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terça-feira, 4 de outubro de 2022

O recado do STF a Pacheco e o seu futuro em novo governo - O Globo

Magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) relatam não veem um “futuro fácil” para a corte, seja com Lula ou Bolsonaro como presidente. A avaliação feita por um ministro à coluna é que os membros da corte devem se mobilizar para entrar em “maior sintonia” com a sociedade e buscar união interna para fortalecer a instituição. [em nossa opinião, com o petista  o STF vai ter sempre presente que, devido uma suprema decisão, um criminoso preside o Brasil - foi descondenado  por uma decisão da Suprema Corte, que não o inocentou.
Com Bolsonaro entendemos que a situação será bem mais tranquila, sem remorsos,  já que o presidente vai jogar dentro das 'quatro linhas'  da Constituição, condição que permite já em 2023 nomear dois ministros para o STF. 
Para sorte do  Brasil e dos brasileiros, a primeira hipótese não será concretizada =  no próximo dia 30, Bolsonaro será reeleito e, na sequência, diplomado e empossado e, por óbvio, iniciará um governo = governando.] 

Esse sentimento já existia antes da eleição, mas foi reforçado após o primeiro turno, com o crescimento de bancadas conservadoras no Congresso Nacional alinhadas ao bolsonarismo. Outro ministro apontou que, agora, é momento de “reflexão e união” junto aos colegas.

Para os magistrados, a presidência da Rosa Weber colabora para a construção de um ambiente interno mais amistoso e de menos disputas internas. Pesa a favor disso o fato de Rosa Weber ser discreta, ter boa relação com todos os integrantes da corte, não ser afeita a articulações de bastidores e de permanecer só por mais um ano no Supremo, pois se aposenta em 2023.

Existe, no entanto, a avaliação de que, num cenário de reeleição de Bolsonaro, a corte será mais pressionada. Isso porque a permanência do presidente é vista pela maioria dos magistrados como uma espécie de “aval” de parte da população às críticas e ataques direcionados ao tribunal. [parte formada pela maioria, e em uma democracia, sob o 'estado democrático de direito' a vontade da maioria prevalece.]  Em 2023, o próximo presidente escolherá dois novos integrantes para o STF, com as aposentadorias dos ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. 

Bela Megale

O recado do STF a Pacheco após a eleição de maioria bolsonarista para o Senado

O Senado é a Casa que pode conduzir processos de impeachment de ministros do STF

O alerta entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (TSE) acendeu na noite deste domingo, com os nomes eleitos para o Senado. Das 27 vagas na Casa, 14 foram preenchidas por nomes apoiados por Bolsonaro, que tem histórico de ataques à corte. Logo, os magistrados já fizeram chegar ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a importância que ele terá à frente no posto. [lembramos o mandato de Pacheco, como presidente do Senado, termina no inicio de 2023 e o esperado e altamente provável é a eleição de outro senador, escolhido pela maioria do Senado.]

Na avaliação desses ministros, a vitória do bolsonarismo nas urnas fará com que Pacheco tenha que reforçar – agora, em um ambiente de maior divisão – sua posição em defesa da democracia e contra retrocessos nas chamadas pautas de costumes. Vale lembrar que o Senado é a Casa que pode conduzir processos de impeachment de integrantes do STF. O presidente Bolsonaro chegou a pedir o impeachment de Alexandre de Moraes, no ano passado, o que foi prontamente rejeitado por Pacheco.

A avaliação entre a maioria dos ministros da corte é que a eleição deste domingo transformou o Congresso em um campo conservador nunca visto no período democrático do país. Magistrados apontam que esse cenário exigirá de Pacheco uma postura firme e contundente à frente da Presidência do Senado. Além disso, o parlamentar conta com mais um desafio: assegurar sua reeleição no ano que vem.

Dos 14 eleitos para o Senado com o apoio de Bolsonaro, quatro são ex-ministros de seu governo: Rogério Marinho (RN), Marcos Pontes (SP), Tereza Cristina (MT) e Damares Alves (DF). Há também o ex-secretário Jorge Seif (PL-SC), o vice-presidente, Hamilton Mourão (RS-Republicanos), e aliados como Cleitinho (PSC-MG), Romário (PL-RJ), Magno Malta (PL-ES), Wilder Morais (PL-GO), Wellington Fagundes (PL-MT), Jaime Bagattoli (PL-RO), Dr. Hiran (PP-RR) e Dorinha (UB-TO).

Boa parte do grupo é considerada bolsonarista raiz e identificada com as pautas mais extremas do governo, como negacionismo científico e radicalismo religioso. Isso reforça, entre os ministros do STF, o receio de possíveis retrocessos em áreas como educação, saúde, meio ambiente e segurança.[retrocessos? que tal adequação à vontade da maioria dos brasileiros? não pode ser olvidado que , os deputados e senadores bolsonaristas foram eleitos, em eleições reconhecidas por como livres e democráticas = o empenho do STF e TSE foi para que assim ocorresse.]

Além dos novatos, seguem na bancada bolsonarista nomes como Carlos Portinho (PL-RJ), Carlos Viana (PL-MG), Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Jorginho Mello (PL-SC), Marcos Rogério (PL-RO) e Zequinha Marinho (PL-PA). Apesar da ligação com o bolsonarismo, a maior parte votou em Pacheco para a Presidência do Senado. [talvez por não esperarem que Pacheco fosse um omisso.] 

(...)

Bela Megale, colunista -  O Globo


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Radicalização cresce no Telegram e grupos bolsonaristas pedem até 'contragolpe' no STF - O Estado de S. Paulo

Estudo revela troca de mensagens com desinformação sobre a covid-19 e existência de um suposto complô para fraudar a eleição, além de estratégias para escapar de monitoramento na plataforma

A radicalização nos grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Telegram aumenta na medida em que a eleição se aproxima. Usuários do aplicativo de troca de mensagens chegam a pedir um contragolpe” das Forças Armadas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), além de adotar estratégias para escapar da moderação e do monitoramento de conteúdos na plataforma.

O relatório Democracia Digital, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra a intensificação dos ataques à Corte desde junho, quando se tornaram mais frequentes as convocações para os atos de 7 de Setembro. Bolsonaro tem chamado reiteradamente apoiadores a participar das manifestações.

Logo do Telegram aparece em cima de teclado e à frente de tela escura que exibe códigos binários na cor verde
No Telegram, o Estadão detectou mensagens em grupos bolsonaristas que estimulam mensagens em grupos bolsonaristas que estimulam apoiadores 
do presidente a irem às ruas com faixas nas quais defendam a convocação
das Forças Armadas para a elaboração de uma nova Constituição que criminalize o comunismo.
 
No ano passado, o feriado da Independência ficou marcado pelo discurso inflamado do presidente contra ministros do Supremo, em São Paulo. 
Em junho deste ano, os pedidos de apoio ao voto impresso – principal 
pauta dos protestos de 2021 –, diminuíram significativamente para dar lugar a discursos de incitação a um golpe de Estado.
“Percebe-se um forte esforço para fomentar a percepção de ameaça e de vitimização, que justifica a necessidade de ação imediata”, diz o relatório Democracia Digital. O presidente é um defensor do voto impresso e, 
mesmo sem apresentar provas, põe sob suspeita o sistema de votação eletrônica, ao afirmar que as urnas são passíveis de fraude. Bolsonaro 
tem se recusado, ainda, a dizer se reconhecerá o resultado do pleito, 
caso seja derrotado.

 Print de conversa do Telegram detectado pelo Estadão. Ministro Alexandre de Moraes é constantemente mencionado em grupos. Foto: Reprodução

O levantamento analisou conteúdos publicados entre o primeiro dia de janeiro e o último de junho deste ano. Foram mais de 6,4 milhões de mensagens coletadas em 156 grupos – onde é possível discutir assuntos entre usuários – e 479 canais do Telegram – que funcionam como listas de transmissão. Foram capturadas, ainda, 641 mil imagens no aplicativo. Segundo pesquisa Mobile Time/Opinion Box de fevereiro deste ano, o Telegram está instalado em 60% dos smartphones no Brasil. Em junho, se tornou o 4º aplicativo mais popular do Brasil em presença na homescreen (tela inicial do dispositivo).

Os pesquisadores desenvolveram um filtro para mensagens de texto com menção a termos específicos. Das 112.636 mensagens publicadas nesse formato em 145 grupos e 349 canais analisados, destacam-se desinformação sobre a covid-19 e a existência de um suposto complô para fraudar a eleição e impedir a vitória de Bolsonaro. “O número de mensagens que estão aparecendo sobre o 7 de Setembro desde o início deste ano é muito maior do que no ano passado”, diz Leonardo Nascimento, um dos coordenadores da pesquisa, produzida em parceria com Letícia Maria Cesarino e Paulo Fonseca.

Convocação

 (...)

As mensagens de convocação justificam que o Exército precisa executar um “contragolpe” para impedir que o PT e o Supremo deem um golpe de Estado por meio de uma fraude eleitoral. Hoje, Luiz Inácio Lula da Silva, petista e ex-presidente, lidera as pesquisas de intenções de voto na corrida pelo Palácio do Planalto.

Print de conversa do Telegram detectado pelo Estadão. Grupos bolsonaristas afirmam que o STF já deu um golpe. Foto: Reprodução

Uma das mensagens afirma, ainda, que o País estaria em marcha para um “golpe nas eleições”. “É isso mesmo? Será que ninguém percebe que um Poder há muito tempo já arregaçou com a nossa Constituição e não está nem aí com as quatros linhas?”, questiona, em referência à expressão futebolística usada por Bolsonaro de que ele atua dentro das regras constitucionais. “(O dia) 7 de Setembro será nossa última chance”, diz o texto.

(...)

A radicalização nos grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Telegram aumenta na medida em que a eleição se aproxima. Usuários do aplicativo de troca de mensagens chegam a pedir um “contragolpe” das Forças Armadas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), além de adotar estratégias para escapar da moderação e do monitoramento de conteúdos na plataforma.

O relatório Democracia Digital, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra a intensificação dos ataques à Corte desde junho, quando se tornaram mais frequentes as convocações para os atos de 7 de Setembro. Bolsonaro tem chamado reiteradamente apoiadores a participar das manifestações.

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Estratégias

Em março deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, chegou a determinar a suspensão “completa e integral” do aplicativo de troca de mensagens russo, por descumprimento de medidas judiciais anteriores, que exigiam ações como o bloqueio de perfis ligados ao blogueiro bolsonarista Allan do Santos. Após a plataforma cumprir as medidas que haviam sido ordenadas, Moraes revogou a suspensão.

O aplicativo firmou um memorando de entendimento com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em abril.Das medidas tomadas para conter a disseminação de notícias falsas, o Telegram passou a monitorar diária e manualmente os cem canais mais populares do Brasil. Segundo a empresa, eles são responsáveis por 95% de todas as visualizações de mensagens públicas do aplicativo no País.

No entanto, para driblar a moderação, há grupos que cifram as mensagens, mostra o relatório. O “supergrupo B-38 oficial”, um dos principais aglomerados de apoiadores de Bolsonaro no Telegram, já foi suspenso em maio deste ano até que moderadores removessem um conteúdo ilegal. Desde que retomou as atividades no dia seguinte, usa um recurso automático de remoção das mensagens após 24 horas.

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Política - O Estado de S.Paulo

 


Temporada de caça às bruxas - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Estamos vendo a divisão entre os que estão dispostos a usar o poder do Estado para silenciar seus oponentes e os que estão preocupados com a liberdade e o império das leis

Foram quatro ininterruptos anos de uma perseguição histórica. Desde a campanha presidencial, Donald Trump vem sendo caçado pelos democratas como nunca se viu com qualquer outro presidente. 
E falo isso com muita tranquilidade, o bufão laranja não era meu candidato favorito nas primárias republicanas em 2016. Em novembro daquele ano, confesso que não estava animada com o desfecho da eleição presidencial. A corrida para a Casa Branca, entre Donald Trump e Hillary Clinton, ficou marcada como uma corrida de dois nomes ruins para os norte-americanos. 

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos | Foto: Evan El-Amin/Shutterstock
Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos | Foto: Evan El-Amin/Shutterstock

Mas Donald Trump me surpreendeu com a sua administração. E acredito ter surpreendido muita gente que comprou a embalagem, e não o conteúdo. É verdade que o conteúdo só pôde ser conhecido, de fato, depois de vê-lo por algum tempo no Salão Oval. Mas, rapaz… que conteúdo. Não vou me estender aqui desmiuçando as políticas dos quatro anos de Trump na Casa Branca, há vários artigos honestos na internet sobre esse período, mas hoje atesto sem vergonha (e também com vergonha por não ter apostado que ele seria um bom “CEO da América”!) que os Estados Unidos estariam em lençóis muito piores se o malvadão do século não tivesse entrado na rota dos norte-americanos como Commander in Chief.

Pois bem, mesmo depois de uma conturbada e ainda cheia de mistérios — eleição presidencial em 2020, os democratas voltaram ao poder. Além da Presidência, eles retomaram também a Câmara e o Senado. Bufão fora da Casa Branca, vamos tocar nossa agenda radical e jogar Trump no esquecimento! Certo? Errado. Donald Trump continua fazendo estragos no caminho político dos democratas até hoje.


A volta do malcriado do Twitter
O movimento MAGA (Make America Great Again), iniciado por Trump em 2016, parece estar mais forte do que nunca, e isso pode ser medido pelos resultados de eleições locais nos Estados. Desde 2021, os republicanos vêm tomando territórios importantes do tabuleiro político norte-americano, como o governo do Estado da Virgínia e quase todos os cargos eletivos importantes, região que votava com os democratas havia muitos anos. No caminho das eleições de midterms agora em novembro, Trump continua incomodando democratas e até republicanos que torcem o nariz para ele. Depois da rodada do último fim de semana para as cadeiras da Câmara e do Senado, dos 187 candidatos apoiados por Trump dentro das primárias do partido republicano, 173 saíram vitoriosos e 14 foram derrotados. Um impressionante aproveitamento de 93% em suas indicações.
 
Mas há muito mais nesse caminho, além das eleições de midterms, que apavora os democratas. Diante de tamanho engajamento — mesmo com toda a demonização de sua figura política durante os quatro anos na Casa Branca —, Trump ameaça com uma cartada que pode ser devastadora para o partido do senil Joe Biden, hoje sem nenhum legado ou herdeiro político com porte presidencial: sua volta a Washington e ao Salão Oval em 2024. Trump sofreu algumas tentativas de impeachment enquanto presidente, e pelas razões mais ridículas que os norte-americanos poderiam ver. 
Um processo até passou na Câmara, mas foi derrubado no Senado. 
Mais um plano de impeachment, um seguro arquitetado por Nancy Pelosi usando o 6 de janeiro, foi colocado em prática para evitar a volta do malcriado do Twitter e se iniciou logo após sua saída da Presidência, mas também não obteve sucesso. 
Nesta semana, mais uma tentativa de impedir que o 45º presidente dos Estados Unidos se torne o 47º presidente de sua história entrou em curso
 
(...)

Os agentes ocuparam e vasculharam a casa inteira, incluindo o guarda-roupa da ex-primeira-dama Melania Trump. A incursão do FBI à casa do ex-presidente Donald Trump algo nunca visto na história dos Estados Unidos pode energizar ainda mais os eleitores republicanos que não esqueceram que Hillary Clinton excluiu 33 mil e-mails de quando era secretária de Estado e ganhou apenas um tapinha na mão. Em 2016, o então diretor do FBI, James Comey, anunciou que a candidata Hillary Clinton era culpada de destruir os e-mails — um provável crime relacionado ao seu mandato como secretária de Estado. No entanto, ele praticamente prometeu que ela não seria processada devido ao seu status de candidata presidencial.

Um número crescente de republicanos e independentes (e brasileiros) percebe que, se quiserem realizar alguma coisa na próxima vez que estiverem na Casa Branca (e no Planalto), terão de reformar o serviço público e a política

 (...)

Durante décadas, o serviço federal tornou-se cada vez mais um bastião para os democratas progressistas (leia-se regressistas).  

Absolutamente todos os estudos mostram que seus membros estão quase uniformemente à esquerda. Para dar apenas um exemplo, em 2016, 95% dos burocratas federais que fizeram doações registradas para um candidato na eleição presidencial doaram para Hillary Clinton. O controle dos democratas sobre a lealdade dos burocratas significa que esses funcionários podem atrapalhar e até parar qualquer tentativa dos conservadores de implementar políticas de que não gostam. 
Isso foi particularmente problemático para um presidente como Trump, que não queria jogar pelas regras convencionais estabelecidas pelos sociais-democratas em Washington e establishment que também inclui republicanos como Mitt Romney e Liz Cheney. 
Os presidentes podem fazer 4 mil nomeações políticas para cargos do governo, com cerca de 1,2 mil delas sujeitas à confirmação do Senado. Mas 50 mil burocratas têm autoridade para tomar decisões sobre questões políticas, e isso implode a lisura de um sistema justo de dentro para fora.

Um ato político
Há menos de 90 dias de uma eleição de meio de mandato, e com a possibilidade de os republicanos retomarem ambas Casas legislativas (a Câmara com um “banho de sangue”, como dizem os analistas), o evento em Mar-a-Lago fica caracterizado não apenas como um ataque, mas um ato político. 
Para Adam Geller, especialista em pesquisas internas para o Partido Republicano, o ataque e a maneira como foi orquestrado e relatado dão aos eleitores republicanos e indecisos um choque que essencialmente respingará nas eleições de midterms e talvez além: “Não há dúvida de que os republicanos e o presidente Trump podem aproveitar isso para seu benefício político até 2024”. 
Para a estrategista democrata Carly Cooperman, Trump, com razão, transformará isso em uma oportunidade política: “Ele está reunindo sua base e alimentando seus apoiadores. Isso se encaixa perfeitamente com o que ele gosta de argumentar sobre o exagero do governo. Se isso não for nada muito sério, o evento realmente ajudará sua estratégia.”

O cenário político para 2022 na América está se definindo rapidamente. O Partido Democrata deverá sofrer perdas históricas em novembro. Donald Trump estava prestes a anunciar sua candidatura presidencial para a corrida de 2024. No último domingo em Dallas, Texas, ele falou por quase duas horas no encerramento do CPAC, evento conservador norte-americano, e mostrou que em muitas pesquisas continua sendo o republicano favorito para a indicação — e bem à frente do atual presidente Joe Biden em uma suposta revanche em 2024.

Assim como no Brasil, uma atual republiqueta devido ao ativismo porco de membros judiciário e do atual STF, o deep state” pode ser de enorme ajuda para os democratas, que buscam de maneira radical transformar o governo e a economia para se adequarem à sua agenda ideológica de extrema esquerda sem a presença de membros do Congresso. Os republicanos (assim como milhões de brasileiros) que querem drenar o pântano de Washington (e de Brasília) hoje se deparam com um serviço público não eleito, ativista e irresponsável que atua como um quarto Poder extraconstitucional do governo, e com veto efetivo sobre as políticas dos políticos eleitos.

(...)

 A União Soviética possuía “leis de direitos” que garantiam a “liberdade de expressão e direitos iguais”. 
 E os bolcheviques assassinaram seus adversários políticos e enviaram seus dissidentes aos gulags
Lavrentiy Beria, o chefe da polícia secreta mais implacável e mais antigo no reinado de terror de Joseph Stalin na Rússia e na Europa Oriental, se gabava de poder provar uma conduta criminosa contra qualquer pessoa, até mesmo um inocente: “Mostre-me o homem e eu lhe mostrarei o crime”. Essa era a infame ostentação de Beria.
 
O que nos mantém funcionando, mesmo com todos os defeitos detectados em nossas leis, diferentemente dos bolcheviques, é que nossas Constituições separaram os Poderes para impedir uma união partidária em torno de apenas um.  
Eleições têm consequências. As espinhas dorsais das eleições no Brasil, em outubro, e nos Estados Unidos, em novembro, nunca estiveram tão próximas e talvez nunca foram tão importantes não apenas para as Américas, mas para o Ocidente.
 
Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA
 

Leia também “As verdades inconvenientes de Jordan Peterson”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

sábado, 13 de agosto de 2022

10 milhões de eleitores em disputa - Alon Feuerwerker

Análise Política

Um contingente muito específico de eleitores está no foco da disputa entre os dois principais competidores, no momento, da sucessão presidencial. São cerca de dez milhões de pessoas que nas duas últimas décadas já votaram tanto no PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff quanto contra o PT. Estiveram em parte com o PSDB de 2006 a 2014 e maciçamente com Jair Bolsonaro em 2018.

Esse grupo abandonou o PT quatro anos atrás principalmente por causa das denúncias de corrupção, mas é simplista parar por aí. As denúncias de Roberto Jefferson em 2005 não impediram o petismo de sobrepujar, e bem, os adversários em 2006 e 2010. As ações foram julgadas e as condenações proferidas no primeiro mandato de Dilma. Mesmo assim ela conseguiu um segundo quadriênio.

A fórmula explosiva que levou ao impeachment dela teve não um, mas dois ingredientes: a Lava Jato e a recessão. Governos até se salvam de escândalos quando têm sólida base político-parlamentar e a economia caminha pelo menos razoavelmente, do ângulo do povão. Quando a economia engasga, a intolerância com denúncias de malfeitos cresce aceleradamente. Aconteceu em 2015-16.

A economia costuma comandar, mesmo quando outras variáveis têm mais visibilidade. O mecanismo parece repetir-se. Segundo as pesquisas, a percepção de melhora no cenário econômico começa a mexer nos índices de aprovação do governo. Será uma surpresa se isso não repercutir em algum grau nas intenções de voto do candidato à reeleição. Mesmo enredado em outras polêmicas.

A recuperação econômica era previsível, e foi prevista, pela volta completa das atividades produtivas e comerciais, mesmo que a Covid-19 ainda esteja matando por aqui mais de duas centenas por dia. Mas isso aparentemente deixou de ser notícia. Ajudam também as exportações anabolizadas pelo câmbio, mesmo com a tormenta econômica global provocada em torno da guerra na Ucrânia.

E a recuperação vem acompanhada da queda do desemprego.

Até semanas atrás, o que travava a sensação de melhora era a inflação resistente, mas a conjugação das medidas agressivas para baixar o preço dos combustíveis com o igualmente agressivo aperto monetário promovido pelo Banco Central parece estar contendo a alta dos preços. É provável que a eleição transcorra num ambiente de emprego em recuperação e menos inflação.[mais baixa do que a dos Estados Unidos e outras grandes economias.]

A oposição programou-se para uma jornada eleitoral com a população tomada pela sensação de agudo mal-estar com a economia. As dificuldades ainda são muitas, especialmente entre os mais pobres, a inflação da comida machuca, mas a irritação persistente com o governo na classe média e na elite econômica parece registrar alguma dissipação. E agora começou a ser pago o Auxílio Brasil de 600 reais.

Resta saber se haverá tempo para que a virada na conjuntura econômica se cristalize nas intenções de voto - e no voto. O tempo teoricamente é curto, mas em períodos eleitorais ele costuma correr de um modo diferente.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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Publicado na revista Veja de 17 de agosto de 2022, edição nº 2.798

 

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Uma bobagem perigosa - Alon Feuerwerker

Análise Política

É razoável relacionar a estabilidade e a paz política com a capacidade de o Estado construir consensos majoritários. E são duas as ferramentas fundamentais para essa construção: o convencimento da sociedade com e sem coação. Na vida real, a resultante é sempre uma combinação dos dois vetores.

