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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Eike Batista revela situações inusitadas na prisão e sonha com futuro na política

Empresário, que pretende concorrer ao Senado, diz ter feito 36 amigos durante o período em que ficou preso



Eike Batista continua com a energia impressionante de sempre. Seu otimismo também permanece intocado. Nem parece um homem que perdeu US$ 34 bilhões, ficou preso três meses em uma cela de 12 metros quadrados em Bangu e ainda responde a processo que pode lhe colocar de volta na cadeia. Eike me recebeu em seu escritório na Praia do Flamengo. Estava acompanhado pelo filho Thor, por um advogado e um assessor.

Falou de seus planos imediatos e futuros e revelou que foi convidado e estuda se candidatar ao Senado. Não disse por qual partido, nem se a decisão está tomada. Mas não conseguiu esconder entusiasmo com a ideia. Não por palavras, mas o brilho nos olhos era visível. Também contou da sua rotina no presídio de Bangu.

Eike falou dos empréstimos que tomou do BNDES. Diz que pegou dinheiro para projetos estruturantes, e "não para comprar frigorífico", por isso julga que o banco apenas cumpriu com sua obrigação. Afirma que deu aval pessoal a cada um dos empréstimos e que obteve seguro de bancos privados. Antes de quebrar, vendeu os projetos para gigantes da economia brasileira e global que assumiram a dívida com o banco.

Leia a íntegra da entrevista abaixo:

Quais são seus planos agora?
Quem sabe alguma coisa na política. 

Vai se candidatar? Quer ser deputado?
Não, senador. Estou estudando isso. Vamos avaliar. Estou conversando com partidos. Já me procuraram, mas eu prefiro não comentar por ora. Tem muita gente que acha que eu posso contribuir. Não tenho nenhum impedimento judicial. Nâo fui sequer julgado em primeira instância (A Lei da Ficha Limpa barra candidaturas de condenados em 2ª instância).

Você está buscando foro privilegiado?
Não. Eu quero ajudar. Eu preciso me reinventar. Hoje, sou provavelmente a maior fake news do mundo. Ninguém sabe o que eu fiz pelo Brasil. Vou mostrar o que eu já fiz. Eu trouxe para o Brasil US$ 40 bilhões em investimentos. Eu vou ajudar a não deixar projetos desnecessários serem construídos.

Você vai parar de trabalhar, seus negócios?
Não vou parar de trabalhar. Blairo Maggi está lá. Ele toca os negócios e a política. Acabou de comprar as fazendas do Olacyr de Moraes. 

Como está sua delação? Ela foi recusada?
A procuradora Raquel Dodge não viu elementos na minha "reserva de memória" para fazer uma delação. De qualquer forma, como empresário não tenho o que dizer.

Quanto dinheiro você perdeu?
Todos os meus ativos foram levados para saldar as contas depois da corrida bancária contra mim. Eu tinha US$ 34 bilhões. Agora, estou virando consultor. Posso ganhar muito dinheiro com isso. Vai ser a Eike Batista Consulting. Como não tenho capital, eu posso entrar com suor e o cara me dá um pedaço do negócio. Sempre soube que eu poderia pintar novos quadros.

Entrevista ao GLOBO
Você já está fazendo contatos?
Eles é que me procuram. As pessoas querem saber minha visão de Brasil, de mundo, minha visão de energia. 

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui



Em março agora vou receber 30 estudantes de Stanford que querem me ouvir. Estão vindo porque na cultura dos americanos, fracasso é considerado um aprendizado. E hoje, modéstia à parte, eu sou um empresário melhor ainda.


E negócios, você vai abrir novos negócios?
Não. Eu estou ajudando pessoas a montar coisas. Porque meu dinheiro hoje é de segurança, não tenho os recursos que eu tinha lá atrás. E, você vai rir de mim agora, lendo o livro The Originals, do Adam Grant, percebi que eu sou um "original", que é um executivo empreendedor que não gosta de risco.


Você deu dinheiro a Sérgio Cabral?
Dei dinheiro via campanha para ele. Mas sem contrapartida. O Açu eu fiz sozinho com capital próprio e de estrangeiros. Ele não tinha nada para me dar. Nem redução de impostos, já que o Norte Fluminense tem uma regra fiscal própria, porque o IDH de lá é parecido com o do Nordeste do Brasil e os impostos já são mais baixos. Sérgio Cabral era um pidão. Depois que aconteceu aquele acidente horroroso na Bahia, eu disse que jamais emprestaria avião meu para políticos outra vez. Nunca mais emprestei. (Em junho de 2011, Cabral viajou para Porto Seguro num avião de Eike. De lá, um grupo que estava com ele embarcou num helicóptero para Trancoso, que caiu deixando três mortos) 

E sua relação com o BNDES? Você pegou muito dinheiro no BNDES?
No total dos projetos, foram R$ 3 bilhões no Açu, talvez R$ 10 bilhões na Termelétrica do Nordeste, tudo lastreado, com contratos de 20 anos. Neste projeto, o BNDES representou 50% do investimento total, no Açu foi uma fração. E no Porto do Sudeste, outros R$ 3 bilhões. Mas isso tudo num contexto de R$ 120 bilhões de investimentos. O BNDES deveria ter participado com muito mais.
Foi muito dinheiro, não dá para negar. No contexto de R$ 120 bilhões não é muito dinheiro.
Eu acho que é. São cerca de 15% do total. 

