Nos
últimos dias, Lula exibe um temperamento corrosivo. Irritadiço, pronuncia um
palavrão atrás do outro. Já não exibe o mesmo sentimento de invulnerabilidade
que ostentava há duas semanas. Aos poucos, percebe que era prisioneiro de uma
fábula. Vivia a ilusão de ser o protagonista de uma ofensiva política. Contava
com a solidariedade de multidões inexistentes. E imaginava que, criando um
clima de conflagração, conseguiria amedrontar o Judiciário. Deu tudo errado.
Lula
habitava o lado avesso da realidade. De repente, beijou a lona duas vezes.
Numa, foi abatido pelo 3 a 0 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Noutra,
dobrou os joelhos com o indeferimento relâmpago de um habeas corpus preventivo
no Superior Tribunal de Justiça. Por absoluta falta de um plano de
contingência, Lula manteve a língua em riste. Mas até seus devotos mais leais
já admitem que o arsenal retórico do pajé do PT sofre o que os aviadores chamam
de cansaço de materiais. Inelegível,
Lula frequenta as manchetes há 11 dias como um corrupto de segunda instância. E
não há vestígio de agitação nas ruas. A vida cotidiana do brasileiro que molha
a camisa para encher a geladeira não se distanciou da normalidade. Mesmo o
“exército do Stédile” e os militantes sindicais da CUT retornaram para casa.
Dormem sem remorso e acordam sem culpa para o seu café-com-leite.
Às
vésperas do julgamento em que o TRF-4 confirmou a sentença de Sergio Moro no
caso do tríplex do Guaruja, a presidente do PT, senadora e ré Gleisi Hoffmann, dizia coisas
assim: “Para prender o Lula, vai ter de prender muita gente, mais do que isso,
vai ter de matar gente.” O líder do petismo no Senado, Lindbergh Farias,
acrescentava: “A gente tem que ter uma outra esquerda, mais preparada para o enfrentamento, para as lutas de rua. Chega! Não é hora de uma esquerda frouxa,
burocratizada, acomodada.”
Lula está
cada vez mais próximo do complexo-medico penal de Pinhais, o presídio onde
estão trancados os ladrões da Lava Jato. E o único cadáver que surgiu em cena,
por ora, foi o da candidatura presidencial do ex-mito do PT, enterrada pela Lei
da Ficha Limpa. Quanto aos aliados de “esquerda”, foram cuidar da própria vida.
Indiferença? Covardia? Não, apenas instinto de sobrevivência política. As
derrotas judiciais carbonizaram a estratégia política de Lula. O Plano A
era chamar de “golpe” todas as decisões adversas, desqualificar Sergio Moro,
amedrontar o Judiciário e arrancar do TRF-4 o placar de 2 a 1, que daria
ensejo a recursos cuja apreciação não ocorreria antes do registro da
candidatura no Tribunal Superior Eleitoral. O Plano B era, era… Não
havia Plano B.
O
grão-companheiro e a companheirada não admitiam a hipótese de o Plano A
falhar. Por isso, não planejaram a sério um caminho alternativo. Agora,
improvisam um Plano B em cima do joelho. O petismo rachou. Um grupo
sustenta que o melhor Plano B é levar o Plano A às
últimas inconsequências. Outro grupo, minoritário, está atrás de uma saída que
livre o PT do fiasco. O que une as duas alas é o receio de que, façam o que
fizerem, Lula não escapará de uma temporada atrás das grades.
Prioridade
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