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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Até 1ª Guerra, não existiam fronteiras entre Israel, Líbano, territórios palestinos e Síria - Guga Chacra


Meu avô nasceu otomano, achava que fosse sírio, disseram que era libanês e, se nascesse alguns quilômetros mais ao Sul, seria palestino. As vilas daquela região do Mediterrâneo Oriental integravam o Império Otomano, com sede na distante Istambul (Constantinopla). 
Não existiam fronteiras no que hoje é Israel, territórios palestinos, Líbano e Síria. 
A pessoa se identificava com sua vila, sua religião e sua região. 
Poderia ser um cristão melquita de Zahle, um muçulmano sunita de Nablus, um judeu de Aleppo, um muçulmano xiita de Nabatieh, um cristão armênio de Jerusalém, um druso das Colinas do Golã ou um cristão greco-ortodoxo de Haifa. Todos súditos otomanos. 
 
A noção de Estado nacional era inexistente naquela região até a Primeira Guerra, quando os otomanos foram derrotados e viram seu império desmoronar. França e Reino Unido, os vencedores da guerra, dividiram entre si essa região do Levante, assim como outras partes do Império Otomano, a não ser pela Turquia. Por exemplo, os britânicos uniram três províncias diferentes na Mesopotâmia e inventaram uma monarquia artificial chamada Iraque. 
Anos depois, fariam o mesmo no que hoje é a Jordânia. 
 
A França ficou com o que hoje é Síria e Líbano, criados no mandato francês nos anos 1920 e que viriam a ficar independentes nos anos 1940. O Reino Unido, por sua vez, ficou com a região da Palestina histórica. Como no resto do Levante, tratava-se de uma região multirreligiosa. 
Basta ver que a cidade antiga de Jerusalém historicamente é dividida em quatro quadriláteroso cristão, o armênio (também cristão), o islâmico e o judaico. 
A maioria da população era muçulmana, mas havia expressivas minorias de diferentes denominações cristãs e judaicas. 
 
Diferentemente do que ocorreu no Líbano e na Síria com a França, a região onde estava a Palestina histórica teve um status indefinido pelos britânicos. Afinal, além da população que ali vivia (muçulmanos, cristãos e judeus), ocorreu uma enorme imigração de judeus europeus durante o movimento sionista. 
Diferentemente da população local, eles traziam uma noção de Estado nacional e, diante das perseguições que sofriam na Europa, consideravam o que hoje é Israel como o único lugar onde poderiam estabelecer uma nação judaica dado os laços milenares com a região, onde está Jerusalém, berço do judaísmo — essa ideia ganhou ainda mais força ao redor do mundo com o Holocausto. 
 
Nesse momento, duas identidades passam a se chocar. A dos muçulmanos e cristãos, que não tiveram uma nação para suas vilas sob o mandato britânico, diferentemente do ocorrido nos recém-independentes Síria e Líbano com a França — e com o colapso otomano começava a emergir a identidade palestina. 
E a dos judeus tanto vindos da Europa como os locais, que queriam uma nação judaica. Naquele momento, talvez até pudessem ter um Estado sectário sem maioria religiosa, como o Líbano.
 
No fim, os palestinos não aceitaram a partilha por avaliar ser injusta porque dava áreas de expressiva maioria árabe para Israel. 
O fato é que houve a guerra de 1948, que resultou na expulsão e saída da maioria dos palestinos do territórios israelenses a maioria dos habitantes de Gaza descende de palestinos que viviam há gerações no que hoje é Israel. Paralelamente, nos ano seguintes, houve a expulsão ou saída de judeus de países como Síria, Egito, Iraque e Líbano. Segundo o escritor franco-libanês Amin Maalouf, que preside a Academia Francesa de Letras, estes dois acontecimentos são a tragédia do Levante, como é conhecida esta região.

Guga Chacra, colunista - O Globo


quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Se o problema é só a sanguinolência, que tal uma bomba nuclear? - Gazeta do Povo

Bruna Frascolla

 O cogumelo da Little Boy em Hiroxima, de urânio, e o Fat Man, em Nagasáqui, de plutônio.

O cogumelo da Little Boy em Hiroxima, de urânio, e o Fat Man, em Nagasáqui, de plutônio.| Foto: George Caron & Charles Levy/Domínio público
 
Estou preocupada com a prontidão da direita brasileira em aceitar um eventual genocídio em Gaza como uma resposta legítima de Israel aos covardes ataques do Hamas.  
Na caixa de comentários do meu último artigo, não faltaram leitores dispostos a interpretar um cerco a toda uma população como um ataque exclusivo ao Hamas
O ministro da defesa diz que vai deixar Gaza (inteira) sem água nem comida por se tratar de um combate a "animais humanos", mas o leitor quer porque quer entender que ele se referia unicamente ao Hamas.
 
O debate no Brasil anda tão mal que agora politizamos marca de chocolate ruim. Bis é de esquerda, Kit-Kat é de direita.  
LGBTs são de esquerda, religiosos são de direita. 
Barbárie contra civis israelenses é de esquerda, cerco criminoso contra palestinos é de direita. 
E no fim das contas, se você não correr para justificar morticínio algum, você é nazista. 
Não sei vocês, mas faz anos que estou cansada dessa competição para ver quem chama mais o outro de nazista. 
Esse ethos histérico da esquerda identitária foi replicado com tudo pela nova direita. Agora, se você come Bis, é de esquerda, portanto nazista.

A defesa do genocídio em Gaza se baseia, para a maioria dos brasileiros (e ocidentais), em duas coisas: na redução da linha temporal e na ênfase exclusiva sobre o barbarismo como Mal absoluto. Comecemos pela primeira.

