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sábado, 25 de junho de 2022

Um projeto para destruir o Brasil - J. R. Guzzo

 Revista Oeste

O programa de governo petista é integralmente ruim uma sucessão de propostas suicidas que vai sendo revista e ampliada conforme se chega mais perto da eleição 

Lula e Geraldo Alckmin, durante o lançamento das diretrizes do Plano de Governo do PT, na terça-feira 21 de junho de 2022 | Foto: Ettore Chiereguini/AGIF/ Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Lula e Geraldo Alckmin, durante o lançamento das diretrizes do Plano de Governo do PT, na terça-feira 21 de junho de 2022 | Foto: Ettore Chiereguini/AGIF/ Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
 
A apenas três meses das eleições para presidente, e no meio de uma tempestade de dúvidas de todos os tipos e formatos, Lula e o PT garantiram uma posição que nenhum instituto de pesquisa poderia lhes dar: têm o pior programa de governo que já se viu em toda a história da República brasileira. 
Daqui até lá, é claro, há tempo de sobra para piorar — no ritmo em que vão as coisas, por sinal, com o anúncio quase diário de novos desastres nos planos gerais de Lula para o Brasil, o mais provável é que piore mesmo. De qualquer forma, ainda que o candidato da “esquerda”, dos empreiteiros de obras e das classes intelectuais não abra mais a boca até o dia 2 de outubro, aquilo que ele e o seu partido já disseram em público até agora é suficiente para compor, com folga, a maior calamidade anunciada que jamais foi proposta na vida política deste país. Lula, na verdade, não tem um programa de governo para o Brasil. Tem um programa de destruição.

Socar imposto na exportação agrícola é uma operação direta de sabotagem contra o agronegócio brasileiro, que Lula e o PT consideram um inimigo a ser destruído

É tudo integralmente ruim uma sucessão de propostas suicidas que vai sendo revista e ampliada conforme se chega mais perto da eleição.  
O projeto mais recente, apresentado por um grupo de deputados do PT, confirma e reforça tudo o que já existe de mais agressivo no pacote de desgraças apresentado até agora: a criação de um imposto de até 30% nas exportações brasileiras de produtos agrícolas. É veneno direto na veia — a repetição exata do que a Argentina vem fazendo na única área produtiva da sua economia, com o resultado miserável que está à vista de todos. Não é um tiro no pé. É um tiro na cabeça. 
 
Os países incentivam as suas exportações para ganhar divisas em moeda forte, às vezes até com subsídios; o que ninguém faz, nunca, é desestimular os exportadores. Mas não se trata apenas de uma ideia estúpida, ou de mais um erro grosseiro da equipe de economistas que está em volta de Lula — gente que há 50 anos propõe tudo o que, comprovadamente, não dá certo na política econômica de qualquer país. 
 
Socar imposto na exportação agrícola é uma operação direta de sabotagem contra o agronegócio brasileiro, que Lula e o PT consideram um inimigo a ser destruído. Em toda a economia do Brasil, o setor rural é aquele em que o capitalismo deu mais certo — e o “projeto socialista” do ex-presidente está convencido de que acabar com isso é uma tarefa fundamental de governo.  
O agronegócio brasileiro, com o sucesso espetacular que vem tendo ano após ano, é o exato contrário do Brasil de Lula e do PT. Para eles, o progresso cada vez maior da produção rural não é uma solução. É um problema mostra que o que dá certo no Brasil é justamente o oposto daquilo tudo que propõem. O produtor é um estorvo. Tem de ser enfiado numa camisa de força.
 
Taxar exportações agrícolas não é fazer política fiscal, nem aumentar a arrecadação de impostos em nome do bem comum — é uma expropriação, ou um confisco de propriedade. Esqueça que o dinheiro arrecadado com isso não iria resultar em sequer um átomo de melhoria para as necessidades mais urgentes da população — seria tudo desviado, como o PT sempre fez, para despesas com a máquina do “Estado”, a companheirada e os empresários amigos do governo. Mas este é um mal já conhecido. 
 
O pior do projeto petista é o seu efeito tóxico sobre a produção rural. O produtor não pode “repassar” o que lhe extorquiram em impostos: a soja, o açúcar ou a carne têm preços internacionais, fixados pelas leis da oferta e procura, e não aqueles que o agricultor ou o pecuarista brasileiro escolhem. Ao mesmo tempo, pagar imposto não vai reduzir em um centavo os seus custos de produção. É castigo financeiro, puro, simples e direto — uma punição declarada ao investimento de capital no campo. 
 
O que Lula quer dizer ao agricultor e ao pecuarista brasileiros, e a todo o conjunto de atividades econômicas que existe em função deles, é o seguinte: “Não vamos admitir na economia do Brasil nenhuma área que não seja controlada pelo governo e pelo partido. Não gostamos de vocês; gostamos do MST. Não queremos aumento de produção, nem tecnologia no campo. Queremos ‘reforma agrária’. Estamos pouco ligando se as exportações e as safras vão despencar; acreditamos na pequena propriedade rural. Vocês são inimigos, como ‘o Bolsonaro’. Vão ser tratados como ele”.

Como em geral acontece com qualquer ideia destrutiva, o imposto sobre as exportações vem acompanhado de uma penca completa de mentiras para justificar a sua criação. A mais surreal de todas elas é dizer que a produção do campo tem de ser usada no abastecimento do “mercado interno” do Brasil, e não vendida ao “consumidor estrangeiro”. A taxação, segundo esse entendimento, serviria para proteger a “segurança alimentar” da população: desestimulado pelo imposto sobre a exportação, o produtor rural seria obrigado a oferecer aqui dentro, em real e barato, o que iria vender lá fora, em dólar e caro

É uma dessas falsificações em estado bruto que Lula e o PT vêm fazendo há 40 anos em seu discurso público. O agronegócio só vende para o exterior as sobras do que produz primeiro vende para o consumidor brasileiro, e só depois exporta o que não foi vendido aqui. Os números são definitivos. Cerca de 80% de toda a carne produzida no Brasil é vendida para os consumidores brasileiros; só 20% vão para fora, e já é o bastante para fazer o país o maior exportador de carnes do mundo. Quase 70% das aves, onde o Brasil também é o maior exportador mundial, são consumidas internamente. Ficam por aqui os 35 bilhões de litros de leite produzidos por ano — e, assim por diante, com todos os produtos do agro. 
Como é que Lula e o PT acham que se frita um bife neste país? Com azeite extravirgem italiano ou com óleo de soja de Mato Grosso? E o café — de onde eles acham que vem? Vai colocando aí todo o resto: arroz, feijão, milho, açúcar, paçoquinha
Não há registro, simplesmente não há, de algum alimento que esteja faltando nas prateleiras do supermercado ou na mesa do brasileiro porque está sendo vendido no exterior. 
O cidadão comum não se alimenta com produto importado de países estrangeiros; só rico faz isso, gente que anda com relógio de R$ 80.000 no pulso, e assim mesmo apenas uma parte do tempo.

