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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A Anvisa e o porquê de nossa ansiedade - O Globo

Ruth de Aquino

Quando penso que seremos vacinados contra a Covid-19 quando a Anvisa der seu aval, tento entender o que é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Seu presidente é o contra-almirante da Marinha Antônio Barra Torres. Ele participou sem máscara de manifestações em março, em Brasília, tirando selfies com o presidente Bolsonaro, que tocava, rindo, as pessoas. Torres cancelou recentemente “por motivos técnicos” o estudo da Coronavac (“a vacina chinesa do Doria"), mas depois retomou.

Torres chegou a ser cotado para substituir Mandetta como ministro. Médico formado pela Souza Marques, ele assumiu a presidência da Anvisa em novembro. Sempre foi contra “a disseminação do pânico” e a favor de “uma tranquilidade atenta” na pandemia. Era contra o isolamento social. A filosofia de Torres e Bolsonaro, vitoriosa num Ministério da Saúde com 25 militares, nos levou a uma tragédia descomunal. 
E, agora, a dúvidas: a Anvisa tem autonomia para aprovar as vacinas? [Tem e pode não ter; Explicando: quando havia uma tendência da genérica chinesa ser rejeitada, os arautos do pessimismo passaram a considerar a Anvisa uma suprema agência - com poderes absolutos.
Ela aprovasse a coronovac, estava aprovada e assunto encerrado.
Com os encalhes de prazos da coronavac - ainda na fase três de testes e até agora nada solicitou a Anvisa - e o fato de que nenhuma agência do planeta Terra aprovou o imunizante chinês, os mesmos arautos começam a tentar semear o descrédito da agência reguladora.]  
Com urgência? TEM [- desde que o requerente apresente documentação que sustente sua pretensão.]
O aval da Anvisa é mesmo essencial? [a saúde de milhões de brasileiros motiva um SIM, INDISPENSÁVEL.]
Qual é a data de início da imunização? [depende da apresentação de requerimento solicitando a aprovação do imunizante - até o momento nenhum pedido foi apresentado.]

Já perdemos o bonde da Pfizer até para países como o Chile e o Equador. A vacina da Pfizer foi registrada pelo FDA (a Anvisa americana). Poderia ser aprovada aqui no regime de “fast-track” (em 72 horas).[desde que a Pfizer requeresse tal aprovação.] Mas o Brasil não entrou na “corrida maluca” das vacinas. Por opção política, por desmazelo. Torres deve concordar com seu chefe direto, o general Pazuello, quando ele pergunta à nação em luto por mil mortes ao dia: “Pra que essa ansiedade, essa angústia?” 

A chefe de gabinete de Torres na Anvisa se chama Karin Schuck Hemesath Mendes. Busco uma foto dela. Bonita, de farda. Karin é oficial do Exército “especializada em equitação e empresária do ramo imobiliário em Eldorado do Sul (RS)”. Entendeu? Também não. Olhamos com inveja países já vacinando seus idosos. Pazuello disse, ao apresentar “o plano macro”, que “a logística é normalidade”. Captou? Também não. Ele disse que “a logística é simples” para vacinar e distribuir no Brasil. Acreditou? Também não.

O general dublê de ministro não convence ninguém. O Brasil sequer tem seringas. O primeiro lote de 330 milhões de seringas e agulhas chegaria até 31 de janeiro. O Ministério da Saúde há seis meses não responde se vai zerar o imposto para importar seringas da China. Pressa pra quê? Diante da guerra política, os servidores da Anvisa divulgaram uma carta à sociedade. “Reafirmamos o caráter técnico e independente dos trabalhos (...) da Anvisa na proteção da saúde da população”. A Anvisa não é uma agência do governo e sim do Estado. E tem histórico internacional de excelência e rigor. “O trabalho técnico está acima de qualquer pressão”. Eles são servidores de carreira. Incansáveis. 

Por tudo isso, causa estranheza a militarização da Anvisa. É mais uma tentativa de interferir e instituir a política de quartel na Saúde. Bolsonaro quis enfiar o tenente-coronel Jorge Luiz Kormann numa diretoria da Agência. Ele ia assumir a área responsável pela avaliação de vacinas! Mas a Anvisa acaba de nomear no cargo uma especialista em tecnologia farmacêutica. Ufa. Kormann não tem formação de Saúde mas está no Ministério. Ele tentou mudar o cálculo de infectados e mortes por Covid. Defendeu a cloroquina. Apoiou militantes bolsonaristas investigados pelo STF. 

