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domingo, 11 de agosto de 2019

Toffoli, o ministro que colabora - O Globo

Bernardo Mello Franco

Nem Moro, nem Guedes. Em sete meses de governo, o ministro que mais facilitou a vida de Bolsonaro foi Dias Toffoli, presidente do STF

Nem Moro, nem Guedes. Em sete meses de governo, o ministro que mais facilitou a vida de Jair Bolsonaro foi Dias Toffoli. O detalhe é que ele não integra o governo do capitão. Dá expediente como ministro do Supremo Tribunal Federal. O presidente deve a Toffoli um favor de mãe: a liminar que paralisou as investigações contra o primeiro-filho, Flávio Bolsonaro. Com uma canetada em pleno recesso, o ministro tirou a polícia do encalço do Zero Um. Para salvá-lo, travou centenas investigações que também usaram dados do Coaf e da Receita Federal. [ESCLARECIMENTO: o processo no qual foi exarado o despacho que motivou a paralisação das investigação é de 2003,  e cuida de uma ação movida por um posto de gasolina contra a Receita Federal, que se encontra com o ministro Toffoli desde meados de 2018 e foi trazido à baila pelo advogado de Flávio Bolsonaro.
 
A imprensa não destaca um real caso de favoritismo da parte do STF e que implica em tudo que diz respeito ao presidiário petista, é tratado com celeridade pela Suprema Corte do Brasil.
Vejamos o caso da transferência do presidiário  da PF de Curitiba para SP. 
Em menos de 12 horas o STF recebeu um pedido da defesa do Lula contra a transferência, processo e julgou, com placar de 10 x 1 atendendo ao pedido sem fundamento legal da defesa do condenado petista.
A pressa foi tamanho que os supremos ministros não perceberam - apenas o ministro Marco Aurélio destacou o atropelamento das instâncias inferiores e foi voto vencido -   que sendo a decisão combatida de primeira instância, caberia que o pedido da defesa do presidiário fosse analisado pelo TRF-4, se cabível iria ao STJ, para só então ir ao STF - o devido processo legal foi simplesmente ignorado.

E o STF ainda deu um 'pequena legislada' para atender ao pedido de Lula - inexiste previsão legal de prisão especial para ex-presidente condenado e para suprir essa 'lacuna' o STF ignorou a ausência de legislação e criou uma virtual e específica para o caso.]


“Nunca na história brasileira um plantão judiciário concedeu liminar num caso sem urgência e a causar um tumulto de tal ordem”, resumiu o professor Walter Maierovitch.
A liminar surpreendeu pela ousadia, não pelo propósito. Desde a campanha, Toffoli se esforça para cortejar Bolsonaro e os militares que o cercam. Numa atitude inédita na democracia, o ministro instalou um general na presidência do Supremo. Depois saiu-se com a declaração de que preferia chamar o golpe militar de “movimento de 1964”.

Com Bolsonaro no poder, Toffoli virou habitué do Planalto e do Alvorada. Em abril, acompanhou o presidente num encontro com pastores evangélicos que o apoiaram na eleição. No mês seguinte, posou de figurante num café da manhã com deputadas e senadoras governistas. As aparições foram complementadas pelo anúncio de um estranho pacto entre Poderes, a pretexto de “destravar o Brasil para retomar o crescimento”.

Após o recesso de julho, o ministro resolveu dar mais uma prova de fidelidade. Na revista “Veja” que circula neste fim de semana, ele relata encontros em que teria acalmado políticos, empresários e militares insatisfeitos com Bolsonaro. Toffoli emerge da entrevista como o fiador de um governo em apuros. “O Supremo deve ter esse papel moderador, oferecer soluções em momentos de crise”, afirma. O Poder Moderador foi abolido pela Constituição de 1891. O texto instituiu a separação dos Poderes, que deveriam funcionar com “independência e harmonia”. A ideia de um Judiciário governista, seja qual for o governo, contraria um princípio básico da República.