Pense em alguma coisa boa: Lula é contra. Pense em alguma coisa ruim: vai estar, com certeza, nos planos de governo de Lula

O imposto de exportação vem se juntar à lista de calamidades que já estão no projeto de governo de Lula. Ele quer liquidar, caso volte a ser presidente, uma das maiores conquistas reais que o trabalhador do Brasil já teve na sua vida: o fim do imposto sindical, pelo qual o governo lhe extorquia (e do seu empregador) um dia inteiro de salário por ano. Era uma transferência direta de renda, do bolso do trabalhador para o caixa dos sindicatos e da CUT, e daí para o bolso dos seus diretores. Esse roubo foi eliminado na Reforma Trabalhista — que Lula também promete desfazer. Ele já anunciou, e de forma cada vez mais irada, que vai acabar com o teto de despesas para os gastos públicos, a proteção mais eficaz contra a criminalidade financeira dos governos que o cidadão brasileiro já teve desde a criação da República.  
 
Declarou que vai fazer da Petrobras o que a empresa era quando ele estava na Presidência — a maior produtora de prejuízos na indústria mundial de petróleo, e uma usina de corrupção sem precedentes na história da roubalheira universal
Quer estatizar de novo o que foi, a duríssimas penas, privatizado — e devolver aos parasitas o que lhes foi tirado. Quer criar novas empresas estatais. Quer criar um Ministério dos Índios, para cuidar (segundo as suas próprias ideias do que seja o verbo “cuidar”) de 0,4% da população brasileira
É contra a nova Lei do Saneamento, contra a redução de impostos, contra a classe média, que a seu ver gasta demais e vive num mundo de luxo injustificável, e por aí afora. 
Pense em alguma coisa boa: Lula é contra. Pense em alguma coisa ruim: vai estar, com certeza, nos seus planos de governo.
 
Isso é aquilo que se sabe; além disso, há o que não se sabe ainda. Um dos peixes mais graúdos do entorno de Lula, um ex-frei da Igreja Católica que largou a batina há 30 anos e é tido pela imprensa brasileira como uma autoridade em praticamente todos os assuntos ligados à existência humana, garantiu, numa entrevista recente, que ainda não se viu nada. Tudo isso que foi escrito aí acima, segundo ele, é só para disfarçar; é uma pregação moderada, que será usada como discurso político de campanha, apenas isso, para não assustar as pessoas. 
Uma vez no governo, de acordo com ele, Lula vai executar um programa muito “mais radical”. É a sua “última chance” na vida de transformar o Brasil num país socialista, disse o antigo frade, com prioridade para os “negros, as mulheres, os índios e os LGBT” e desta vez Lula não vai perder a oportunidade de realizar os seus sonhos. Será mesmo isso? A cada dia que passa Lula fica mais agressivo; com a esquerda vitoriosa em praticamente todos os países da América Latina, ex-terroristas assumindo os cargos de presidente da República e o STF fazendo campanha em seu favor, ele tem certeza de que já ganhou. Os institutos de pesquisa também. Só falta, agora, a eleição.

Leia também “Lista geral das coisas impossíveis”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste

 


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Qual é a via para as eleições?

Alexandre Garcia

A única presidenciável, senadora Simone Tebet, vinha aparecendo no autodenominado centro democrático como cabeça de chapa, a ser anunciada dia 18 de maio pelos presidentes do MDB, PSDB e União Brasil. O vice seriae não vamos fingir ingenuidade Eduardo Leite, indicado pela direção tucana, deixando Doria de lado. 
Agora a senadora diz que não aceitaria ser vice, pois seria uma desconsideração às mulheres, que são mais da metade do eleitorado. [Nada contra as mulheres, muitas são inteligentes, sensatas, intuitivas, o mundo seria péssimo sem elas; mas não é inteligente que alguém, mulher ou não, queira usar a quantidade de possíveis eleitoras como requisito para impor uma mulher como cabeça de chapa. Imagine se por as mulheres serem mais numerosas se colocasse  encabeçando a chapa uma 'dilma rousseff' - já fizeram isso e todos sentimos o desastre.
Eu mesmo, escolhi para senadora do DF a "Leila Barros", esqueci que não estava escolhendo uma jogadora de vôlei - ela foi a melhor de uma geração em que as melhores eram muitas - e sim uma senadora = ela foi eleita, mas considero que perdi meu voto.] Sua luz amarela já piscava, quando soube do jantar em Brasília entre Lula e senadores do MDB. Agora ela acende a luz vermelha, sentindo o rumor da troca: Leite presidente e Tebet vice. Ou será que Leite deixou o governo do Rio Grande apenas para ser vice?  [o que convenhamos, ainda que não assuma a presidência nem uma vez, será ruim para o Brasil.]  Semana passada o presidente do PSDB falava em Leite como vice, mas deveria ser apenas um movimento de descarte de Doria, para depois avançar mais um degrau. Atento, ao ver Paulinho da Força recuar seu Solidariedade após receber vaias de sindicalistas sem que Lula o defendesse, Eduardo Leite tentou atrair Paulinho, que havia recusado convite de Ciro Nogueira para apoiar Bolsonaro. Tudo que conseguiu foi mostrar um Aécio irreconhecível na foto. E Paulinho, valorizado, horas depois apareceu abraçado com Lula e Gleisi.

Até as convenções, no final de julho e início de agosto, essas emoções que rimam com traições serão como sismos subterrâneos na busca de ajuste na superfície, em que traídos e traidores se misturam. Moro, que começou como o ícone de terceira via, para se sobrepor a Lula e Bolsonaro, já está descartado. Saiu do Podemos, foi para o União Brasil, onde foi trocado por Luciano Bivar, que parece estar guardando a cadeira para Leite sentar. Do alto de sua autoavaliação, Moro não aceita a humilhação de ser candidato a deputado federal. Mas, quem diria, ontem acabou anunciado como apresentador de um curso anticorrupção chamado de O Sistema.

O PT, o PV e o PC do B recém registraram o estatuto comum para uma federação que deveria ter também o PSB de Alckmim, o neo-companheiro e vice de Lula. Ocorre que o PSB tem Marcio França, concorrente de Fernando Haddad, do PT, ao governo de São Paulo. Aí, estranhamente, não fecha federação com o partido do vice de Lula. Aliás, como Lula vai resolver São Paulo, o maior colégio eleitoral do país? O ex-presidente tem feito declarações que parecem ter a intenção de inviabilizar sua candidatura. Se indispõe com  religiões, militares, deputados federais, os CACs, a classe média, os proprietários. Nem tudo está unânime no partido, onde rumores circulam sobre uma desistência dele em favor de Haddad, para aliviar o PSB de França em São Paulo e poder casar tranquilo no mês das noivas, como ele anunciou.