Bolsonaro não vai desistir de Kormann. O tenente-coronel só não entrou por não ter sido sabatinado pelo Senado. Como sabemos, o presidente quer uma Polícia Federal para chamar de sua, uma Anvisa para chamar de sua, uma Câmara, um Senado e um Supremo para chamar de seus. Parafraseando Luiz Melodia, “tente esquecer em que ano estamos”. Chegando ao finalzinho. 

Ruth de Aquino, jornalista - O Globo


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

O perigoso esporte de humilhar general - Fernando Gabeira

In Blog

segunda-feira, 15 de junho de 2020

OAB repudia ataques de bolsonaristas ao STF e outras, mais a pergunta que não quer calar

A OAB reagiu nesta segunda-feira aos ataques perpetrados por bolsonaristas contra o Supremo na noite de sábado, quando a sede da Corte, em Brasília, foi alvo de fogos.


Em nota, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e o Colégio de Presidentes dos Conselhos Seccionais da OAB, manifestam seu “veemente repúdio ao ataque”.
“A Ordem dos Advogados do Brasil possui o reconhecimento histórico de toda a sociedade pela sua posição de luta em defesa dos ideais democráticos e do que é essencial inclusive para o livre exercício profissional de cada um dos seus integrantes”, afirmam.
No texto, a entidade diz ainda que são “inaceitáveis manifestações violentas e antidemocráticas. O ataque ao STF, na verdade, constitui flagrante desrespeito à Constituição Federal, à democracia e ao Estado de Direito”.
“O nosso país, imerso em profunda crise sanitária e econômica, precisa, mais do que nunca, de instituições sólidas e do pleno funcionamento dos Poderes da República de forma harmônica e independente”, diz a nota.
E conclui: “a OAB declara, mais uma vez, que a sociedade não pode aceitar ameaças ou atitudes que minam a democracia e usam métodos violentos para solução de conflitos. A solução está e sempre estará na Constituição Federal e na democracia”.

VEJA

Defender a revolução armada e a implantação da ditadura comunista pode, não é senhora STF e senhor PGR ?



Polibio Braga

Ministros do STF reagem após manifestantes soltarem fogos de artifício em direção à Corte



Dias Toffoli disse que ato é 'ataque a todas as instituições democraticamente constituídas' e que ministros não aceitarão ameaças


Estamos sendo a toda hora testados. A sociedade começa a tomar consciência disso. Houve certa anestesia, mas as instituições têm demonstrado resiliência. Manifestações de rua são importantes no sentido de dizer que tem limite para tudo isso.

Gilmar Mendes

[A decisão do ministro Fux cassando das Forças Armadas o livre exercício pelas FF AA do comando contido no artigo 142 'caput' e parágrafo 1º, esclarecido pela Lei Complementar 97, suscita algumas considerações e/ou perguntas:

- Como considerar inconstitucional o exercício de um comando constitucional devidamente esclarecido por uma LC, editada em cumprimento de outro mandamento constitucional?

- Como considerar que se  As FFAA não existem "por causa da Constituição", é a Constituição que existe por causa delas" elas podem sofrer cassação, com suposto amparo constitucional, de parte de suas atribuições constitucionais

- ou: O que o Ministro Fux fez na sua decisão é "julgar se a Terra é Redonda" ? o Fascista que assina esta "nota" e os dois Generais que "trabalham para ele" estão ameaçando a Nação com um Golpe de Estado dado por ELES contra os demais poderes da República com a suposta AJUDA das FFAA.(o comentário pós pergunta é sobre a Nota expedida pelo presidente Bolsonaro e corroborada pelo ministro da Defesa e o Vice-Presidente da República, Blog Ataque Aberto.)

Vamos às perguntas:

Ai, pára, tá?? Não concordo com nada disso...não é nada tão assim desse jeito...

É mesmo? Não me diga...
E o que você vai fazer em caso de "Golpe"? 
Vai mandar uma "viatura da PF às 6h da manhã, cumprindo "ordem" do Toffoli, estacionar na frente de um quartel e entrar lá para recolher computadores e prender o comandante? 
Você vai continuar com esse tipo de raciocínio? 
Você perdeu o juízo? 
Até onde você vai com esse tipo de loucura?