No Congresso, os movimentos do presidente do Supremo são interpretados como uma busca por proteção. Nomeado pelo ex-presidente Lula, ele costuma ser alvo da militância bolsonarista na internet. O ministro também se viu na mira da Lava-Jato ao ser citado na delação da OAS. No início do ano, soube-se que a Receita investigava sua mulher por suspeita de irregularidade fiscal. Em março, Toffoli instaurou um inquérito sigiloso que, nas palavras da procuradora Raquel Dodge, transformou o Supremo em “tribunal de exceção”. Ele alegou que pretendia rebater “notícias fraudulentas” e defender a “honorabilidade” da Corte. Há dez dias, o ministro Alexandre de Moraes usou o inquérito para suspender investigações da Receita. Beneficiou 133 pessoas, incluindo a primeira-dama do Supremo.
 
Bernardo M. Franco, jornalista -  em O Globo
 
 

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Para Bolsonaro, 'lixo marxista' é uma das causas da baixa posição do País em rankings de ensino

Críticas ao ensino figuraram fortemente durante a campanha eleitoral e são um dos temas que mais movimentam a militância

Um dia antes da cerimônia da posse, em Brasília, o presidente eleito Jair Bolsonaro voltou às redes sociais para ligar as baixas posições que o Brasil ocupa nos rankings mundiais de educação ao "lixo marxista" adotado nas instituições de ensino do País. Bolsonaro disse ainda que seu governo pretende "evoluir", formar "cidadãos e não mais militantes políticos". 

"Uma das metas para tirarmos o Brasil das piores posições nos rankings de educação do mundo é combater o lixo marxista que se instalou nas instituições de ensino. Junto com o ministro de Educação e outros envolvidos vamos evoluir em formar cidadãos e não mais militantes políticos", disse Bolsonaro em seu perfil no Twitter.

Uma das bandeiras mais antigas do futuro presidente, as críticas ao ensino no Brasil figuraram fortemente durante a campanha eleitoral e são um dos temas que mais movimentam a militância do capitão reformado do Exército.  

Em linha com seu discurso, o político convidou Ricardo Vélez Rodriguez para o Ministério da Educação. O filósofo colombiano chegou ao cargo após a bancada evangélica vetar o nome de Mozart Neves, ligado ao Instituto Ayrton Sena, por considerá-lo um "esquerdista". O futuro ministro é a favor do projeto Escola Sem Partido e já defendeu medidas como a instalação de conselhos de ética em instituições de ensino.  

Editorial - O Estado de S. Paulo





 

sábado, 24 de novembro de 2018

Obesidade do Estado brasileiro

O governo federal tem de dar o exemplo e ajudar os Estados com sua expertise


Manobra pode abrir estatais para dirigentes partidários. Eletrobrás perde R$ 1,6 bi, mas mantém benefícios. Rio dá R$ 128 bi dos royalties para aposentadorias. Gasto supera arrecadação em 14 Estados e no DF.  Essa pequena amostra das manchetes dos principais jornais do País nos últimos dias mostra o gigantismo do Estado no Brasil. Excesso de pessoal, gastos com aposentadorias, remuneração acima da capacidade de pagamento, falta de planejamento de despesas e ativos mal geridos explicam a crise por que passam todos os governos, federal, estaduais e municipais. Por isso, é urgente uma reforma do Estado em todos os níveis da administração pública.

O futuro ministro da Economia sempre colocou a privatização como prioridade. A criação de uma Secretaria de Privatização ratifica seu discurso. Boa iniciativa. A desestatização, que pode ser feita não só através da venda de empresas, mas também por meio de dissoluções e fusões, sofreu no governo Temer as consequências de uma governança mal definida.  Ainda assim, o excelente trabalho da Secretaria de Empresas Estatais (Sest) permitiu muitos avanços: temos 20 estatais a menos; estatutos foram modificados aprimorando a gestão e transparência; o número de pessoal diminuiu; e lucros reapareceram em algumas delas. Ainda falta muito. São 138 estatais no governo federal e mais de 400 no País todo.