São tempos que devem preocupar as pesquisas, que agora mostram o eleitor como um pusilânime, que ora está com Lula e depois vai para Bolsonaro. O presidente Bolsonaro, com experiência de 30 anos de legislativo, não mexeu no governo agora que ministros saíram para ser candidatos. Vão ficando os substitutos técnicos, para não criar problemas. Ele deixou Luciano Bivar com o PSL para ocupar ACM Neto. Foi para o PL, que virou a maior bancada na Câmara; não formou federação para não engessar seus apoiadores nos estados, escolheu Tarcísio para São Paulo e está entre os poucos que neste turbilhão eleitoral sabem qual é a via.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense


segunda-feira, 18 de abril de 2022

A lavagem cerebral nas salas de aula - Revista Oeste

Ilustração: Shutterstock
Ilustração: Shutterstock

Durante a transmissão, Hallal chamou Bolsonaro de “defensor de torturador” e o “único chefe de Estado do mundo que não defende a vacinação contra a covid-19”. Não ficou por aí. O pró-reitor Eraldo Pinheiro tomou a palavra e qualificou o presidente de “sujeito machista, homofóbico e genocida, que exalta torturadores”.

14 de dezembro de 2020. Escola Municipal Guerino Zugno, em Caxias do Sul (RS). A professora Monique Emer se lamentava em sala de aula porque Pepe Vargas, candidato do PT, perdera a disputa pela prefeitura do município. Vargas foi ministro do Desenvolvimento Agrário da ex-presidente Dilma Rousseff.

Em um áudio vazado, Monique declara aos alunos: “Da direita, quanto mais morrerem de covid-19, aids, câncer fulminante, melhor. Já que a gente não pode fuzilar, então que vão à praça fazer bandeiraço e, se Deus quiser, morram tudo de covid. Adultos, mulheres, idosos e crianças. Não vale um, não se salva um”. 

Em seguida, a educadora fez uma publicação em sua conta no Facebook defendendo a necessidade de “canalizar a revolta incendiária de estudantes” em prol de pautas de esquerda. “Onde está a resistência?”, perguntou a professora. “Barricadas? Incêndios? Mobilização popular?” Dias depois, Monique foi afastada do cargo pela Justiça.

“Esse imbecil ganhou porque a maioria votou”
Professores deveriam ensinar suas matérias e não usar a influência que têm sobre os alunos para fazer doutrinação político-partidária. Mas isso não impede que eles ajam para influenciar diretamente os estudantes, inclusive nas escolas particulares.

Abril de 2019. Um professor de geografia ataca o presidente Jair Bolsonaro e seus eleitores. “Já pararam para pensar que esse imbecil ganhou porque foi a maioria que votou?”, pergunta o docente à classe, que se manteve em silêncio. “Mas sabe o que é pior? É quando a maioria que ganha quer que a outra parte se foda. Se a maioria ganha e quer ajudar o resto, é uma coisa, mas quando a maioria ganha e quer que o preto se ferre, o pobre se ferre, o gay se ferre e a mulher se ferre, aí é pior que uma ditadura.” Ele foi demitido depois de o vídeo ser publicado nas redes.

Na semana passada, outro caso chocou o país. A indígena Sônia Guajajara, ex-PT e atual Psol, ex-candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos, dava uma palestra na Escola Avenues, em São Paulo, que cobra mais de R$ 12 mil de mensalidade de seus alunos.

Previsivelmente, a política psolista atacava o agronegócio brasileiro e o governo federal. Um estudante pediu a palavra e expôs seu ponto de vista, o que não agradou ao professor Messias Basques.

A arrogância do fake Harvard
O professor constrangeu o aluno diante de uma plateia de 300 estudantes. “A minha recomendação é a seguinte: respeite-me, porque sou doutor em Antropologia”, disse. “Não tenho opinião, sou especialista em Harvard. Isso é ciência. No dia em que você quiser discutir conosco, traga seu diploma e sua opinião, fundamentada em ciência. Aí sim poderá discutir com um especialista em Harvard.”

A plateia, formada por adolescentes, aplaudiu a arrogância do educador. Basques, na verdade, não tem diploma na universidade norte-americana de Harvard, mas apenas o certificado de um curso on-line que custou US$ 250. 

Uma das vítimas preferidas dos redatores dos livros didáticos é o agronegócio

Na sequência, Guajajara retomou sua apresentação e criticou “fazendeiros”, que, segundo ela, ocupam terras que deveriam ser redistribuídas para a população: “É preciso democratizar o acesso às terras”. Em carta, o aluno manifestou seu descontentamento. “Falar do agronegócio de maneira tão pejorativa, para uma audiência de 300 pessoas, deixou-me extremamente ofendido”, ressaltou. “Os pais dos meus amigos trabalham no agronegócio, minha família vem da agropecuária.” [a índia Guajajara deveria começar a democratização distribuindo para os brasileiros a imensidão de 'terras indígenas' que eles possuem e não trabalham nelas - dividindo a área total de terras indígenas no Brasil pelo número de índios, resulta mais de 4.000 hectares/índio. Um hectare equivale a um campo de futebol.]

Até o momento, o professor Messias Basques continua integrando o corpo docente da escola, apesar de manifestações de repúdio de diversos pais. A instituição emitiu uma nota minimizando o ocorrido.

100% de doutrinação
A doutrinação em sala de aula começa nas páginas dos livros didáticos, cujo conteúdo é elaborado por professores universitários — a maioria com viés de esquerda. O cientista político Fernando Schüler, professor do Insper, conta o que descobriu, em 2016, ao se debruçar sobre os principais livros didáticos do Brasil, com o objetivo de responder à pergunta: há ou não doutrinação ideológica nesse material?

“Dos dez livros que analisei, 100% tinham um claro viés ideológico”, disse Schüler, numa entrevista a Oeste. “Não encontrei, infelizmente, nenhum livro ‘pluralista’ ou particularmente cuidadoso ao tratar de temas de natureza política ou econômica. São todos livros mancos. E sempre para o mesmo lado.”