No calor do momento, faz perfeito sentido o mundo se deter na abjeção do crime cometido pelo Hamas e na solidariedade aos judeus que perderam familiares e amigos (ou que têm familiares e amigos em Israel). Na medida em que se inicia uma guerra, porém, é obrigação de qualquer cidadão politicamente engajado tentar entender o que aconteceu. O inglês Carl Benjamin, youtuber e político defensor do Brexit, revelou notável poder de síntese na seguinte frase: "O apoio a Israel não é tão inequívoco [como pretendem as lideranças ocidentais] por causa do poder que ele exerce sobre a Palestina, e isso complica enormemente a equação moral."

Gaza tem uma pequena fronteira com o Egito; por isso seria natural que cultivasse proximidade política com ele. 
Outra localidade que lhe interessaria, e mais ainda, é o resto da Palestina, o território referido como "Banco Ocidental" e que faz fronteira com a Jordânia. 
Essa área é controlada pelo Fatah, o partido político do notório líder Yasser Arafat. 
Tudo muda quando o Hamas ganha uma eleição em Gaza em 2006 e nunca mais sai do poder. E mais: o Hamas é aliado da Irmandade Muçulmana, inimiga do Egito e da Arábia Saudita. 
Por isso a fronteira com o Egito foi fechada. Quanto ao Banco Ocidental, ele continua governado pelo Fatah. Resultado: Gaza fica isolada dos seus aliados árabes, inviabilizando a criação do Estado da Palestina e aumentando (em comparação ao Egito) a dependência de Israel, que concede vistos de trabalho e assim abastece o Hamas com dinheiro de trabalhadores
Quanto às relações do Hamas com a Arábia Saudita e o Egito (más), e com o Catar (boa), recomendo esta e esta coluna do colega Filipe Figueiredo.

Não sei vocês, mas faz anos que estou cansada dessa competição para ver quem chama mais o outro de nazista. Esse ethos histérico da esquerda identitária foi replicado com tudo pela nova direita

Em vez de fazer de conta que tudo começou neste mês, voltemos só quatro anos no tempo. Eis o título de uma matéria de 12 de março de 2019 do Jerusalem Post, tradicional jornal de língua inglesa cuja existência remonta aos tempos coloniais britânicos da Palestina: "Netanyahu: Dinheiro para o Hamas é parte da estratégia para manter os palestinos divididos".  
A matéria alude às notórias remessas do Catar para o Hamas, e gira em torno da permissão dada por Netanyahu para que tal dinheiro entrasse em Gaza. 
A questão é tão notória em Israel, que é objeto de discussão político-partidária. 
O Partido Azul e Branco tinha em seu programa "parar de permitir a transferência dos fundos para o Hamas, chamando-a de pagamentos por 'proteção' ao estilo mafioso";
-  já um político trabalhista não parecia crer que eles sequer tivessem tal proteção, pois acusava Netanyahu de não levar a sério os projéteis lançados de Gaza. "Nós, residentes da fronteira com Gaza, estamos pagando o preço pela falta de políticas e pela arrogância ao lidar com terror", disse.

A palavra é certeira: arrogância. Porque, como informava o jornal, Netanyahu, na reunião do seu partido (o Likud, ou Consolidação), defendia o financiamento do Hamas. Cito a matéria, que ouviu uma fonte interna: "o primeiro ministro também disse que 'quem quer seja contra um Estado palestino tem que ser a favor' de transferir os fundos para Gaza, porque estabelecer uma separação entre a Autoridade Palestina no Banco Ocidental e o Hamas em Gaza ajuda a impedir o estabelecimento de um Estado palestino."

No dia seguinte ao maior ataque do Hamas, o Times of Israel publicou o artigo de opinião de Tal Schneider intitulado "Por anos, Netanyahu apoiou o Hamas. Agora, explodiu na nossa cara". Nele lemos uma crítica à estratégia de Israel de considerar "a Autoridade Palesitna um ônus e o Hamas um bônus", além de negligenciar, cada vez mais, os ataques vindos de Gaza. 
Agora, uma pergunta para o leitor ingênuo: se a elite política de Israel não quer que exista um Estado palestino, o que será que ela quer fazer com as áreas ocupadas pelos palestinos?

Vejam bem, isso tudo é opinião publicada em Israel. Se for recuar mais no tempo e meter a mão em vespeiro, dá pra encontrarmos, no Wall Street Journal, agente aposentado de Israel botando a boca no trombone e dizendo que o Hamas é uma invenção de Israel, um erro do qual ele se arrepende. Quem voltou ao assunto recentemente foi o veículo do Green Greenwald, judeu étnico, nesta matéria.

Então ficamos assim: Israel, do alto de seu poderio econômico, militar e político, coloca a sabotagem do Estado palestino como uma prioridade superior à segurança dos seus próprios cidadãos (isso sem nem falarmos dos árabes, que também são gente), e depois, quando dá ruim, empurra ao público imagens sangrentas de bebês para exigir apoio incondicional para matar outros bebês que não serão fotografados. E quem achar ruim é nazista! Diz-se que os palestinos são vítimas do Hamas. 
Decerto os israelenses são vítimas de Israel também.

Agora vamos ao segundo ponto. Se assumirmos que mortes sanguinolentas são moralmente piores do que quaisquer outros tipos de mortes, caímos naquele velho conto, frustrado pelo século XX, de que o progresso técnico leva ao progresso moral. Ora, como se sabe, o século XX demoliu essa crença justo por ter mostrado como é possível um país muito avançado (tecnologicamente) usar a sua bela infraestrutura para criar assépticas fábricas de morte, que faziam suas vítimas saírem em pó pela chaminé. Se acreditarmos que bárbaros ensopados de sangue são a pior coisa do mundo, então os campos de Auschwitz ficam para trás.

