Das 159 petições em Curitiba, onze pediam o
afastamento de Moro e da força-tarefa
Desde
setembro de 2016, quando o ex-presidente Lula virou réu no caso do
tríplex do Guarujá, a defesa do petista trava uma batalha de recursos
judiciais com a força-tarefa da Lava-Jato, que resulta em uma
petição levada ao Judiciário a cada três dias. A conta leva em consideração
pedidos que chegaram à primeira e à segunda instâncias nas três ações penais
que ele responde no Paraná. Ao todo, foram 159 medidas judiciais, sendo que 11
petições tiveram o propósito de afastar o juiz Sergio Moro e os procuradores de
Curitiba das investigações, além de tentar anular sentença que condenou o
ex-presidente a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O
levantamento feito pelo GLOBO inclui pedidos como habeas corpus, mandados de
segurança, embargos de declaração, requerimentos simples e até mesmo a apelação
de Lula que será julgada amanhã, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Somente no caso do tríplex, a defesa ingressou com 78 petições, o equivalente a
uma medida interposta a cada seis dias. Comparada à defesa de outros réus da
Lava-Jato, a defesa de Lula vai à Justiça com muito mais frequência. Os
advogados do ex-deputado Eduardo Cunha, por exemplo, ingressaram com um recurso
a cada 18 dias. Já a defesa do ex-ministro Antônio Palocci entrou com uma
petição a cada 13 dias.
Para
marcar posição na cidade do julgamento, onde um grande número de manifestantes
chega para protestos contra e a favor do petista, Lula desembarca hoje em Porto
Alegre e deve participar de um ato que deve ocorrer a pouco quilômetros da sede
do TRF-4. A visita foi anunciada em encontro com sindicalistas, e Lula avisou,
mesmo sem saber sobre o resultado, que o estoque de recursos está longe de
terminar. — Amanhã
estou indo para Porto Alegre agradecer a solidariedade do povo que está lá se
manifestando. Vou tranquilamente aguardar o resultado e vou recorrer — afirmou
o petista.
Uma das
iniciativas mais recentes da defesa de Lula ocorreu no último dia 16, quando
pediu que o ex-presidente fosse novamente interrogado pelos desembargadores do
TRF-4 antes de ser julgado. Lula alega violação de garantias fundamentais, como
o direito de ser ouvido por um juiz imparcial e isento, o que, segundo a
defesa, não teria ocorrido com Moro em Curitiba. O pedido, negado pela corte,
reforça o tom do discurso dos advogados do petista, cuja principal tese é de
que ele é vítima de lawfare — nome usado quando o estado usa a Justiça
como ferramenta para perseguir alguém.
Nem o
relator dos casos na segunda instância, o desembargador federal João Pedro
Gebran Neto, ficou de fora da mira dos advogados. Lula alegou que o magistrado
teria uma amizade “estreita e íntima” com Moro e que esse vínculo poderia
interferir no julgamento da causa.
Para
Gustavo Badaró, professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP),
a grande quantidade de petições simboliza, por um lado, o zelo da defesa para
marcar posição ao longo do processo, embora também se reverta em um grande
número de decisões desfavoráveis, já que, em muitos casos, os advogados de Lula
recorrem em temas que, notoriamente, têm a discordância dos tribunais.
— Nada
nesse processo é normal. O ritmo com que a apelação do ex-presidente tramitou
no TRF também não é. Por isso, essa questão, além de ser um estilo da defesa,
também pode ser analisada como uma reação a uma Justiça que trata desse caso
com celeridade — opina Badaró.
EXEMPLOS
DE RECURSOS NEGADOS NO TRF-4
• Pedido
de exceção de suspeição contra o desembargador João Pedro Gebran Neto• Pedido
para afastar procuradores da Lava-Jato • Dois agravos e um habeas corpus
pediam produção de novas provas na ação do tríplex• Uma queixa-crime contra
Moro• Habeas corpus negado a Lula para anular a sentença• Pedido para suspender
processo do tríplex• Sete pedidos para tirar Sérgio Moro do caso
**Apenas recursos já analisados pela Corte
OUTROS
PROCESSOS CONTRA LULA EM CURITIBA
•
Acusação sobre propina da Odebrecht por meio de apartamento de São Bernardo e
da compra de nova sede para Instituto, em São Paulo: 79 • Ação Penal do
Sítio de Atibaia: 4
Fonte:
Justiça Federal*De 20/9/2016
DEFESA:
RECURSOS PROPORCIONAIS ÀS ILEGALIDADES
Cristiano
Zanin Martins, advogado de Lula, afirma que o número de recursos apresentados
pela defesa é proporcional ao “número de ilegalidades ocorridas ao longo do
processo”.
“O
processo tramitou em local errado, perante um juiz que havia perdido a
imparcialidade, com a participação de procuradores que violaram de forma
sistemática garantias fundamentais, negando à defesa a produção de provas e
resultou em uma sentença condenatória que deve ser reformada porque é
insustentável”, afirmou o advogado por meio de nota.
Colaborou Sérgio Roxo - O Globo
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