Além do capitalismo e do conservadorismo, uma das vítimas preferidas dos redatores desses livros é o agronegócio, retratado como um vilão da natureza. Essa visão distorcida da realidade origina-se do estrabismo marxista sobre vários aspectos da sociedade, constatou o professor Mauro Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais de São Paulo. “Existe um predomínio do pensamento de esquerda nas Ciências Humanas no Brasil e no mundo ocidental”, afirmou Aguiar. Para ele, a esquerda conseguiu vencer no campo ideológico-cultural, apesar da queda do Muro de Berlim, muito em razão da propaganda bem-sucedida. “Isso atinge as escolas, porque os professores são educados com base nessa formação.”

Essa deformação do ensino do agronegócio foi o estopim para a criação do De Olho no Material Escolar. O movimento começou quando a produtora rural Letícia Zamperlini presenciou as aulas on-line da filha de 10 anos durante a pandemia. Entre outras coisas, o setor era apresentado às crianças como responsável pela miséria de povos indígenas. “São inúmeros os exemplos”, contou Letícia, numa reportagem de Oeste. “Todo mundo que nos procura tem uma história para contar. Se você está perto e olha o material escolar, mesmo não sendo do agro, percebe o tom negativo e uma ausência de referências científicas. Não vemos citações da Embrapa, do Ibama ou de órgãos confiáveis.”

Hoje, são mais de 4 mil simpatizantes e centenas de associados espalhados por dez Estados brasileiros. O grupo já se encontrou com representantes dos ministérios da Educação e da Agricultura, além de ter conseguido das editoras a promessa de revisar os livros didáticos. Há duas semanas, um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reuniu produtores rurais, diretores de escolas e representantes das principais editoras do país.

A tirania da minoria
Para Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, as universidades são dominadas pela esquerda em virtude de um processo complexo e demorado de ocupação de espaços. Como a classe intelectual é a responsável por formar diversos ramos da sociedade, a exemplo da classe política, a visão de mundo da esquerda acaba sendo hegemônica. “São esses acadêmicos que escrevem e controlam a qualidade dos livros didáticos, por exemplo”, explica. “Não tem como dar certo.”

Resolver um problema dessa magnitude leva tempo. A presidente do Instituto Livre pra Escolher, Anamaria Camargo, apoia a criação de instituições de ensino com diferentes vieses filosóficos, religiosos e outros focos pedagógicos, como o sistema STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português). “Devemos garantir a liberdade das famílias para que possam escolher aquela que está de acordo com seus valores”, disse. [a praga do maldito esquerdismo progressista encontra campo fértil mais na área de Humanas.]

Nesse modelo, Anamaria defende a criação de um sistema de vouchers, em que cada família possa usar o valor do recurso estatal que cabe à educação do seu filho no colégio de sua escolha, como na Holanda. “Enquanto couber ao Estado e àqueles que dele vivem, como sindicatos, escolher as ‘vozes’ que devem ser elevadas e as que devem ser caladas em todas as escolas, jamais teremos uma real pluralidade de ideias.”

Os “líderes geniais das massas”
Cláudia Costin, especialista em educação e ministra da Administração do governo FHC, critica a formação de professores e defende a ideia de que o primeiro passo para alcançar uma escola plural é ensinar os educadores a praticarem, em sala de aula, o debate livre de ideias. “Na escola, sempre houve a tentação de doutrinar”, afirma Cláudia.

A especialista advertiu que esse cenário acaba empobrecendo a produção intelectual dos educadores, a exemplo dos livros didáticos, que oferecem uma visão muito limitada da realidade. “Sobretudo os de geografia”, observou, ao mencionar o agronegócio sendo retratado como inimigo. “Não se deve demonizar um setor da economia que gera renda e emprego.” 

Ela defende ainda a ideia de que haja uma abordagem mais ampla dos assuntos, que possa oferecer os dois lados da moeda para o aluno, sem ocultar fatos ou tentar prejudicar determinada pauta. “Precisamos fugir da ‘verdade única’. Educação é formar pensadores autônomos e não pessoas que vão seguir ‘líderes geniais das massas’.”

Leia também “A esquerda sempre foi adepta do regime ditatorial”

Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 25 de março de 2022

O que Aristóteles diria sobre as atletas trans ameaçando o esporte feminino? - Gazeta do Povo

Atletas trans no esporte feminino é mais um caso de suposta "inclusão" que afronta a lógica, já que para incluir uns poucos, exclui todos os demais (no caso, todas, já que são as mulheres as prejudicadas).

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Em tempos de patrulhamento do pensamento alheio, de perseguição a quem pensa diferente, de campanhas de cancelamento, de intolerância extrema justamente por parte de quem se diz empático e altruísta, o assunto sequer pode ser mencionado publicamente.

Quem ousa discutir a injustiça que é permitir que homens biológicos disputem competições com as mulheres atletas é logo taxado de homofóbico. E assim o tema "atletas trans" vai sendo censurado e o esporte feminino, cada vez mais ameaçado.

Curioso é que a mesma turma que defende a igualdade entre homens e mulheres, finge não enxergar a extrema desigualdade que existe tanto em força, quanto em capacidade pulmonar, impulsão e resistência, entre as mulheres e as atletas trans. E finge tamanhas vantagens não são decisivas em competições esportivas.

Mulheres que dedicaram a infância, a adolescência e a juventude a treinos pesados, abriram mão de lazer, festas, convivência com amigos estão desistindo de competir, simplesmente porque não há mais estímulo. Quem tem vontade, afinal, de entrar em uma disputa sabendo que vai perder?

Corpos biologicamente masculinos, muito maiores e mais fortes, ainda que transformados na aparência por terapias hormonais ou até por cirurgias de mudança de sexo, invadiram os vestiários e todos os demais ambientes esportivos femininos.

As atletas trans estão em piscinas, quadras, campos, pistas de atletismo, ringues de boxe e, quase sempre, levam todos os títulos, medalhas, troféus, recordes, prêmios e até bolsas de estudo. Por que as feministas se calam diante de tamanha injustiça com as mulheres? O que a biologia e até a filosofia têm a dizer sobre isso?

Atletas trans e a filosofia
Convidei a Bruna Torlay, professora de Filosofia, para uma conversa sobre o tema em função do caso recente do ex-nadador americano William Thomas, que figurava na posição 462 do ranking masculino dos EUA, hoje Lia Thomas, após breve período de transição hormonal durante a pandemia.

A atleta trans, competindo com mulheres, levou o título numa das provas mais difíceis da principal liga universitária dos Estados Unidos. A injustiça com as demais nadadoras foi tamanha que, desta vez, gerou mais discussão na internet, ainda que o tema siga sendo um tabu.

Em publicação no Twitter o economista e influenciador digital Leandro Ruschel, comentarista do programa Hora do Strike, introduziu um debate filosófico, que aprofundei na entrevista com Bruna Torlay.