Lembra-me a reflexão de Bernanos em A França contra os robôs durante a II Guerra: "O que me faz desesperar do futuro é justamente o fato de que o esquartejamento, o esfolamento, a dilaceração de milhares de inocentes seja uma tarefa que um gentleman possa levar a efeito sem sujar os punhos da camisa, e nem mesmo a imaginação. Se o companheiro de Pizarro estripasse uma única mulher grávida, mesmo sendo ela uma índia, é provável que ela viesse a reaparecer desagradavelmente em sonhos. Já o gentleman não viu nada, não ouviu nada, não tocou em nada — foi a máquina que fez tudo; a consciência do gentleman está em ordem, sua memória apenas se enriqueceu com algumas lembranças esportivas, com as quais ele deleitará, na hora de dormir, 'a mulher da sua vida', ou aquela com quem ele engana 'a mulher da sua vida'."

Se acreditarmos que bárbaros ensopados de sangue são a pior coisa do mundo, então os campos de Auschwitz ficam para trás

Durante a II Guerra, Bernanos não tinha como saber dos campos de extermínio nazistas; mas, pela sua experiência na I Guerra, já sabia de como era diferente matar a sangue frio e bombardear. Bombardeio mata muito mais; ainda assim, o burguês tão criticado em seus livros acha muito civilizado atirar bomba na cabeça dos outros, sem saber direito quem está matando.

E se o Holocausto foi o exemplo escolhido para marcar a catástrofe humanitária da II Guerra (sem dúvida muito mais traumático porque foi uma catástrofe europeia intestina), os acontecimentos do Japão não ficam atrás. No entanto, se a mera negação do Holocausto é crime em muitos países ocidentais, a justificação do bombardeio atômico de Hiroxima e Nagasáqui é encontradiça por todo o Ocidente.  

Vá lá que aceitássemos que o Japão Imperial não seria detido sem uma medida drástica e criminosa: o que explica uma segunda bomba? (Para não dizer que não encontrei nenhuma explicação para a segunda bomba, ouvi uma tão plausível quanto infame: experimento científico. As duas bombas eram de tecnologias diferentes.)

Não há imagens sangrentas; as fotos dos cogumelos atômicos não embrulham o estômago de ninguém e são exibidas por aí. 
Os gentlemen que soltaram Little Boy e Fat Man puderam voltar limpos para casa, cheios de histórias aeronáuticas para contar.

Volto a Bernanos: "admito que esse ditado: 'Existem coisas que não se fazem', embora aparentemente inspirado pela Moral, tenha um significado muito menos respeitável: este, por exemplo — 'Existem abominações que não me sinto capaz de fazer.' Mas não se apressem em tirar conclusões tranquilizadoras demais. Os bandos de soldados da Guerra dos Cem Anos ou, pior, os companheiros de Pizarro, eram seguramente bestas-feras. Para o soldado, a hora da pilhagem era, naqueles tempos, hora privilegiada em que 'todas as coisas são permitidas'. Quando todas as coisas são permitidas, não é necessariamente verdadeiro que elas sejam todas possíveis. Se vocês perguntassem a um companheiro de Pizarro, ou ao próprio Pizarro, se ele se sentia capaz de degolar dez criancinhas, ele talvez respondesse com uma afirmativa. Mas vinte? Cem? Na impossibilidade de enternecer o coração deles, essa carnificina lhes teria provavelmente revoltado o estômago; eles acabariam por vomitar em suas mãos vermelhas. Esse vômito mais ou menos tardio teria assinalado, para eles, o limite da crueldade que não se poderia ultrapassar, sob pena de vir a ser um monstro irresponsável, um louco. Qualquer um, atualmente, do alto dos ares, pode liquidar com o máximo conforto, em vinte minutos, milhares de criancinhas, e só sentirá náusea em caso de mau tempo e se por infelicidade for sujeito a enjoos em aviões..."

E vocês vão achar bonito, claro, porque não são nazistas. São civilizados que não apoiam a barbárie. Matar criança, pode; o que não pode é sujar as mãos.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima
 
 

Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

CPMI do 8 de janeiro: um relatório previsível e longe da realidade - Alexandre Garcia

 Gazeta do Povo - VOZES
 

Hoje a CPMI deve votar o relatório da relatora que foi divulgado ontem. 
Ela está propondo o indiciamento de 61 pessoas, principalmente aquelas as quais já tinha decidido que seriam indiciadas desde o primeiro dia. Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, os generais que acompanham Bolsonaro, inclusive o comandante do exército, comandante da Marinha, general Heleno, general Braga Neto, general Ramos, o ajudante de ordens, Mauro Cid
Ela pôs o nome do governador de Brasília, mas não pode.  
Quem pode fazer uma CPI investigando o governador de Brasília é o legislativo do Distrito Federal, não o legislativo federal. Mas, enfim, são 61.
 
Não há surpresa. 
 
Tem um relatório paralelo dos senadores Izalci Lucas, do Distrito Federal, que sugere o indiciamento também do general-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Gonçalves Dias e do ministro da Justiça, Flávio Dino. 
Falando em Flávio Dino, ele ontem suspendeu a ação da Força Nacional lá na Vila Renascer, em São Félix do Xingu, que já provocou a morte de um produtor rural. 
Felizmente vai dar tempo para se pensar em como tirar produtores rurais com uma ampla produção de agricultura familiar, como mostraram ontem numa feira, no Dia da Agricultura, e que lá estão há 30 anos assentados pelo Incra, dentro de uma reserva indígena. O que fazer? Precisa solucionar isso. 