Respostas para o Prontidão Total.]













domingo, 10 de maio de 2020

‘Onde o ministro quer chegar? Vai prender o Exército?’ Roberto Peternelli, general e deputado









Eis a entrevista.

Há alguma possibilidade de o Exército participar de um golpe? 
Os militares têm uma característica legal e constitucional. As Forças Armadas são instituições nacionais permanentes destinadas à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa deles, à manutenção da lei e da ordem. Por isso, o Exército não participa de nenhuma operação que não seja legal. Ele não participaria de um golpe.


O sr. conhece o presidente. Há alguma possibilidade de ele tentar fechar o Congresso e o STF?
Não há possibilidade de o presidente tentar fechar o Congresso, pois isso não tem respaldo legal. As atividades dele são baseadas na Constituição.

Como deve ser a relação do governo com outros Poderes?
A relação deve ser de harmonia e independência, como diz a Constituição.

O senhor acredita que o STF deve evitar decisões monocráticas contra atos do Executivo?
Toda alternativa para obter a harmonia e manter a independência do Supremo é válida. É lógico que onze cabeças pensam melhor do que uma. Há decisões que deviam ser tomadas pelo colegiado.

No Planalto se fomenta a ideia de que há no Congresso uma conspiração para derrubar Bolsonaro. O senhor acredita nisso?
Não acredito que haja conspiração para derrubar o presidente.
Se houvesse, teríamos de perguntar qual foi a decisão do Congresso que colocou em risco o governo?
Os pedidos de impeachment que chegaram não tiveram andamento. O presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) não pautou nenhum, pois não viu neles fundamentação que justificasse o impeachment.

Na última manifestação em frente ao Planalto, jornalistas foram agredidos. O que o senhor acha dessas agressões?
A violência deve ser repudiada em qualquer contexto. A democracia se caracteriza pelo debate de ideias e não de forças. Todos que ferem qualquer lei devem responder pelos seus atos.

O presidente tem comparecido a manifestações em que se pede um golpe, inclusive em frente ao quartel do Comando do Exército. O sr. não esteve nelas. Por quê?
Não era o caso. Meus filhos me cobram para evitar aglomerações durante a pandemia e seguir as recomendações do Ministério da Saúde. Por isso e pelo local da manifestação, eu não estive presente. As manifestações devem respeitar o fato de as Forças Armadas serem uma instituição de Estado. A frente do QG é área militar.

A busca de apoio do Centrão não seria uma traição ao que foi prometido pelo presidente?
Qualquer governo precisa ter transparência, credibilidade, eficiência e austeridade. Se o acordo com o Centrão visar ao bem do povo brasileiro e estiver dentro do contexto legal e ético, não vejo problema.

Como o senhor viu a saída de Sérgio Moro do governo?
Gosto muito do ministro Moro. Eles fez um trabalho importante. Lamento a saída. Torci para não ocorrer. Quando você é amigo de um casal, e ele se separa litigiosamente, o respeito aos dois continua. E você lastima a forma como ocorreu.

O que achou da ordem do ministro Celso de Mello, do STF, sobre os depoimento dos ministros Braga Netto, Luiz Ramos e Augusto Heleno?
O despacho não está à altura de quem defende a Constituição e desrespeita a harmonia entre os poderes e a dignidade da pessoa humana. Estarei do lado de qualquer cidadão que o Supremo queira conduzir nesses termos e não vou me furtar de estar ombreando com os generais para ver quem vai conduzi-los sob vara. Isso ofende a todos os militares, em especial aos do Exército.
-  Ameaçar três militares de vida ilibada, de serem conduzidos sob vara, e todos lerem esse despacho! 
A troco de quê? 
A honra é um valor militar muito forte. Isso a fere e pode criar fatos desnecessários. Os ministros agora têm uma decisão difícil (decidir se obedecem à convocação). Onde o decano quer chegar? Uma besteira dessas escala uma crise. E aí pode virar uma bola de neve. Isso não contribui para a disciplina nas Forças Armadas. Eu me solidarizo com eles. Não podemos deixar de tomar posição firme. Os militares não devem ficar quietos. Afinal, estamos no estado democrático de direito e, toda vez que o a dignidade e o contexto moral for mexido, a pessoa tem de reagir.
Não interessa se é o presidente ou o ministro do Supremo, quem quer que seja. Ele vai mandar prender o Exército? Aonde ele quer chegar? Isso não contribui para a harmonia dos Poderes.

Em 2022, o voto do senhor será de Jair Bolsonaro?
Essa decisão deve ocorrer na data oportuna. Vamos torcer para que o governo tenha êxito. O voto em 2022 será fruto do contexto. Pensar nele agora é tirar o foco do momento, que deve ser combater o coronavírus.

Roberto Godoy, entrevista Opinião - O Estado de S. Paulo 


sábado, 29 de fevereiro de 2020

O Povo e Exército - Folha de S. Paulo

Demétrio Magnoli


Com fórmula 'Povo e Exército', Bolsonaro inspira-se no chavismo para ensaiar ruptura institucional - Enquanto isso, chefes militares renunciam a prestar continência à Constituição e repelir a politização dos quartéis     

Engana-se quem interpretou a militarização do núcleo político do governo como sinal de marginalização dos extremistas do bolsonaro-olavismo. Depois de recolher suas bravatas vazias contra a ditadura de Maduro, Jair Bolsonaro inspira-se no chavismo para ensaiar uma ruptura institucional. “O Povo e o Exército” —a fórmula chavista orienta os dois motins paralelos estimulados pelo presidente contra a democracia. A estratégia avança à sombra do temor dos líderes parlamentares e dos comandantes militares, que se curvam diante do espectro disforme das redes sociais.

[Começa a surgir em parte da Imprensa uma tentativa de vincular à convocação de uma manifestação pacífica de apoio ao Governo Bolsonaro em um ato nos moldes que a Venezuela realiza.]

O motim da PM do Ceará distingue-se de tantos tumultos policiais anteriores porque brotou no terreno da política, apenas tomando carona em reivindicações corporativas. Há meses, as redes virtuais olavistas operam nos quartéis das PMs. Um vereador-sargento de Sobral ligado às hostes de Bolsonaro insuflou os amotinados. O clã presidencial mal esconde seu apoio à baderna. [apenas lembrando que o Ceará é governado pelo PT, partido majoritariamente formado e orientado por adeptos do quanto pior, melhor.
Tanto que a politização é tamanha que o governo do Ceará, ao propor um aumento - 135 - utilizou o número do seu partido.]

A letra da lei não assusta os arruaceiros que copiam os métodos das facções. Quando Cid Gomes avançou, irresponsavelmente, com uma escavadeira, exprimia uma justa indignação. Aceitaremos, de braços cruzados, a transmutação da PM em milícia politizada? Sim, claro, respondeu Sergio Moro: “o governo federal veio para serenar os ânimos, não para acirrar”.

[Salário de policial militar é da competência dos estados.
A ação das tropas federais é para ser dirigida à proteção da população. Negociações e demais aspectos é assunto do governo estadual, o que inclui a disciplina dos policiais militares.
Para entrar em conflito com a polícia, cercando quartel, etc., o governo federal teria que antes decretar a intervenção federal no Ceará, o que não é, pelo menos ainda, o caso.] No lugar de cercar os quartéis invadidos, cortar luz e água, exigir a rendição dos amotinados, as forças federais limitaram-se a substituir a polícia no patrulhamento das ruas, oferecendo aos bandidos em uniforme um tempo extra para o exercício da chantagem. “Serenar os ânimos”: o governo estadual, desarmado, deve enfrentar sozinho os milicianos armados. A novela ruma às conclusões previsíveis: negociação e, lá adiante, anistia. O crime compensa.

O 15 de março nasceu da divisão no entorno militar de Bolsonaro. A adesão de Augusto Heleno ao extremismo abriu caminho para a convocação de marchas contra o Congresso, que têm o respaldo explícito do presidente. Não se trata, ainda, de consumar a ruptura, mas de testar a espinha dorsal das instituições democráticas. A meta é acuar, intimidar. Os alvos explícitos são os parlamentares e o STF. Mas, paralelamente, investe-se na agitação da oficialidade: o Povo e o Exército. [destaque-se que nenhum dos meios que convocam à população para a manifestação faz menção ao Judiciário e/ou Legislativo - óbvio que os inimigos do presidente Bolsonaro = inimigos do Brasil = podem também veicular convocações fake para o evento.]