"Há milhares de anos, Aristóteles inventou o conceito de categoria para organizar o conhecimento. Através dele, surgiu a ciência propriamente dita... Uma pessoa com cromossomos XX tem órgãos sexuais e reprodutivos femininos e, portanto, é designada como do sexo feminino. Uma pessoa com cromossomos XY tem órgãos sexuais e reprodutivos masculinos e, portanto, é designada como do sexo masculino."

Leandro Ruschel, no Twitter

Ruschel discorre sobre o assunto numa longa sequência de comentários, dizendo que "o que a esquerda está fazendo é negar a realidade biológica e o próprio conceito aristotélico de categoria. Logo, um ser humano XY, que tem aparelho sexual masculino não pode mais ser chamado de homem, e nem mesmo de mulher transexual. Precisa ser tratado como mulher."

"Oecim objetivo disse tudo não é "proteger" as pessoas trans, mas sim destruir a própria ideia de conhento objetivo. Se até a natureza biológica do ser humano é negada, TUDO pode ser negado, o que representa o alvo maior do movimento revolucionário. e o silêncio das feministas."

Aproveitei os dois assuntos (a publicação de Ruschel e o caso recente da nadadora Lia Thomas) na conversa com Bruna Torlay. Bruna é professora de filosofia, dá aulas presenciais, tem cursos online, além de ser diretora de conteúdo da revista Esmeril, que trata de cultura.

Aposto que você vai gostar de ouvir tanto conhecimento categorizado no debate não só sobre atletas trans e ameaças de extinção do esporte feminino, mas também sobre o estranho silêncio das feministas. E sobre filosofia, claro! Clique no play da imagem no topo da página e assista.


domingo, 30 de janeiro de 2022

Como pular do fogo do ensino público para a frigideira do ensino privado - Gazeta do Povo


Educação - Bruna Frascolla
Foto de perfil de Bruna Frascolla
 
Uma reação comum quando se fala da ideologização no ensino público é atribuir o problema ao fato de ser público
Trata-se de um legado petista para o senso comum brasileiro: a panaceia da privatização. Antes do PT, tínhamos uma boa imagem dos Correios e das universidades federais. 
Essa boa imagem era parcialmente injustificada, já que sempre houve nas federais mais ideologia do que o desejável. 
Ainda assim, ninguém na década de 90 esperaria encontrar alunos pelados, de quatro, arreganhando a bunda e dizendo que isso é arte
Uma coisa era o marxista chique de gola rulê tentando vender sua ideologia entre uma e outra baforada de charuto cubano. 
Outra coisa, bem diferente, é a escatologia normalizada. Isso é posterior à gerência do Ministro Haddad. 
E foi isso que fez com que, pela primeira vez, os pais comuns, despolitizados, temessem, e não mais desejassem, o ingresso dos seus filhos numa federal. Será que o sistema público é tão ruim, ou não fará sentido dizer que o PT esculhambou uma coisa que poderia ser melhor? A resposta a isso eu vou chamar de consenso liberal: o PT só fez o que fez porque era possível. O Estado tem que ser mínimo para não ficar oscilando ao sabor dos mandatários eleitos de quatro em quatro anos. Até aí, tudo bem. O problema é que disso se segue a panaceia da privatização: se todo o ensino brasileiro fosse privado, estaria tudo bem!

Monopolista privado também é ideológico
Nem bem o rótulo “liberalismo” foi reabilitado no pós-PT, os eleitores de Haddad, aqueles esquerdistas “moderados” o tomaram para si. 
A esquerda brasileira se americanizou com o PT, e hoje tudo é coisa de mulher, negro, LGBTQUIABO e girafas da Amazônia. 
Perdendo cada vez mais o pudor, a “esquerda moderada” passou a aderir abertamente à cartilha de grandes corporações. As suas novas pautas cabem na sigla ESG (Governança Ambiental e Social, em inglês), inventada no mundo corporativo para o mundo corporativo. E que é o mesmo pacote ideológico que casa identitarismo (ou wokismo, ou progressismo, ou globalismo – chamem como quiser) com mau ambientalismo.
 
Hoje, é tendência global exigir das empresas a adesão ao ESG para poderem ser listadas na bolsa. A Nasdaq já exige quotas para mulheres e LGBTQUIABOs nos conselhos das empresas. Agora imaginemos: no que depender dessas empresas e elas mandam mais do que muito governo inclusive porque financiam parlamentares e ONGs –, quanto tempo falta para obrigar todas as empresas a terem quotas para mulheres, negros e LGBTQUIABOs? 
Basta alegar que quem não seguir tais quotas é racista, machista e homotransfóbico, que toda uma certa imprensa apoiará a medida e difamará os seus críticos. 
Nisso, fecham-se as empresas pequenas, que não têm condições de contratar mulheres, negros, transexuais, anões, e o que mais calhar, só para preencher a quota da lei.
 
[BOM LEMBRAR:
Não Criarás a Prosperidade se desestimulares a poupança.
Não fortaleceras os fracos por enfraqueceres os fortes.
Não ajudaras o assalariado se arruinares aquele que o paga.
Não estimularás a fraternidade humana se alimentares o ódio de classes.
Não ajudarás os pobres se eliminares os ricos.
Não poderás criar estabilidade permanente baseada em dinheiro emprestado.
Não evitarás as dificuldades se gastares mais do que ganhas.
Não Fortalecerás a dignidade e o anônimo se Subtraíres ao homem a iniciativa da liberdade.
Não poderás ajudar os homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si próprios.
Abraham Lincoln.]

E quantas empresas não podem ser fechadas com leis ambientais restritivas de aplicação seletiva? Conversando com pequeno produtor rural, a gente descobre fácil que aquele selo de orgânico é pago e é caro; serve para limitar concorrência. E se o selo de orgânico se tornar obrigatório? Basta mostrar imagens de girafas morrendo queimadas por produtores rurais na Amazônia, e uma certa imprensa apoiará a medida. Quem disser que não tem girafa na Amazônia vai preso por fake news e discurso de ódio contra girafas.

Então podemos dizer que o âmbito estatal está longe de ser o monopolista da ideologização. A nossa visão se clareia se considerarmos que existe um grupo político de veio totalitário, e que esse grupo migrou do Estado para as corporações. Não faz o menor sentido supormos que trocar o ensino público pelo privado acabará com a ideologização. Basta que o ensino caia na mão desses monopolistas da ESG.

Um cenário tenebroso e factível
O que os esquerdistas “moderados” que se dizem liberais não defendem é o livre mercado. Defendem monopolistas, e fazem isto às expensas tanto dos pequenos e médios, quanto da livre escolha do cidadão.

