A ideia
da intervenção do governo federal na Segurança do Rio veio tarde e é curta. O
governador Luiz Fernando Pezão precisa ir embora. Não tem saúde, passado, nem
futuro para permanecer no cargo num estado falido, capturado por uma
organização criminosa cujos chefes estão na cadeia. Como? Ele desce do
gabinete, entra no carro e vai para casa. Na
quinta-feira, quando esteve no Planalto, Pezão disse a Temer que a situação da
Segurança Pública do Rio saíra do seu controle. Ao deputado Rodrigo Maia,
mencionou a “calamidade” e acrescentou: “Não podemos adiar nem mais um dia.” Há
duas semanas, o mesmo Pezão se orgulhava da qualidade e da eficiência de suas
polícias, reclamando do que seria uma “cobertura cruel.”
Desorientado
(há tempo), o governador construiu um caso clássico para demandar uma
intervenção ampla, geral e irrestrita no Rio. Nada a ver com o que se armou no
Planalto. [faltou ao presidente Michel Temer coragem para a intervenção necessária e inventou uma intervenção 'meia sola' que não vai funcionar.
Devido a leniência - melhor dizendo, conivência - da legislação brasileira, notadamente a Constituição Federal, que facilita a impunidade e dificulta qualquer operação policial séria para real e efetivamente combater a criminalidade, o Exército vai encontrar dificuldades para cumprir a missão - quando começarem as primeiras operações que resultarão em prisões, que necessitarão de operações de cerco (com restrição ao decantado direito constitucional de ir e vir) busca e apreensão que demandam rapidez na execução sendo altamente provável que a espera pelos devidos mandados comprometa o êxito da ação, quando os bandidos presos forem levados a 'audiência de custódia' e o Juiz, no exercício de sua autoridade legal, decidir pela soltura da maioria, restará ao Exército decidir entre:
- pegar o boné e abandonar a missão - o que não é, nunca foi, e nunca será, feitio das Forças Armadas do Brasil;
- ou exigir do presidente Temer condições para cumprir a missão o que exigirá a aplicação do único remédio: Estado de Sítio'.]
Sérgio
Cabral (patrono de Pezão) e Jorge Picciani (“capo” do PMDB) não estão na cadeia
pelo que fizeram na Segurança. Ambos comandaram a máquina corrupta que arruinou
as finanças, o sistema de ensino e a saúde pública do estado. A corrupção e a
inépcia policial são apenas o pior aspecto da ruína. Colocar
um general como interventor no aparelho de Segurança, sem mexer no dragão das
roubalheiras administrativas, tem tudo para ser um exercício de enxugamento de
gelo. Ou algo pior: o prosseguimento de uma rotina na qual as forças policiais
invadem bairros pobres e proclamam vitória matando “suspeitos.”
A
intervenção proposta por Temer coloca Pezão e seus amigos no mundo de seus
sonhos. Num passe de mágica, o problema do Rio sai do Palácio Guanabara (onde
mora há décadas) e vai para o colo de um general. Esse semi-interventor
assumiria com poderes para combater o crime organizado. O Planalto deve burilar
sua retórica, esclarecendo que não se considera crime organizado aquilo que o
juiz Marcelo Bretas vem mostrando ao país.
Temer
conhece a Constituição e sempre soube que podia decretar a intervenção federal
no governo do estado. A Constituição impede que se promulguem emendas
constitucionais havendo unidades sob intervenção, mas a reforma da Previdência
poderia ser votada na Câmara (se fosse) para ser promulgada no dia da posse do
governador, em janeiro de 2019. [o único responsável pelo atraso na promulgação da reforma da Previdência é Rodrigo Janot, que deveria ser denunciado e responsabilizado por este atentado contra a Nação Brasilia.
Ao apresentar denúncias sem provas, o ex-acusador-geral da República provocou a divisão de esforços por parte do governo Temer e com isso retardou, por demais, a discussão da reforma em questão.]