O BNDES não perdeu nenhum centavo. Os novos sócios assumiram todas as dívidas. Veja isso, o projeto de energia tem recebíveis do governo, do sistema elétrico, de uns R$ 50 bilhões. O Açu ficou com um fundo gigante americano. O Sudeste ficou com o Fundo Soberano de Abu Dhabi. E a termelétrica com a família Moreira Salles. Mamma mia.

O BNDES não foi muito bondoso com você? Não fugiu do padrão dele? 
Meu Deus. Se eu fosse para comprar um frigorífico, estaria totalmente fora. Eu estava totalmente enquadrado no padrão de financiamentos do BNDES, com projetos estruturantes. Ainda me fizeram pagar 1,5% de seguro para os bancos. Se não fossem nossos projetos de energia, tinha apagão no Nordeste. Nossa usina gera lá 30 mil MW/h, ou 30% de Itaipu. E ainda dei o meu aval pessoal. Não tenho certeza, mas acho que os Batista não deram o aval pessoal. O brasileiro não dá aval pessoal. Significa confiança no projeto, porque, se ele afundar, seu patrimônio vai junto. Foi o que aconteceu comigo. O projeto do porto do Açu é tão importante que o governo deveria ter entrado, ajudado e mantido o negócio na mão de brasileiros. Hoje, isso é 100% estrangeiro.

Como foram seus 90 dias de prisão?
No começo foi engraçado. Toda a hora vinha gente da SEAP (Secretaria da Administração Penitenciaria), passava em frente à minha cela e olhava para dentro. Gente curiosa, querendo checar se era eu mesmo. Eu me sentia como um tigre branco de bengala, um albino, né? Mas é um negócio enorme. Aquele "claque" que a porta faz quando se fecha, depois que você entra, é duro. E a prisão vai te consumindo. 


Como era a sua cela?
Fui preso na Cadeia de Bandeira Estampa, em Bangu, que é para quem não tem curso superior completo. Eu fiz só dois anos de faculdade. Fiquei com duas outras pessoas na cela de 12 metros quadrados. Graças a Deus, um deles tinha um TOC, e era o TOC certo, que é o de limpeza. Ele toda hora passava álcool nas coisas. Porque o mais importante na cadeia é manter a saúde bem. No primeiro dia que você chega, você ouve aquela recomendação: "Faz de tudo para você não ir para a UPA, porque se você for para a UPA vai pegar tuberculose". A incidência de tuberculose é alta nos presídios, e essas pessoas com a doença são levadas para serem tratadas na UPA, que vira um foco. Então, regra número um na cadeia, faça de tudo para não ficar doente. Higiene é fundamental. 

Você teve medo de ser agredido de alguma forma?
Bate um medo, sim. Eu tive sorte, porque na minha ala lá era especial de milicianos. E eu sempre ajudei muito a polícia do Rio via as UPPs. Dei R$ 80 milhões para a polícia pacificadora. Neste caso, parei no lugar certo e num ambiente adequado.

Sim, aí tem uma coisa que é marcante. Tem muita gente boa na prisão. Metade das pessoas que estão lá não deviam estar lá. Tinha um grandalhão na cela em frente à minha, que pegou três anos porque entrou numa Lojas Americanas, pegou um ar condicionado e saiu andando. Aí você tem que ver que tipo de penalidades são impostas. É uma desproporcionalidade gritante. O garotão que traficou 200 gramas de maconha ou um tanto de cocaína levar um caminhão de anos de cadeia não faz sentido. Como alguém que gosta de resolver problemas, eu sugiro que se coloque a família nessa equação. Faz a família assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), para quem pode, porque tem gente que não tem família. Os que têm, dividam a responsabilidade com a família. Aí eles vão comer bem, viver num ambiente melhor. Dentro da cadeia, ninguém se ressocializa. Muito rapidamente você se corrompe, até para comer melhor. A comida é tão ruim que o cara vai fazer qualquer coisa para arrumar um dinheiro e comer alguma coisa diferente, melhor, na cantina.