Vejamos o caso da pandemia. A política do confinamento foi adotada como verdade inquestionável, muito embora fosse radicalíssima e, de fato, questionável
Se no caso da imposição das vacinas de Covid é fácil apontar o interesse das Big Pharma, que as vendem para os governos, no caso dos confinamentos muitos apontaram, corretamente, que empresas como a Amazon e o Magazine Luiza tinham tudo para ganhar com a situação, pois quebravam os pequenos e levavam seus clientes.

Ora, outro setor que quebrou com a imposição do confinamento foi o da educação privada. Falidos, os pais passaram a dever mensalidades e as escolas afundaram em dívidas. O resultado disso, no Brasil, foi a compra de vários conglomerados educacionais por Jorge Paulo Lehmann. Ele, que já era o monopolista das cervejas, passou a ser também o monopolista da educação básica. Hoje seu conglomerado de educação básica, o Eleva, é um dos maiores do mundo.

Lehmann é o patrono de Tabata Amaral, que se diz defensora da educação. Que tipo de escola Lehmann ofereceria ao público?

Foquemos ainda em Tabata. Onde houver uma “causa nobre” que envolva compra pelo Estado e distribuição para a população, lá estará ela. Na última vez, foi o caso da bolsa modess. A P&G, que fabrica modess, cunhou a expressão “pobreza menstrual”, arranjou estudos para partir o coração do público e disse que o Estado tinha que comprar modess. E lá estava Tabata para combater a “pobreza menstrual”. É isso que é ser “de esquerda” e “liberal” hoje.

Agora olhemos para o ensino superior privado. Com o PT, o Fies e o Prouni passaram a despejar dinheiro público nos bolsos de conglomerados estrangeiros que saíram comprando as faculdades particulares brasileira. A prática do EAD se disseminou e, ao contrário do que muita gente imagina, trata-se simplesmente de aulas gravadas: a empresa paga a um professor para dar aulas uma vez e não os mantém em seus quadros. 
Disso resulta, para o alunado, que as aulas são todas iguais Brasil afora. Já no ensino básico, estamos familiarizados com módulos, que também podem ser iguais Brasil afora. 
Agora imaginem se um Lehmann consegue um megacontrato com o Estado para se responsabilizar pelo ensino das crianças pobres: como não será esse material didático? 
Tenho todos os motivos para crer que seja tão lacrador quanto Tabata, sua aluna modelo.

O cenário que eu enxergo como muito factível no Brasil é a substituição do ensino público pelo privado. Mas isso tende a acontecer com a queda da qualidade (sempre é possível piorar) e da liberdade. Porque você vai fugir de uma escola e encontrar outra igualzinha, com as mesmas aulas gravadas e as mesmas apostilas.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Os bárbaros contra-atacam - Revista Oeste

 Pedro Henrique Alves

É preciso ser heroico para defender a verdade quando todos decidiram que a verdade é mentira

Fachada do edifício-sede do Supremo Tribunal Federal - STF Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Fachada do edifício-sede do Supremo Tribunal Federal - STF Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Filha da filosofia grega com a cultura ocidental, a democracia moderna traz em seu bojo três valores primordiais: a liberdade individual, a tolerância social e o império das leis. Liberdade para falar o que se pensa, acreditar no que quer, ir para qualquer lugar — temperada com a mentalidade tolerante de suportar e até mesmo abrir espaço para ideias contrárias —, colocando em prática aquilo que o filósofo americano Jonah Goldberg chamou de “milagre ocidental”.

Foi a democraciamaturada em mil caldeirões argumentativos que gestou a mentalidade social que hoje possibilita a existência de uma sociedade em que católicos e protestantes, homens e mulheres, ricos e pobres, héteros e gays, progressistas e conservadores congreguem, produzam e batalhem lado a lado em busca de um país mais bem organizado. Não há outro exemplo na história humana em que pessoas que pensam, creem e defendam pontos de vista profundamente conflitantes tenham habitado os mesmos bares, as mesmas escolas e praças, sentados para tomar cerveja depois do trabalho, gritando e se abraçando em estádios de futebol após um gol. Muito menos que eles, unidos, conscientemente ou não, tenham prosperado juntos em busca de um bem comum, de avanços e melhorias. Parece milagre mesmo.

Mas devemos deixar claro que a democracia está fincada em um paradoxo absurdo entre necessidade de liberdade e necessidade de ordem. Ao mesmo tempo que é o regime político que mais deu liberdade, que unido embrionariamente ao livre mercado mais gestou prosperidade, ofertou tolerância política e religiosa, é simultaneamente o que mais possibilitou o livre advento de idiotas, alienados, déspotas, criminosos, religiosos e sindicalistas fanáticos, todos eles com acesso livre aos microfones políticos e às ágoras modernas — as redes sociais. A mesma democracia que oferece as janelas abertas ao frescor do avanço econômico e científico, é também a que não impede o salto da ordem social quando um louco politicamente sedutor ganha proeminência.

E é isso mesmo. Churchill estava certo quando disse que a democracia nem de longe é perfeita, mas que ainda assim era a melhor das opções. 
O fato é que não há como trancar as janelas sociais sem ferir a liberdade e a tolerância dos bons e dos sinceros que apenas desejam ares frescos.  
Cabe, no máximo, punir os transgressores das regras públicas, cercar de avisos e leis os impulsos e atos que maltratam o terreno comum da sociedade. Mas para por aí. A democracia parte do pressuposto da real liberdade dos indivíduos — e isso não é negociável. Por ser “demasiadamente humana”, também está inevitavelmente embebida das falhas inerentes aos homens.

Daniel Silveira foi proibido de dar entrevistas. Por quê? Porque Alexandre de Moraes não quer

Dessa forma, é bom lembrar a todos que a democracia não é uma força vital inatingível pelas tolices dos tiranos, muito menos uma utopia socialista perfeitamente esculpida pela “ciência” militante. Da mesma maneira que a democracia foi construída, ela pode ser destruída. Está suspensa por uma fina linha de sensatez, assegurada pela sempre madura mentalidade comum, por instituições sintéticas de Estado e pela coragem de alguns chamados a defendê-la em seus inúmeros fronts. E é disso que se trata tudo, os bárbaros voltaram, e agora não há invasões, eles já estão aqui.
A destruição dos pilares da democracia já está em curso, basta olhar com atenção e retirar a trave ideológica dos olhos.[e logo veremos que os destruidores da democracia não são os que estão presos sob o pretexto da prática de atos antidemocráticos = termo para designar as punições que sonegam às suas vítimas direitos que a democracia lhes assegura e usam para tanto o argumento de preservar a democracia.]
 