ONU e o Hamas

A ONU, então, examinando a proposta do Brasil, lembra muito Garrincha, quando recebeu ordens do técnico sobre que ele deveria fazer com seus companheiros para invadir a área russa. O Garrincha perguntou, "mas já avisaram os russos?". 
Aí a ONU está dizendo que o Hamas tem que entregar imediatamente, e de forma incondicional, os reféns civis, que devem receber tratamento de direito internacional. Será que já perguntaram ao Hamas?  
O Hamas tem esses reféns como troféu de guerra e como defesa. É uma trincheira, é uma barreira que o Hamas quer usar. Jamais o Hamas vai atender a ONU. Aliás, o terrorismo nunca deu bola para a ONU.  
Aliás, a gente se pergunta qual é a força que a ONU tem com toda essa burocracia
Será que a ONU não sabe que o terror só ouve a linguagem da força? Imagina alguém que toca fogo em soldado, que decapita bebê, que mata civis indefesos, que já estão no chão, encolhidos. Vão fazer o quê? 
Vão atender a ONU e devolver os quase 200 reféns? 
E Lula está pedindo ao Irã. O Irã, aquele com o qual Lula incomodou os Estados Unidos, deixando duas belonaves do Irã ficarem no Rio de Janeiro. 
E o Irã e a Turquia, para fazer cessar fogo, é tudo que o Hamas deseja. Também é muito ingênuo. O Hamas vai lá, ataca Israel, aplica selvageria contra Israel, e na hora que Israel vai reagir diz "não, cessar fogo". 

É incrível, é quase inacreditável que a gente tenha proposto uma coisa dessas. Mas, enfim, são as coisas do mundo de hoje em que há muita propaganda. A primeira vítima numa guerra é a verdade. E as pessoas, as autoridades continuam agindo como se fôssemos todos uns jumentos sem cérebro

Ditadura dos grupos terroristas em Gaza só sobrevive por causa da guerra - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Praticamente não se fala mais dos crimes cometidos no ataque do dia 7 de outubro e exige-se que Israel cesse ‘as hostilidades’

Depois dos ataques selvagens que Israel sofreu dos terroristas do Hamas, com o massacre de inocentes, entre eles três brasileiros, o assassinato de bebês, o sequestro de reféns, tortura e estupros, a reação imediata e quase unânime das classes intelectuais civilizadas foi pedir “a cessação imediata das hostilidades” por parte dos “dois lados”
É uma pena, realmente, que não tenham feito seus apelos de paz antes da chacina executada pela “resistência do povo palestino”
Não teria havido, então, a morte de nenhum “civil palestino”, nem os bombardeios contra os centros de operação do Hamas em Gaza, nem a fuga de refugiados das zonas de guerra – que os terroristas, aliás, tentam impedir bloqueando estradas e obrigando a população a sofrer com as bombas da reação israelense. 
Sem a agressão, na verdade, haveria a paz, como ocorre com outros vizinhos do Estado de Israel. Mas a ditadura dos grupos terroristas em Gaza não existe com paz – só consegue sobreviver com a guerra e o apoio que recebe da esquerda mundial.
O que se exige de Israel, entre os professores universitários, peritos em “questões internacionais” que dão entrevistas na mídia, formadores de opinião e o restante deste bioma, é uma decisão impossível de ser tomada. Depois do assassinato a sangue frio de 1.400 israelenses, recomendam eles todos, Israel não deveria reagir com nenhuma medida de força; teria de convidar o Hamas, a ONU e a Anistia Internacional para “negociações de paz”, e ficar esperando o próximo massacre. 
Praticamente não se fala mais dos crimes cometidos no ataque do dia 7 de outubro. 
A preocupação é começar um diálogo para o atendimento das reivindicações palestinas – algo muito pouco provável, considerando-se que o objetivo oficial do Hamas é a extinção material do Estado de Israel e a expulsão dos 9 milhões de judeus que vivem ali. 
O que a esquerda sugere que Israel faça, então? Não é viável propor que os israelenses se suicidem, ou entreguem tudo o que têm ao Hamas. Exige-se, então, que cessem “as hostilidades”. O que mais? Mais nada. [comentário = mais uma vez destacamos que expressamos nossa opinião sem nenhum viés ideológico e sim, considerando apenas o ASPECTO HUMANITÁRIO.
Os autores dos atos lamentáveis e reprováveis praticados contra o território israelense em 7 p.p., tiveram tempo mais que suficiente para estarem abrigados em local seguro e a salvo de qualquer reação de Israel e certamente não escolheram como abrigo a Faixa de Gaza - área que além de ser continuamente bombardeada por Israel, também se encontra sob cerco que impede a entrada de AJUDA HUMANITÁRIA tais como alimentos, água, energia, gás, medicamentos etc.
E é esta área que após mais de 10 dias do ataque de 7 de outubro continua sob intenso bombardeio das forças militares de Israel e tem como alvo apenas civis palestinos, incluindo, por óbvio, além dos homens, as mulheres, crianças, idosos, etc.]
Há uma pregação maciça, universal e permanente para Israel tratar as populações civis” com a humanidade que o Hamas jamais teve em relação ao povo israelense
É extraordinário, a esse propósito, que o mais trágico ataque ao povo de Gaza até agora veio dos próprios terroristas – um grupo rival do Hamas errou a pontaria ao disparar um míssil, e matou 500 pessoas dentro de um hospital. 
Nunca se menciona que só há vítimas entre os palestinos porque Israel foi agredido com um ataque criminoso; ninguém teria sido ferido ou morto, de nenhum dos lados, se o Hamas não tivesse feito o que acaba e fazer. Israel não está executando uma vingança, e nem agride inocentes para aterrorizar pessoas, como fez o Hamas. 
Está combatendo um inimigo militar que prega abertamente a sua destruição. Pode até conviver com ele, cada um do seu lado da fronteira. Mas não pode deixar que os terroristas invadam o seu território, exterminem seres humanos e destruam alvos civis – e não dispare um tiro em legítima defesa.[legitima defesa??? mais de uma semana após o ataque motivador da eventual ação aqui chamada de 'legitima defesa'?]
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo 
 

 

Um Estado pobre para os pobres e rico para sua elite. - Percival Puggina

Diário do Poder

Autoridades usam jatinhos da FAB 8 vezes ao dia

       Entre 18 de setembro e 10 de outubro foram registrados 167 novos voos de autoridades nos jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo dados da transparência da Aeronáutica, o total já subiu para 1.647 voos em 2023, sem contar viagens do presidente, e do vice. Os voos podem ser requisitados por ministros do governo Lula, presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, além dos comandantes das Forças Armadas. Em média, foram 8 voos por dia em 22 dias.

