


Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

[Nota Blog Prontidão Total: este Post se refere a uma manifestação do vereador Carlos publicada faz algum tempo.
A mais recente, que repudiamos, não está no objeto do presente.]





sexta-feira, 27 de julho de 2018

“Lua de Sangue” - Eclipse da Lua ocorre hoje; veja dicas para acompanhar



Hoje (27) os olhos do mundo inteiro estarão voltados para o céu. No fim do dia, terá início o maior eclipse lunar já registrado neste século. Este tipo de fenômeno ocorre quando o sol, a Terra e a lua ficam alinhados nesta ordem e o planeta faz sombra sobre a última, diminuindo ou até mesmo impedindo a iluminação do corpo. Brasileiros se organizam para contemplar o evento, que deve durar pouco menos de duas horas.

Um atrativo será a iluminação por um efeito laranja avermelhado na lua, que ganhou o nome de “Lua de Sangue”. A razão das cores é a atmosfera terrestre. “O vermelho depende da quantidade de poluição suspensa na atmosfera, que pode ser partícula de pó lançada por vulcões. Quando atividade vulcânica aumenta, ela fica mais vermelha. Quando isso não acontece, ela continua no tom mais alaranjado”, explica o tecnologista da Agência Espacial Brasileira, Ademir Xavier.

O espetáculo atrai atenções de diversas pessoas, desde aquelas envolvidas com astronomia até cidadãos curiosos com o fenômeno. Um primeiro aspecto que merece atenção para quem quer acompanhar são os horários. Como o eclipse ocorrerá no fim da tarde, ele terá características especiais diferentes daqueles na parte da noite.

Horários
A lua nascerá em horários diferentes nas cidades brasileiras, começando no litoral. Segundo a Sociedade Astronômica Brasileira, entre as capitais a primeira deve ser Recife (17h15), seguida por Vitória (17h18), Natal (17h19), Salvador (17h22), Rio de Janeiro (17h26) e Belo Horizonte (17h34). A visibilidade total se dará em apenas parte do país, nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

Segundo o professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Eduardo de Brito, o efeito laranja avermelhado não será visível em todos os pontos do Brasil, mas apenas para as cidades mais próximas do litoral.  “Quando já estiver bem escuro, a lua vai estar escondida e vai ter um tom mais avermelhado. Assim que a lua nascer, por volta de 18h, vai ser possível conferir a lua escondida. Assim que o sol sumir, as pessoas vão conseguir ver a lua avermelhada”, explica Brito. Em regiões mais no centro do país, como em Brasília, esse aspecto não deve ficar tão perceptível.

Instrumentos
Embora o eclipse tenha uma visibilidade diferenciada dependendo do ponto onde o observador estiver, a lua ficará bem visível a olho nu. Quem quiser conferir com maior nitidez a superfície dela ou o efeito laranja avermelhado pode usar telescópios, lunetas binóculos ou até mesmo câmeras fotográficas equipadas com lentes contendo bons zooms.
Além da lua, no eclipse lunar desta sexta-feira, o planeta Marte também ganhará visibilidade e instrumentos de observação podem contribuir para conferir este e outros planetas, como Vênus, Júpiter e Saturno.

Atividades
Variados grupos se mobilizam para acompanhar o espetáculo. Em Brasília, o clube de astronomia da cidade vai reunir interessados na Praça dos Três Poderes, com instrumentos de observação disponíveis aos interessados. “Vamos ter telescópios e pessoas que possam explicar o fenômeno. Aqui em Brasília, vamos pegar só o final do eclipse, mas até 19h20 a lua vai estar saindo da sombra da terra”, conta o presidente do clube, Augusto Ornellas.

Diversas universidades vão abrir seus observatórios para que curiosos possam acompanhar o espetáculo. Será o caso da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade Federal do Ceará. Em Campinas, o observatório municipal, o primeiro do país, vai também disponibilizar telescópios em uma sessão guiada para observar a lua e o planeta Marte. As inscrições foram encerradas devido à grande procura.  Em São Paulo, o Centro Cultural Butantã (CCB) vai promover um evento em seu terraço para os observadores. Em Niterói, a prefeitura vai abrir o Parque Municipal para que moradores possam acompanhar o eclipse do local. Os portões ficarão abertos até as 20h.

Como fotografar o eclipse lunar
O coordenador de fotografia da Agência Brasil, Marcello Casal Jr., dá algumas dicas de como fotografar o eclipse lunar:
– Usar um tripé e disparador remoto. A recomendação vale para câmeras ou smartphone
– Evitar movimentos bruscos para que a câmera ou o celular não vibrem
– No caso de câmeras profissionais, usar o ISO corretamente. O ISO mede a sensibilidade do sensor à luz. Quanto maior o ISO, mais sensível ele está e, com isso, amplia a claridade e captação de luz. Quanto menor o ISO, menos informações serão captadas
– No caso de smartphones, que têm sensor pequeno e lente de dimensões reduzidas, é importante um bom enquadramento. A captação de nuvens podem ajudar a compor uma boa foto. “Timelapses” podem render boas e lindas misturas de fotografia e vídeo que captam a mudança de luz.

Agência Brasil