Os bárbaros voltaram em suas novas peles, em renovados invólucros sociais. A crescente onda de autoritarismo promovida pelo Supremo Tribunal Federal talvez seja o melhor exemplo disso. Estamos naquele sagrado limiar da análise social, o momento exato da transfiguração das impressões críticas em encarnações factíveis. As pedras estão se vertendo em Golem. Não podemos mais enfeitar os atos dos togados brasileiros com frases que buscam abrandar a crítica merecida. Dizer que o STF “flerta com o autoritarismo” não é mais ser prudente: é um erro.  
Um tribunal que prende jornalistas e deputados, cala grupos sociais inteiros, cria regras instantâneas a fim de silenciar críticas e opositores, que assume publicamente cartilhas ideológicas, que tem ministros que falam como chefes de Estado, um tribunal camaleão que deliberadamente assume funções de poderes republicanos independentes. Não se trata de “flertes autoritários”, mas de uma Corte que decidiu abertamente ser despótica, que vestiu deliberadamente as luvas do cesarismo.

Daniel Silveira — depois de ser liberto de uma prisão ilegal — foi proibido de dar entrevistas. Por quê? Porque Alexandre de Moraes não quer. Até o momento não se viu materialidade alguma na prisão de Oswaldo Eustáquio. Também não se enxergou motivo para prender Allan dos Santos, embora seu pedido de extradição tenha sido expedido. [e até o presente momento não deferido - os crimes imputados ao deputado não são crimes nos Estados Unidos da América.] Até o momento, a única possível explicação para os atos do Supremo Tribunal jaz na tirania da Corte.

Para que a democracia exista, precisamos ter uma concordância mínima de valores. Esquerda e direita, progressistas e conservadores que não habitam os extremos ditatoriais devem resguardar e defender as bases que possibilitam uma sociedade livre e tolerante. Os ataques às liberdades individuais e às estruturas jurídicas, antes mesmo de assumirem faces e cores ideológicas, devem ser rechaçados por serem ataques aos valores comuns da democracia.

As liberdades caçadas de Daniel Silveira e Allan dos Santos, mesmo que você os odeie, ferem também a sua liberdade. Não se conhece uma ditadura que tenha silenciado somente os opositores, bem como nunca se viu a gana autoritária de um homem ser plenamente saciada com a repressão de apenas alguns desafetos. O despotismo é uma porta que, depois de aberta, não se fecha de forma pacífica.

Talvez a pergunta fundamental tenha sido feita pela historiadora americana Gertrude Himmelfarb em seu livro Ao Sondar o Abismo: Pensamentos Intempestivos sobre Cultura e Sociedade: Como uma sociedade que louva as virtudes da liberdade, da individualidade, da variedade e da tolerância se sustenta quando tais virtudes, levadas ao extremo, ameaçam subverter aquela mesma sociedade liberal e, com isso, as próprias virtudes”?

A resposta está em uma constante vigilância temperada por um pontual heroísmo de cada um. É preciso ser heroico para defender a verdade quando todos decidiram que a verdade é mentira. É preciso ser nobre para defender os valores corretos quando estamos cercados de tribos que defendem a tirania como condição da liberdade.

Arremata Himmelfarb sobre o assunto: “É necessário um grande esforço de vontade e inteligência para o indivíduo decidir por si mesmo que algo é imoral, e para agir segundo essa crença, quando a lei e as instituições do Estado consideram a coisa permissível e até legal. É preciso um esforço ainda maior dos pais para inculcar tal crença nos filhos, e persuadi-los a agir com base nisso, quando as escolas públicas e as autoridades do governo contradizem tal crença e autorizam o comportamento que a viola”.

O escritor inglês G. K. Chesterton dizia que a história costumava ser sempre salva por um punhado de pessoas comuns que insistiam em não se adequar às sandices de seu tempo. Em O Homem Eterno, ele afirmou que é muito mais fácil ser galho seco na correnteza do que nadar contra ela a fim de defender valores. De fato, é preciso honra e brio para confrontar os bárbaros, quer eles vistam peles de caças ou togas pretas. Não consta nas bibliotecas que as benesses da civilização tenham sido construídas por covardes. Devemos decidir logo se somos galhos ou nadadores.

Leia também “Um deputado é o alvo predileto do carcereiro fora da lei” 

 Pedro Henrique Alves, colunista - Revista Oeste

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

ORGULHO E PRECONCEITO: AS TIAS DO ZAP - Percival Puggina

Em comentário a um artigo que escrevi sobre mazelas nacionais, uma leitora se exclamou dizendo não ver saída nem solução. “O que posso fazer eu, que sou uma pobre tia do Zap?”, perguntou.

A indagação carregava clara desconsideração do próprio valor. Expliquei a ela que a expressão “tia do Zap” foi criada em laboratório com o intuito de suscitar precisamente esse sentimento, levando as mulheres a abdicarem de sua atividade como cidadãs em uma sociedade politicamente conflituosa.

Quem dera muitos milhões de mulheres se acrescentassem aos milhões de tias do Zap já motivadas! De fato, o Brasil já muito lhes deve. Elas estão nas ruas e estão nas redes sociais e estavam na linha de frente da mobilização que promoveu a derrota esquerdista em 2018.

É fácil compreender as razões da importância das mulheres para o apoio à preservação de princípios e valores, a saber: a preservação da inocência das crianças, a valorização do papel da instituição familiar, a defesa do direito ao trinômio vida-propriedade-trabalho, as mais veementes demandas por segurança pública, o combate à criminalidade e ao avanço das dependências químicas, a proteção da juventude contra influências nocivas no ambiente escolar.

Estas pautas são tão inerentes à condição feminina que, se explicitadas, constariam da agenda da imensa maioria das mães, avós e tias do Zap. Sabem por quê? Porque esses apreciáveis bens materiais e espirituais estão sob intenso ataque em todo o Ocidente e onde se façam sentir as filosofias embusteiras, tóxicas e destrutivas que nele prosperam periodicamente.

Tal enfrentamento político e cultural coloca o Brasil e seu atual governo no olho de um furacão publicitário e midiático. A política que rola aqui, em particular a futura eleição brasileira, interessa ao mundo e às suas tias do Zap bem mais do que os acontecimentos nos Estados Unidos, onde os mesmos problemas são enfrentados e onde as tias do Zap foram derrotadas em 2020.

Aos tropeços e por linhas tortas, com falta de meios e experiência, essa é uma empreitada em defesa da civilização ocidental, de sua cultura e de seus valores, frente a um novo totalitarismo emergente. O estrago que já fez mostra aonde quer chegar e certamente as mães, as avós, as tias e as educadoras de verdade percebem-no com cotidiana clareza.

Se há uma guerra contra a cultura ocidental e se essa é uma guerra sem armas letais, seus alvos e vítimas estão na essência do conservadorismo – religiosidade, instituição familiar, história e tradição.