Ministério campeão

O Ministério da Justiça de Flávio Dino mantém a liderança na Esplanada do maior número de voos de jatinhos da FAB: 78 até agora, este ano.

Congresso voador

Apenas as presidências da Câmara dos Deputados (113) e do Senado (92) realizaram mais voos nos jatinhos da FAB.

*        Conteúdo original aqui: https://diariodopoder.com.br/coluna-claudio-humberto/farra-de-cargos-no-senado-entulha-gabinetes-de-assessores#SubAbre

Comento(site Special Puggina)

Tais facilidades e confortos são custeados com o suor de quem trabalha, produz, presta serviços e paga impostos.

Dói conhecer esses números. Causa indignação saber que se trata de um “direito” usado sem o menor constrangimento e em proporções abusivas por autoridades que deles se valem com a convicção de que têm mérito correspondente ao cargo que ocupam. Imagino que as decisões de requisitar o privilégio sejam antecedidas de ponderações do tipo “Quero e posso porque sou o que sou” ou “Não cabe a mim restringir meus direitos”.

Todas essas autoridades prefeririam que os respectivos dados não viessem a público. Afinal, nenhuma delas proclamaria ao eleitorado sua determinação de uma vez no cargo, abandonar os desconfortos dos voos comerciais e – principalmente – o incômodo contato com o público. Nenhuma!

Enquanto bons parlamentares, bons políticos, bons prestadores de serviços à sociedade fazem questão disso, outros se esguiam para seus locais de embarque em carros pretos com vidros ainda mais escuros e opacos. São os milionários das sextas-feiras, a prazo fixo à custa da sociedade.

O Estado brasileiro é pobre para os pobres e rico para sua elite.

 

'Vagabundo que atira em polícia tem que ser morto'. Veja como pensa o delegado cotado para ser secretário de Polícia Civil

Presidente do Detran.RJ e delegado da Polícia Civil do Rio, Marcus Amim é cotado para o cargo de secretário da pasta, escolha do governador Cláudio Castro, o que tem movimentado até mesmo a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A Casa recebeu um projeto de lei complementar que muda a lei orgânica da corporação, o que permitiria o comando por delegados que estejam há 15 anos na instituição, inclusive em outros cargos. Antes de assumir o órgão estadual, em junho, Amim estava, há dois anos, na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). 
É em seu perfil nas redes sociais que o delegado compartilha parte de seu trabalho e, como comentarista, o seu pensamento sobre a política de segurança do estado do Rio. "A polícia mata sim. Mata vagabundo que atira em polícia. E vai continuar matando. Tem que matar mesmo. Vagabundo que atira em polícia tem que ser morto. Tem que ser neutralizado. A lei diz isso, a Constituição diz isso, a Bíblia, no que você quiser se amparar", disse Amim, por exemplo, num comentário durante o Jornal SBT Rio. Adepto ao #tbt, o trecho foi publicado em 21 de setembro.

Como comentarista, Amim opina sobre ações policiais, casos recentes de violência e política de segurança pública.

Alguns dos vídeos publicados em suas redes trazem a hashtag "narcoterrorismo", termo usado pelo ex-governador do Rio Wilson Witzel para se referir ao crime organizado que atua no tráfico de drogas. Outra referência a uma das falas do ex-governador foi em 20 de agosto de 2019, após o caso do sequestro de um ônibus na Ponte Rio-Niterói, em que Willian Augusto da Silva manteve 39 reféns por mais de três horas. O homem foi morto ao ser baleado por um atirador de elite do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Em seu perfil, na época, Amim escreveu: "Chamam sequestrador de vítima, preocupam-se com seu socorro... esse mimimi enoja. #sniper #nacabecinha #vamosvirarojogo". "Mira na cabecinha e... fogo!" foi uma declaração dada por Wilson Witzel em novembro de 2018, antes de tomar posse, ao falar, em entrevista ao "Estado de S. Paulo", que a polícia seria instruída a atirar durante operações contra traficantes.

Amim publicou, em 14 de setembro, um trecho da entrevista à imprensa concedida sobre a operação que chefiou e prendeu criminosos escondidos num esconderijo aos fundos da sede de um projeto social e apreendeu armamentos de grosso calibre. A ação foi realizada em 19 de maio deste ano, com 17 presos, em Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, ele defendeu a presença de agentes em áreas conflagradas.

"Não adianta sabermos, não adianta ser notório que determinada pessoa chefe do tráfico se a gente não tem elementos para imputar esse tipo de crime a essas pessoas. E a gente não consegue isso de dentro de nossos gabinetes. A gente só consegue isso incursionando nas comunidades e nos locais onde eles atuam. Sem isso, a gente não consegue trabalhar. A importância de operações policiais em locais conflagrados e a importância de se ter atenção a atividades das ditas organizações não-governamentais, não são todas, é muito importante destacar", disse em trecho compartilhado.

O delegado já tinha relembrado o caso em outra postagem, em 31 de agosto, quando compartilhou um vídeo do momento da prisão dos homens. Num trecho da legenda, escreveu: "uma das operações que tive o orgulho de realizar no Complexo de Israel".

Num outro vídeo, compartilhado no último dia 3, o delegado fala sobre o uso de fuzis por criminosos para cometerem crimes. Ele questiona a decisão de operações poderem ser realizadas em favelas do Rio de Janeiro, desde que em casos excepcionais, como definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em junho de 2020.

