A CASSAÇÃO DE SELMA ARRUDA
O jingle de campanha apostava na fama de durona:
“Com pulso forte, pôs bandido no xadrez / Do sul ao norte, ninguém faz o que ela fez”.
No ano passado, a juíza Selma Arruda virou fenômeno eleitoral em Mato Grosso. Na onda da Lava-Jato, tornou-se a senadora mais votada do Estado.
Eleita, Selma continuou a investir na pregação moralista. Em março, disse ter “vergonha” do Supremo Tribunal Federal e passou a militar pelo impeachment de ministros da Corte. A proposta não teve apoio oficial do governo, mas abriria novas vagas a serem preenchidas pelo presidente. Em agosto, a senadora voltou à tribuna para defender “um Brasil melhor e menos corrompido”. No mesmo discurso, acusou a OAB de defender organizações criminosas e disse que a Constituição “não foi feita para ocultar bandido”. [talvez, o termo ocultar bandido seja inadequado, mas, toda lei - de uma Portaria à Constituição Federal - que dificulta a punição de bandidos, permite múltiplas interpretações, facilita o combate aos bandidos.]
Quando o Intercept Brasil começou a revelar os diálogos impróprios da Lava-Jato, a ex-juíza direcionou sua ira aos jornalistas. [diálogos cuja autoria, até hoje - podemos considerar que nunca serão autenticados, além da grande possibilidade de terem sido forjados, não podem ser periciados, devido não ter havido uma cadeia de custódia.] Depois disse que a operação “nos levou às urnas vestidos de verde e amarelo, para votarmos num Brasil melhor”.
Em setembro, Selma reforçou a campanha por uma CPI para investigar os tribunais superiores. “Nós precisamos de limpeza, precisamos do fim da corrupção”, bradou. Ela conclamou o povo a ir às ruas com “aquela camiseta amarela na qual está escrito que o meu partido é o Brasil”. A mesma usada por Bolsonaro na campanha ao Planalto.
Enquanto posava de vestal, Selma era investigada por abuso de poder econômico e caixa dois. De acordo com a Procuradoria, ela escondeu gastos de R$ 1,2 milhão na campanha. Apesar do lobby de Moro, o TSE cassou seu mandato na terça-feira. Agora o contribuinte terá que pagar mais R$ 9 milhões por uma nova eleição.
Bernardo M. Franco, colunista - O Globo
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