Eis porque vejo com tanta esperança a ação das tias do Zap. Eis porque convivem elas com esse misto de justificado orgulho e malévolo preconceito.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 9 de outubro de 2021

Nem a menstruação escapa da demagogia - Vozes

Luciano Trigo

Como se não bastasse ser genocida, charlatão e curandeiro, o presidente agora está sendo acusado de... não deixar as mulheres menstruarem. Pelo menos é o que se depreende do post de uma deputada: “Bolsonaro, me deixe menstruar!”, acompanhado da hashtag #LivreParaMenstruar, reproduzido abaixo.

Foto: Reprodução

A parlamentar ficou inconformada com o veto de ontem do presidente à distribuição gratuita de absorventes íntimos para estudantes carentes do ensino fundamental, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias.

A proposta fazia parte de um projeto aprovado em agosto pela Câmara dos Deputados e em setembro pelo Senado Federal. Uma coisa a gente tem que reconhecer: mesmo em meio à grave crise econômica provocada pela pandemia, quando o assunto é urgente o Legislativo trabalha com uma rapidez impressionante.  Também cabe observar aqui que a medida beneficiaria não somente as mulheres, mas todas as pessoas que menstruam, aí incluídos os homens trans. O episódio teve grande repercussão nas redes sociais. Fazendo eco à deputada, uma líder feminista também reagiu com indignação ao veto, que, segundo afirma, "não foge da lógica violenta, patriarcal, dominadora, supremacista branca, que é a lógica do governo Bolsonaro e do bolsonarismo".

Bem, surge uma primeira questão aqui. Apesar do veto, o presidente supremacista acaba de sancionar uma lei que institui o Programa da Saúde Menstrual – que eu lembre, algo jamais cogitado por Lula e Dilma, que aliás é mulher. Lula e Dilma, vejam só, também não deixavam as mulheres menstruarem, já que nunca criaram um programa nacional de distribuição gratuita de absorventes. Mas, estranhamente, ninguém jamais reclamou disso. Por que será? [a resposta talvez esteja aqui.]

Dada a aparente urgência urgentíssima do tema, se a lógica ainda existe, só há três alternativas:  
ou durante governos passados não existiam estudantes carentes, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias; - ou essas mulheres não menstruavam; 
- ou, por coerência, a líder feminista também deve considerar violenta, patriarcal, dominadora e supremacista branca a lógica dos governos citados.

Pior ainda. Segundo o programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, que foi ao ar ontem, quando era prefeito de São Paulo Fernando Haddad vetou um projeto semelhante, com o argumento de que não havia “fundamento técnico-científico para que a proposta se tornasse um programa municipal”: “A consecução da medida (...) [iria] acarretar significativas despesas ao erário público, em prejuízo dos investimentos com recursos efetivamente indispensáveis à saúde da mulher, tais como medicamentos e materiais médico-hospitalares, não constituindo, ademais, atribuição da Secretaria Municipal da Saúde o fornecimento de produtos de higiene”, declarou Haddad, na época.

Toffoli engaveta pedidos de investigação das offshores de Guedes e Campos Neto

Foi em dezembro de 2015: a Câmara Municipal de São Paulo tinha aprovado o projeto, e Haddad vetou. Sabem o que aconteceu? Zero indignação de artistas e cantoras. Zero escândalo nas redes sociais. Zero revolta de jornalistas e políticos. 
Ora, ou o que Haddad disse faz sentido e o veto de Bolsonaro também; ou ambos são genocidas impiedosos e malvadões: não dá para criticar um e passar pano para o outro. É muito relativismo moral. É muita desonestidade intelectual. Mas ninguém liga.

Porque a verdade é que qualquer coisa que Bolsonaro faça ou deixe de fazer serve de pretexto para causar ondas de revolta e indignação nas hordas do progressismo, do antifascismo hipster e da ostentação exibicionista da virtude. Essas pessoas dizem pregar o amor e a tolerância, mas estão sempre com sangue nos olhos e faca entre os dentes, prontas a perseguir, esfolar e destruir qualquer um que delas se atrever a discordar. Seus propósitos nobres justificam tudo.

Chega a ser comovente a união de intelectuais, artistas, jornalistas da grande mídia e estudantes doutrinados na escola com partido no exercício diário do direito de praticar o “ódio do bem”. Estão todos viciados em apontar o dedo, denunciar e pedir censura – tudo na defesa da democracia e da liberdade, vejam só. O veto aos absorventes é só mais um pretexto para o prazer de odiar. (Aliás, o mal compreendido George Orwell também previu isso: em “1984”, os cidadãos têm direito a dois minutos de ódio por dia: eles devem interromper tudo que estiverem fazendo para xingar e ofender o inimigo da vez, em um ritual de catarse coletiva. Jamais subestimem o poder do ressentimento.)

    Ou o que Haddad disse faz sentido e o veto de Bolsonaro também ou ambos são malvadões: não dá para criticar um e passar pano para o outro.

Voltando aos absorventes, o senso de timing do Legislativo também é impressionante. Após quase dois anos de uma pandemia cruel que paralisou a economia do país, levando o Governo a gastar, só até junho deste ano, R$ 557 bilhões em ações de resposta à Covid-19 (dos quais R$ 311 bilhões com o auxílio emergencial, mas isso a mídia não mostra), eis que de repente a distribuição gratuita de absorventes se tornou o grande problema da sociedade brasileira como, aliás, se torna o grande problema da sociedade qualquer assunto que sirva para enfraquecer o monstro genocida e curandeiro.

Uma internauta perguntou, retoricamente: “Para quem passa fome, quando que vai sobrar dinheiro para comprar absorvente?” Ora, justamente: a prioridade agora não deveria ser tentar garantir que todos tenham o que comer?  
Ou a distribuição de absorventes, algo que nunca foi feito por governo algum (mesmo em contextos econômicos bem melhores), deve vir na frente?

Ora, se até a economia podia “ficar para depois”, como bradavam os defensores do lockdown radical, a distribuição gratuita de absorventes não pode ficar para depois? Aliás, os mesmos que gritavam que “a economia pode esperar” são os que agora reclamam da crise econômica e a atribuem ao presidente. Incoerência ou cinismo?

Mas não, segundo todos os especialistas ouvidos pela grande mídia (como blogueiros, youtubers, atrizes de telenovelas e cantoras de funk), a distribuição gratuita de absorventes – que, aliás, seriam obrigatoriamente produzidos com materiais sustentáveis, como determinava o projeto de lei – não pode ficar para depois. Tem que ser agora.

Falta emprego, faltam lápis e professores nas escolas, faltam segurança e paz nas comunidades, falta qualidade em todos os serviços públicos mas a prioridade deve ser combater a “violência menstrual”. O Brasil não é mesmo para amadores.   

Luciano Trigo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES