O cartunista Laerte
Coutinho, como expressão política, é um farsante. E nem me refiro ao
fato de ele ter decidido parar de se vestir de homem para ser baranga na vida.
Fosse uma sílfide, sua ética não seria melhor. Não é a mulher horrenda que há nele que o
faz detestável, mas o que há de estúpido. E aí, meus caros, pouco importa como
ele use os instrumentos com os quais o dotou a natureza.
Em 2012, esse farsante, que então se dizia bissexual e declarava ter uma
namorada, foi flagrado usando o
banheiro feminino de um restaurante. Estava, como se diz, montado. Uma mulher, segundo os dotes da natureza, sentiu-se incomodada. Especialmente porque
estava no recinto com a sua filha, uma
criança. Indagado se não era justo o incômodo já que, afinal, ele se dizia
também atraído por mulheres, deu a seguinte resposta: “Não importa. Como é que elas se sentiriam com uma lésbica dentro do
banheiro?”.
Depende. A resposta parece esperta, mas é típica de um argumentador picareta. Em
primeiro lugar, Laerte é homem, não
lésbica. Em segundo lugar, ainda que alguns traços
estereotipados (mas nem sempre) possam
indicar o lesbianismo, uma hétero só poderia reclamar da presença de uma lésbica se fosse alvo
de algum assédio. Em terceiro lugar, o exibicionismo certamente doentio de Laerte faz dele o mais
famoso homem que se veste de mulher do país.
Na sua insaciável
compulsão por mandar a lógica às favas — ele
pensa mal não importa como esteja travestido —, afirmou ainda: “Eu sou uma
pessoa transgênera e quero usar o banheiro feminino”. Laerte acredita que o
fato de ele “querer” alguma coisa transforma essa coisa num direito. Mais: salvo demonstração em contrário, o banheiro
feminino é reservado às mulheres, e a menos, então, que sejam consultadas, essa maioria não
poderia ser submetida aos desejos da minoria “transgênera” — na hipótese, não comprovada, de que ele
representasse a dita-cuja, o que também é falso.
Ocorre que esta falsa
senhora transita num meio em que o único preconceito aceitável é não ter
preconceitos, como se as escolhas que fazemos ao longo dos dias, das semanas, dos
meses, dos anos e da vida não comportassem uma carga de saberes prévios e
necessários à organização em sociedade. Mas nem vou me ater agora a esse
aspecto.
Registro apenas que um esquerdista como Laerte, a despeito de sua
ignorância política amplamente demonstrada em suas charges (as que fazem sentido ao menos…), é uma figura icônica
desses tempos em que tudo pode desde que seja visto como transgressão — ainda que não se
saiba por que transgredir e com que finalidade. Em
suma: o sujeito é esquerdista, gay, “transgênera” (seja lá o que isso signifique) e sempre tem, como
disse Mencken, respostas simples e
erradas para problemas complexos.
Para o homem-mulher que
pretende usar o banheiro feminino porque se diz “transgênera” e que acusará o “preconceito”
de
qualquer um que ouse obstar os seus balangandãs entre vaginas, a sua generalização é insuportavelmente preconceituosa. Pior ainda: desta
feita, é a minoria que está no poder — e
Laerte pertence inequivocamente ao terreno dos que governam o país há 13 anos —
ironizando a maioria que não está.
Associar
as pessoas que pedem “Fora Dilma” a supostos policiais que praticam chacinas é
duplamente doloso:
1 – porque atribui a
milhões de pessoas que vão às ruas comportamento e escolhas criminosas;
2 – porque associa a
Polícia Militar, como instituição, ao crime.
Vera Guimarães Martins, ombudsman da
Folha — entre os melhores textos que já
passaram pela função, diga-se —, escreveu a respeito
neste domingo. Laerte se
pronunciou, defendeu sua charge estúpida e produziu esta pérola:
“Muitos manifestantes tiraram selfies ao lado de PMs e as reproduziram fartamente nas redes sociais, transformando esse gesto num ícone de todas as marchas até agora. Essas pessoas não estavam confraternizando com soldados específicos –estavam demonstrando apoio a uma corporação que vem sendo apontada como uma das mais envolvidas em mortes de pessoas, no país (segundo esta Folha, no primeiro semestre, foram 358 mortes “em confronto”). Os recentes assassinatos apontam, segundo as investigações, para ação motivada por vingança, por parte de policiais. O que busquei foi juntar as pontas desses fatos sociais e estimular a reflexão.”
“Muitos manifestantes tiraram selfies ao lado de PMs e as reproduziram fartamente nas redes sociais, transformando esse gesto num ícone de todas as marchas até agora. Essas pessoas não estavam confraternizando com soldados específicos –estavam demonstrando apoio a uma corporação que vem sendo apontada como uma das mais envolvidas em mortes de pessoas, no país (segundo esta Folha, no primeiro semestre, foram 358 mortes “em confronto”). Os recentes assassinatos apontam, segundo as investigações, para ação motivada por vingança, por parte de policiais. O que busquei foi juntar as pontas desses fatos sociais e estimular a reflexão.”
É asqueroso. Pessoas fazem, sim,
selfies com policiais que estão sem máscara, de cara limpa, acompanhando pacificamente uma
manifestação política de… pacíficos! De fato, demonstram seu apoio à instituição que
responde pela segurança pública, não a eventuais assassinos que se acoitam na
corporação. Afirmar — e notem que é isso que
ele faz — que esses manifestantes estariam apoiando esquadrões da morte é
delinquência intelectual. Mais: as
investigações estão sendo conduzidas, entre outros entes, pela própria Polícia
Militar.
Há mais burrices na
fala da baranga moral: há mais de 50 mil
assassinatos por ano no Brasil, e a
Polícia Militar não está entre as que mais matam. É mentira! No caso, as mortes aconteceram em São Paulo, estado
que tem hoje a menor taxa de homicídios do país.
A figura travestida de pensador ainda
ousa: “Toda redução será, em algum grau,
injusta”. É verdade. Mas Laerte não produziu só a “redução” inevitável de uma charge. A “transgênera” que participou de um evento no Instituto Lula no
dia 16 de agosto, enquanto mais de 600
mil pessoas pediam o impeachment de Dilma, as associou a todas ao crime, à
violência e a execuções sumárias. No mesmo dia, naquele instituto, os “companheiros” faziam a defesa de petistas presos, flagrados com a boca da botija.
O homem que se finge
de mulher associa manifestantes pacíficos a criminosos para que possa
participar de um ato que, fingindo-se de pacífico, defende criminosos. Laerte é uma fraude de gênero. Laerte é uma fraude
lógica. Laerte é uma fraude moral. Mas
que se note: ele não está só. Multiplicam-se os textos no colunismo que tentam associar os que pedem o impeachment
de Dilma, ancorados na lei, à defesa da violência e da truculência, embora essas pessoas
tenham promovido as três maiores manifestações políticas do país sem um único
incidente. A pauta de uma minoria, que pede intervenção militar, é usada como
exemplo do suposto perfil antidemocrático de quem sai às ruas.
Não obstante, até agora, só duas
lideranças com alguma projeção acenaram com confronto armado foram Vagner Freitas, presidente da CUT, e
Guilherme Boulos, chefão do MTST. O assunto sumiu da imprensa.
Fonte: Blog do Reinaldo
Azevedo