Na legenda, Amim escreveu: "A gente banalizou isso! Criminosos andando na rua de fuzil...as forças de segurança só podem atuar em situações excepcionais. Isso não é uma situação excepcional?"

"A gente banalizou isso. Pessoas andando no meio da rua de fuzil. E aí a Justiça diz que a gente só pode entrar nesses locais mediante situações excepcionais. Não é uma situação excepcional o indivíduo andar na rua de fuzil? Qual é a situação excepcional, então? Coloque ele na (Avenida) Delfim Moreira andando de fuzil", disse em trecho do vídeo.

Marcus Amim é delegado da Polícia Civil há 10 anos, mas está na instituição desde 2002. Como delegado titular, ele comandou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) e a 27ª DP (Vicente Carvalho). Desde junho é presidente do Detran.

Nas redes, também publica fotos no escritório durante o trabalho no órgão estadual e em reuniões. Outras postagens são lembranças de momentos ao lado de colegas de trabalho, em treinamento e de frases motivacionais, uma delas com a citação de Augusto Cury: "As conquistas dependem 50% de inspiração, criatividade e sonhos, e 50% de disciplina, trabalho árduo e determinação. São duas pernas que devem caminhar juntas". A legenda que acompanha diz: "A todos, uma semana abençoada". Num outro post, durante o expediente no Detran, a foto ao celular é acompanhada da frase "O sucesso na vida é resultado de muito trabalho".

Natural de Niterói, Marcus Amim se formou em Direito, em 2003, pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Está há mais de 20 anos na Polícia Civil, tendo exercido também, entre outras funções, o cargo de delegado titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos. Foi também delegado titular da 27ª DP (Vicente de Carvalho).

[COMENTÁRIO: entendemos que o delegado Marcus Amim está certo, certíssimo; o vagabundo tem que respeitar a policia.

Os 'BONS TEMPOS' em que o vagabundo quando via a policia já procurava um muro, apoiava as mãos, ficava de costas par o policial e abria as pernas para o policial fazer o 'baculejo', PRECISAM VOLTAR.] 

 Rio - O Globo

 


terça-feira, 17 de outubro de 2023

O amor venceu o ódio? - Percival Puggina

           Confesso a vocês que nunca ouvi, nem li, nem assisti sob a égide da nova constituição, ações sistêmicas como as destes dias, dos quais se diz estarmos vivendo a vitória eleitoral do amor.

Há uma uniformidade, um equilíbrio de cadências entre os textos e opiniões do jornalismo militante e os de seus companheiros nas redes sociais. Os primeiros escrevem menos pior do que os segundos, não usam palavras de calão e essa é a única diferença. 
Em todos, porém, se percebe o mesmo ódio à divergência, à oposição política, à conservadores, a liberais, a religiosos, a patriotas, a pró vidas, a direitistas (categoria inexistente porque são sempre descritos como integrantes da extrema-direita). Assim também na voz e nos atos do governo.
 
As engrenagens da máquina estatal, rangem, ferro contra ferro, promovendo vinganças e punindo de modo exacerbado. 
Autoridades investidas de poder de Estado sequer percebem mais o ódio que exalam no falar. E como falam! E quanto falam! 
Os fundamentos da esperança de um povo que viu o exercício de sua liberdade ser objeto de ameaça e duríssimas punições são objeto de orgânica destruição. 
A Lava Jato – combatida, revertida, invectivada, desmontada, destruída – faz lembrar essas ruínas de bombardeio que nos são servidas na tela da TV. Nenhum mérito pode ser resgatado dos escombros enquanto os ladrões são apresentados como heróis e os heróis como ladrões.

Mas o amor, dizem, venceu o ódio.

Neste momento, recebem duas lições da História. Numa, veem com os próprios olhos o que é terrorismo, palavra que não pode ser vulgarizada como foi após a “vitória do amor”, em discursos políticos rasteiros e oportunismos retóricos. Noutra, os mesmos – não são todos (mas são tantos!) apoiam as ações e/ou motivações do Hamas, enquanto aqui tentam impor o desarmamento da população civil, esquecendo os eloquentes conselhos em sentido oposto que nos vem do Oriente.

Eu posso abrir mão do direito de me defender; mas não posso abrir mão do dever de defender minha família. E esse não é um amor de cabaré que a ninguém convence, mas é amor de verdade!

Para encerrar estas considerações sobre a vitória do amor, trago palavras proferidas pelo ministro Gilmar Mendes, em Paris, num fórum promovido pelo Grupo Esfera Brasil dias 13 e 14 deste mês.

Disse ele, referindo-se aos episódios de 8 de janeiro:

Poderíamos estar “contando uma história de derrocada, mas estamos contando história de vitória do Judiciário e do TSE (aqui).

Disse mais:

“Muitos dos personagens que hoje estão aqui, de todos os quadrantes políticos, só estão porque o Supremo enfrentou a Lava Jato. Eles não estariam aqui. Inclusive o presidente da República, por isso é preciso compreender o papel que o Tribunal desempenhou(aqui).

Disse ainda:

"Se a política voltou a ter autonomia, gostaria que se fizesse justiça, isso foi graças ao Supremo Tribunal Federal. Se hoje tivemos a eleição do presidente Lula, isso foi graças ao Supremo Tribunal Federal. Vamos travar a luta contra o poder absoluto, mas também a luta contra o esquecimento. Se a política deixou de ser judicializada e criminalizada, isso se deve ao Supremo Tribunal Federal" (aqui).

A parte dessa fala com a qual eu concordo, sempre reconheci, mas não poderia ser dita. Agora, até o ministro decano do STF proclama com o orgulho e a temperança que lhe são habituais.

O amor é lindo!