Há um
cheiro de marquetagem na iniciativa: a reforma seria congelada por causa da
intervenção na Segurança do Rio. Patranha. Ela encalhou por falta de votos e a
intervenção, podendo ser integral, será light. Temer, que presidiu o PMDB até
ser substituído pelo notável Romero Jucá, estancou a sangria, ajudou os
correligionários que destruíram o estado e jogou a batata quente no colo de um
general. A saída
de Pezão permitiria o desmantelamento do esquema de poder do PMDB antes da
eleição de outubro.
Sérgio Cabral e Picciani, “capos” dessa máquina, estão
trancados, mas ela está viva. Leonardo, filho de Picciani, é o ministro do
Esporte de Temer, cujo governo tem dois ex-ministros na cadeia (Geddel Vieira
Lima e Henrique Alves). Todos do PMDB, como o ex-governador Moreira Franco,
conselheiro especial do presidente. A
intervenção federal permitiria que o Estado do Rio passasse por uma faxina. Até
a posse do governador que será eleito em outubro, o interventor poderia
desmantelar a teia de ladroagens que arruinou o estado. Quem seria esse
interventor? Para que a conversa possa prosseguir, aqui vão dois nomes: Pedro
Parente e Armínio Fraga. Os dois estão bem de vida e odiariam a ideia, mas
nasceram no Rio e sabem que devem algo à terra. Parente administrou a crise de
energia no governo de Fernando Henrique Cardoso e está ressuscitando a
Petrobras. Deem-lhe uma caneta e alguns pares de algemas e ele ergue o Rio.
Esse
seria um cenário de emergência para uma situação de calamidade. Pode parecer
ideia de maluco, mas nem o maior dos doidos poderia imaginar que, em menos de
cinco anos, o Rio chegasse onde chegou.
Paris 2.0
Cozinha-se
a possível nomeação do senador e atual chanceler Aloysio Nunes Ferreira para a
embaixada do Brasil em Paris. Temer
faria a mudança ao apagar das luzes de seu governo, retribuindo a lealdade que
recebeu do tucano. Uma vez em Paris, quase certamente ele seria mantido pelo
novo presidente.
O retorno
de Nunes Ferreira a Paris contará uma grande história. Em 1968, ele chegou à
França fugindo da polícia. Era o “Mateus”, eventual motorista de Carlos
Marighella e participara de dois assaltos. Durante um breve período ele foi o
embaixador da Ação Libertadora Nacional na França.
Na sua
segunda embaixada, Nunes Ferreira não passará pelas ansiedades de “Mateus”.
Praga da
ciclovia
Em 2016,
quando a ciclovia Tim Maia desabou, matando duas pessoas, o então prefeito do
Rio, Eduardo Paes, estava na Grécia. Choveu, a Tim Maia desabou de novo, e o
prefeito Marcelo Crivella estava sabe-se lá onde, na Europa, longe da chuva que
matou quatro pessoas.
Seria
melhor se os doutores se candidatassem a viver no circuito Elizabeth Arden e
fossem mandados para as cidades de seu gosto, com tudo pago.
Sem nexo
O
empresário Joesley Batista disse à Polícia Federal que, na sua conversa noturna
com Michel Temer, fez um sinal com os dedos indicando que colocaria dinheiro
nas suas tratativas com Rodrigo Rocha Loures.
Joesley
tinha um gravador escondido, recorrer a um gesto não faria o menor sentido.
Seria o único caso em que o grampeador evita o próprio grampo. Se Joesley tivesse dito isso antes, teria feito
a festa do advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que conseguiu defender
Temer na Câmara. [quando insistimos na responsabilidade de Rodrigo Janot pelo fracasso da reforma da Previdência alguns nos contestam, mas, o acima prova mais uma vez falta de credibilidade e vergonha da principal testemunha de acusação contra Temer.
Que tem também a reforçar aludida falta, o escandaloso flagrante armado.]
Elio Gaspari, Jornalista - O Globo - MATÉRIA COMPLETA
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