A atuação do Estado na atividade econômica está muito bem delimitada pela Constituição Federal, que em seu art. 173 estabelece que apenas em casos de relevante interesse coletivo, definidos em lei, e imperativos à segurança nacional ela se justifica, além de, obviamente, dos monopólios constitucionais. Não há setores “estratégicos”. A decisão sobre o que deve ser privatizado também não depende dos resultados da gestão. Isso é um mito. Uma boa administração é obrigação do gestor público, nada mais que isso.
Apesar da crise que os Estados atravessam, os governadores ainda não falam em privatização. Mesmo o eleito em Minas Gerais, o mais liberal dentre eles, já avisou que venda da Cemig só no fim do governo, ou seja, em plena campanha pela reeleição. A ver. Há muitos ativos estaduais que podem ser alienados. São empresas de energia, saneamento ou bancos.

 A conversa dos Estados com a União começou pelo pedido de mais uma renegociação da dívida e boa parte dos recursos arrecadados com o leilão da cessão onerosa. O Estado do Rio de Janeiro fez um acordo com o governo federal, se comprometendo, como contrapartida, com a venda da Cedae. Mas bastou uma leve sensação de alívio nas contas para que os políticos locais se esquecessem do compromisso. Fica como aprendizado para as inevitáveis negociações que vão ocorrer entre os secretários de Fazenda estaduais e o Tesouro.  Privatizar não é fácil. Demanda firmeza. No imaginário popular uma estatal é patrimônio público, ainda que péssimos serviços sejam prestados, é apenas um dos obstáculos. O pior mesmo é vencer a união de políticos, sindicalistas e fornecedores para sugar o máximo de uma empresa pública.

Mesmo com a Lei das Estatais, indicações políticas ainda são recorrentes. Vivi isso de perto como conselheira de administração da Eletrobrás. Foram cerca de 500 nomes indicados para muitos cargos desnecessários, que numa gestão privada já teriam sido eliminados. Mas as dificuldades das estatais de se protegerem do uso político são comuns a todas. Não é uma exclusividade da Eletrobrás.  Políticos não se conformam facilmente. Manobra recente do Congresso colocou um jabuti em um projeto de lei sobre outro tema revogando dispositivo da lei das estatais que veta nomes com vínculos partidários. Esse mesmo Congresso barrou o projeto que facilitava a venda de uma subsidiária da Eletrobrás, a Amazônia Distribuidora, a pior e mais endividada concessionária de distribuição do País. E mesmo sabendo disso, o senador Eduardo Braga (PSDB/AM) liderou o engavetamento do projeto. Para os usuários do serviço de seu Estado, nada; já para funcionários e fornecedores, tudo.

As declarações de Bolsonaro fazendo restrições à venda da Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa e Petrobrás são preocupantes. O governo federal tem de dar o exemplo e ajudar os Estados com sua expertise e recursos técnicos.  O Estado brasileiro está obeso. Pequenas dietas não adiantam mais. Chegou a um ponto em que só uma operação bariátrica resolve.

Elena Landau - O Estado de S. Paulo 

 



sábado, 23 de dezembro de 2017

O ano em que os políticos foram para a cadeia

Ex-ministros, ex-governadores, deputados. A operação Lava Jato e seus desdobramentos viraram a mira a quem deveria representar os interesses da população, mas fez justamente o contrário

Boa parte da primeira leva foi de executivos e empresários. A operação Lava Jato a maior já feita contra a corrupção no Brasil – mandou para a cadeia, entre outras pessoas, Dario de Queiroz Galvão, ex-presidente da Galvão Engenharia, e Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht. Foram para trás das grades também políticos como os ex-deputados André Vargas e Pedro Corrêa, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o ex-ministro Antonio Palocci. Em 2017, a mira fechou: eles, os políticos, definitivamente encontraram a prisão.

O ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves foi preso no dia 6 de junho, acusado de corrupção ativa e de lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, em Natal. Cerca de um mês depois, no dia 3 de julho, foi a vez do ex-ministro Geddel Vieira Lima, suspeito de participação em desmandos na Caixa Econômica Federal.

Em novembro, os desdobramentos da Lava Jato resultaram em nova onda de prisões, dessa vez no Rio de Janeiro. No dia 16, a Justiça determinou a prisão do deputado Jorge Picciani, então presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em uma manobra grotesca, o parlamento fluminense decidiu pela libertação de Picciani na tarde seguinte. 