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

Xingu e Gaza - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

 

Luta por terra

São Félix do Xingu (PA), em imagem de arquivo.
São Félix do Xingu (PA), em imagem de arquivo.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
 
São Félix do Xingu, no Pará, está a 1,6 mil quilômetros de Brasília. Gaza está a 10 mil quilômetros. 
Para os brasileiros em geral, Gaza é vizinha e São Félix do Xingu é no fim do mundo. Não sei se é a tal síndrome de vira-lata, diagnosticada por Nelson Rodrigues, em que a vida brasileira vale menos que as outras, ou se é um mecanismo de fuga, identificado por Freud, que faz a gente se interessar menos pelo próprio país e viver algum sonho d’além-mar. 
Faz semanas que fervem os espíritos de brasileiros da Vila Renascer, resultado de um assentamento do Incra em 1994, “indevido”, segundo a Funai, na reserva Apyterewa, de 980 mil hectares, onde em 1998 viviam 218 índios Parakanã. [em um cálculo rápido, pouco mais de 4.000 hectares para cada indígena.] 
 
Veio ordem para desalojar os colonos, que plantam cacau e criam gado de subsistência, e demolir tudo, inclusive a escola. 
Como eles não têm para onde ir, resistem. 
A Força Nacional está lá, helicópteros, Ibama, Funai – e o que acontece tem sido considerado irrelevante pelos pauteiros das redações em geral. 
O que aconteceu em Israel serviu para justificar a omissão com os brasileiros expulsos de território brasileiro.  
Todos esquecemos que foi assim que saímos do litoral; foi assim que passamos por cima da Linha de Tordesilhas. Até que, nesta semana, tivemos o primeiro sangue derramado. Um dos que resistiam recebeu dois tiros – um no tórax e outro no abdômen. 
Notícias de lá contam que o prefeito ligou para o governador Helder Barbalho, que ligou para o presidente Lula, que mandou suspender a operação de retirada.

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Enquanto isso, no Mato Grosso do Sul, a mil quilômetros de Brasília, dois ônibus desembarcam 80 índios em Rio Brilhante, e invadiram uma fazenda de 400 hectares, com 7 mil sacos de soja recém-colhidos e milho por semear. O ex-governador Zeca do PT, hoje deputado estadual, denunciou a invasão na Assembleia e afirmou que ele e Lula pensam o mesmo: garantir os direitos dos indígenas, mas nunca concordar com invasões de terras produtivas. 
Zeca do PT foi quem abriu as porteiras da agropecuária do estado para o candidato Lula se eleger pela primeira vez presidente.
 
Esses episódios mostram uma insegurança fundamental que afeta o território nacional: a insegurança fundiária, agravada após a interpretação do Supremo do marco temporal deixado pelos constituintes
Ela é um dos lados da insegurança pessoal, patrimonial e jurídica, que nos afeta, que torna o futuro imprevisível. 
Quem poderia fazer alguma coisa, o presidente do Senado, declarou em Paris que não vai buscar medidas populares, “porque qualquer instabilidade é muito ruim para o país”
Manter o atual estado de coisas, para ele, é melhor. 
Significa manter o status quo. Vamos fingir que está tudo muito bem, porque afinal, a mais de 10 mil quilômetros de distância, o Hamas quer eliminar Israel e Israel quer eliminar o Hamas. [enquanto discutem quem vai eliminar quem, Israel aprimora sua pontaria bombardeando civis palestinos na Faixa de Gaza e aplicando um bloqueio implacável - cortou o suprimento de alimentos, água, energia,  medicamentos, gás - que atinge homens, mulheres, crianças e idosos que tentam sobreviver naquela região.
A leitura da matéria adiante linkada, publicada em O Globo, é um excelente exemplo do complexo de vira-lata:
 
"Benjamin Netanyahu recebe título de cidadão honorário de Rondônia em meio a guerra com o Hamas

'... De acordo com o decreto legislativo 2.403, de 11 de outubro de 2023, publicado no Diário Oficial desta segunda-feira, e assinado pelo presidente da Casa, o deputado estadual Marcelo Cruz (Patriota), Netanyahu foi merecedor da homenagem "pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Rondônia" embora o político israelense nunca tenha pisado na unidade federativa do norte do país...'"]
 
 
Quando e se acabar por lá, estaremos de volta por aqui, desfrutando a paz dos passivos e dos omissos.
 
Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


Até Gilmar Mendes reconhece que Lula só se elegeu graças ao STF - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - VOZES

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, como diz a Bíblia, do que fazer com que um ministro do Supremo Tribunal Federal se manifeste apenas nos autos, como é princípio elementar em qualquer democracia séria do mudo.  
Os ministros do STF brasileiro são hoje oradores políticos, principalmente em lugares como Paris, Nova York ou Lisboa – onde em geral falam em português para plateias de brasileiros. 
No tempo que sobra das suas palestras, seminários e conferências, atuam como juízes. 
Mas no caso do último pronunciamento, por parte do ministro Gilmar Mendes, os brasileiros tiveram a oportunidade de ouvir a verdade que nenhuma figura pública deste país foi capaz de dizer até agora: a presença de Lula na presidência da República se deve ao STF. 
É, certamente, o maior chamado à realidade que o Brasil já ouviu desde as eleições presidenciais de 2022.

É muito bom que o ministro Gilmar ter dito que disse, pois assim não se poderá mais acusar de “desinformação” ou de outros crimes “contra a democracia”, o cidadão que vem dizendo exatamente a mesma coisa há mais de um ano. “Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do STF”, afirmou o ministro em Paris, no último evento internacional de que participou.

Num país governado por um sistema oficial de mentiras, é realmente um conforto ouvir um peixe graúdo do regime restabelecer a verdade.