Nenhum governo se sustenta apenas com base na força, mas governos que não têm força tampouco param em pé. E em democracias constitucionais plurais como a nossa os governos dependem também de uma variável externa a eles: os grupos sociais hegemônicos, mesmo os opostos, conseguirem dialogar e alcançar convergências.

Algo como uma mútua aceitação, ainda que implícita.

Não há estabilidade e paz possíveis se largos contingentes sociais e partidários enxergam-se simplesmente excluídos do edifício político-cultural quando perdem uma eleição. Tampouco haverá normalidade política nos sistemas fechados em que um grupo considere insuportável a convivência com o antípoda. Isso deveria ser óbvio.

A ideia original da Nova República de 1985 era colocar em prática um pacto informal para garantir a todos os relevantes o acesso ao poder, por eleições diretas. Ganhar, governar e, quando perder, esperar pela próxima eleição. E por um período o convívio entre as diversas forças foi essencialmente institucional, com um soluço: o impeachment de Fernando Collor.

Os estudiosos um dia diagnosticarão onde a maionese começou a desandar, mas aquele episódio tem boa chance de figurar com destaque. Ali voltou a dar as caras uma cultura do “nunca mais”. Cada eleição passou a ser vendida como a derradeira oportunidade de o país salvar-se do mal. E, numa imagem especular, escolher um salvador da pátria.

Que, convenientemente, precisa chegar ao poder, ou continuar nele, para salvar a pátria ao livrá-la do indesejável “outro”.

Mas e se o “outro” reúne, digamos, pelo menos um terço do eleitorado? Aí complica. É muita gente. Veja-se o ocorrido com o Partido dos Trabalhadores e seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Não só sobreviveram à guerra de extermínio, hoje estão em posição eleitoral auspiciosa.

A mola, quanto mais comprimida, mais acumula energia potencial à espera de se soltar.

A quem antes de tudo interessa a paz política? Ao poder. Seria razoável então supor que dele viessem as iniciativas para incluir, fagocitar e digerir as resistências externas. Mas a era da hiperconectividade e das redes introduziu um complicador: os políticos precisam responder rapidamente aos estímulos externos, sempre de olho no que a turba vai achar. Turba que hoje exibe um poder próprio e invejável.

A violência política explícita (a implícita sempre foi parte do jogo) é simultaneamente consequência e realimentadora desse arcabouço. E a ilusão maior é achar que se vai neutralizá-la seguindo no jogo de caça e caçador até conseguir, finalmente, eliminar o adversário.

Em momentos históricos singulares, alguns países tiveram a sorte de encontrar personagens capazes de entender que isso é simplesmente bobagem.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 
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Publicado na revista Veja de 20 de julho de 2022, edição nº 2.794

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Despertar supremo - Revista Oeste

 Bruno Freitas

O incômodo com o ativismo político do STF mobiliza esforços no Congresso contra a interferência da Corte em outros Poderes 

“Dentro das quatro linhas da Constituição”, numa frase tão repetida nos Poderes, o incômodo sobre o ativismo político do Supremo Tribunal Federal (STF) começa a virar uma espécie de movimento dentro do Legislativo. Em menos de uma semana, o Congresso Nacional recebeu duas novas iniciativas com objetivo de analisar supostas atuações do Judiciário, que, na opinião de alguns parlamentares, estaria rompendo as fronteiras legais.

Votação que limita os poderes do STF está em pauta na Câmara do Deputados | Foto: Roque de Sá/Senado Federal
Votação que limita os poderes do STF está em pauta na Câmara do Deputados | Foto: Roque de Sá/Senado Federal 
 
Cobrados por suas bases eleitorais, que esperavam posições mais incisivas, algumas correntes de parlamentares querem agora, próximo ao fim do atual mandato legislativo, alterar a legislação e colocar freio nas ações do Poder Judiciário.  
Puxar o freio de uma casta regada a privilégios, contudo, demanda tempo e estratégia, ambas conjunturas que a atual legislatura encontra como dificuldades a serem rompidas.
Para além dos discursos, o movimento que busca impedir a invasão de competência entre os Poderes viu falharem algumas iniciativas, como a tentativa de impeachment de ministros do Supremo. 
 
A derrota mudou a estratégia dos parlamentares. Agora, o movimento de contestação surge mais focado no conceitual, nem tanto nos personagens. Esses, sobretudo quando envolve o Supremo Tribunal Federal, tentam se manter longe das discussões com os parlamentares. Foi o que aconteceu nesta semana.

Na terça-feira 6, o Senado abrigou uma audiência pública para debater o cenário recente de ativismo judicial e o princípio de separação de Poderes. Convidados, em meio ao recesso de julho do Supremo, os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso não compareceram. O debate na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor foi proposto pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE).  “Foi uma audiência fantástica”, afirmou Girão.Só que, infelizmente, alguns dos nossos ministros do Supremo, além de cometerem abusos, arbitrariedades constantes, se negaram a comparecer, não respeitaram o Senado Federal. Tanto o ministro Luís Roberto Barroso quanto o ministro Alexandre de Moraes não se dignaram a comparecer a esse debate de altíssimo nível, com que todos nós aprendemos.”

A sessão do Senado reuniu nomes como o jurista Ives Gandra Martins, que destacou que o Brasil vive um momento do Judiciário como subpoder da República, tendo o direito de corrigir os rumos do Executivo, ou legislar nos vácuos do Legislativo”. Fernando Carioni, desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, descreveu em sua participação o retrato de “um Estado judicial forte, com Legislativo e Executivo acuados e a sociedade rendida”. Por sua vez, Ivan Sartori, ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, discorreu acerca do sufocamento do debate sobre segurança do processo eleitoral, legítimo para a sociedade, segundo o magistrado.

“PEC Suprema”
Enquanto vozes relevantes do Direito eram ouvidas no Senado para endossar o desconforto entre Poderes, na Câmara circula um novo esforço com objetivos práticos sobre o papel do Supremo Tribunal Federal dentro do Estado. O deputado Paulo Eduardo Martins (PL-PR) levou à Casa, na semana passada, um Projeto de Emenda à Constituição (PEC) propondo uma série de revisões à atuação dos ministros da Suprema Corte.

Batizada informalmente de “PEC Suprema”, a proposta está em fase de coleta de assinaturas. Para que seja oficialmente protocolada e possa tramitar na Câmara, é necessário o apoio de 171 membros da Casa. Se avançar, a proposta ainda precisa passar pelo Senado. “Os deputados estão tomando conhecimento”, afirmou Martins. “Mas há um ambiente de receio. Muitos têm receio de afrontar a Suprema Corte. É um reflexo de que a própria atividade parlamentar está autocastrada.”

A expectativa do deputado paranaense é que, mesmo com a proximidade das eleições, a PEC possa avançar, pelo menos para discussão ainda neste ano na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), numa etapa inicial de um longo trâmite interno. O Congresso, contudo, entra em recesso a partir do dia 18. De agosto até a eleição em outubro, apenas matérias consideradas urgentes devem ser apreciadas.

É possível limitar as decisões monocráticas?
A principal bandeira da proposta da PEC de Paulo Eduardo Martins é evitar que um único ministro goze do que ele classifica como poder desmedido, numa ofensiva contra as decisões monocráticas recorrentes nos últimos anos. Entre 2020 e 2021 foram deliberadas 763 decisões colegiadas e 1.403 monocráticas.

A ideia é fortalecer a Corte como colegiado. De acordo com a proposta, uma lei ou ato normativo só poderão ser declarados inconstitucionais por dois terços dos membros dos tribunais. Hoje, a inconstitucionalidade é válida pela maioria absoluta dos membros do STF, às vezes por diferença de um único voto. “Talvez seja o ponto que conte com mais simpatia entre os parlamentares. Você não pode tomar uma decisão monocrática, que já determinou o afastamento de um presidente do Congresso. Goste ou não do presidente, que era o Renan Calheiros na época (2016). Isso é um fator que gera instabilidade. Hoje temos um tribunal para cada ministro, são 11 tribunais”, argumenta Paulo Eduardo Martins, referindo-se aos 11 ministros de STF.

A ideia sugere uma idade mínima para entrada no STF, passando de 35 para 50 anos. Essa barreira evitaria, por exemplo, o ingresso de ministros como Dias Toffoli e André Mendonça

A ideia que circula na Câmara também combate a cultura de acionamento do STF via parlamentares. Informalmente, este tópico é tratado como uma resposta à randolfização na relação entre Legislativo e Judiciário. O termo que o próprio deputado Paulo Eduardo Martins vem usando se refere à atuação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que se notabilizou por direcionar sua atividade a acionar o Supremo para agir em temas diversos, geralmente envolvendo o governo. Exemplo ocorreu com a CPI da Pandemia, [a fracassada Covidão.]que apenas foi instalada no Senado após decisão do Supremo, acionado a pedido de Randolfe.

Este ponto mexe no rol de legitimados para entrar com ações de constitucionalidade. A proposta quer que as entidades sindicais passem a não mais provocar a atuação do STF e os partidos políticos só possam avançar se a ação contar com a assinatura de, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos cinco Estados. Isso impediria que siglas sem representatividade tentem no Supremo o que não conseguem no Parlamento. “Isso tem de ser sanado. Primeiro, porque coloca a Suprema Corte como palanque para parlamentar aparecer. E, pior, arrasta a Suprema Corte para a disputa política e faz com que os ministros sejam vistos como atores políticos”, comenta o deputado autor da PEC.

Mesmo representando anseios de grande parte da sociedade e da classe política, a PEC depende de uma articulação hábil para sobreviver ao trâmite oficial. Uma proposta com objetivos semelhantes foi facilmente derrotada no Senado em 2019, com placar de 38 votos a 15. Na época, o projeto apresentado pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) foi rotulado de bullying institucional” por Renan Calheiros (MDB-AL) — o mesmo Renan afastado da presidência da Casa pelo STF três anos antes. 

Aos defensores da PEC, um alento para a iniciativa aconteceu no começo de julho, com a vitória parcial de uma medida que limita o número de recursos que pode ser apresentado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). A proposta da deputada Bia Kicis (PL-DF) para “descongestionar o sistema” ainda precisa ir ao plenário da Câmara e do Senado. Todavia, pode ser considerada um precedente de que o Legislativo tem condições de tratar do funcionamento do Judiciário.

Idade mínima e mandato de nove anos
Outros tópicos que constam na “PEC Suprema” têm a intenção de limitar a longevidade de magistrados dentro da principal Corte brasileira. A ideia sugere uma idade mínima para entrada no STF, passando de 35 para 50 anos. No passado, essa barreira evitaria, por exemplo, o ingresso de ministros como Dias Toffoli e André Mendonça, que chegaram ao tribunal com 41 e 48 anos, respectivamente.

O novo esforço também propõe mandato de nove anos não renováveis para o exercício específico do cargo de ministro do STF. Hoje, o modelo aplicado no Brasil é o de mandato vitalício, tendo como único limite a idade de aposentadoria compulsória de 75 anos para os magistrados.

Paulo Eduardo Martins decidiu não incluir na PEC o debate sobre a indicação por parte do presidente da República, modelo vigente hoje, que também precisa de aprovação posterior por maioria absoluta do Senado. “Pode haver ajustes, há outros modelos, há quem diga que a Câmara tem de indicar, ou o Senado. Isso tudo pode ser ajustado em uma eventual comissão especial”, disse o deputado do PL.

Antes veio a “PEC do Centrão”
A “PEC Suprema”
não é a primeira iniciativa do gênero a sugerir mudanças no funcionamento do STF. A proposta de Paulo Eduardo Martins ainda se difere de um esforço recente que passou pela Câmara, também neste ano. 

Batizada de “PEC Anti-STF”, ou “PEC do Centrão”, a proposta do deputado federal Domingos Sávio (PL-MG) prevê que o Congresso poderia revogar medidas do Supremo que não tenham sido aprovadas de forma unânime pelos ministros da Corte e que extrapolam “os limites constitucionais”. A proposição, no entanto, não especificava como se daria essa interpretação e foi bastante criticada pela comunidade jurídica, em razão do princípio constitucional da separação de Poderes.

A proposta ressalta ainda que a revisão ocorreria por meio de um decreto legislativo, que exigiria aprovação de três quintos dos deputados e senadores, com dois turnos de votação, tanto na Câmara quanto no Senado. Ou seja, o mesmo quórum de votação requerido para aprovação de uma PEC. 

Segundo o autor da PEC mais recente, a “Suprema”, há possibilidade de composição com sugestões anteriores, caso a união favoreça a articulação de momento dentro da Câmara. “Cada proposta tem uma natureza, mas, se houver vontade dentro do Parlamento, ela pode convergir para outras propostas”, diz Martins.

Hoje em dia, o brasileiro comum que segue o noticiário político conhece os 11 nomes do Supremo com familiaridade. Mas, ao ganhar um protagonismo inédito na história do país, a Corte acabou vendo sua configuração e seu funcionamento expostos diante da sociedade. O Congresso precisa de vontade política e perspicácia de articulação para conseguir canalizar o anseio por mudanças.

Leia também “Eles não querem cumprir a lei”

Bruno Freitas, colunista - Revista Oeste



domingo, 26 de junho de 2022

O dragão e a eleição - Alon Feuerwerker

Análise Política
 
Todos os levantamentos apontam que a economia é e será a principal preocupação do eleitor nestes pouco mais de três meses que restam para o primeiro turno. Por “economia” leia-se “inflação”, até porque a atividade e o emprego mostram algum fôlego.

O que está pegando mesmo são os preços. O problema é global em boa medida, [a inflação dos Estados Unidos, país cuja economia é modelo para muitos brasileiros, está maior do que a do Brasil e um dos recursos utilizados para tentar contê-la é o mesmo usado no Brasil = elevação da taxa de juros = aliás, caminho adotado em outros países com problema semelhante.] mas isso não resolve o sufoco da dona Maria e do seu João na hora de encarar as compras no mercado.

Toda eleição traz o tema do “mercado”, mas quando a expressão entra em debate o foco da pauta costuma ser o mercado financeiro. Não para a massa, em particular quando a alta dos preços queima aceleradamente o poder aquisitivo. Quando o salário ou a renda não alcançam o final do mês.

A inflação derrotou a Arena de Ernesto Geisel em 1974 após um ciclo de crescimento brilhante no Milagre. Depois deu as mãos à estagnação e, com o nome de estagflação, enfraqueceu decisivamente João Figueiredo. E o fez perder o controle da sucessão.   A inflação estava quase derrubando José Sarney quando o Plano Cruzado estabilizou a política e deu ao PMDB uma vitória arrasadora em 1986. A volta da inflação transformou Sarney num pato manco e derrotou em 1989 todos os candidatos mais identificados com a Nova República.

Aí veio Fernando Collor, que dizia ter uma única bala para matar o dragão. A bala falhou. A isso juntaram-se 1) a falta de base parlamentar e 2) o ressentimento dos derrotados na urna. O resultado foi o impeachment.

O vice de Collor, Itamar Franco, sobreviveu na cadeira porque aceitou virar um presidente decorativo e entregar o poder de fato ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Cujo Plano Real salvou o governo e garantiu a ascensão dele próprio à Presidência em 1994. As raspas do tacho do Real garantiram também a inédita reeleição de FHC em 1998.

Mas o custo do estelionato eleitoral foi alto.
Um segundo mandato medíocre e, em 2002, a perda do poder para o PT. Na campanha, o PSDB dizia que a inflação, já nos dois dígitos, era culpa das incertezas políticas trazidas pelo petismo. Não funcionou.  O eleitor até tem algum interesse em saber de quem é a culpa, mas vai atrás mesmo é de quem ele acha ter melhores condições para resolver o problema.

Luiz Inácio Lula da Silva assumiu e deu logo a pancada. Superávit primário duro e um chute para valer nos juros, para cima. Tirou o oxigênio do dragão e, com programas sociais turbinados, ganhou musculatura para sobreviver aos escândalos, reeleger-se e eleger Dilma Rousseff. [e F ... o Brasil e milhões de brasileiros - em termos de desastre econômico os  13 anos do petismo foi pior que a pandemia e ainda teve a roubalheira do descondenado petista.]

Que vinha confortável, até que na virada de 2012 para 2013 [os petistas governando] as curvas do PIB e da inflação deram jeito de querer cruzar, a primeira para baixo e a segunda para cima. O mau humor começou a represar, e todo mundo sabe o que aconteceu em junho. Dilma, como FHC, ainda conseguiu raspar o tacho e reeleger-se, mas, ao contrário do tucano-rei, não tinha um colchão político para atravessar os quatro anos de vacas magras. E veio o segundo impeachment da redemocratização, abrindo o período turbulento que deu em Jair Messias Bolsonaro [turbulento já no começo pelo sistemático boicote, chegando mesmo à sabotagem e...] =  Que topou pela proa com dois anos de pandemia e uma guerra na Europa de consequências planetárias, especialmente na economia. E, para não variar, sofre por estar no comando e ter ele de dar as respostas ao principal problema do povão hoje: a inflação.

Repetindo: o eleitor até tem algum interesse em saber de quem é a culpa, mas vai atrás mesmo é de quem ele acha ter melhores condições para resolver o problema. Daí que períodos de inflação alta acabem favorecendo o ambiente para uma troca de guarda.[Podem até favorecer, só que se for o descondenado o novo 'guarda' teremos pelos frente além da roubalheira que caracterizou os desgovernos petistas o plano de governo que o ex-presidiário e descondenado Luladrão está apresentando é um plano para destruir o Brasil. Confira uma análise técnica e fria, porém, verdadeira e incontestável. 
Já o presidente Bolsonaro apesar de todos os esforços dos seus inimigos, que também são inimigos do Brasil,  não teve nenhum  pedido de impeachment acolhido,  pela  simples razão que  não cometeu nenhum crime que sustente um pedido. Graças a DEUS com o fim da pandemia e a recuperação econômica,  Bolsonaro enfim poderá governar.]

Mas governo é governo e tem os instrumentos para lutar.
Se vai saber ou conseguir usar, aí já é outra conversa. 
 
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
 
 

 

sábado, 18 de junho de 2022

O programa suicida do PT - Revista Oeste

 Ubiratan Jorge Lorio

O protótipo do programa de governo petista é uma reedição revista e ampliada do desastre 

No último dia 6, o Partido dos Trabalhadores levou ao conhecimento do público o protótipo de um programa para um eventual governo daquele que se qualifica como a mais honesta de todas as almas. Intitulado “Diretrizes para o programa de reconstrução do Brasil”, o documento enumera as providências que, no seu entendimento, irão restaurar o país — o mesmo que eles arrasaram com as políticas desastradas que perpetraram entre 2003 e 2016. Na verdade, trata-se de uma reedição, revista e ampliada, do desastre.
 
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

São 18 páginas que arremetem contra a lógica econômica, espancam princípios morais e aplicam coças nas liberdades individuais e em que, flagrantemente, revelam uma incapacidade inacreditável de não aprender com todos os tipos de erros — os dos outros e os próprios, os involuntários e os intencionais, os veniais e os capitais. E tudo isso redigido com um cinismo impressionante e maculado de subterfúgios para esconder o real propósito, que é o de completar o serviço interrompido em 2016 pelo impeachment. O programa é uma demonstração inequívoca de que o devaneio do socialismo não acabou.

O texto, suportável para quem é dono de um razoável estoque de paciência, enfeixa uma introdução e quatro blocos: desenvolvimento social e garantia de direitos; desenvolvimento econômico e sustentabilidade socioambiental e climática; defesa da democracia; e reconstrução do Estado e da soberania. Não deixa de ser uma leitura recomendável, principalmente para que se aprenda tudo o que não deve ser feito.

Mais do mesmo
O estrupício começa a manifestar desprezo pela memória dos leitores no segundo parágrafo da apresentação, em que estabelece como objetivo “a criação de um projeto inovador e portador de futuro”, com vistas a construir “um Brasil para todos os brasileiros e brasileiras”. Em seguida, desfere a segunda rasteira, afirmando que a união das “forças progressistas e democráticas” não é apenas para buscar a vitória na eleição, mas reconstruir e transformar o Brasil: “Neste momento histórico decisivo, conclamamos todas as forças sociais, políticas e econômicas comprometidas com a democracia, com a soberania e com o desenvolvimento a somarmos esforços para reconstruir o Brasil, resgatando as forças, o otimismo e a esperança do povo brasileiro”.
 
Projeto inovador ou hino ao atraso? 
Portador de futuro ou recondutor a um passado fracassado? 
Forças progressistas e democráticas ou retrógradas e autoritárias? Reconstrução e transformação do Brasil ou destruição da reparação que vem sendo feita desde 2019? 
Desenvolvimento ou retorno aos voos de galinha? 
Democracia com admiração por ditadores? 
Soberania com adesão ao figurino globalista? 
Ora, parem de tergiversar e de subestimar a inteligência dos eleitores! Em 13 anos no poder que, somados aos oito do então partido do seu patético pré-candidato a vice, perfazem mais de duas décadas —, que inovações, futuro, progresso, contribuição efetivamente positiva, soberania e desenvolvimento eles promoveram?

Não há novidades no documento. Ele nada mais é do que a confirmação em tom menos raivoso e ligeiramente menos hostil ao português — do que o candidato petista vem apregoando diariamente, em tom artificialmente colérico, sempre em ambientes restritos a acólitos subservientes. O fato é que as intenções listadas no documento são claríssimas e configuram a rejeição a todo e qualquer respeito às liberdades individuais.

Venezuelização
Na economia, prometem “um projeto nacional de desenvolvimento justo, solidário, soberano e sustentável, superando o modelo neoliberal, que levou o país ao atraso”. Entretanto, para tal, voltam ao discurso dos anos 1950 de fortalecimento do mercado interno e falam em ressuscitar as “capacidades estatais com potencial de gasto social” e fortalecer o investimento público.
 
Para superar o tal modelo neoliberal — que só existe em suas narrativas —, propõem um conjunto de retrocessos, entre os quais
- o fim do teto de gastos; a implosão da reforma trabalhista; o fortalecimento dos sindicatos; a revogação da autonomia do Banco Central; a reestatização de empresas privatizadas pelo governo atual; a extinção do programa de desestatização; a censura da internet e da mídia em geral, com os nomes fantasia de “regulação”, “controle social”, “combate a fake news” e “enfrentamento a discursos de ódio”; 
- a tributação de “grandes fortunas” (com exceção das próprias, naturalmente); a criação de novas estatais; controles de preços considerados “estratégicos”; o restabelecimento do papel dos bancos públicos como principais agentes de crédito; 
- a adesão à pauta ambientalista radical, com redução de emissões e transição energética; o comprometimento com o autoritarismo da Agenda 2030 da ONU; 
- o retorno explícito à política externa de alianças com ditaduras de esquerda da América Latina e do resto do mundo. Para completar, não mencionam como pretendem cumprir algumas dessas promessas, aprovadas no Parlamento e transformadas em leis.

Não é necessário comentar os estragos que essas políticas econômicas causariam ao país, uma vez que o leitor de Oeste está familiarizado com todos os males que o intervencionismo acarreta. O que é realmente espantoso é ainda existir quem dê crédito a tamanho monturo de barbaridades. Tudo o que pretendem fazer agride a lógica econômica mais elementar. Parece que enxergam o Estado como um médico sem princípios éticos e autorizado a praticar a eutanásia da prosperidade.