As declarações evasivas de Hamilton Mourão evidenciam uma rendição. Protestos contra o Congresso certamente “fazem parte da democracia”, mas não uma convocação a eles oriunda do chefe do Executivo. Os paralelos apropriados são com a “marcha sobre Roma” de Mussolini ou os cercos à Assembleia Nacional promovidos por Maduro. Celso de Mello foi ao ponto quando disse que Bolsonaro “desconhece o valor da ordem constitucional” e, portanto, “não está à altura do cargo que exerce”.

No início, o cordão de generais do Planalto definia limites à retórica presidencial. Desde a demissão de Santos Cruz e o bombardeio virtual contra Mourão, os homens estrelados baixaram a cabeça. Como no caso das PMs, as redes extremistas engajam-se na cooptação de oficiais da ativa de escalão intermediário, ameaçando a disciplina militar. Santos Cruz tem razão ao alertar para o risco de “confundir o Exército com assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas”.

Bolsonaro imagina que é capaz de mobilizar incontáveis milhões pois enxerga nas suas redes sociais a imagem do Povo. Os líderes do Congresso e os comandos das Forças Armadas compartilham a ilusão presidencial. Daí, o temor geral de pronunciar a palavra “Basta!”.

Os chefes militares renunciam a prestar continência à Constituição e repelir a politização dos quartéis. Os políticos vacilam diante do imperativo de deflagrar um processo de impeachment. A opção pelo apaziguamento encorajará os extremistas a avançar mais um passo, testando uma nova fronteira. Às vezes, as democracias morrem de uma enfermidade chamada medo.

Demétrio Magnoli, sociólogo - Folha de S. Paulo


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Crepúsculos precoces - Fernando Gabeira

[ o presidente Bolsonaro se confundiu com os países e incorreu no mesmo erro de Cristiano Ronaldo - craque na bola e perna de pau em matéria de meio ambiente.]


De uma certa forma, tento falar disso há muito tempo: Bolsonaro não tinha noção das forças que enfrenta quando está em jogo o futuro da Amazônia. É algo que acontecia também com seu ministro Onyx Lorenzoni. Ele disse que não iria ver as queimadas na Amazônia porque há coisa mais importante para fazer. Como assim? Pareciam ignorar até mesmo a repercussão internacional dessas queimadas. Grande parte do planeta preocupada com o tema; Onyx subestimava. Por muito menos, nas queimadas de Roraima, ministros se deslocaram para lá. Ver o que estava sendo feito, o que era preciso fazer. [Optamos por começar registrando nossa posição  contra as queimadas - realizadas de forma descontrolada.
Agora enfatizamos que salvo inesperada mudança de rumo, as queimadas não vão produzir o 'escândalo' que grande parte da imprensa e os inimigos do presidente Bolsonara desejam e esperam.

Óbvio que as queimadas devem ocorrer de forma controlada, mas, quem dita o que ocorre no Brasil não são os gringos - o que inclui o ritmo das queimadas.
E os franceses não se destacam pela credibilidade/confiabilidade - o que fizeram com os argentinos da Guerra das Malvinas, na qual venderam mísseis EXOCET para os 'hermanos' e ao mesmo tempo passavam os códigos de controle para os ingleses. Fácil deduzir qual país foi o traidor e qual foi o traído. 
O Macron quis ser o xerife do mundo, mas, não foi aprovado - antes tem  resolver os problemas internos, o que inclui os COLETES AMARELOS.
 
Da mesma forma que o Brasil precisa vender seus produtos agropecuários a outros países estes também precisam comprar do Brasil.
É um jogo complicado - só que é mais fácil enfrentar por algum tempo a falta de dólares, euros, etc do que a falta de comida - especialmente em países em que os que passam fomes são uma minoria.]
Isso numa semana intensa, em que o crepúsculo precoce em São Paulo intrigou a população. Era resultado de queimadas, possivelmente da região de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Mas, de uma certa maneira, realçaram a preocupação com queimadas.