Esse é o tipo do benefício que pelo menos os 60 milhões de brasileiros, ou quase isso, que votaram no adversário de Lula, não queriam receber do STF. Não se entende, também, como possam ser a “elite” denunciada por ele em Paris; se fossem, o Brasil teria a maior elite do planeta, e todo mundo sabe que não tem. Mas o que importa é a afirmação central de Gilmar Mendes: Lula só é presidente do Brasil por causa do STF. Ele próprio, a esquerda e as classes intelectuais acham que ganharam “a eleição”. Sempre foi falso. Quem ganhou a eleição para eles foi o Supremo.

O STF fez tudo o que foi decisivo para Lula ser declarado presidente. Não só decidiu anular a sua própria jurisprudência e revogou a prisão em segunda instância, o que tirou Lula da cadeia onde estava cumprindo pena pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. 

Também anulou as quatro ações penais contra ele, com a prodigiosa desculpa de que o endereço dos processos estava errado, o que suprimiu a ficha suja que o impedia de se candidatar.

Durante toda a campanha, o braço eleitoral do STF, o TSE, trabalhou sistematicamente a favor de Lula e contra seu adversário e não permitiu nenhuma investigação sobre a contagem dos votos
Ao contrário: puniu, inclusive com multas de 22 milhões de reais, quem cometeu o delito de apresentar uma petição ao próprio TSE para solicitar um reexame da apuração. 
No fim, para coroar a operação toda, decidiram que o concorrente de Lula na eleição fica proibido de disputar qualquer cargo público no Brasil pelos próximos oito anos.
 
Num país governado por um sistema oficial de mentiras, é realmente um conforto ouvir um peixe graúdo do regime restabelecer a verdade dos fatos numa declaração pública
Lula não foi colocado no Palácio do Planalto pelo eleitor brasileiro; está lá pela vontade do STF. 
Deve tudo aos ministros – sua autonomeação para o cargo de Deus, seu programa de volta ao mundo junto com a mulher, as dezenas de empregos “top de linha” que deu para os amigos que perderam a eleição, e daí até o infinito. 
Não está lá por seus méritos, a “vontade popular” ou a vitória do amor sobre o ódio. Está lá porque o STF quis; se não tivesse querido, Lula continuaria até hoje trancado numa cela de Curitiba, e ninguém estaria ligando minimamente para ele.
 
Conteúdo editado por:  Jocelaine Santos
 
 J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

SUMIÇO DE POSTAGENS

Prezados leitores:

Não foi sabotagem ou nenhuma razão 'esquisita' - foi burrice mesmo [os muares nos desculpem].

Algumas postagens, nos parece as 100  mais recentes, desapareceram. 

Nos parece que o mesmo vírus que levou milhões de brasileiros a fazer o L, resultando no desastre que acomete o Brasil  e milhões de brasileiros, nos acometeu e fizemos a besteira .

Estamos tentando recuperar, enquanto isso não ocorre vamos seguir postando normalmente, a partir de hoje, 17 outubro 2023.

Sinceras desculpas dos administradores do Blog PRONTIDÃO TOTAL.

 

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Pacheco e Lira assistem à incitação de uma crise com o Supremo

A crise muda de patamar quando bancadas do boi, da bala e da bíblia anunciam emenda constitucional para anular decisões do Supremo Tribunal Federal  

 Congresso Nacional

 Sede do Congresso em Brasília — (iStockphoto/Getty Images)

Sob o olhar complacente dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, as bancadas de parlamentares autoproclamados conservadores incitam o Congresso a uma crise com o Judiciário. Atritos e pressões fazem parte do jogo institucional, mas a crise muda de patamar quando na confluência de interesses peculiares as bancadas do boi, da bala e da bíblia anunciam projeto para alterar a Constituição com objetivo de anular decisões do Supremo Tribunal Federal. [em nossa opinião, as bancadas estão concordando por os interesses serem comuns às bancadas  - não tinha sentido seria convergir, divergindo no que apoiam.]

Reivindicam um poder que o Legislativo não tem: o de revogar sentenças judiciais sempre que a decisão do tribunal não for “unânime” ou passível de ser interpretada pelos parlamentares como uma extrapolação dos “limites” constitucionais.

Propostas de emenda constitucional do gênero já tem a adesão pública de líderes do PP de Lira e do PL de Valdemar Costa Neto e Bolsonaro, e de frações do PSD de Pacheco, do Republicanos e até do PSDB.

O interesse comum, como tem repetido o deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, é “fazer um movimento” para demonstrar insatisfações com o Judiciário em temas como marco temporal na demarcação de terras indígenas, aborto, drogas, lei eleitoral, inelegibilidade de Jair Bolsonaro e punições aos envolvidos na insurreição de 8 de janeiro.

Seria mero blefe, comum na rotina parlamentar, se a iniciativa estivesse restrita aos discursos. Porém, a sedução autoritária da imposição de limites a outro Poder ganhou forma de projetos de emenda constitucional e ímpeto para avançar na Câmara e no Senado — embora todos os envolvidos saibam que, por princípio, é inconstitucional. [certamente o colunista foi pautado para, a exemplo daquele jornalista da TV Globo, decretar, no caso, 'inconstitucionalidade' de conduta parlamentar.]  

É notável que a crise fomentada no Congresso tenha como fundamento a alegação de invasão da atribuição legislativa pelo Supremo. O exemplo mais citado é a decisão do tribunal sobre demarcação de terras indígenas.

Na vida real, o STF foi provocado por um partido, o Psol, [que por ser um partido nanico,  sem votos e sem representatividade, quer ganhar no tapetão do Poder Judiciário o que não se sustenta no voto.] a decidir sobre um assunto marcado pela histórica omissão do Congresso: a proposta legislativa sobre demarcação de áreas indígenas completou 17 anos de tramitação antes da sentença do Supremo, na semana passada.

José Casado,  jornalista - Revista VEJA