Se as ideias coletivistas listadas saírem vitoriosas das urnas, em pouco tempo estaremos pareando com a Argentina e o Chile

Todavia, a abertura da estrada para a “venezuelização” não se limita às sugestões de medidas econômicas. Elas são apenas uma parte do projeto. Há muitos outros perigos no programa, encobertos sub-repticiamente pela manipulação da linguagem. Algumas de suas pautas são fartamente conhecidas, como a introdução definitiva da ideologia de gênero goela abaixo da população
- o aparelhamento do Estado; o racismo fantasiado de “dívida histórica”; o feminismo radical; a desconstrução dos valores ocidentais, a começar pela família; a abolição da verdadeira história da nossa nação, substituída por narrativas distorcidas; 
- a bandidolatria, com suas audiências de custódia, liberações de preços, visitas “íntimas”, “saídas” e “furtos por necessidade”
a desmilitarização das polícias; a radicalização do politicamente correto; o uso da linguagem neutra; as práticas sindicalistas e outras aberrações.

Quem duvida dessas intenções precisa olhar para a verdadeira eutanásia do país que o chavismo-madurismo promoveu na Venezuela, em apenas duas décadas; para a assustadora deterioração da economia e da sociedade da Argentina, que o peronismo-kirchnerismo produziu em três anos; e para o início do mesmo processo, que ora acontece no Chile do ultraesquerdista Gabriel Boric.

É dever moral e demonstração de amor aos descendentes e ao Brasil mostrar, para quem ainda se ilude com as ideias defendidas no documento, que no fim deste ano a escolha não será apenas entre dois candidatos, um de “direita” e outro de “esquerda”. O galo vai cantar em um terreiro muito maior, porque o que vai ser decidido pelos eleitores é se valorizam de fato sua liberdade ou se vão aceitar ser escravizados por uma ideologia desumana.

Esse dever se estende às escolhas para deputados, senadores e governadores. Os brasileiros precisam rejeitar toda e qualquer ideia contrária ao livre exercício das liberdades individuais. Acreditar em “terceira via”, nas condições atuais, além de ingenuidade ou oportunismo, é falta de patriotismo.  

Certos liberais e conservadores metidos a espertos têm o direito de não gostar do presidente, porém, prioritariamente, têm o dever de zelar pelo futuro de seus filhos e netos e de amar o país em que nasceram e vivem.

Se as ideias coletivistas listadas no programa suicida saírem vitoriosas das urnas o que parece ser bem pouco provável, pois os eleitores atualmente já não são mais idiotas teleguiados como no passado —, em pouco tempo estaremos pareando com a Argentina e o Chile. E em viagem rumo à Venezuela e a Cuba.

O Brasil não merece isso. 

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor. Instagram: @ubiratanjorgeiorio

Leia também “O “petrovespeiro”

Revista Oeste 

 


segunda-feira, 30 de maio de 2022

TSE - Bolsonaro atribui ‘lista intragável’ de indicados ao TSE a Moraes e Fachin - Bela Megale

O Globo

O presidente Bolsonaro atribui ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, e ao vice da corte, Alexandre de Moraes, a lista tríplice de indicados para a vaga aberta no tribunal eleitoral. Para o presidente, os nomes da “intragável lista”, como o assunto é tratado no Planalto, vieram de uma combinação entre Fachin e Moraes, vistos pelo presidente como seus “algozes”, em especial o segundo.

Em conversas recentes com aliados, Bolsonaro deixa claro que seu plano atualmente para a vaga de ministro substituto aberta no TSE é deixá-la como está, até as eleições de outubro. Ou seja, Bolsonaro deixará a vaga aberta durante o pleito. Não há prazo para que o presidente faça a nomeação para o TSE. [Presidente Bolsonaro, eles indicam e o senhor, por força de disposição da Constituição Federal, nomeia. O  poder de  escolher quem dos indicados nomear, ou de não nomear nenhum, é do Senhor. USE-O.]

Os nomes que integram a lista são André Ramos Tavares, que chegou a presidir a Comissão de Ética da Presidência da República. Os fatores que desabonam Tavares, na visão de Bolsonaro, são pareceres elaborados pelo advogado contra o impeachment de Dilma Rousseff e a favor derrubada da inelegibilidade do ex-presidente Lula, em 2018. 

Já a advogada Vera Lúcia Santana é considerada de esquerda pelo presidente e faz parte do grupo de juristas Prerrogativas, que apoia Lula. O terceiro indicado, Fabrício Medeiros, tem “padrinhos” como Alexandre de Moraes e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, encarados inimigos do presidente.

Bela Megale, colunista - O Globo

 

sábado, 21 de maio de 2022

STF rejeita dar prazo para Lira avaliar pedido de impeachment de Bolsonaro - O Globo

Melissa Duarte
 
Votação foi unânime. Plenário seguiu a decisão monocrática da relatora, Cármen Lúcia
 
O Supremo Tribunal Federal (STF) negou ação que pedia o estabelecimento de um prazo para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), analisar pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. Os ministros foram unânimes ao seguir o voto da relatora, Cármen Lúcia, que argumentou não haver embasamento legal para definir prazo para a avaliação.

O julgamento foi realizado no plenário virtual, em que os ministros não se encontram, mas publicam os votos no sistema. O caso começou a ser analisado em 13 de maio e teve a votação concluída às 23h59 desta sexta-feira. Cármen Lúcia já havia rejeitado fixar um prazo numa decisão monocrática dada em julho. O caso foi, então, ao plenário, onde os ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso, Luiz Edson Fachin, André Mendonça, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Nunes Marques e Rosa Weber acompanharam o voto da relatora, nessa ordem. “No ordenamento jurídico vigente, inexiste norma assecuratória da pretensão de processamento automático ou com prazo estabelecido sobre processamento de pedido de impeachment. Assim, a alegada demora na apreciação e no encaminhamento da denúncia apresentada não se afirma como direito dos seus autores, por mais numeroso que seja o número de subscritores e de inegável peso cívico. A quantidade de pedidos formulados com igual finalidade ou o número de denunciantes e apoiadores (sic) indicados pelos agravantes também não constituem direito nem automático dever da autoridade apontada como coatora em dar prosseguimento ao pedido de impeachment apresentado”, escreveu a magistrada. [em nosso entendimento o STF ao negar estabelecer prazo não fez nada de excepcional; apenas, respeitou a independência do presidente de uma das Casas do Poder Legislativo para decidir soberanamente qual o destino a ser dado a um pedido de impeachment.

Oportuno lembrar que impondo prazo ao presidente da Câmara para avaliar pedido de impeachment contra o presidente Bolsonaro, o STF estaria 'abrindo a porta' para também ser fixado prazo para avaliação de pedidos de impeachment encaminhados ao Senado contra ministros da Corte Suprema. Deixar quieto é mais conveniente.]

A ação foi apresentada pelo deputado estadual Rui Falcão (PT-SP) e pelo pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT), ex-prefeito da capital paulista, e se refere a um pedido de impeachment feito por entidades da sociedade civil.

De acordo com a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, existem 144 pedidos de impeachment contra Bolsonaro para análise.

Política - O Globo

 


sexta-feira, 20 de maio de 2022

O golpe que nunca existiu - Revista Oeste

Silvio Navarro

Agora em parceria com senadores e ministros do STF, o consórcio de imprensa continua tentando emplacar a fantasia de que Bolsonaro ameaça a democracia brasileira 

Em agosto do ano passado, a Edição 75 de Oeste publicou um artigo de J.R. Guzzo intitulado “Manual Prático do Golpe”. O texto explicava por que dar um golpe de Estado, ao contrário do que acham os editoriais, os cientistas políticos de esquerda e alguns políticos, não é um negócio simples. A 90 dias do início oficial da campanha eleitoral, o consórcio de imprensa continua tentando emplacar a fantasia de que uma virada de mesa está em curso no país.
 