O secretário-geral da ONU se diz preocupado. Macron também se diz preocupado, embora use uma foto antiga e repita o mito da Amazônia pulmão do mundo.
Bolsonaro não inventou as queimadas. Existe uma estação anual do fogo. Mas sabotou muitas formas de combatê-la. Inicialmente, anunciou sua oposição às multas do Ibama, proibiu que fossem destruídos equipamentos clandestinos na mata, questionou os dados do Inpe, demitiu o diretor, rompeu com o Fundo Amazônia, hostilizou a Alemanha e a Noruega. Que, por sinal, financiam a prevenção às queimadas.

O nível de desmatamento sempre aumenta quando diminui a fiscalização. E todos que conhecem um pouco da Amazônia sabem da importância do fator subjetivo. Os desmatadores leem atentamente os sinais do governo. Bolsonaro sinalizou com enérgicas bandeiradas permissivas.  Caminhamos agora para uma grande turbulência. A ideia de refugiar-se no nacionalismo acaba fazendo do Brasil que deseja manter a floresta de pé uma parte da conspiração estrangeira para entregar a Amazônia. Bolsonaro tende à aventura isolacionista. O caminho é reconhecer a importância planetária da Amazônia, conjugar esforços internacionais para preservá-la e valorizá-la pelo conhecimento.

Num programa de TV, o cientista Carlos Nobre mencionou o açaí, um caso de sucesso rendendo por hectare dez vezes mais que a pecuária. Nos Estados Unidos, o açaí virou moda e seu consumo certamente inspira pesquisas para melhorar e encarecer o produto.Há pelo menos 400 plantas amazônicas que poderiam ser desenvolvidas, centenas com propriedades medicinais a serem pesquisadas.
Grandes equívocos ambientais são provocados pela busca da riqueza. A política amazônica do governo é um equívoco provocado pela busca da pobreza. Ameaça destruir a biodiversidade em busca de minério, ignorando que o maior valor está sendo destruído.

Se tudo se desse apenas num espaço da economia, já seria um erro. Diante dos olhos do mundo, o governo Bolsonaro se comporta como um aprendiz de feiticeiro. Inclusive com respostas patéticas. Bolsonaro divulgando vídeo de caça à baleia na Dinamarca e acusando a Noruega. [Bolsonaro incorreu no mesmo erro de Cristiano Ronaldo, craque na bola e perna de pau em matéria de meio ambiente:
- Divulgou fotos de um incêndio no Rio Grande do Sul como se fosse na Amazônia e o Macron divulgou como foto de agora, uma tirada por um fotógrafo falecido em 2002 - mais detalhes, aqui. Aproveite e veja um vídeo do ORLANDO VILLAS BOAS, já falecido, mas um dos maiores especialistas em índios e Amazônia, que mostra as razões do interesse dos que se julgam 'donos do mundo' em tomar posse da Amazônia.
O fato é que a Noruega mata baleias de forma cruel no Ártico, onde também explora petróleo.]  Onyx afirmando que a pressão europeia se deve a interesses econômicos, sobretudo porque a esquerda no Pós-Guerra abraçou a ecologia. 
Macron não é de esquerda; muito menos Angela Merkel. O secretario-geral da ONU?
Desde o princípio, sabia que isso ia ser problemático para o Brasil. Bolsonaro não percebeu que, além das ONGs e dos políticos mundiais, existem milhões no planeta que consideram a Amazônia um bem da Humanidade.

Importante que saibam também que existem brasileiros contra a política de Bolsonaro. Mesmo porque depositam nas costas do brasileiro no exterior um fardo que não é dele. De alguma forma, é preciso mostrar que a visão do governo não é a visão do Brasil. Considerando as condições históricas, a política de Bolsonaro é apenas um desvario. Ela contraria até as forças que o apoiaram, como os setores do agronegócio.
No quartel, ouve-se às vezes o grito “meia-volta, volver”. De um modo geral, vem do oficial superior. Quem vai gritar “meia-volta, volver” para Bolsonaro será uma grande parte da Humanidade. Vamos testar o seu ouvido. Infelizmente, já existe um desgaste para a imagem internacional do pais. É hora de reduzir os danos.