Você recebeu muito pedido de ajuda lá dentro?
Metade dos 36 amigos que fiz na cadeia era achacada por seus advogados, que chegam lá para literalmente extorquir suas famílias. Chegam e dizem, preciso de dois mil para fazer isso ou aquilo, e a família humilde acaba dando o que não tem. São que nem chacais, vão lá e tiram o último dinheiro da família. Aí os caras me vêm, esbarram em mim e pedem ajuda numa coisa ou em outra. Tentei ajudar alguns, mas procurei evitar para não virar outra bagunça. 

Como funcionam as transações com dinheiro dentro do presídio?
É deprimente ver as fiscalizações feitas dentro do presidio em busca de dinheiro que entrou ilegalmente. Fazem a gente ficar encostada na parede, de cara contra a parede, com as mãos no alto, também apoiadas na parede, vem e apalpam a gente, procuram em cada parte do seu vestuário. Até nos chinelos, tem que virar o chinelo, porque descobriram que alguns colavam o dinheiro na sola do chinelo. Os caras são engenheiros lá dentro. E os policiais vão tirando o dinheiro que encontram. Tem gente que se agarra a quatrocentos reais como se fosse sua vida, porque vai ter que usar aquele dinheiro o mês inteiro para comer alguma coisa melhor na cantina. Quando vinha o Batalhão de Choque para uma batida, entravam uns caras gigantescos fazendo aquele bum, bum (faz o gesto do cassetete batendo no escudo) que nem no Império Romano. Só com o bum, bum você já fica com medo. Já os carcereiros, nota mil. Aquela ideia de filme e de carcereiros violentos não existe. Tiro meu chapéu. Cinco caras por turno, controlando 500 homens. Incrível.

Como você fez para suportar estes meses na cadeia?
Os evangélicos tinham cultos uma vez por semana. É impressionante como a fé faz os caras aceitarem a situação. Um sujeito com 20 anos de cadeia, acaba resignado por causa da fé. Sei lá, eles acham uma solução para suportar aquele tranco lá. Impressionante. Eu tenho fé, não que eu faça um culto. Minha âncora era acreditar, lembrar que eu sempre só fiz o bem, então eu pensava "uma hora eu vou sair e isso vai ficar claro, vou voltar a fazer negócios, criar de novo". Mas tinha horas duras. Me sentia injustiçado. E cada atraso no processo que culminou com a minha soltura dava uma queda de ânimo. 

Superstições
O misticismo é um dos traços da personalidade do empresário. Veja alguns aspectos da espiritualidade dele.

Você se desesperou?
Não me desesperei, até porque o Fernando, meu advogado, me visitava três vezes por semana, e a conversa era reconfortante, mesmo que você fale com um vidro no meio e por um telefone horroroso. E a Flavia, minha mulher, que foi lá todos os dias. Como ela é advogada, ia na condição de advogada. 

Teve visita íntima?
Visita íntima não havia. Ela ia como advogada. Por isso que ela podia ir todos os dias. 

E como era o dia a dia na prisão?
As regras do presidio para mim eram mais rígidas. Para mim só tinha uma hora de sol por dia e só durante a semana. Final de semana, 12 metros quadrados, com dois outros caras, fechado. 

E o sanitário? Era o famoso boi?
Ruim é o cheiro, que é bem desagradável. Mas tem algumas técnicas. O chuveiro está logo em cima, então você pode deixar o chuveiro ligado e fazer as necessidades. Aí a água escorre tudo muito rapidamente. Some logo e o cheiro some também. Mas os caras não têm técnica. Eu cagava sem cheiro. Parece brincadeira, mas é um fato. Você precisa estar no ângulo certo, para que aquilo escorra rapidamente com a água do chuveiro. Eu dividia a cela com duas pessoas. Uma delas, um doleiro grandalhão, pela sua estatura, tinha dificuldades no boi. A gente ficava ensinando a ele, vai mais pra frente, vai mais pro lado.
Eu fazia muitas flexões na cela. E, com o apoio das grades, eu fazia agachamento para fortalecer as pernas. Na minha hora de pátio, eu ficava correndo. Só me deixavam ficar num pátio interno pequeno. E eu ficava dando voltas, como um hamster. Dava cem voltas cada vez. 

OGX (atual OGPAR)
Menina dos olhos de Eike, a petrolífera era a âncora dos negócios do grupo. Pediu recuperação judicial em 2013, com dívida superior a R$ 11 bilhões. Hoje é controlada pelos credores. Após conclusão da reestruturação, Eike terá apenas 1,5% da empresa.

Você não fica deprimido? Tudo o que você montou hoje está nas mãos de outros?
Não. Eu vou fazer de novo. E eu já sei onde.
Onde?
No lugar certo.
Alguns dos executivos que trabalhavam para você estão mais ricos do que você hoje...
Estão, mas não por muito tempo.
Você faz terapia?
Me considero autorresolvido.

O Globo



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