Ministros do STF entrando no plenário | Foto: Montagem Revista Oeste/STF/SCO/Shutterstock
Ministros do STF entrando no plenário -  Foto: Montagem Revista Oeste/STF/SCO/Shutterstock

Nas últimas semanas, manchetes de festim sobre a ameaça que Bolsonaro representa à democracia aumentaram em escala só comparada ao noticiário da covid. Foram dezenas de títulos sobre golpismo, planos secretos, temor internacional e desrespeito à Constituição. Alguns articulistas decretaram que o presidente não deixará o poder, seja qual for o resultado das urnas. Outros defendem abertamente a ideia de que é preciso tirá-lo de lá custe o que custar.

Uma premissa básica do texto jornalístico é responder a algumas perguntas logo nos primeiros parágrafos: o que, quem, quando, onde, como e por que. No caso do golpe iminente, nenhuma delas parece fazer sentido. A única base da histeria permanente é o #EleNão — ou seja, a ideia de que Bolsonaro não pode continuar. Trata-se de um golpe que só existe nas páginas dos jornais.

Na segunda-feira 16, por exemplo, a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem com a teoria. Apenas alguns políticos de oposição, como Gleisi Hoffmann (PT), Carlos Lupi (PDT) e Carlos Siqueira (PSB) concordaram, o que era previsível. O tucano Bruno Araújo recusou o termo “golpe” e topou “ameaça ao Estado de Direito”. O jornal achou o silêncio da maioria um absurdo. Como não encontrou figuras representativas da sociedade dispostas a levar a tese a sério, o problema foi resolvido logo no título: Partidos veem risco de golpe de Bolsonaro, e autoridades se calam.

“A Folha procurou nos últimos dias os chefes dos três Poderes, de Tribunais Superiores, do Ministério Público Federal e dos principais partidos políticos, além dos presidenciáveis e de entidades representativas do empresariado e da sociedade civil”, dizia o texto, reproduzido com destaque pelo portal UOL. “Nenhuma das autoridades da República quis se manifestar sobre o assunto”

 

Das 13 entidades procuradas pelo jornal, só responderam a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), cuja militância de esquerda é conhecida, e o pastor Samuel Câmara, da Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB). As outras nem sequer quiseram participar da enquete. A pesquisa era composta de duas perguntas, elaboradas pelos editores do jornal. Foram apresentadas três alternativas de respostas.

Pergunta 1: Recentes declarações de Bolsonaro em tom de ameaça sobre as eleições e de ataques a ministros do STF e do TSE se encaixam melhor em qual cenário?

  1. a) Os ataques e as ameaças são um comportamento golpista que precisa ser levado a sério
  2. b) As declarações de Bolsonaro são apenas um blefe ou um discurso vazio sem consequências
  3. c) Bolsonaro faz críticas dentro de sua liberdade de expressão e assim o tema deve ser tratado

Pergunta 2: O país deve se preocupar com a possibilidade de Bolsonaro tentar melar as eleições antes e depois da votação?

  1. a) Eleições estão em risco e país deve se preocupar com possibilidade de Bolsonaro tentar melá-las
  2. b) Eleições não estão em risco, mas país deve se preocupar com possibilidade de Bolsonaro tentar melá-las
  3. c) Eleições não estão em risco e país não deve se preocupar com possibilidade de Bolsonaro tentar melá-las

Apesar de parecer a mais obcecada em comprovar que existe uma trama golpista em andamento, a Folha não está sozinha. O Estado de S. Paulo tem dedicado sucessivos editoriais ao tema. O último deles, na quinta-feira 19, dizia: “O clima no País está péssimo, mas poderia estar muito pior caso Bolsonaro tivesse logrado cooptar todas essas forças republicanas em prol de seu desiderato golpista. Mais cedo do que tarde, o presidente verá que derrubar a democracia consagrada pela Carta de 1988 estava muito além de suas forças”.

Festa estranha com gente esquisita
Desde que Brasília existe, é comum encontrar políticos, jornalistas e autoridades misturados em jantares no meio da semana. Foi o que ocorreu na quarta-feira 11 de maio, na casa da senadora Kátia Abreu (TO). Na mesa, os colegas Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Marcelo Castro (MDB-PI), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Weverton Rocha (PDT-MA) e o ex-governador de Alagoas Renan Filho (MDB).

O inusitado, porém, foram as presenças de três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), responsáveis, entre outras atribuições, por julgar processos contra os próprios parlamentares: Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes. O último será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir de agosto, além de conduzir o inquérito perpétuo dos atos antidemocráticos.

Em resumo, o que esse consórcio autoproclamado esquadrão da democracia quer é que ninguém possa mais criticá-los

Segundo relatos, o propósito da reunião foi criar uma “frente em defesa do STF”, que deve ser ampliada com a participação de deputados. Renan chegou a propor que o grupo tivesse um nome para facilitar a divulgação na mídia. Pacheco resolveu se apresentar para ser o coordenador.

Um dos assuntos tratados durante a noite foi o incômodo do grupo, especialmente do próprio Pacheco, com as críticas feitas pelo programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan.

No dia seguinte, o presidente do Senado discursou durante um evento para juízes em Salvador (BA), que teve palestras de ministros do STF. “É inimaginável pensar que a essa altura nós estejamos a defender instituições e o Poder Judiciário de ataques absolutamente sem fundamento algum, sem lastro probatório nem razoabilidade”, disse. “Esse ambiente que estamos hoje, de certa instabilidade, ataques antidemocráticos e arroubos parecem populares para um determinado grupo, mas na verdade são atentados muito nocivos à sociedade brasileira.”

Em resumo, o que esse consórcio autoproclamado esquadrão da democracia quer, com o apoio da velha imprensa, é que nem Bolsonaro nem ninguém possam mais criticá-los
Deve-se admitir que o sistema de votação brasileiro está acima de qualquer suspeita e ponto. 
Toda e qualquer manifestação contrária configura fake news e golpismo — e pode terminar em cadeia.

A fala de Pacheco é simbólica. O Senado é a única Casa com prerrogativa constitucional para impor algum freio ao ativismo político dos ministros do Supremo. Contudo, seguindo a cartilha dos seus antecessores, ele se recusa a pautar pedidos de impeachment contra os magistrados e vetou a convocação deles para responder questionamentos no Congresso.

Houve também uma mudança de tom em relação ao Palácio do Planalto. Antes avesso a entrevistas, agora ele tem se apresentado em diversos lugares para criticar Bolsonaro. Foi ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira 16. Sua assessoria passou a produzir material diário nos perfis das redes sociais e criou um podcast.

Nesta semana, Pacheco fez questão, por exemplo, de comentar o pedido de investigação feito por Bolsonaro ao Supremo e à Procuradoria-Geral da República contra o ministro Alexandre de Moraes — negado imediatamente pelo colega Dias Toffoli. “É mais um episódio de anormalidade institucional”, afirmou, durante uma entrevista coletiva.

A ampla maioria da imprensa tem adorado o novo papel do pacato presidente do Congresso como líder da “frente contra o golpe”. Desde que assumiu a cadeira, ele é bajulado pela mídia em Brasília. No ano passado, quando se filiou ao PSD, um colunista chegou a escrever que surgia um novo Tancredo Neves na política brasileira. Pacheco acreditou. O dono do partido, Gilberto Kassab, apressou-se em plantar a notícia de que ele seria candidato à Presidência, o que obviamente não se confirmou.

Ainda assim, o senador subiu à tribuna para fazer um pronunciamento à nação em março. “Meus compromissos como presidente do Senado e com o país são urgentes, inadiáveis e não permitem qualquer espaço para vaidades”, disse. “Por isso, afirmo ser impossível conciliar essa difícil missão, de presidir o Senado Federal e o Congresso Nacional, com uma campanha eleitoral presidencial.”

Figuras como Pacheco normalmente encontram a aposentadoria nas galerias de fotos dos ex-presidentes do Congresso em pouco tempo. Não têm vocação sequer para se tornar um Renan Calheiros. Se algum dia for lembrado, será como um dos heróis que combateram um golpe que nunca aconteceu.

Leia também “A corrupção esquecida”

Silvio Navarro, jornalista - Revista Oeste