Blog do Gabeira

Artigo publicado no Jornal O Globo em 26/08/2019


quinta-feira, 9 de maio de 2019

Bolsonaro, o boneco de Olavo

Fardas maculadas

Entre Olavo de Carvalho, ex-astrólogo e autoproclamado filósofo, e os mais de 100 militares que já empregou no seu governo, o presidente Jair Bolsonaro preferiu ficar do lado do primeiro.  Pouco importa que Olavo tenha enxovalhado a imagem e a honra de generais da reserva que hoje ocupam ministérios e têm direito a gabinetes no Palácio do Planalto.
Pouco importa também que Olavo tenha descido ao fundo do poço e usado expressões chulas para debochar do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, gravemente enfermo.

[excelente matéria; desagradável, lamentável até de se transcrever, porém, irrefutável,  honra a grande competência do seu autor;

É uma opção do presidente e só ele pode decidir sobre - enquanto prevalecer a lamentável opção de agora, o Brasil, os brasileiros, começando pelo presidente, só perdem. 

o Brasil das PESSOAS DE BEM espera que o presidente acorde e perceba que seu apoio ao filósofo de araque além de ofender o Brasil, aos brasileiros, aos  aos militares, prejudica sua própria imagem  a imagem do próprio presidente e, acordando, despreze publicamente o nefasto pseudo guru.] 

Bolsonaro está com ele e não abre. A ficar solidário com os generais humilhados, defendeu a liberdade do seu guru de dizer o que quer: “Ele é dono do próprio nariz, como sou do meu”.  á pelo menos duas razões para que Bolsonaro proceda assim. A conhecida: ele acha que deve sua eleição mais a Olavo do que aos militares. A oculta: Bolsonaro borra-se de medo de Olavo.  O presidente teme virar alvo dos insultos de Olavo e, por tabela, das hordas de fanáticos do falso filósofo nas redes sociais. Prefere, se esse for o caso, até mesmo se indispor com os militares.

Foi o falso filósofo que construiu parte do discurso com o qual Bolsonaro se elegeu. Foi ele que o orientou em momentos difíceis de sua campanha. Seus filhos são “olavistas” de quatro costados.  Mais de 57 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro, mas é Olavo a voz mais influente aos seus ouvidos. Embora costume falar grosso, Bolsonaro é conhecido como um fraco, um frouxo.  Não é um líder. Jamais liderou coisa alguma. No seu tempo de Exército era o que militares mais graduados chamavam de “um bunda suja”, aquele destinado a não subir na carreira. Não subiu.

Indisciplinado, arruaceiro, tomou cadeia no quartel, acabou expelido da farda, e seus filhos foram recusados como alunos em colégios militares. Agora parece vingar-se por tudo que passou.  Nada de parecido aconteceu antes com as Forças Armadas, nem mesmo quando elas bancaram o golpe de 64 e sustentaram a ditadura que se arrastou por 21 anos. À época, seus comandantes foram duramente criticados pelos que se opuseram aos seus atos e denunciaram os seus crimes, mas as críticas jamais resvalaram para o plano pessoal.
“Não se atira nos nossos”, ensina um oficial da reserva da Marinha. Bolsonaro assiste Olavo atirar. E se tentam impedir que ele prossiga atirando, Bolsonaro sai em seu socorro.

Haverá limites para Olavo? Qual será o limite dos generais? Com todo o respeito: passar a mão na bunda deles está valendo?  O que o garoto quis dizer
Carlos, o dono das senhas do capitão  Em meio aos ataques desferidos contra os militares pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o vereador Carlos Bolsonaro, vulgo 02, postou no Twitter o seguinte comentário:
“Quando toda aquela parte da mídia (grobo, estabao, etc) começa a defender quem qualquer um jamais pensou que o fariam, pode ter certeza absoluta que ai tem muita, mas muita jogada. Mas quem somos nós nesse infinito estrelar, que na atual situação significa apenas ego? Brasil!”

Hábil torturador do idioma, Carlos exige, por vezes, o auxílio de um tradutor para que possa ser mais bem entendido. O que ele quis dizer com a mensagem acima?
Carlos está indignado porque a mídia em peso saiu em defesa dos generais enxovalhados por Olavo. Paranóico como é, vê nisso uma prova de que os generais e os jornalistas estão de conluio.
E manda subliminarmente outro pau nos generais quando pergunta: “Mas quem somos nós nesse infinito estrelar, que na atual situação significa apenas ego?”