Cinco dias depois, no entanto, o Tribunal Regional Federal da 2a Região determinou seu retorno à cadeia. No dia 22, os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho foram presos também, acusados de corrupção, organização criminosa e crimes eleitorais. Ela conseguiu sair. Ele, não. Para fechar novembro, Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral, voltou à cadeia no dia 23, depois de ter sido colocada em prisão domiciliar após ser presa em 2016. Às vésperas do Natal voltou à prisão domiciliar.
A extensão da Lava Jato à classe política embute um pioneirismo histórico. Assim como diversos empresários e executivos brasileiros, boa parte dos políticos do País achava-se imune do alcance da leis. Agora, as decisões do STF mostrarão qual será o destino desses líderes presos.

Revista Isto É 

 

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A Eletrobras é de quem mesmo?

Políticos querem ter controle sobre as empresas: indicar diretores e nomes para um monte de cargos espalhados por estados

O anúncio da privatização da Eletrobras foi recebido com fortes aplausos nos meios econômicos — o governo Temer cantou vitória — mas imediatamente apareceram as ressalvas políticas. Em Minas, líderes partidários, de todas as filiações, apoiam a desestatização desde que seja excluída Furnas, uma das subsidiárias da grande estatal. Já no Nordeste, o pessoal topa vender tudo, menos a Chesf. Ao Norte, os políticos querem reter no sistema estatal a Eletronorte.

Essas três subsidiárias reúnem 40 usinas geradoras de energia as principais e maiores do sistema Eletrobras, tais como Santo Antônio (Furnas), Tucuruí (Eletronorte) e Belo Monte e Jirau (Chesf). Ou seja, se prevalecerem as restrições políticas, sobrará para privatização apenas a enorme dívida da Eletrobras. Ora, quem comprará um passivo sem ativos? — perguntaria um ingênuo observador da cena brasileira.
Fácil, algum banco público, que tal o BNDES?

Não é brincadeira.  Vejam o caso da Cemig — que pertence ao governo de Minas e resistiu a todas as ondas de privatização até aqui. Há uma pendência entre os governos federal e mineiro sobre a propriedade de quatro usinas — mais uma das confusões originadas pela MP 579, aquela emitida pela então presidente Dilma em setembro de 2012.

O governo federal quer privatizar as quatro usinas e a equipe econômica já conta com uns R$ 10 bilhões para fechar as contas. Já a política de Minas, liderada pelo senador tucano Aécio Neves, neste caso em sólida união com o governador petista Fernando Pimentel, queria, primeiro, ficar com as usinas sem pagar nada. Agora, topa pagar um preço acertado, algo em torno dos R$ 6 bilhões, sem leilão, sem competição.  Mas a Cemig não tem dinheiro para isso, alegaram, também ingenuamente, os técnicos do setor elétrico. Mas o BNDES tem, respondem os políticos mineiros. Resumindo, Minas quer comprar usinas federais com dinheiro federal.

Qual o argumento para essa restrição à privatização?  Da boca para fora, só um: Cemig e Furnas fazem parte da história, são patrimônio dos mineiros, assim como Chesf é história e patrimônio do Nordeste etc. Outro ingênuo diria: se é patrimônio de Minas, então por que os mineiros não assumem as dívidas daquelas duas empresas, aliviando os bolsos dos contribuintes nacionais sempre chamados a pagar com impostos os buracos das estatais? Valeria também para os que se julgam donos da Chesf e Eletronorte — e assim por diante.

Mas chega de bobagem. Nem os estados têm esse dinheiro, nem os políticos estão interessados em assumir estatais enroscadas em dívidas.  O que eles querem é outra coisa. Querem ter controle sobre as empresas, e isso significa: indicar diretores e nomes para um monte de cargos espalhados por vários estados; escolher fornecedores; encaminhar contratos; e, claro, conseguir apoio de toda essa gente, dos lados público e privado, nas campanhas eleitorais.

Isso, sim, é história. O governo FHC (1995/2002) aplicou um imenso programa de privatização, mas não conseguiu tocar em Furnas, Chesf etc. O então presidente não conseguiu nem nomear diretores que queria para a Eletrobras. Havia intocáveis, conta, apoiados pelo conjunto dos partidos. E assim segue, quer dizer, não segue. O PSDB apoia a tese da privatização. Mas o partido em Minas sustenta que Furnas e Cemig são casos diferentes. O DEM é privatista, mas não com a Chesf. 

Foi essa cultura e essa história que trouxeram a esta situação: a Eletrobras tem em caixa R$ 8,9 bilhões e uma dívida de R$ 47,3 bilhões. Não é que falte dinheiro para investimentos. Falta para pagar credores. Só para a Petrobras, a Eletrobras deve R$ 16 bilhões. Comprou gás e não pagou. É verdade que a parte final deste desarranjo se deve totalmente à ex-presidente Dilma. Mas ela não teria conseguido a proeza de bagunçar tudo e espalhar prejuízos se o sistema não fosse estatizado e inteiramente controlado politicamente. Bastou a ela tomar e/ou compartilhar a estatal com os políticos antigos (Sarney, Barbalho etc.) que a dominavam.

E teve a corrupção exposta pela Lava-Jato. Se faltava alguma coisa para condenar esse capitalismo de Estado, não falta mais. A privatização é o melhor caminho. Diria, o único caminho para ganhar produtividade. Pena que tenha sido necessário passar por essa destruição de patrimônio público para chegar a uma ideia óbvia. E é inacreditável que haja políticos lutando pelo que consideram o seu patrimônio, empurrando a dívida para os contribuintes.

Fonte: O Globo - Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista

sábado, 14 de janeiro de 2017

Tempo Perdido

Políticos insistem em permanecer menores que os despachos de Sergio Moro
 
Nos últimos dois anos o Brasil foi diariamente massacrado por notícias provenientes da operação Lava Jato. Um a um, os principais líderes petistas, eleitos por se apresentarem como guardiões da ética capazes de romper com a velha política e gerir o patrimônio público de forma republicana, foram caindo, envolvidos em corrupção, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e outros delitos. Os escândalos são tantos e a riqueza de detalhes sobre cada golpe é tão rica que a agenda de Brasília acabou subjugada à pauta traçada em Curitiba, cidade-sede da Lava Jato. Apesar das intenções palacianas, foram as batutas do juiz Sérgio Moro que regeram a política nacional. É verdade que temas necessários e importantes para o País, como o limite nos gastos públicos e a reforma previdenciária, foram encaminhados, mas acabaram ofuscados por delações premiadas, patrimônios ocultos, prisões e contas bancárias secretas descobertas no Exterior.

A chegada de um novo ano e com ele os inacreditáveis dias de folga a que têm direito parlamentares e membros do Judiciário poderiam ser o momento ideal para que o Planalto pudesse dar visibilidade a uma agenda que ganhasse vida própria e não ficasse disputando espaço político e midiático com os desmandos revelados pela Lava Jato. Também a atual oposição poderia aproveitar o momento de calmaria judicial para fazer um mea culpa e apresentar um novo cartão de visitas, com uma narrativa distinta do surrado e ineficiente discurso da vitimização que, a rigor, comove apenas aqueles que têm contracheques oficiais, e pouco afeta os cidadãos comuns. O ex-presidente Lula, como que acometido por um surto de alienação, voltou a se posicionar como candidato e, nessa condição, como alguém capaz de ameaçar o que ele chama de elite. Parece esquecer-se, no entanto, de que foi cooptado por ela e lambuzou-se nos banquetes daqueles que estão no andar de cima. Chega a ser sofrido ver o ex-presidente se posicionar como se nada tivesse ocorrido em todos esses anos nos quais trocou a sua biografia pelas migalhas de uma ceia cujo roteiro ele deveria ter mudado.

Pelo lado do governo, a situação não é tão diferente. Passadas as primeiras semanas de janeiro, e em que pese a posse de novos prefeitos e vereadores, alguns deles motivados a levar adiante uma nova postura política, nada parece ter mudado. A guerra entre presos de diferentes organizações criminosas absorveu completamente a rotina dos gabinetes de Brasília, tanto do Executivo quanto do Judiciário. Todos pareciam surpresos com o fato de facções criminosas estarem incrustadas em nossas penitenciárias. Todos se portaram como se a superlotação de nossas cadeias fosse algo absolutamente novo e o fato de presos ainda não julgados estarem encarcerados parece ter sido visto como algo digno de outro planeta. Isso tudo sem contar os inúmeros casos de presos que já poderiam estar soltos por força de lei, mas que permanecem enjaulados. O Judiciário parece ter descoberto que há muito tempo de férias e pouco tempo à disposição do andamento dos processos.

É verdade que, em termos de política econômica, a coisa caminha diferente. Mas onde estão projetos de saúde, educação, turismo, agricultura, inclusão pelo esporte etc.? São temas assim que, se tratados com a seriedade e a profundidade necessárias, podem elaborar uma agenda capaz de correr paralela ao que vem de Curitiba. O Brasil é muito maior que a Lava Jato, mas nossos políticos, tanto da situação como da oposição, insistem em permanecer menor que os despachos de Sérgio Moro.

Fonte: Editorial -  Mário Simas Filho é diretor de redação da revista ISTOÉ


quinta-feira, 16 de julho de 2015

A crise de cada um

A reação dos políticos e partidos envolvidos mostra que eles não têm noção do que se passa no país

Perguntei aos ouvintes da CBN: como a crise afeta sua vida, seus negócios? Como tem reagido? Que boa notícia espera, considerando que a presidente Dilma quer que seus assessores saiam pelo país com uma agenda positiva?
Eis algumas respostas. Delas sai uma visão de conjunto.
Pegando pesado:
“Aposentado no serviço público, voltei a pegar bico em topografia e desenho de arquitetura de imóveis para regularizar Habite-se. Meu filho já quase não dorme. É médico, fica dobrando plantão". Guilherme, Juiz de Fora
 
“Trabalho com manutenção e assistência técnica de celular . Isso está em alta. Mas à noite trabalho de inspetor num colégio estadual e, nas horas vagas da madrugada e finais de semana, trabalho de taxista". John Lennon, João Pessoa, Paraíba

“Ressuscitei uma velha máquina de fazer laços e enfeites. Sou técnico em eletroeletrônica e professor de matemática. Conserto tudo e estou oferecendo aulas particulares". Nilson Gabriel, S.Paulo

Viração:
“Entrei para o mercado publicitário. Estou produzindo e vendendo ímãs de geladeira para pequenas empresas e produtos para festas. Comprei máquina de corte e impressora". Nelson França, Itaboraí-RJ

“Trabalho com fotografia e para não perder clientes procurei facilitar o pagamento em mais parcelas ou dar um desconto para pagamento à vista. No dia a dia, minha família e eu temos procurado poupar energia e água para reduzir os gastos. Até para ir ao cinema pensamos duas vezes. A boa notícia que queria ouvir é que o número de ministérios seria diminuído e os senadores não ganhariam aposentadoria a cada gestão". Bruna Verrati, S. Paulo

Cortando gastos, preservando escola das crianças:
“(Precavido), estou com quatro empregos desde 2011. Vendi o carro e uso transporte público. Não janto mais fora de casa. No supermercado, cortei todos os supérfluos. Apenas não cortei os gastos com a educação de minhas filhas. E investigo a vida dos políticos antes do voto". William, engenheiro, S. Paulo

As mulheres no ajuste doméstico:
“Me sinto um Levy de saias. Cortamos o excesso de luzes acesas, velas são lindas e funcionais, jamais comemos fora nem mesmo o usual expresso da esquina, roupas usadas estão ótimas. Cortar futilidades, investir em educação". Maria Rocha
Mau exemplo:
“Cortamos uma série de gastos (até tevê por assinatura). Mas ver a quantidade de ministério, de impostos pagos sem retorno e a corrupção... desanima qualquer um". Adelaide Soares, S.Paulo
Quando o governo ajuda:
“Trabalho com manutenção e vendas de extintores de combate a incêndio. Para arrecadar mais, o governo (passou a exigir) atestado do corpo de bombeiros, que cobra das empresas. Assim, as empresas precisam ter extintores carregados ou novos". José Severino, Pernambuco
Quando o governo atrapalha:
Trabalho em empresa pública. Gostaria de ouvir um ministro dando a notícia que os cargos comissionados, que servem ao loteamento dos partidos, seriam extintos. Isso diminuiria muito a despesa da empresa que eu trabalho e de muitas outras". Ricardo, Brasília
Desânimo:
“Sou sócia de uma distribuidora de bebidas. No começo do ano tinha dois motoristas e dois ajudantes, mas tive que demiti-los. Hoje tenho uma funcionária no escritório e uma nos serviços gerais. Mas vou encerrar as atividades em outubro. Estou desencantada". Elizabeth Carvalho, Manaus
Pegando no pé:
“Aos trancos e barrancos, tenho um loja de livros usados há 20 anos. Eu e meu filho estamos economizando até no pão. Não posso conversar com meu filho porque ele diz que sou culpada por ter votado no PT". Dulcinéia, Belo Horizonte
No batente:
“Tenho uma pequena oficina de metal mecânica. Driblar a crise tem sido um desafio. Mas passamos a vender no varejo on line, inclusive pequenas ferramentas. Desenvolvendo novos produtos, continuo na luta. E como se diz na CBN, segunda-feira, todo mundo trabalhando." Donisete Silva.

Resumo geral: as pessoas sentem a crise na sua vida e nos seus negócios. E tentam reagir na base do esforço pessoal, sem depender do governo. Melhor dizendo, apesar do governo.

Diante da pergunta que boa notícia espera de Brasília? — foi incontável o número de respostas simples: que caiam fora, todos.

É geral a irritação com os maus exemplos. Ouvintes e leitores sentem-se ofendidos com os três carros de luxo apreendidos na casa de Collor. Acham o fim da picada os reajustes que vereadores se concedem e as vantagens que se atribuem. Citam os 39 ministérios como um grande absurdo. E ninguém acredita que o governo não tem onde cortar gastos.

Lava-jato tem apoio universal. A reação dos políticos e partidos envolvidos mostra que eles não têm noção do que se passa no país. Nem sentem a crise, nem veem como o pessoal se mata para superá-la.

Fonte: O Globo - Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Dilma e políticos mentem o tempo todo – são tão cínicos que no Brasil o PT vota contra o governo e maior parte da oposição se omite, ou mesmo vota a favor – MP 665, ajuste fiscal, foi aprovada com os votos da chamada ‘oposição’



Políticos mentem o tempo todo
Dilma Rousseff não apenas faz o contrário do que pregou como faz aquilo que disse que nunca iria fazer
Se Aécio Neves tivesse vencido a eleição, a política econômica seria praticamente a mesma aplicada neste momento. Joaquim Levy muito provavelmente estaria no governo tucano, em alguma posição de destaque. O eleitor não estranharia nada. Tudo normal: o PSDB passara a campanha toda dizendo que o modelo Dilma fracassara e que seria preciso fazer um severo ajuste.  Normal também, o PT estaria fazendo barulhenta e dura oposição, mobilizando os movimentos sociais e centrais sindicais para atacar o ajuste “nas costas do povo” e a supressão de direitos do trabalhador.

Mas é isso que estão dizendo os tucanos e o Democratas. Não apenas dizendo, mas votando contra as medidas de ajuste que cabiam perfeitamente em seu programa de campanha. Já Dilma, com o PT, toca um programa econômico ortodoxo, com o slogan “ajustar para crescer”. O marqueteiro de Aécio presidente poderia fazer igualzinho.  Dirão: a política é assim mesmo. Perdeu a eleição, vai para a oposição. E o que é ser oposição? É fácil: ser contra tudo o que faz o governo.

Resulta numa grande avacalhação. Numa pesquisa recente na Inglaterra, 65% dos eleitores disseram acreditar que “os políticos mentem o tempo todo”. Não se trata apenas daquele tipo de mentira para livrar a cara quando se é apanhado em alguma falcatrua. “Nunca fiz isso. Onde estão as provas?”

Trata-se de mentira política, quando o governante administra fazendo diferente do que pregou na campanha. Dizem também que campanha é poesia e governo é prosa. Vá lá que existam nuanças, ênfases mais suaves na propaganda. Não precisa dizer, por exemplo, que o ajuste vai gerar um baita desemprego, mas é preciso informar o eleitor que virão tempos difíceis.  O desempenho de Dilma vai muito além disso. Ela não apenas faz o contrário do que pregou como faz aquilo que disse que nunca iria fazer. Mentira política.

A oposição está cometendo a mesma mentira, com o sinal trocado. Viram a última propaganda do Democratas? Só faltou chamar o MST para invadir a fazenda da ministra Katia Abreu. O PSDB ainda tem um certo pudor em atacar Joaquim Levy — que estava ao lado até pouco tempo — mas vota contra e atrapalha o programa do ministro, que é claramente tipo tucano.

Só falta se opor ao programa de privatização de infraestrutura que Levy pretende desfechar. Ou seja, se fizerem a mesma pesquisa aqui no Brasil, deve dar mais de 65% dos eleitores dizendo que os políticos mentem o todo. Deve ser por isso que as manifestações contra o governo Dilma e o PT parecem não ter sequência política. A oposição, que claramente tem a simpatia dos manifestantes, não consegue empolgar o momento e apontar para uma saída viável, seja ou não a proposta de impeachment.

Nada demais
E por falar em tudo normal, a presidente Dilma assumiu uma tarefa impossível: mostrar que a atual política econômica é uma sequência normal da anterior.  A anterior, diz a propaganda oficial e repete Dilma, era aquela beleza: emprego, renda, programas sociais generosos. A atual gera desemprego, perda de poder aquisitivo e restringe direitos sociais, como o seguro-desemprego, abono salarial e pensões.
Uma o contrário da outra, certo?

Errado, indica a presidente. Tudo o que se faz agora, garante, é para preservar as benesses que o PSDB queria abolir. Donde se conclui: desemprega para gerar emprego; reduz salário para aumentar a renda; corta benefícios para garantir os mesmos benefícios; faz uma recessão para... crescer.

Qual o problema?
Pela lógica, se diria: a política anterior estava assentada em bases inviáveis, a tal nova matriz, de aumento do gasto público, do crédito e do consumo. Quando as bases falharam, chegou o preço, na forma de recessão, desemprego e perda de renda.
Pela lógica da presidente, está tudo na sequência. É mais ou menos como dizer: você pode encher a cara, comer até estourar, abusar das drogas, que não tem nada demais. Depois é só fazer um ajuste e mandar bala de novo.

Por: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista, coluna em O Globo

quarta-feira, 4 de março de 2015

Lista de 54 políticos chega ao STF: o que acontece em seguida?



Matéria do GLOBO.COM apresenta com detalhes os próximos passos da denúncia na Operação Lava-Jato 

Na noite desta terça-feira, chegarem ao Supremo Tribunal Federal (STF) 28 pedidos de abertura de inquérito contra 54 políticos. Eles foram citados em depoimentos de executivos que fizeram acordos de delação premiada com a Justiça. Advogados e ex-ministros do STF ouvidos pelo GLOBO responderam a perguntas que podem ajudar o leitor a tirar dúvidas sobre os próximos passos da investigação que envolve os parlamentares.

O que acontece com a entrega da lista ao Supremo?
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, autoriza a abertura do inquérito. Se autorizar, há uma investigação, são colhidas provas e ouvidos depoimentos de envolvidos.

Quem fará as investigações que forem autorizadas?
A Polícia Federal. O Ministério Público supervisiona e pode pedir diligências como perícias. O juiz autoriza a abertura do inquérito e aprova essas diligências.

O que acontece ao fim das investigações?
Se for aberto processo, os réus são interrogados e é dado um prazo para as alegações finais de acusação e defesa. Depois, o relator marca o julgamento e os advogados fazem a sustentação oral. Por último, a turma julga.