Blog do Noblat - Revista VEJA

quarta-feira, 10 de abril de 2019

‘Quartel não tem algemas’

Soldados não deveriam patrulhar ruas, nem os militares devem ficar com a conta dos erros dos governos

O general Leônidas Pires Gonçalves comandou o Exército de 1985 a 1990. Foi um daqueles chefes militares que viram de tudo. Em 1945, estava na cena da deposição de Getúlio Vargas. Em 1961, na escuta dos telefonemas de João Goulart durante a crise da renúncia de Jânio Quadros. Em 1964, viu quando o general Costa e Silva começou a emparedar o marechal Castelo Branco. Em 1984, foi um dos generais que garantiram a eleição de Tancredo Neves. Como ministro do Exército de José Sarney, manteve a disciplina na tropa, inclusive quando enquadrou o jovem capitão Jair Bolsonaro, que emergia como uma espécie de liderança sindical militar. Leônidas ensinava: “Quartel não tem algemas”.

[visto que a matéria cuida do lamentável incidente da morte do músico, cabe lembrar que os soldados não estavam patrulhando ruas e sim uma área de segurança, por sediar a Vila Militar.]

Ele era o ministro do Exército em 1988, quando mandou uma tropa para desocupar a usina de Volta Redonda, ocupada por grevistas, e morreram três operários. Passaram-se 31 anos, e uma patrulha do Exército disparou 80 tiros contra o carro que conduzia uma família e matou o motorista. “Quartel não tem algemas”, os soldados não são profissionais treinados para operações policiais, e quando acontece uma dessas tragédias, quem vai para a frigideira são recrutas, um sargento ou, no máximo, um jovem oficial. Em menos de 24 horas, o comando do Exército prendeu dez militares envolvidos na fuzilaria do Rio. A informação inicial, falsa, de que a patrulha respondeu a “injusta agressão”, foi substituída pelo “compromisso com a transparência”.

Há épocas em que as eternas vivandeiras pedem aos militares que façam isso ou aquilo. A ideia de botar a tropa nas ruas do Rio podia parecer “golpe de mestre”, mas é apenas a criação de novos problemas. Passa o tempo, as vivandeiras vestem as camisetas da ocasião e mandam a conta para os quartéis. Jair Bolsonaro entrou no Palácio do Planalto com um discurso popular de defesa da lei e da ordem, confundindo-se com as Forças Armadas. Há dias o presidente disse que “nasci para ser militar”. Só ele pode falar da própria vocação mas, de cadete a capitão, foi militar durante 14 de seus 64 anos de vida e deixou a carreira marcado por 15 dias de prisão por indisciplina. Daí em diante, Bolsonaro foi parlamentar por 29 anos. Parece mais precisa a avaliação de seu vice, Hamilton Mourão, para quem ele é “mais político do que militar”.
O general Mourão formulou uma perigosa profecia: “Se nosso governo falhar, errar demais, não entregar o que está prometendo, essa conta irá para as Forças Armadas, daí a nossa extrema preocupação.”

Isso não deve acontecer. Primeiro, porque as Forças Armadas não são o governo. Há cerca de cem militares na nova administração, mas quase todos estão na reserva, inclusive Mourão. Apesar de poucas manifestações impróprias durante a campanha eleitoral, nos quartéis prevaleceram a disciplina e o silêncio. Três dos quatro comandantes do Exército deste século não disseram uma única palavra. Ganha um fim de semana em Caracas a vivandeira que lembrar os nomes desses generais.
Nenhuma conta pode ir para as Forças Armadas, a menos que se trapaceie o jogo, coisa que ocorreu no ocaso da ditadura, quando o andar de cima vestiu camisetas amarelas, foi para a campanha das Diretas e jogou o entulho do regime na porta dos quartéis.

Quem namora a ideia da expansão das atribuições dos militares sonha com impasses, talvez um conflito com o Congresso. Nesse sonho, “se o governo falhar”, as Forças Armadas ficariam com a conta. A conta será do governo. Os militares, calados, estão na mesa ao lado.

Elio Gaspari, jornalista - O Globo
 

terça-feira, 24 de maio de 2016

O silêncio do STF e do quartel



Fizeram falta de ontem para hoje negativas públicas dos comandantes militares e dos ministros do STF sobre o contexto impróprio em que são citados na conversa de Romero Jucá com Sérgio Machado.


Fonte: Lauro Jardim